Quinta-feira, 2 de julho de 2020 - 12h35
Bagé, 02.07.2020
Rio
das Amazonas
O
Amazonas é um extraordinário manancial que vem desafiando, através dos últimos
cinco séculos, não apenas a capacidade dos cientistas de determinar suas
características fisiogeográficas e a pródiga imaginação dos românticos poetas
mas, sobretudo, a capacidade de sobrevivência sustentável dos povos da floresta
cujas vidas dependem diretamente de suas águas.
Águas
alegres e generosas que fertilizam a várzea e estimulam os ribeirinhos a
acorrerem em mutirões lançando, na vazante, suas sementes às praias fecundas,
para colher mais tarde os frutos de seu esforço e da munificência do pródigo
caudal.
Águas
por vezes procelosas, soturnas, fúnebres mesmo, arrancando enormes barrancos
das margens arrastando árvores, casas e levando o terror às almas destemidas
dos povos das águas.
O
Rio, que no passado corria para o Pacífico, que mais tarde foi transformado em
um imenso Lago (Pebas) continua moldando, trabalhando as margens a seu
bel-prazer. Arrancando um barranco aqui, iniciando uma Ilha mais adiante,
assoreando e abandonando um Canal acolá, transformando um pequeno Furo em braço
principal e levando por diante uma Ilha mais além, é a “Inconstância Tumultuária” a que se refere o inigualável Euclides da
Cunha, no seu “Paraíso Perdido”.
Amazônia,
a Pátria da Água
O
artífice das letras Thiago de Mello faz um belo relato poético-geográfico do
grande Rio sob o título “Nasce o Amazonas”.
O texto do grande mestre nos faz sonhar! Vagamos juntos desde a cordilheira
majestosa, onde o pequeno filete d’água brota das perenes geleiras moldando seu
curso, ainda infantil, na parede das rochas, e ganha, pouco a pouco, energia de
outras fontes andinas até penetrar na luxuriante vereda tropical cujo traçado
instável e indeciso segue a cavaleiro da linha do Equador até alcançar o mar através
de seu formidável estuário.
Da altura extrema da
cordilheira, onde as neves são eternas, a água se desprende e traça um risco
trêmulo na pele antiga da pedra: o Amazonas acaba de nascer. A cada instante
ele nasce. Descende devagar, sinuosa luz, para crescer no chão. Varando verdes,
inventa seu caminho e se acrescenta. Águas subterrâneas afloram para abraçar-se
com a água que desceu dos Andes. Do bojo das nuvens alvíssimas, tangidas pelo
vento, desce a água celeste. Reunidas, elas avançam, multiplicadas em infinitos
caminhos, banhando a imensa planície cortada pela linha do Equador.
Planície que ocupa a
vigésima parte da superfície deste lugar chamado Terra, onde moramos. Verde
Universo equatorial, que abrange nove países da América Latina e ocupa quase a
metade do chão brasileiro. Aqui está a maior reserva mundial de água doce,
ramificado em milhares de caminhos de água, mágico labirinto que de si mesmo se
recria incessante, atravessando milhões de quilômetros quadrados de território
verde... É a Amazônia, a pátria da água. (MELLO)
À
Margem do Amazonas
O
escritor Aurélio Pinheiro, o maior romancista do Rio Grande do Norte, lançou
seu primeiro romance, “O Desterro de
Umberto Saraiva”, em 1926, editado na livraria Clássica, de Manaus e, em
1937, pela Companhia Editora Nacional, o “A
Margem do Amazonas”. Reproduziremos um trecho desta histórica obra:
Ao chegar ao Haiti, Colombo
quer ver o lugar das minas, porém os indígenas informam ao navegador que essa
terra ficava ao Oriente. Colombo arriba, inquieto, desistindo da aventura.
(Joachim Heinrich Campe)
Havia um país atravessado por
um Mar Branco, cujas vagas arrastavam areias de ouro e pedras diamantinas. A
capital desse país, Manôa, [nome semelhante ao da tribo Manao ou Manôa, que
vivia no solo onde foi fundada Manaus, capital do Estado do Amazonas] era uma
grande Cidade, com muitos palácios, alguns construídos com pedras marchetadas
de prata; outros possuíam telhados de ouro. No solo viam-se metais preciosos.
Manôa continha todas as riquezas da terra; e lá reinava um homem que se chamava
El Dorado, porque tinha no corpo reflexos de ouro, tal como o céu pontilhado de
estrelas. (Barão de Santa-Anna Nery)
Nesse tom de fantasia,
de deslumbramento, de miragens alucinantes, se vai desdobrando toda a história
do descobrimento da América, e pouco a pouco a lenda do El Dorado cresce
desordenadamente na imaginação dos conquistadores. O primeiro homem que
percorreu todo esse Mar Branco [à parte a viagem pela sua Foz contada por
Vincente Pinzón, em janeiro de 1500, e a imprecisa digressão de Diogo de Leppe
por todo o litoral do Brasil] Francisco de Orellana, Lugar-Tenente de Gonçalo
Pizarro, depois valido ([1]) de
Carlos V, afinal Governador Geral dessa região que se chamou Nova Andaluzia, por
pertencer ao Reino da Espanha – muito sofreu antes de alcançar o País da Canela
e o El Dorado, que pretendia desvendar ao mundo.
Dois anos e oito meses
durou a infeliz aventura. E desde o vale de Zamaco, quando se reuniu a Gonçalo
Pizarro, até onde o Amazonas se despeja no Atlântico, a sua caravana padeceu,
como talvez nenhuma outra na terra, os revezes mais rudes, atormentada pelas
moléstias, assaltada pelos silvícolas, esfomeada, destroçada, em farrapos,
varando florestas e Rios.
E só quatro séculos
depois, a História começou a fazer justiça a esse desgraçado aventureiro, que
não foi um traidor, que sacrificou toda a fortuna nessa jornada célebre, e que
veio, afinal, a morrer miseravelmente perdido entre as Ilhas do Amazonas. Sobre
esse temerário empreendimento os anos passam silenciosos; e só mais tarde, Lopo
de Aguirre, a mais sinistra revelação da maldade humana, penetrou no Mar Branco
em busca do país dos Omáguas, do El Dorado, depois de ter deixado nos barrancos
do Solimões os cadáveres de Pedro Ursúa e seus companheiros, assassinados por
ordem sua na noite trágica de 01.01.1561.
Perdem-se, desde essa
época, os traços de novos exploradores do grande Rio. Talvez porque os
sacrifícios dessas explorações fossem além de toda expectativa; talvez por causa
do desencantamento dos primeiros navegadores, que não chegaram a ver a famosa
Manôa dos palácios de ouro e dos monumentos incrustados de pedras preciosas;
talvez porque a Espanha se desinteressasse – apesar do Tratado de Tordesilhas –
dessa Nova Andaluzia absurdamente grandiosa, que devorava tantas vidas –
verdade é que não há notícias de outras expedições durante o domínio espanhol
na Amazônia.
E ficou ao abandono,
por muito tempo, a região feiticeira, notável até então apenas pelo furor
guerreiro das Icamiabas que atacaram Francisco de Orellana na Foz histórica do
Nhamundá, espalhando o terror e criando uma lenda maravilhosa. [...] (PINHEIRO)
Bibliografia:
MELLO,
Thiago de. Amazonas, Pátria da Água
– Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Editora Bertrand, 2008.
PINHEIRO,
Aurélio. À Margem do Amazonas –
Brasil – São Paulo, SP – Editora Companhia Nacional, 1937.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
· Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
· Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
· Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
· Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
· Ex-Membro do
4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
· Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
· Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
· Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
· Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
· Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
· Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
· Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
· Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
· E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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