Quarta-feira, 6 de maio de 2020 - 08h07
Bagé, 06.05.2020
Prefiro não ver mais meus filhos! Que fiquem antes
todos sepultados no Paraguai, com a morte gloriosa no campo de batalha, do que enlameados
por uma paz vergonhosa para a nossa Pátria!
O Noticiário do
Exército publicou em 17.09.2019:
Dia da Família Militar – 18 de Setembro
A Portaria do
Comandante do Exército nº 650, de 10.06.2016, aprovou a entronização de D. Rosa
Maria Paulina da Fonseca [1802 a 1873] como Patrona da Família Militar e
estabeleceu o dia 18 de setembro, seu nascimento, como o Dia da Família
Militar, consagrando e incentivando o sentimento de família no seio da Força.
Diante dos desafios de
uma época na qual valores se perdem, referências faltam e princípios e
convicções são relativizados, a instituição de D. Rosa da Fonseca como a
Patrona da Família Militar foi muito oportuna, pois resgata os exemplos de
união familiar, de patriotismo e de devoção ao Brasil, bem como enaltece a
história de devoção familiar dos Fonseca, destacando o sacrifício supremo dos
três irmãos pela Pátria, o sucesso profissional dos demais militares e a
abnegação dos familiares, em especial da matriarca.
A nossa Patrona da
Família Militar nasceu em 18.09.1802, na antiga capital de Alagoas, atual
município de Marechal Deodoro, e casou-se no ano de 1824 com Manuel Mendes da
Fonseca, militar do Exército, dando início à formação de uma das mais
importantes linhagens militares do Brasil. Dessa união nasceram dez filhos:
oito homens e duas mulheres.
Dos filhos homens, sete
deles se devotaram ao serviço da Pátria, incorporando às fileiras do Exército.
Durante a Guerra da Tríplice Aliança, conflito que se estendeu de maio de 1865
a março de 1870, por decisão conjunta dos irmãos Fonseca, uma vez que o
patriarca da família, então Tenente-coronel, havia falecido no ano de 1859,
apenas um de seus filhos militares permaneceu no seio familiar com a finalidade
de garantir a segurança da matriarca e das outras mulheres e crianças da
família. Seis dos irmãos militares seguiram para as frentes de batalha.
Fruto da educação
recebida, faz-se necessário assinalar alguns aspectos da vida de seus filhos:
– o
mais jovem, o Alferes do 34º Batalhão dos Voluntários da Pátria Afonso Aurélio
da Fonseca morreu heroicamente em Curuzú;
– o
Capitão de Infantaria Hipólito Mendes da Fonseca foi morto na Batalha de
Curupaití;
– o
Major de Infantaria Eduardo Emiliano da Fonseca foi ferido mortalmente no
combate da ponte de Itororó;
– o
General de Brigada João Severiano da Fonseca foi médico, professor, escritor,
historiador e, como militar, participou da campanha do Paraguai, sendo o
primeiro médico a ascender ao generalato e, hoje, figura como Patrono do
Serviço de Saúde do Exército Brasileiro;
– o
Marechal Severiano Martins da Fonseca recebeu o título nobiliárquico de Barão
de Alagoas e foi Diretor da Escola Militar de Porto Alegre; e
– o
Marechal de Exército Manuel Deodoro da Fonseca foi o Proclamador da República e
o primeiro Presidente do Brasil. Era o valor em pessoa, a coragem, a decisão e
a firmeza.
A par disso, ainda, o
primogênito, Hermes Ernesto da Fonseca, foi pai de outro importante ícone da
família, o Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, oitavo Presidente da República
do Brasil.
Os grandes feitos
realizados pelos seus filhos e neto sem dúvida foram frutos do esforço de D.
Rosa da Fonseca a serviço da Pátria e da educação recebida com ênfase nas
virtudes morais e intelectuais, tão necessárias aos que se sacrificam por
ideais de liberdade e de bem comum.
O Exército Brasileiro,
cujas bases se firmam solidamente em pressupostos de ética, honra e caráter, ao
lado da hierarquia, da disciplina e da camaradagem, entende que uma concreta
base familiar é condição “sine qua non”
na consolidação de traços positivos de comportamento. Desta forma, a presença
indireta dessa valorosa mulher nos campos de batalha da Guerra do Paraguai foi
percebida na atuação heroica de seus filhos em combate.
Consta dos relatos históricos
que, nas comemorações da vitória de Itororó, D. Rosa recebeu o boletim com a
notícia da morte do filho caçula (Afonso Aurélio) e dos graves ferimentos de
Manuel Deodoro, mas nem por isso deixou de homenagear as tropas, estampando a
Bandeira Nacional em uma das janelas de sua casa. E quando pessoas amigas
chegaram para dar-lhe os pêsames, D. Rosa teria afirmado:
Sei o que houve, talvez
até Deodoro mesmo esteja morto. Mas hoje é dia de gala
pela vitória; amanhã chorarei a morte
deles.
Sua firmeza, equilíbrio
e força foram mais uma vez evidenciados quando, em um dos momentos de tristeza
e angústia pela vida dos seus filhos, recebeu a visita de um representante da
Corte em nome do Imperador para apresentar-lhe os pêsames, e com muita calma e
impassividade disse ao mesmo:
A vitória que a pátria alcançava,
e que todos tinham ido defender, valia
muito mais que a vida de seus filhos.
Após esse verdadeiro
ato de altruísmo, o referido oficial curvou-se ante aquele caráter forte e
diamantino e, visivelmente comovido, beijou a mão daquela admirável dama, que
lhe parecia a encarnação da própria Pátria. [...]
Verdadeiro modelo de
desprendimento, amor, caridade, renúncia e, principalmente, resignação pela
maneira como se portou nos momentos difíceis da vida.
Será sempre um exemplo
de mãe, símbolo maior da família, que todos nós emulamos e que indica os
valores norteadores da ética para a família militar do Exército Brasileiro.
Ao instituir o dia 18
de setembro, data natalícia de D. Rosa da Fonseca, a matriarca exemplar, como o
Dia da Família Militar, o Exército Brasileiro presta a devida homenagem à
família na figura dessa respeitada e admirada esposa e mãe de militares,
reconhecendo a importância do espírito de sacrifício e de luta, que possibilita
aos integrantes da Força Terrestre alcançarem o sucesso pessoal e profissional,
com o sentimento de dever cumprido, seja qual for a missão.
(https://www.eb.mil.br/web/noticias/noticiario-do-exercito/...)
Os Sete Irmãos Macabeus
No
livro em que reporto a minha Descida pelo Rio Madeira desde Porto Velho (RO)
até Santarém (PA), de 22.12.2011 a 15.02.2012, onde naveguei, pouco mais de
2.000 km, pelos Rios Madeira, Amazonas, Trombetas e Tapajós, reproduzi algumas
das expedições mais extraordinárias executadas neste dinâmico manancial que tem
a característica singular que é a de arrastar milhares de troncos de árvores ao
longo do leito por dia. Acompanhei, remo a remo, as heroicas empreitadas de
Antônio Raposo Tavares, de Francisco de Mello Palheta, de José Gonçalves da
Fonseca e a mais recente delas a do Coronel João Severiano da Fonseca. A
narração dele ([1]), como integrante da Comissão
de Limites entre o Brasil e a Bolívia, foi, sem dúvida, a que mais me cativou.
Nela o insigne Patrono do Serviço de Saúde do Exército descreve os costumes e
compila um glossário do vocabulário linguístico das diversas etnias indígenas
com as quais a Comissão entrou em contato. A obra além de mostrar a
participação dos nativos como auxiliares na exploração e colonização do território,
narra com detalhes as dificuldades enfrentadas nas passagens pelas Cachoeiras e
ilustra com detalhadas gravuras as rotas utilizadas pelos expedicionários para
ultrapassá-las.
Recorri,
na época, à obra “Os Patronos das Forças
Armadas” de autoria do Gen Olyntho Pillar e publicada pela Biblioteca do
Exército, para apresentar a biografia do Cel Severiano da Fonseca. Nela o autor
compara D. Rosa Maria à mãe dos Sete Macabeus:
Neste passo é justo
ressaltar-se que a respeitabilíssima matrona, que com desvelo os soube embalar
ao regaço materno, logrou, pelas suas virtudes espartanas, sobreviver nos
fastos da história cívica com o imortal epíteto de “Mãe dos 7 Macabeus”.
Bíblia Sagrada ‒ Macabeus - Livro II
Capítulo VII
Martírio dos Sete Irmãos Macabeus,
e de sua Mãe
1 Havia também
sete irmãos que foram um dia presos com sua mãe, e que o rei, por meio de
golpes de azorrague e de nervos de boi, quis coagir a comerem a proibida carne
de porco.
2 Um dentre
eles tomou a palavra e falou assim em nome de todos: “Que nos pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos a morrer,
antes de violar as leis de nossos pais”.
3 O rei, fora
de si, ordenou que aquecessem até a brasa assadeiras e caldeirões.
4 Logo que
ficaram em brasa ordenou que cortassem a língua do que falara por todos e,
depois, que lhe arrancassem a pele da cabeça e lhe cortassem também as
extremidades, tudo isso à vista de seus irmãos e de sua mãe.
5 Em seguida,
mandou conduzi-lo ao fogo inerte e mal respirando, para assá-lo. Enquanto o
vapor da assadeira se espalhava em profusão, os outros, com sua mãe,
exortavam-se mutuamente a morrer com coragem.
6 “O Senhor nos vê” – diziam –“ e certamente terá compaixão de nós, como o
diz claramente Moisés no seu cântico de admoestações: Ele terá compaixão de
seus servo”.
7 Desse modo,
morto o primeiro, conduziram o segundo ao suplício. [...]
10 Após este,
torturaram o terceiro. Reclamada a língua, ele a apresentou logo, e
estendeu as mãos corajosamente. [...]
13 Morto este,
aplicaram os mesmos suplícios ao quarto, [...]
15 Arrastaram, em
seguida, o quinto e torturaram-no. [...]
18 Após este,
fizeram achegar-se o sexto, [...]
20 Particularmente
admirável e digna de elogios foi a mãe que viu perecer seus sete filhos no
espaço de um só dia e o suportou com heroísmo, porque sua esperança repousava
no Senhor.
21 Ela exortava a
cada um no seu idioma materno e, cheia de nobres sentimentos, com uma coragem
varonil, realçava seu temperamento de mulher. [...]
24 Receando,
todavia, o desprezo e temendo o insulto, Antíoco solicitou em termos
insistentes o mais jovem, que ainda restava, prometendo-lhe com
juramento torná-lo rico e feliz, se abandonasse as tradições de seus
antepassados, tratá-lo como amigo e confiar-lhe cargos.
25 Como o jovem
não lhe prestava nenhuma atenção, o rei mandou que a mãe se aproximasse e o
exortasse com seus conselhos, para que o adolescente salvasse sua vida. [...]
30 Logo que ela
acabou de falar, o jovem disse: “Que
estais a esperar? Não atenderei às ordens do rei. Obedeço àquele que deu a Lei
a nossos pais, por intermédio de Moisés”. [...]
41 Seguindo as
pegadas de todos os seus filhos, a mãe pereceu por último.
(Machado de Assis, in
“Crisálidas”)
As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cânticos da terra.
No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis ([2]) do crime a alma naufraga,
A derradeira bússola nos seja,
Senhor, tua palavra.
A melhor segurança
Da nossa íntima paz, Senhor, é esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
O fulgido caminho.
Ah! feliz o que pode,
No extremo adeus às cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
Vê quanto vale a terra;
Quando das glórias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, ‒ os olhos moribundos
Volta às eternas glórias;
Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E só por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.
Bibliografia:
PILLAR,
Olyntho. Os Patronos das Forças Armadas
– Brasil – Rio de Janeiro – Biblioteca do Exército Editora, 1981
Solicito
Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
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