Sexta-feira, 1 de janeiro de 2016 - 08h10
Hiram Reis e Silva, Bagé, RS, 29 de dezembro de 2015.
Sapezal: também sapezeiro, campo de sapé, gramínea do gênero saccharum, cuja palha é muito usada na Bahia sertaneja para cobrir as choças dos matutos. É frequente ouvir-se no sertão baiano: “Tal fazenda tem tantas casas de sapé”. Manoel Victor em seu livro Os Dramas da Floresta Virgem, escreve: “E lá ao longe, muito além, muito ao depois de se ter cansado e se esgotado sob os sapezais, ora no campo raso, ora nas furnas, desaguava aos ribombos no velho São Francisco”. Sapezeiro foi empregado por Amando Caiuby, nos seus contos sertanejos Sapezais e Tigueras: “Na venda do José Português, na encruzilhada do Serrano, quando o caminho da vila perde os barrancos marginais e entra no sapezeiro da chapada alta, alguns caboclos jogavam truque, naquele fim de tarde domingueira”. (SOUZA)
A despedida dos amigos muares foi, de minha parte, um momento de tristeza, pois, só tínhamos chegado até aqui graças aos nossos formidáveis parceiros de quatro patas. A rusticidade destes caros animais, a sua capacidade de ingerir a campo os alimentos mais grosseiros, a imbatível eficiência e resistência com que marcham ao longo de estreitas e sinuosas trilhas, atalhos escorregadios e pedregosos, veredas acidentadas e íngremes lhes conferem, sem dúvida, uma característica singular. Ao contrário do que se supõe, os muares possuem uma inteligência bem mais desenvolvida do que os demais equinos e acredito que, por vezes, suplantam a de alguns “seres” humanos. Obrigado a cada um de vocês meus quadrúpedes amigos e, em especial, à “Bolita” e “Roxinho” que me serviram de montaria durante 16 dias.
Fazenda São Miguel à Campos de Júlio (10.11.2015)
Acordamos cedo, fizemos o desjejum, despedimo-nos do gentil Sr. Oriovaldo Dal Ponte ‒ Gerente da Fazenda São Miguel, dos caros amigos da Comitiva Santo Antônio, de seus magníficos muares e partimos, embarcados na viatura Marruá, para a 3° Parte desta Expedição que seria executada, em um pequeno trecho, a pé.
Depois de meia hora, adentramos na BR-364, minha velha conhecida, onde tive o privilégio de trabalhar como Tenente de Engenharia do 9° Batalhão de Engenharia de Construção (9° BEC) ‒ Cuiabá, MT, nos idos de 1978-79. A rodovia BR-364 atravessa o Brasil diagonalmente, seguindo o sentido Sudeste-Noroeste, desde o Município de Limeira no Centro-Leste do Estado de São Paulo, cruzando Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e estendendo-se até o Município de Rodrigues Alves no Acre, totalizando 4.099 km de extensão. A diferença, desde a década de 70, para os dias de hoje era notável, as grandes extensões de cerrado que se avistavam ao longo da rodovia tinham sido substituídas por grandes e extremamente produtivas fazendas dedicadas a agricultura extensiva, que conseguem lucrar com seus produtos, mesmo pagando vultosos impostos ao governo, comprando os insumos mecânicos, biológicos, minerais ou químicos diretamente das fábricas.
Sapezal
Chegamos a Sapezal, onde depois de tomar algumas medidas administrativas e almoçar fomos encontrar o Sr Nivaldo Bertotto, que já tinha sido contatado pelo Coronel Angonese por ocasião do reconhecimento executado em maio. O Nivaldo é um entusiasmado garimpeiro de relíquias históricas e levou-nos até o Museu João Bertotto, que leva o nome de seu progenitor, onde mostrou-nos animado uma série de artefatos da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, que ele próprio tinha recuperado.
Relato Hodierno ‒ Sapezal ‒ Histórico
A formação do núcleo urbano de Sapezal está ancorada numa proposta de colonização do Sr André Antonio Maggi, que foi desbravador do Município e deu esta denominação à cidade em referência ao Rio Sapezal. O Rio Sapezal deságua no Rio Papagaio, pela margem esquerda, que por sua vez joga suas águas no Juruena. O sapé (Imperata brasiliensis), que dá nome ao Rio, é planta da família das gramíneas, conhecida por sua propriedade de servir de cobertura de ranchos.
O território de Sapezal foi amplamente cortado por viajantes e aventureiros a partir do séc. XVIII. Passou pela região a expedição de Marechal Rondon que instalou a Linha Telegráfica cortando o Brasil. Mas, a Colonização só veio a partir da abertura da fronteira agrícola Mato-grossense. As distâncias entre as fazendas variavam de 40 a até 100 Km. As estradas que ligavam as fazendas umas às outras eram, na verdade, picadas abertas no cerrado pelos próprios colonos, o que dificultava a formação de um centro de maior povoamento.
Os pioneiros foram colonos sulistas, a maior parte vinda do Norte do Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina e Oeste do Paraná que chegaram nas décadas de 70 e 80. Citamos alguns: Paulino Abatti, Ricardo Roberto, Arno Schneider, Ademar Rauber, Eriberto Dal Maso, Elenor Dal Maso, Írio Dal Maso, Mauro Paludo, família Scariote e outros. A formação do núcleo urbano de Sapezal está ancorada em uma proposta de colonização do Sr André Antonio Maggi, que deu esta denominação à cidade em referência ao Rio Sapezal. A atual zona urbana começou a ser povoada com a abertura da estrada MT-235 (Estrada Nova Fronteira) e do Loteamento da Cidezal Agrícola, de propriedade de André Antonio Maggi, em meados de 1987.
O Município de Sapezal foi criado pela Lei Estadual nº 6.534, de 19.09.1994, sendo primeiro Prefeito André Antonio Maggi. O Município de Cuiabá deu origem ao Município de Nossa Senhora da Conceição do Alto Araguaia Diamantino (Diamantino), que deu origem ao Município de Campo Novo do Parecis, do qual originou-se o Município de Sapezal. (Fonte: Prefeitura Municipal de Sapezal)
O Nivaldo presenteou a Expedição Centenária com um rolo de cabo de aço galvanizado usados na Linha Telegráfica do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que segundo Roquette-Pinto: “os Paresí chamam ‘língua de Mariano’, em homenagem ao seu grande amigo.” (ROQUETTE-PINTO)
De Sapezal fomos para Campos de Júlio, onde pernoitamos antes de adentrar, novamente, na Área Indígena Nambikwara.
Relato Hodierno ‒ Campos de Júlio ‒ Histórico
Esta área, antes de ser colonizada, foi povoada pelos índios Nambikwara e pelos Ená-wenê-nawê, embora, atualmente, não haja área indígena nos limites do Município. O início da colonização deu-se através da atuação de Valdir Massutti, que trouxe à região, na década de 80, dezenas de famílias sulistas. Formou-se um povoado, tendo a sua volta milhares de hectares de plantações de soja, a economia que sustenta a região. A Lei Estadual n° 5.000, de 13.05.1986, criou o Distrito de Campos de Júlio, sancionada pelo governador Júlio José de Campos. A Lei Estadual nº 6.561, de 28.11.1994, criou o Município de Campos de Júlio, com desmembrando do Município de Comodoro. (Fonte: Prefeitura Municipal de Campos de Júlio)
Campos de Prosperidade
Em tempo. Há poucos dias, uma conceituada revista semanal de Cuiabá publicou reportagem com o título “Campos de Prosperidade”, abordando a história da colonização do Município de Campos de Júlio, sua produção agrícola e desenvolvimento. A matéria é assinada pelo jornalista Rui Matos. Gostaria apenas de registrar que há um equívoco nas informações que se referem à minha pessoa, o que convém uma retificação, para o bem da história. Conforme o jornalista, Campos de Júlio foi assim denominada por imposição minha, que à época era governador do Estado.
Por iniciativa do senhor Valdir Masutti, ex-prefeito de Comodoro, Campos de Júlio foi criada em 1983 com a denominação de COOFLASUL (Cooperativa dos Flagelados do Sul). A Lei Estadual 5.000, de 13.05.1986 criou o Distrito de Campos de Júlio, elevado a Município pela Lei 6.552 de 28.11.1994. A versão que se tem é a de que uma grande parte dessas terras que compõe Campos de Júlio pertencia ao Montepio da Família Militar e foi ocupada por um grupo de sulistas comandados pelo senhor Valdir Masutti. Ocorreu que, com a invasão dessas terras, já com o primeiro núcleo de ocupação, a diretoria da Família Militar requereu junto às autoridades do Governo de Mato Grosso, em especial à Secretaria de Segurança Pública, que fosse feita a desocupação da área de sua propriedade.
O então diretor da Polícia Civil de Mato Grosso, Coronel João Evangelista, que tempos depois veio a ser Comandante da Polícia Militar do Estado, designou, em conjunto com o Secretário de Segurança, Oscar Travassos, e o Comandante da Polícia Militar, Coronel José Silvério da Silva, uma equipe de policiais militares para fazer cumprir a ordem de desocupação da área. Chegando ao local, o Tenente Cruz, hoje falecido, comunicou a ordem de desocupação e teve como reação dos posseiros: “Calma! Calma! Não precisa força. Esse campo é do Júlio! Esse campo é do Júlio!”. Aí, então, conforme relatos, o Tenente Cruz recuou com seus comandados, acreditando ser aquela terra de propriedade minha, Júlio Campos, então Governador do Estado.
Depois desse episódio, ficou o nome “Campos de Júlio”. Se perguntasse a alguém: - Onde você está morando? A resposta era Campos de Júlio. E aí o nome pegou. Tanto é verdade, que quando foi criado o Município houve por parte de alguns deputados da oposição na Assembléia Legislativa um movimento para mudar o nome, mas a população local não aceitou e manifestou sua vontade de que continuasse o nome Campos de Júlio. E o município foi criado por Lei Estadual em 1994. Posteriormente, já no governo Dante de Oliveira, foi feita uma nova tentativa de mudança do nome e a população não quis. (CAMPOS)
Filmete da II Parte (Navegação)
Filmetes da II Parte (Cavalgada)
Expedição Centenária R-R – II Parte ‒ Fase I (Tapirapoã / Kamai)
Expedição Centenária R-R – II Parte ‒ Fase II (Kamai / Utiariti)
Expedição Centenária R-R – II Parte ‒ Fase III (Utiariti / Fz S. Miguel)
Filmetes da III Parte (Marcha)
Expedição Centenária R-R – III Parte ‒ Fase I (Fz S. Miguel/Campos de Júlio)
Fontes:
CAMPOS, Júlio. Campos de Prosperidade‒ Brasil ‒ Mato Grosso ‒ Diário de Cuiabá, Edição n° 11334, 02.10.2005.
SOUZA, Bernardino José de. Dicionário da Terra e da Gente do Brasil‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ Companhia Editora Nacional, 1939.
ROQUETTE-PINTO, Edgard. Rondônia‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro ‒ Companhia Editora Nacional, 1938.
Fonte:
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Integrante do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H