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Hiram Reis e Silva

Juruá – Tefé (1ª Parte)


Juruá – Tefé (1ª Parte) - Gente de Opinião

 

 

 Juruá – Tefé (1ª Parte) - Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva,
Flutuante  Cauaçu, Amazonas, 19 de fevereiro de 2013.

 

“A partida para o Alto Purus é ainda o meu maior, o meu mais belo e arrojado ideal. Partirei sem temores; e nada absolutamente me demoverá de tal propósito”.
(Euclides da Cunha)

 

O início de minha Expedição pelo Juruá foi carregado de incertezas, dificuldades e obstáculos de toda a ordem, o bom senso recomendava que eu abortasse a Missão. Esta era, porém, uma oportunidade única de desbravar novos horizontes, navegar por estes “brasis ainda sem Brasil” tão desconhecidos dos nacionais e olvidados pelo poder público, perlustrar infindos meandros do serpenteante Juruá, conhecer novas gentes e, sem dúvida, de ter a ventura ímpar de fazer parte de uma Expedição histórica que desceria de caiaque, pela primeira vez, na história do tumultuário Juruá, percorrendo-o na sua integralidade. Tudo conspirava contra, mas as palavras do imortal Euclides da Cunha, meu escritor favorito, retumbavam na minha mente e me impulsionavam a continuar. Henry Ford dizia que “existem mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. Eu podia até fracassar, não concluindo a missão sucumbindo aos inúmeros fatores adversos identificados desde o planejamento, mas desistir nunca. Esta opção jamais foi considerada, eu ia reconhecer o Juruá me empenhando de corpo e alma como se esta fosse a Missão mais importante de toda minha vida. Eu estava confiante, embora ciente das agruras que iria encontrar nestes “ermos dos sem fim”. Como oficial de engenharia de construção aprendi a superar, improvisar, criar, a buscar recursos onde fosse necessário e não seria agora que as dificuldades logísticas iriam comprometer este projeto.

 

-  Inconstante Juruá

“A inconstância tumultuária do Rio retrata-se ademais nas suas curvas infindáveis, desesperadoramente enleadas, recordando o roteiro indeciso de um caminhante perdido, a esmar horizontes, volvendo-se a todos os rumos ou
arrojando-se à ventura em repentinos atalhos...”

(Euclides da Cunha)

 

Nos Municípios ao Norte da Bacia do Juruá no Estado do Amazonas as aulas só se iniciam após as cheias enquanto ao Sul elas começarão agora e serão interrompidas quando as águas da grande alagação chegarem. O comportamento do Rio influencia sobremaneira a vida dos ribeirinhos e é preciso conhecer os segredos de sua hidrodinâmica para administrar corretamente o cotidiano dos que vivem às suas margens. Os Rios de planície tem um comportamento bastante diverso de seus irmãos que fluem por terrenos mais acidentados onde a variação do nível das águas é praticamente uniforme em seu todo curso. Um infindável número de Lagos, Sacados e Igapós sangram ferozmente as águas do Juruá até que estejam nivelados ao tumultuário Rio determinando que a cheia se processe progressivamente por platôs. É interessante observar suas águas fluindo para maioria dos pequenos afluentes transformando-o, temporariamente, em tributário de seus próprios afluentes. As cheias se processam, portanto, por setores já que as águas do Rio são drenadas intensiva e inexoravelmente desde sua nascente.

As escuras marcas no caule das árvores deixadas pela última alagação mostravam nitidamente este comportamento peculiar. Em Carauari, quando por lá passamos, a marca estava a apenas 50 cm do nível do Rio enquanto que no Município de Juruá, uma semana mais tarde, mais abaixo, faltavam 2,50 m para atingi-la.

 

-  Juruá – Comunidade Estirão das Gaivotas (16.02.2013)

Aprontamos nossas tralhas e, às 05h30, antes mesmo de telefonar para a Polícia Militar a viatura já estava a postos. Partimos rumo à Comunidade Saudade, a única das três contempladas no Mapa do DNIT que realmente existia. Há pouco mais de sete quilômetros passamos pelo Arrombado do Batalha, que parece ser o único furo que sofreu intervenção institucional no Rio Juruá. O então Prefeito Raimundo Batalha Gomes determinou que seu pessoal escavasse um furo para abreviar os deslocamentos de quem demandasse do Juruá para o Solimões.

Marcamos a foz do Rio do Breu e entramos no braço Ocidental do Juruá onde se encontra a Ilha de Antonina. A formação de Antonina foi similar à das Ilhas de Marari e Chué, o Rio do Breu tangenciava o Juruá até que o barranco que separava os dois caudais foi rompido criando a lha de Antonina. No início a largura deste canal era a mesma do Rio do Breu que o originou e com o passar dos anos solapado pela energia das alagações foi se transformando no talvegue do Rio enquanto o braço Oriental foi, aos poucos, perdendo sua importância.

Depois de remarmos 70 quilômetros comecei a me sentir mal. Meu coração batia muito rapidamente e fiquei preocupado com a pressão, chamei o Mário que me alcançou imediatamente meu kit de medicamentos e tomei três remédios para baixar a pressão. Melhorei um pouco e retornamos aos remos, a jornada era longa e não podíamos nos dar ao luxo de perder tempo. O sol a pino e a ausência de ventos transformara o Juruá num imenso espelho a refletir a abóboda celeste e as nuvens. Era um momento mágico e eu absorto navegava ou flutuava mesmo sobre nuvens em busca da Terceira Margem.

Dez quilômetros antes do que eu achava ser o nosso destino, a Comunidade Saudade, despachei o Mário para fazer contato, e para nossa surpresa depois de uma curva avistamos um povoado que, mais tarde, ficamos sabendo se tratar da Comunidade do Estirão das Gaivotas. Imediatamente eu e o Marçal nos refugiamos nas canaranas aguardando o resultado das negociações do Mário temerosos de que aparecendo comprometêssemos a transação. Depois de algum tempo fomos ao encontro do Mário que, para nossa surpresa, vinha ao nosso encontro. Achamos que mais uma vez tinham nos fechado as portas e desanimados aguardamos nosso companheiro. Ele vinha ao nosso encontro informar que o Secretário extraordinário de Juruá o amigo José Arribamar já tinha passado por ali e recomendado que pernoitássemos no Estirão das Gaivotas já que esta era a única Comunidade que possuía uma escolinha para nos abrigar nos próximos 60 km.

 

-  Investimento em Soberania

Mais uma vez apelamos a nossos investidores para que continuem colaborando, cada um dentro de suas posses, para que possamos cumprir a meta de chegar a Manaus. Aqueles que ainda não conhecem nosso projeto peço que visitem o Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com

Conta Bancária de Hiram Reis e Silva

Banco do Brasil (001) - Agência: 4848 - 8

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E-mail:  hiramrs@terra.com.br

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-  Livro do Autor

O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS e na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br). Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:

http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false

 

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Fonte: Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.

E-mail: hiramrs@terra.com.br

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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