Terça-feira, 28 de março de 2023 - 06h05
Bagé, 28.01.2023
Mais
uma vez tenho a honra de repercutir um belo artigo de meu caro Amigo, Irmão e
Mestre Higino Veiga Macedo, editado em João
Pessoa.
Modismo
nas Palavras
(Higino Veiga Macedo)
É impressionante como não se tem mais respeito pela
língua portuguesa. Cada dia aparecem neologismo e estrangeirismo,
desnecessários, para entendimento das falas, oral ou escrita. São usados apenas
para afagar a vaidades de pseudointelectuais. E, infelizmente não se tem um
órgão, uma lei, um alguém que cuide dela. Engraçado que os países ibéricos,
nossos berços, têm suas academias que fazem isso com proficiência.
Assistindo a um programa de televisão, sobre
futebol, acabei por desligar a TV. Como não se tem como entrar na discussão,
por motivos óbvios, desisti para não ficar mais irritado.
O atual domínio da dialética marxista se impõe ao
linguajar. Todos criam palavras, criam etimologias, criam semânticas e até
criam hermenêutica. As três, das sete portas das Artes Liberais – trivium ([1]) – gramática,
retórica e dialética são agredidas, sempre.
Para Platão a dialética é a arte de pensar,
questionar e hierarquizar ideias.
Para Aristóteles, a dialética consiste num
procedimento lógico de verificação da validade dos argumentos...
Marx ([2]) adota a dialética
de Hegel, alemão e mais velho que ele. Hegel distorce a dialética platônica e
aristotélica. Para os gregos há ter o contraditório para aperfeiçoar a ideia,
de forma silogística (aperfeiçoar a ideia), e não para combatê-la, de forma
sofística (contrariar por contrariar).
Hegel cria um pensamento movimentado, isto é,
qualquer ideia – “tese” – pode ser contrariada com uma “anti tese”
– “antítese” e ter um confronto de ideias. Isso produz a SÍNTESE. A
Síntese (do grego súnthesis,eōs no sentido de mistura, síntese, contrato), para
Hegel, não deve conter “nada da tese e nem da antítese”. Sentido novo e
distinto. Esta síntese se torna uma tese, que encontrará uma antítese, que
formará outra síntese... Assim, um movimento contínuo.
E Engels, outro alemão e amigo de Marx, complica
mais a dialética que passa a ser a dialética marxista. Para ele, Engels, um
defensor do totalitarismo conquistado por guerra civil, concluiu que qualquer
coisa funcionava como na dialética.
Assim, afirmou que o capitalismo (tese) só poderia
ser vencido pela revolução (antítese) proporcionando à toda sociedade as “bases
sociais para uma sociedade sem divisão de classes” (síntese). Complica mais
com a sua confusa definição de materialismos dialético e materialismo
histórico. Os marxistas se dizem materialista dialético.
Isso tudo foi aperfeiçoado modernamente pelo
marxista Jacques Derrida ([3]), argelino, (ô 15.07.1930 / U 09.10.2004) como
desconstrução ou “descontrucionismo”. Para ele, conceitos tradicionais
podem e até devem ser desconstruídos: religião, família, pátria, leis,
regras... enfim, tudo como se “animalescamente” fosse a vida.
Voltando ao programa, me irritou um ex-jogador,
que copiou de alguém, comentando o seguinte: o atleta XY da equipe WZ, quando
de posse da bola não “definia a jogada” pela sua falta de “tomada de
decisão”. Demorava na “tomada de decisão”. Ora qualquer jogo, como
na guerra, não há tempo para se pensar num verbo, qualquer, para situação nova.
Não há como imaginar situações contidas nos verbos Identificar, Examinar,
Estudar, Comparar, Analisar... Portanto, tudo tem de estar muitíssimo
treinado. O cérebro não pode “parar” para analisar, identificar... Ele
tem de agir por “instinto”, por ação mecânica. No cérebro, para esse
mecanicismo instintivo, é acionado o Sistema Límbico ([4]), que [...] “responde
pelos comportamentos instintivos, [...] É por isso que o jogador de basquete
Oscar Schmidt fazia 300 lançamentos após o treino; que o futebolista Marcelinho
Carioca batia 100 faltas após o treino. Eram gênios? Não... apenas alimentam
seus reflexos condicionados para agirem por eles, automaticamente.
Portanto, é uma grande lorota essa de “tomada de
decisão” para se fazer um drible ou finalizar no gol. É o Sistema Límbico
(limbo, periférico) que age. Arquiva e desarquiva quando precisa, sem receber
ordens de outra parte do cérebro.
Outra patacoada “indeglutível” é a tal de
Narrativa. Em texto que tem “narrativa” eu não leio mais.
NARRATIVA é sempre uma historinha de “alguém”,
contada por “outro alguém”, mas que só “ouviu alguém falar”. Na
norma dita culta, na verdade “norma não corrompida”, narrativa remete a
qualquer coisa de ficção, irreal, imaginaria... Quando é real, é uma notícia,
portanto, por si só é uma narrativa. Para intelectualizar o uso da palavra, um
assunto que passa pelos filmes, pelas novelas e pelas plataformas de
comunicação, recebe o selo de garantia de: NARATIVA. E para endeusar mais pode
até ser Narrativa Transmídia ([5]). Reduzindo ao
mínimo múltiplo comum, a palavra da moda fica bem definida pelo caipira
mineiro: NARRATIVA é só – PROZA, PITACO, CONVERSA FIADA... uai!!!.
Resumindo, sinto que tais modismos nada mais são
que tons de vermelho da dialética marxista. Sabem que as PALAVRAS terão vidas
efêmeras, pois logo aparecerá outra, como antítese, e elas morrerão abraçadas,
surgindo uma nova e diferente. A história se repete, sempre. Na verdade, já
disse um filósofo: a novidade é a história que não foi consultada.
Higino
Publicação
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Trivium – dialética – formulação e discussão do
pensamento; retórica – técnica da
discussão do pensamento; gramática –
é o registro da ideia e da discussão.
[2] Moses Mordecai
Marx Levy - Verdadeiro nome de Karl Marx.
[3] Derrida - “A
desconstrução argumenta que a linguagem, especialmente em conceitos idealistas
como verdade e justiça, é irredutivelmente complexa, instável e difícil de
determinar, tornando as ideias de linguagem fluidas e abrangentes mais
adequadas à crítica desconstrutiva”.
(Desconstrução – Wikipédia, a enciclopédia
livre – wikipedia.org)
[4] Límbico: relativo ao sistema do cérebro
responsável pelas emoções e pelo comportamento social. (Hiram Reis)
[5] Narrativa Transmídia – foi cunhado pelo teórico, da área da
comunicação, Henry Jenkins em seu livro: “Cultura da Convergência”.
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