Quarta-feira, 15 de julho de 2020 - 16h10
Bagé, 15.07.2020
Jornal do Commercio, n° 22.082 ‒ Manaus, AM
Domingo, 08.02.1976
A Epopeia do Amapá ‒ Genesino Braga
As lutas Cruentas, levadas ao acesso das armas e, afinal,
à vitória, por patriotas brasileiros, em defesa da inviolabilidade do
território nacional no espaço amazônico, têm em Silvio Meira o seu historiador
conspícuo ([1]).
[...]
A conquista do Amapá, tão épica pelo denodo e o
destemor dos nossos rudes compatrícios do garimpo que a batalharam, e tão
retemperada de patriotismo e de sacrifícios de vidas brasileiras, – a conquista
do Amapá vem de ter, agora, do talentoso amazônida, membro do Conselho Federal
de Cultura, a narrativa histórica fiel e isenta e a análise crítica lúcida e
objetiva dos recontros ([2])
sangrentos, dos massacres traiçoeiros e dos atos intrépidos que marcaram a
cruenta jornada pela integração ao chamado “Contestado”
no espaço político brasileiro.
Fronteiras Sangrentas [Heróis do Amapá], assim
intitulou Silvio Meira a sua história da conquista e incorporação, ao Brasil do
hoje Território do Amapá.
E diz-nos bem, esse
título, de uns confins longínquos, onde, na última década do século XIX, a
descoberta de Rios auríferos, por dois irmãos brasileiros, em região que o
Brasil herdara litigiosa, desde o século XVII, entre França e Portugal, passou
a incendiar a cobiça de aventureiros residentes em Caiena. “Organizam-se expedições de garimpeiros,
surgem aventureiros de diversas nacionalidades”. – descreve Silvio Meira,
acrescentando:
Era o ouro, “la
couleur” ([3])
para os crioulos da Guiana Francesa. Depois de decorridos dois anos da
descoberta dos irmãos Germano e Firmino, cerca de seis mil pessoas habitam o
curso do Rio Calçoene. Em 1895, as estatísticas acusam esse número.
E, assim, nessa corrida ambiciosa ao garimpo,
povoaram-se as beiradas fluviais daqueles ermos; e foram as suas matas ínvias ([4])
aos poucos invadidas pelos homens rudes da bateias, de par com exploradores e
ciganos: além dos nativos brasileiros, incontável número de portugueses,
franceses, crioulos das Guianas, holandeses, ingleses, americanos, indianos,
chineses, judeus e outros mais passaram a fixar-se na nova zona garimpeira. Mas,
o Contestado se afrancesava. Pela alfândega de Caiena escorria grande parte da
produção aurífera do Amapá. Em 1894, a capital da Guiana Francesa exportava
4.835 kg de ouro. Navios com a bandeira da França ali aportavam assiduamente.
Rios e povoados da região contestada tomavam nomes franceses. Escreve Silvio
Meira:
Era preciso reagir contra a pretensão, cada vez mais
crescente, dos vizinhos do norte. A população brasileira, distribuída por todo
o Contestado, dedicava-se às mesmas atividades e olhava já com desconfiança
aquela invasão disfarçada pela fome do ouro.
Os mineiros brasileiros passaram a ser perseguidos e
humilhados pelos estrangeiros. Reações surgiram isoladas. Depois foram tomando
corpo. Era representante do Governo francês no Contestado Eugênio Voissien, que
arbitrariamente proibiu aos brasileiros o acesso à região das minas. Só os
franceses poderiam fazê-lo. Esse estado de coisas não poderia perdurar por
muito tempo. Era preciso pôr termo aos excessos de Voissien.
Foi quando surgiu a figura de um brasileiro valente e
audaz, que haveria de ficar na história do Brasil como “O Herói do Amapá”: Francisco Xavier da Veiga Cabral.
Tratado por todos como Cabralzinho, em razão da pouca
altura de seu físico, – em contraste com a extraordinária dimensão de sua
estatura moral, – passou a ser o símbolo do sentimento de patriotismo que movia
os brasileiros do Amapá. “Bravo e
enérgico”, escreve Silvio Meira:
Francisco Xavier da Veiga Cabral encarnava bem os
ideais de todos os habitantes brasileiros da região contestada. Experiente e lúcido,
servido por agilidade mental e física, pôs as suas energias a serviço da causa,
que era mais da coletividade do que sua própria.
No dia 10.12.1894, teve início a reação. Do que fora,
então fera e encarniçada campanha, a ação destemerosa do valente e altivo
Cabralzinho, elucida-nos bem a narrativa do episódio em que o vemos, Comandante
do Exército Defensor do Amapá, a 15 de maio de 1895, na Vila de Amapá, frente a
frente com o Capitão Lunier, do Exército francês, este comandando uma tropa de
cerca de oitenta soldados franceses, disposto a conduzir preso o caudilho
brasileiro, narra o livro “Fronteiras
Sangrentas”:
O Capitão francês deu voz de prisão a Cabral. Ordena
aos seus soldados que o prendam, depois de aplicar-lhe forte empurrão,
puxando-o pelo braço esquerdo. Cabral responde:
– Um
brasileiro não se rende a bandidos!
Imediatamente o Capitão Lunier dá novo violento
empurrão em Cabralzinho e ordena à tropa:
– Fogo!
Os soldados franceses obedecem. O estampido de vinte e
um tiros corta os ares em direção do heroico brasileiro. Cabral só tem tempo de
rapidamente jogar-se ao solo, enquanto as balas passam sobre a sua cabeça, indo
cravar-se nas paredes da casa.
Lunier saca do revolver e tenta apontá-lo em direção
de Cabral, que com extrema agilidade se lança sobre o oficial francês,
aplicando-lhe o que na gíria brasileira se chama de “capoeira”, e projeta-o ao solo. Sem tempo para oferecer reação, o
francês cai. Cabral arrebata-lhe o revólver das mãos. Levanta-se Lunier e
ordena pela segunda vez:
– Fogo!
Novos tiros ecoam. Cabral novamente se abaixa e as
balas não o atingem. A essa altura numerosos brasileiros surgem, a fim de
socorrer o agredido. Alguns vêm armados, outros sem armas, impelidos pela
solidariedade humana. Cabralzinho, com o próprio revólver do oficial francês,
abate-o quase à queima roupa. Cai por terra o oficial mortalmente ferido, o
sangue a ensopar-lhe o uniforme multicor.
Logo a seguir um
Tenente francês avança sobre Cabral com o intuito de vingar a morte do Capitão.
Tem igual sorte. Cabral dispara contra o atacante. Cai por terra o Tenente, sem
condições para reagir, já nos estertores da morte.
Mortos o Capitão e um Tenente, avança um Sargento
francês. Tenta eliminar Veiga Cabral, o qual; mais uma vez dispara a arma, ferindo
o Sargento, que rola pelo chão e dentro de minutos é cadáver. De todos os lados
surgem balas. Os brasileiros, já organizados em reação, disparavam das janelas
das suas residências, das esquinas, alguns escondidos atrás dos troncos das
árvores ou protegidos por trincheiras improvisadas. Fogo de parte a parte. Os
atacantes começam a recuar. Aprovaram-se ante a morte rápida do Comandante, do
Tenente e do Sargento. Descontrolados, sem comando, começam a fugir para todas
as direções. Numerosos soldados franceses estão feridos, em vários locais.
Tiveram a mesma sorte de seus imprudentes comandantes. (JDC, n° 22.082)
Diário de Notícias, n° 155 ‒ Belém, PA
Terça-feira, 14.07.1896
(João
Antônio de Magalhães)
Apud Deum... omnia
possibilia sunt [5][São Matheus]
Rola dos tempos pelo espaço, lento
Um todo imenso que a uma lei se inclina!
Que... no seu gravitar, seguro, atento...
Quem o rege, Senhor? Quem o domina?
‒ Quem dá força a centelha que fulmina,
Rebramidos ao mar, furor ao vento?
Quem ergueu uma vez a mão divina,
Sentado irás ao túmido elemento?
‒ Esse, para quem é paz a guerra,
E dorme alerta em meio do escarcéu;
‒ Esse, que na morte a vida encerra.
Quando da morte dissipar-se o véu,
‒ Dissipará também sombras da terra
Para por ti levar astros ao céu?
(Diário de Notícias, n° 155, Belém, Pará, 14.07.1896)
Jornal do Commercio, n° 439 ‒ Manaus, AM
Sexta-feira, 19.05.1905
Telegramas
Serviço do “Jornal
do Commercio”
Belém, 18: Faleceu hoje, às 5 horas da manhã o Sr.
Francisco Xavier da Veiga Cabral. (JDC, n° 439)
Bibliografia:
DDN,
N° 155. Ao Bravo General Veiga Cabral
– Brasil – Belém, PA – Diário de Notícias, n° 155, 14.07.1896.
JDC,
N° 22.082. A Epopeia do Amapá ‒ Genesino
Braga – Brasil – Manaus, AM – Jornal do Commercio, n° 22.082, 08.02.1976.
JDC,
N° 439. Telegramas – Serviço do “Jornal
do Commercio” – Brasil – Manaus, AM – Jornal do Commercio, n° 439,
19.05.1905.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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