Sábado, 9 de maio de 2020 - 09h17
Bagé, 11.05.2020
Vamos, a seguir,
repercutir algumas reportagens dedicadas à nossa “Voluntária da Pátria”:
Correio Paulistano n° 2.842
São Paulo, SP – Sexta-feira, 17.11.1865
O Brado da Virgem
(Recitativo Patriótico, Oferecido às Senhoras Brasileiras por
Francisco Muniz Barreto)
À Guerra, à Guerra meu Brasil ingente!
Oh! Não desmente o teu passado,
não!
À Guerra, à Guerra! lá no
Sul teu povo
Levante um novo marcial
padrão!
Ouve, a bombarda ([1])
a combater te chama...
Bem alto a fama te apregoa
já:
De Riachuelo e Paysandu na
história
Já tua glória eternizada
está.
Teus bravos filhos à peleja
corram;
Vençam, ou morram; que
assim quer o céu:
Quem os gemidos da mãe
Pátria escuta,
E foge à luta, de alto
crime é réu.
Rompa, espedace o
brasileiro gládio,
Dos seus paládio, ao
paraguaio arnês ([2])!
Brazil! A afronta, que hás
sofrido, prava ([3]),
No sangue lava do feroz
López!
Com essa de Palas ([4]),
multidão galharda,
Que vai a farda da Milícia
honrar,
Voa às muralha Humaitá
derruba
Com a crespa juba, meu
leão sem par!
Perigos, refregas denodado
arrosta!
Castiga, prostra de
Assunção o bei ([5])!
Para ensinar-te da vitória
os trilhos,
Com seus dois filhos lá
está teu Rei.
Rasgo sublime de amor
santo e fundo
Pedro Segundo praticou por
nós
Lá troca o cetro pela
régia espada,
Que herdara honrada, de
seu Pai e Avós.
À sua Pátria sacrifica a
vida,
Vendo-a invadida pelo
inimigo audaz;
Esposa, filhas, tudo
esquece, e parte,
Anjo de Marte, como o é da
Paz.
Pátria, os teus brios mais
e mais se expandam!
Ao Sul nos mandam Natureza
e Deus:
À voz de ‒ Guerra ‒ que
nos vem de cima,
Nenhum se exima dos bons
filhos teus.
Êmulos surjam de Marcílio
Dias
Nessas porfias de mavórcio
([6])
ardor;
Cada um dos nossos, na
naval peleja,
Barroso seja no imortal
valor.
Virgens
e donas da Brasileia terra,
Também à guerra devereis
correr,
Se por ventura masculinos
braços
Forem escassos pra o
Brasil vencer.
Mães, vossos filhos,
exortai, no entanto,
Ao prélio Santo, que nos
vai remir
Dessa invasão do paraguaio
corvo,
Que a fome, torvo ([7]),
quer em nós nutrir.
Irmãs, esposas, ao
combate, ardidos.
Vossos maridos, deixai ir
e irmãos!
Oh! pelo Céu! não vos
tomeis de amores,
Nem de temores pueris e
vãos!
Eia, patrícias! Varonil
pujança.
Não conte a França em suas
filhas só;
Dela e de Roma feminis
proezas
Obrai, acesas do Brasil em
pró!
Segui o exemplo, que,
valente, abre
Jovita, o sabre a manear
gentil;
Ide com ela, de clavina ([8])
ao ombro,
Fazer o assombro do gaúcho
vil!
Brasília ([9])
guarda nacional briosa,
Que já famosa em teu
civismo és,
Vai retomar ao Paraguai
teu solo,
Da hidra o colo, machucar
aos pés ([10])!
Vai! Lá te espera o nosso
sábio e justo
Irmão augusto e desvelado pai...
Por ti milícia cidadã
bendita,
A Pátria grita: defendê-la
vai!
Brazil! Ao insulto
inesperado, amargo,
Do teu letargo despertaste
enfim...
Em ti não mais inércia tal
se aponte;
Não mais te afronte o
estrangeiro assim!
Não mais te oprimam
dolorosas fases,
Formoso Oásis dos amores
meus!
Longe discórdias e fatal
cobiça!
Pátria! Justiça, Monarquia
e Deus! (CP N°)
O escrito Joaquim Maria
Machado de Assis manifestou sua sexista opinião, concorde com a sociedade da
época, a respeito da participação das mulheres na Guerra do Paraguai:
Diário do Rio de Janeiro n° 32
Rio de Janeiro, RJ – Terça-feira,
07.02.1865
Folhetim
Ao Acaso (Revista da Semana)
Dedico este folhetim às
Damas. [...]
Mas não é neste ponto
de vista que eu venho hoje falar das damas. Deixemos em paz os amantes e os
moralistas. Não entrais hoje neste folhetim, minhas senhoras, como Julietas ou
Desdemonas ([11]),
e sim como Espartanas, como Filipas de Vilhena ([12]),
como irmãs de caridade.
A bem dizer é uma
reparação. Já falei dos “Voluntários”;
já consagrei algumas palavras de homenagem aos corações patrióticos que, na
hora do perigo, esqueceram-se de tudo, para correr à defesa da Pátria. Mas,
nada escrevi a respeito das damas, e quero hoje reparar a falta, começando por
aí e dedicando às damas estas humildes colunas.
Não nascestes para a
Guerra, isto é, para a guerra da pólvora e da espingarda. Nascestes para outra
Guerra, em que a mais inábil e a menos valente vale por dois Aquiles. De
qualquer modo, ajudais os homens. Uma como mãe espartana, arma o filho e manda
para a Batalha; outras bordam uma bandeira e entregam aos soldados; outras
costuram as fardas dos valentes; outras dilaceram as próprias saias para encher
cartuchos; outras preparam os fios para os hospitais; outras juncam de flores o
caminho dos bravos.
Voltará aquele filho
antes da desafronta da Pátria? Deixarão os soldados que lhes arranquem aquela
bandeira? Entregarão as fardas que os vestem? Sentirão os ferimentos quando aqueles
fios os vão curar? [...]
Não tendes uma espada,
tendes uma agulha; não comandais um regimento, formais coragens, não fazeis um
assalto, fazeis uma oração; não distribuis medalhas, espalhais flores, e
estais, podeis estar certas, haverão de lembrar quando forem secas, os feitos
passados e as vitórias do País. (DRJ N° 32)
A negativa da
Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra, em 16.09.1865, enuviou a imagem da
destemida “Voluntária” imergindo sua
sedutora e destemida figura em uma série de eventos que culminaram com um fim
trágico.
Publicador Maranhense n° 253
São Luís, MA – Terça-feira, 05.11.1867
Suicídio –
Lê-se no Jornal do Commercio: – Suicidou-se anteontem de tarde, na casa da
praia do Russell n° 43, Jovita Alves Feitosa, natural do Ceará, a mesma que
viera para esta Corte com o posto de Sargento em um Batalhão de Voluntários
daquela Província, e que tendo depois tido baixa, aqui ficou. A respeito deste
trágico acontecimento e dos motivos que levarão aquela infeliz a dar fim aos
seus dias, comunicou-nos a autoridade competente o seguinte:
Jovita entretinha há
algum tempo relações com Guilherme Noot, engenheiro da companhia “City Improvements” morador com outro
engenheiro da mesma companhia na casa acima. Tendo finalizado o tempo do
contrato que Noot tinha com a companhia, e devendo ele partir anteontem para à
Inglaterra, escreveu, no domingo, à Jovita um bilhete em inglês, no qual
despedia-se participando-lhe aquela sua intenção.
Desconhecendo a língua
inglesa, e na suposição de que aquele bilhete não continha mais do que a
repetição de cumprimentos que o mesmo lhe havia mais de uma vez dirigido em
outros escritos em português, Jovita não se deu pressa em procurar quem lho
traduzisse.
Anteontem de manhã,
indo alguém à rua das Mangueiras n° 36, onde morava a infeliz, disse-lhe que
Noot havia partido no paquete inglês “Oneida”,
notícia esta que causou-lhe surpresa e desassossego tais que uma mulher que com
ela morava, temendo algum desatino da sua parte, procurou tranquilizá-la,
dizendo-lhe que talvez não fosse Verdade.
Pouco depois de 2 horas
da tarde fez Jovita chamar um carro, e vestida com todo o esmero, nele entrou,
mandando que a conduzissem à casa indicada na praia do Russell, onde chegando e
sabendo de uma preta que com efeito Noot havia partido e que seu companheiro
não se achava em casa, entrou no quarto que fora habitado por aquele a quem
procurara, e tendo pedido um envelope nele meteu alguns papeis endereçados a
Noot, entregou-os preta com a recomendação de remetê-lo, e sentou-se na cama
que ali havia, retirando-se a preta.
Às 5½ horas, vendo a
preta que a moça ainda se conservava no quarto, ali penetrou e encontrando-a
deitada na cama com a mão direita sobre o coração e parecendo presa do algum
ataque, tentou reanimá-la chegando-lhe ao nariz um vidro com água de colônia,
depois do que procurou levantá-la e viu então que a mão colocada sobre o
coração apertava um punhal nele cravado até às guardas.
Foi então chamado o Dr.
façanha, subdelegado da Glória, o qual ajudado pelo respectivo médico verificador
dos óbitos, Dr. Goulart, procedeu à autopsia no cadáver, verificando ter o
punhal penetrado na região precordial, entre a 4ª e a 5ª costela, ferindo
ligeiramente o bordo do pulmão esquerdo o indo penetrar na cavidade esquerda do
coração. No bolso esquerdo do vestido da suicida foi encontrado um bilhete por
ela escrito, declarando que ninguém a havia ofendido e que matava-se por
motivos que só dela e de Deus então conhecidos. Ao sair de sua casa Jovita
despedira-se da mulher que com ela morava, dizendo-lhe: “Adeus até nunca mais nunca”. (Publicador Maranhense n° 253)
Bibliografia:
CP, N° 2.842. Notícias
da Expedição de Mato Grosso ‒ Brasil – São Paulo, SP ‒ Correio Paulistano,
n° 2.842, 17.11.1865.
DRJ N° 32. Folhetim
– Ao Acaso – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Diário do Rio de Janeiro n° 32,
07.02.1865.
Publicador Maranhense n° 253. Suicídio – Brasil – São Luís, MA – Publicador Maranhense n° 253
05.11.1867
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Bombarda:
antigo morteiro que arremessava grandes pedras.
[2] Arnês:
armadura.
[3] Prava: cruel.
[4] Palas Arena:
deusa da sabedoria, da estratégia em batalha...
[5] Bei: Governador
de província muçulmana.
[6] Mavórcio: marcial.
[7] Torvo: terrível.
[8] Clavina: carabina utilizada pela tropa de cavalaria no século
XVIII.
[9] Brasília: brasileira, brasiliana, brasílica.
[10] “Aos pés do vencedor
obediente” “O colo oferece a áspera
corrente” ‒ Ode a Afonso de Albuquerque. (BARBOZA)
[11] Peça baseada em Otelo ‒ O Mouro de Veneza, de William Shakespeare
escrita nos idos de 1603.
[12] D. Filipa de Vilhena, Marquesa de Atouguia, considerada, pelos
portugueses, um dos seus maiores símbolos do patriotismo.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H