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Hiram Reis e Silva

Helmo de Freitas: Motivo (Cecília Meireles)


Helmo de Freitas: Motivo (Cecília Meireles) - Gente de Opinião

Eu canto porque o instante existe

E a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

Não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

No vento.

Se desmorono ou se edifico,

Se permaneço ou me desfaço,

– Não sei, não sei. Não sei se fico

Ou passo

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

– Mais nada.

Na Semana Santa de 2019, fui acolhido, na en­cantadora Arambaré, capital das figueiras, margem Ocidental da Laguna dos Patos, pelos caros “Amigos de Outras Eras” Leandro Hugo Schmegel e o Prefeito Alaor Pastoriza Ribeiro. Depois de quase oito meses, consegui retomar meus treinamentos náuticos, e, nessa ocasião, tive a feliz oportunidade de conhecer o compositor, cantor e historiador Helmo de Freitas, grande parceiro de palco do meu amigo Leandro Hugo. Considero Helmo de Freitas e Adair de Freitas os dois mais lídimos representantes de nossas tradições nativistas. Infeliz­mente a mídia gaúcha e os juízes dos festivais regionais totalmente apartados do gosto popular não lhes dão o devido reconhecimento.

Minha visita ao Helmo foi carregada de muita emoção. Ele reportou-nos suas origens e experiências de vida, materializadas pelos inúmeros troféus, recortes de jornais e revistas. Disse a ele que queria reportar suas origens e ele solicitamente me apresentou um rascunho que reproduzo a seguir:

Projeto Helmo de Freitas – “O Carijó” ‒ Resgatando a Cultura da Região Sul (UCPel)


Quero ser sincero para com as pessoas que acreditaram em mim e na arte que desenvolvo. Meu canto é simples e o meu verso também, mas confesso que não fiquei surpreso com o convite deste educan­dário para que fizesse parte de um projeto tão importante.

Sei que posso colaborar com a literatura regional, nacional ou talvez de muitas partes da Terra porque trago em minhas entranhas sentimentos, desejos e costumes de povos de grandes virtudes. E com essa riqueza junto ao dom é que o extinto Deus me tornou nobre.

Não quero que pensem que o homem que sou foi outro algum dia, não mudei pensamentos diante da verdade, do amor, da paz e da felicidade.

Nasci e vivi por muitos anos no interior em uma pe­quena Chácara junto ao meu pai e minha mãe, irmãos e irmãs. Os quartos, a cozinha, a varanda, o galpão, cocheiras, chiqueiros de porcos e de terneiros, o galinheiro, patente ou latrina, mangueira, potreiro, sanga e quarador foram os cantos e recantos mais belos do mundo para mim.

Hoje olho para o meu filho, já adulto, e para o seu retrato com toga sem precisar partir os lápis, borrachas e dividir cadernos, ler e escrever sob luzes de lampiões à querosene, “velas chico-roque”. Não perdeu no miringote para arregonhar gravetos e lenhas nos dias frios dos invernos. Não foi daqueles mandinhos ([1]) que se criou na campanha, mas anda no meu costado, vestido com as minhas roupas. E assim como ele, para outros jovens com acesso à tecnologia moderna, o mundo ficou pequeno, mas o saber faz os homens crescerem, e isso me deixa à vontade porque serei compreendido. Posso contar o que ainda não contaram.

Sentei por pouco tempo em carteiras escolares, mas aprendi com os práticos e vaqueanos a lidar com terra e gado. Meu pai era um desses buenos, homem de toda a ponta, pau pra toda a obra, peão campei­ro, tropeiro, colono, lavrador, carreteiro, arigó, chiri­pa, capataz, e patrão. Deixou muitos legados para a família e amigos. Viveu revoluções, neto e bisneto de revolucionários de 23 e 35. Não gostava de falar sobre isso.

Filho de mãe espanhola e italiana e de pai Charrua e português. Assinava-se com sobrenome da mãe, talvez por ser neto de mulato, não usava o sobrenome do pai.

Minha mãe, filha de uma Guarani e pai afrodescen­dente [negro]. E eu me rebusco destas etnias para mensagens dos meus versos. Toquei em baile de ne­gros, mestiços, carapinha, pixaim ou mascureba de cabelos engruvinhados. Negro aço, sarará, albino, oreba e cafuso, e não quero aqui puxar brasa para o meu assado mas eram exímios bailarinos que se ex­pressavam através das danças com uma arte peculiar.

Nestes bailes de ramada e chão batido, animados com gaita, violão e pandeiro, intercalavam tambores, par de colheres, batiam na palma das mãos, canta­vam e se requebravam. Aprendiam a executar quais­quer instrumentos com facilidade.

Alguns eram chamados de vagabundos, preguiçosos, desocupados, talvez por virem de origem de pessoas simples. Eram alegres e divertidos e como também eram suas participações nos coretos de salões de bailes e festas.

Até mesmo em recintos em que exis­tiam diferenças raciais eram virtuosos por natureza.

Mulheres trabalhadoras, curandeiras, rezadeiras apesar dos ressentimentos e sentimentos conserva­vam o amor e a fé.

Para que os leitores possam apreciar um pouco destas riquezas busquei nas orações da Senhora Juliana Gonçalves Padilha, a Sinhá Juliana, a qual emprestou seu nome para um dos bairros mais bonitos da cidade de Camaquã:


Canto de um Terço: Virgem Senhora

Ó virgem senhora, mãe da piedade

Livrai-nos das penas e das enfermidades

Por aquele senhor, que vos traz nos braços

Ó Virgem Maria dirija meus passos

Dirija meus passos e pensamentos

Mas que não se transforme em sofrimento.

Abris a porta que vem Jesus

Morto, cansado com o peso da cruz

Meu “Deus” de minh’alma sem culpa nenhuma

Vai meu “Deus” com Jesus

E conosco também

Para a eterna glória para sempre. Amém.

E junto a essas relíquias que recolhemos dos meios populares encontramos os versos da preta velha, outra beleza da cultura negra.

Conheci a preta velha / Preta velha encarquilhada

Pela bengala de angico / Mãe velha era arrastada

No cepo à sombra do rancho / A preta velha sentada Estória de “três-ontonte” / Pra riso da gurizada

 

A negra por vez chorava / Cantava, ria e dançava

Nem mesmo a própria idade / A preta velha lembrava

Foi escrava, ama de leite / Foi mucama, foi parteira

O sangue “igualzito” ao meu / Cor da flor da corticeira


Estes cantos, chá de ervas, ritos e benzeduras com crença e fé ainda fazem curas, nos trazem alentos e reflexões. Os homens afrodescendentes não se dedi­cavam às religiões cristãs tanto quanto as mulheres. Muitos deles eram descrentes. Afetuosos sim às coi­sas da natureza: pedras, matas, águas, animais e nas crenças de suas origens. Talvez por isso se adaptavam e sobreviviam em qualquer lugar.

Passei lindos anos da minha infância vendo e ouvin­do algumas destas pessoas. Lembro-me de um alam­brador, tocador de violão com “craveja” e cantador, morador ao lado da taipa de um açude em dois ran­chos de leiva e capim. Um rancho bem grande e ou­tro de bom tamanho e aos fins de semana a sua voz montava nas maretas da águas do açude e rebanha­va famílias e pessoas de suas amizades para se di­vertirem no rancho grande com “embalizado” de chão batido. “Mucufa”, moço muito gaúcho e “nariz de folha” não entravam. Era uma diversão de respei­to, por ser ele respeitado e corajoso, não precisava mestre-sala. Participou meio que obrigado destas “escaramuças” sobre sangues nas várzeas e coxilhas desta região, gostava de contar suas proezas e estórias, principalmente para a “mandinzada” ([2]).

Enquanto furava piques com arcos de pua e fazia amostras com facão e machado em moirões e paus-mestres, falava de mula sem cabeça, lobisomem, boitatá, bruxas e assombros em burras ([3]). Ensinava aos mais taludos espichar guias, torcer rabicho em mestre e grampear, e os mandins sentados nos garrões com as mão nos joelhos ou na cara, observavam e riam. Ele era o tio que todas as crianças queriam ter.

Passamos alguns anos sem nos ver, e eu tinha saudade do meu tio amigo, e para minha felicidade voltei a conviver com ele e sua família por mais um “eito” de anos. Eu moço maduro, ele alcançado na idade mas o mesmo “buenachão” que conheci quando mandim.

E ali estava eu diante de uma das minhas fontes para beber mais um pouco de sabedoria e cultura. Uma das legendas vivas da região. Crioulo das bandas de Pelotas, que veio “frangote” para o Bonserá, 5° Distrito de Canguçu, hoje Município de Cristal.

Dali saiu perseguido pela farda depois de uma “rusna” feia em uma cancha de carreia, onde tombou seu irmão mais velho. Veio escondido entre bacarás e trouxas em um caminhão de “turmeiros” e amoitou-se nas ilhas do Camaquã, onde construiu sua riqueza que era a família, amigos e a paz.

Eis aqui versos que aprendi com ele recolhido em suas andanças.

Bonserá é terra boa / Foi aonde eu me criei

Não foi por falta de amor / Que de lá me retirei.



[1]    Mandinhos meninotes, gurizotes.

[2]    Mandinzada: gurizada, meninada.

[3]    Burras: os antigos afirmam que os jesuítas enterraram as “burras de ouro” na região de Camaquã e Tapes, nas margens da Laguna dos Patos, quando abandonaram as Missões.

Imagem 01 – Helmo de Freitas e Leandro, Camaquã, RS - Gente de Opinião
Imagem 01 – Helmo de Freitas e Leandro, Camaquã, RS
Helmo de Freitas: Motivo (Cecília Meireles) - Gente de Opinião
Imagem 02 – Arambaré, Capital das Figueiras, RS - Gente de Opinião
Imagem 02 – Arambaré, Capital das Figueiras, RS
Helmo de Freitas: Motivo (Cecília Meireles) - Gente de Opinião
Imagem 03 – Arambaré, Capital das Figueiras, RS - Gente de Opinião
Imagem 03 – Arambaré, Capital das Figueiras, RS
Helmo de Freitas: Motivo (Cecília Meireles) - Gente de Opinião
Imagem 04 – Arambaré, Capital das Figueiras, RS - Gente de Opinião
Imagem 04 – Arambaré, Capital das Figueiras, RS

E muitas cantigas e versos, que retratavam momentos tristes e bons em sua vida, como a “Batalha de Bagé”, “Xote do Limoeiro” e outras letras e canções. Perguntei a ele se os negros e mestiços eram mesmo valentes como diziam e escreviam nos livros da nossa estória. Atirou o pescoço para trás e deu-lhe uma “gaitada”, não sei disse ele, mas nos botavam sempre na frente, e cantou os versos do Chico Pansa.

Avança Chico Pança... avança

E lá se foi o comandado num matungo velho cansado

Com uma lança de pau

E o General ria e dizia “Ôiga-lhe-te” negro mau

Quando chegou do outro lado, com os braços levantados

Se atirou no costado

De um filho ali entrincheirado.

E depois destes versos, umas lágrimas espalharam-se sobre as rugas e as barbas brancas do seu rosto.

A Estancieira “Barbuda”

Helmo de Freitas, nos seus versos, fala-nos do campo, da Laguna, do Rio, de suas vivências, curiosi­dades e estórias muito particulares de sua região como esta da estancieira Dona Anna Rodrigues de Oliveira, mais conhecida como “Barbuda”.

José Custódio de Oliveira, rico estancieiro e industrial da erva mate, casado com Dona Anna Rodrigues de Oliveira, mais conhecida como a “Barbuda estancieira”, residia na Estância “El Vichadero”, no Departamento de Rio Negro, Uruguai, quando resolveu se mudar para a Fazenda dos Galpões, em Camaquã. A Dona Anninha Barbuda, sogra e tia do General José Antônio Matos Neto (o Zeca Neto), faleceu em 1917 e foi sepultada no Cemitério dos Galpões.

Imagem 05 – General Zeca Netto sentado à esquerda - Gente de Opinião
Imagem 05 – General Zeca Netto sentado à esquerda

Nos idos de 60, o então Padre Jacó Hilgert, hoje Bispo Emérito da Diocese de Cruz Alta, empenhado na reforma da Igreja Matriz (São João Batista), solicitou aos familiares os Mármores de Carrara do túmulo da Dona Anna, garantindo, em contrapartida, que seus restos mortais seriam transferidos para o altar mor da Igreja.

Divisas com Ervas e Chibo

(Helmo de Freitas – O Carijó)

Na erva da Aninha

Não tinha daninha

Era seiva da mata

Lá da Bandeirinha.

Imagem 06 – Dona Anna Rodrigues de Oliveira - Gente de Opinião
Imagem 06 – Dona Anna Rodrigues de Oliveira

Naquele local

Da Serra do Herval

Abriu-se divisas

Pra Banda Oriental.

A barbuda estancieira

Foi a primeira

A cruzar com erva a nossa fronteira

Saia dos galpões com bruaca e surrões ([1])

Nas cangalhas de mulas

Pras embarcações. (BIS)

Da grande Laguna entrava no Oceano

Rumo aos castelhanos o barco ia navegando

No porão o símbolo da União dos pampeanos

Que Sul do Rio Grande estava exportando

Da Colônia Canária, aqui dos Pomeranos ([2])

Com a leva da erva os tamancões lourencianos

Bota feita em Pelotas tinha gosto paisano

Para fazer chibo “aja” ([3]) com os Hermanos

Que ia e voltava com cinto forrado

De onça e condor ([4]) daquele mercado

De contrabando para ter ouro cunhado

Que vinha tapado no sebo do gado. [...]



[1]    Surrões: recipientes, feitos de couro para transporte variado colocado, neste caso, nas cangalhas equilibradas no lombo das mulas.

[2]    Pomeranos: imigrantes originários do Mar Bálticoque vieram para o Brasil no século passado fugindo dos horrores da guerra.

[3]    Aja (espanhol): lá com os hermanos.

[4]    Onça e Condor: prata e ouro contrabandeados vinham escondidos sob o sebo do gado.

Helmo de Freitas: Motivo (Cecília Meireles) - Gente de Opinião

Músicas

Lago Verde Azul

(Helmo de Freitas – O Carijó)

 

T 2º Lugar e Música Mais Popular do 11º Reponte da Canção Crioula de São Lourenço do Sul-RS em 1995 T

O medo de andar “solito” ouvindo vozes e gritos

E até do barco um apito na sua imaginação

Olhos esbugalhados do moleque assustado

Olhando aquele mar bravo ora doce ora salgado

Num temporal de verão

 

Sem camisa na beirada, bombachita arremangada

Botou o petiço na estrada quando a areia lhe guasqueou

Sentiu um arrepio com aquele ar frio

Que o açude e o rio e as águas que ele viu

Não lhe provocou

Coqueiro e figueira nos matos e a bela Lagoa dos Patos

Oh, verdadeiro tesouro

Lago verde azul que na América do Sul

Deus botou pra bebedouro

 

Tempos que ainda tinha o bailado da tainha

Quando o boto vinha com gaivota em revoada

E entre outros animais no meio dos juncais

Surgiam patos baguais que hoje não se vê mais

Este símbolo da aguada

 

Nas noites de lua cheia a gente sentava na areia

Pra ver se ouvia a sereia entre as ondas cantando

E hoje eu volto ali no lugar em que vivi

Onde andei quando guri, me olho lagoa em ti

E me enxergo chorando

Meu Rio

(Helmo de Freitas – O Carijó)

Helmo de Freitas: Motivo (Cecília Meireles) - Gente de Opinião

T Melhor Tema Sobre Ecologia e Meio Ambiente da 1ª Sapecada da Canção Nativa de Lages-SC em 1993 T

Com água no meu peito

Me doendo no coração

Ao ver o desmatamento

Cabresteando a erosão.

 

Ao longe se vê o clarão

Do fogo queimando o mato

Tarumã, cedro e angico

Em carvão, tábua e cavaco.

 

Os redemoinhos dançando

Nesta água eu quero ver

Não me matem este rio

Ao menos em quanto eu viver.

 

Rio...rio...rio...rio

Que mergulhou minhas lembranças

Rio da minha infância.

 

Linha, caniço e bocó

Entre os dedos as tamancas

Quantos capinchos eu vi

Se jogando das barrancas.

 

No remanso a garça branca

E a moura tinha um sossego

O biguá corria na água

Na frente do cisne negro

 

De um lado eu nasci, / Do outro cresci

Deixei minha fome na pitanga, / Meu sangue na japecanga

Rio, rio que me deixou assustado / Com o meu primeiro dourado”.

Domador das Sesmarias

(Helmo de Freitas – O Carijó)


T Linha de Manifestação Campeira e Troféu Calhandra de Ouro - Prêmio Máximo da 23ª Califórnia da Canção Nativa de

Uruguaiana-RS em 1993 T

 

Brotam campos, abrem flores

Largam os reprodutores

Pro focinho da potrada

Os buçais dos domadores

 

Deixam os ranchos e os seus

Hereges, pobres plebeus

Ficam em volta aos rosários

Chinas rezando pra Deus

 

Dando dentada nas loncas

Entre flores de açucenas

Em garrões de rudes pés

Vão cantando as chilenas

 

Travasse uma luta bruta

Entre os dois animais

Por natureza e instinto

Vencem sempre os racionais

 

Com jeito de tapejara

Soprando e tapeando a cara

Volta em coxilhas morenas

Quando a noite é lua clara

 

O ronco da virilha

E o ringir do arreio

Espantam os quero-queros

E se levanta o rodeio.

 

Dançam entre ao vivente

Lambem bota e tirador

Os cachorros que festejam

A volta do domador.

Bilhete do “Cumpadre”

(Helmo de Freitas – O Carijó)


Compadre velho vem me visitar

Tou com saudade das nossas folia

Tira uma hora vem cá matear

Bamo” botar a nossa prosa em dia.

 

Tou te deitando estas simples linha

E desculpa a letra do “biete” ([1])

Pra te lembrar do feijão carioquinha

O fumo em corda e o milho cadete ([2]).

 

Prende os cavalo na tua carroça

Vem passar Natal e Ano Novo

Traz o produto que colheu na roça

Pra fazer uns cobre aqui no povo.

 

Vamos beber um vinho feito em casa

Comer um macucho ([3]) com batata assada

Botá um borrego ([4]) pra pingar na brasa

Contar proezas, mentir e dar risada.

 

Meter um baile lá na bailanta ([5])

Gastar um pouco do nosso dinheiro

Marcar um xote e molhar a garganta

E enticar ([6]) com as moça do povoeiro ([7]).

 

E se tu ficares até o dia seis

Têm uns ranchos pra nós visitar

Não esquece do tambor do Reis ([8])

Fiz um terno ([9]) pra nós dois cantar.



[1]    Biete: bilhete.

[2]    Geographia do Brasil” de Delgado de Carvalho, 1929: Cultiva-se no Brasil variedades de milho, “milho cadete”, milho amarello, milho perola, crystallino, etc.

[3]    Macucho: porco.

[4]    Borrego: cordeiro novo.

[5]    Bailanta: festa popular onde se dança.

[6]    Enticar: implicar.

[7]    Povoeiro: habitantes de um povoado.

[8]    Reis: a tradição dos Ternos de Reis, que celebra o Dia dos Reis Magos a cada 6 de janeiro, ainda persiste em algumas localidades do Rio Grande do Sul.

[9]    Terno de Reis: é como são chamadas as canções, ou os pequenos grupos de músicos que as realizam, que têm como referência a história bíblica dos Três Reis Magos

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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