Terça-feira, 24 de janeiro de 2023 - 08h39
Bagé, 24.01.2023
Mais
uma vez tenho a honra de repercutir um belo artigo de meu caro Amigo, Irmão e
Mestre Higino Veiga Macedo, editado em João
Pessoa, PB, sexta-feira, 27 de dezembro de 2021.
Objetivo
e Competência
(Higino Veiga Macedo)
Há coisas que observo desde a adolescência. São as
mudanças de nomes para coisas que continuam da mesma maneira que eram. Em
linguagem popular: “muda a coleira, continua o cachorro...” ou, em línguagem
chula: “muda a mosca, a caca é a mesma”.
Lembro que após a revolução de 1964, a linguagem
nas hostes do governo era copiada do linguajar da Escola Superior de Guerra.
Até sorveteiro trabalhava pelo Poder Nacional; qualquer aplicação de dinheiro,
em fábrica, fortalecia o Potencial Nacional; agente de limpeza, o popular
faxineiro, traçava Estratégia na tarefa diária...
E essa parafernália entrou na linguagem dos
estudiosos de economia. Em detrimento da língua portuguesa, e para se postar
de intelectual atualizado, o anglicismo dominou: “overnight”, “after”,
“market”, “commodity”, e tantos outros besteiróis com correspondentes
na nossa língua.
A partir da década de noventa, iniciou-se no Brasil
as gerações de telefones celulares. A primeira geração, o G1, com tecnologia
analógica, o G2 com tecnologia digital, que se podia trocar mensagens.
Em 2001, começou o 3G, em 2010 o 4G. O celular
virou um telefone, somado com computador que incorpora a TV. A partir do 3G é
que a língua inglesa passou a invadir, muito, o agora pobre português. Não por
necessidade, mas por pedantismo e forte dose de arrogância para demonstração de
educação cibernética. É mais fácil decorar e adotar a palavra em inglês que raciocinar
em algo em português.
Ainda no modismo, os repórteres no Brasil, a partir
de 2010/2015, por orientação gramscista dos diretores e editores, passaram a
usar, excessivamente, a palavra “A GENTE”. Estimulam os entrevistados a
repetir tal vício, à exaustão, com a pretensão de retirar o pronome “NÓS”.
Para os gramscistas, o “NÓS” soa elitista. O
“A GENTE” denota que o “reporteiro” e o “reportado” se
situam no mesmo nível do contexto do assunto. Estão inseridos, no mínimo, no
ambiente com familiaridade. Assim, o repórter retira a pecha de elite, pois em
geral e por exigência da empresa para a qual trabalha, deve estar bem
apresentável: vestimenta e porte condizentes com a grandeza das empresas.
Seguindo modismo com repórteres e apresentadores
de rádio e televisão, o que também está saturando qualquer ouvido são as
perguntas, à beira da imbecilidade: “Qual é seu sonho?”, “Era isso
que você sonhava?”
E, uma que não pode faltar: “O que passa pela
tua cabeça com esse sonho realizado!” É o clímax do entrevistador pela
inteligência auto-atribuída pela pergunta. Outra pergunta sagrada: “Como
você se sente?” São mantras infalíveis.
Todo o dito anteriormente para chegar ao fulcro: “MODISMO”
que tomou conta do ensino. Até no Exército.
A busca do conhecimento não é mais para atingir um “OBJETIVO”,
qualquer deles: de formação, de especialização, de profissão... Agora o da
moda, é “COMPETÊNCIA”.
O que me espanta é que nem a curiosidade de
consultar a etimologia se tem. Ouvem a palavra, gostam do som e a adotam como
verdade axiomática.
É o caso da palavra “COMPETÊNCIA”. Passaram a
considerá-la como sinônimo de “aptidão para realizar determinado ato”; “notabilidade
em realizar algum ato”. Entretanto “COMPETÊNCIA” tem uma etimologia extensa
e complicada. No que interessa ao caso, “aptidão para realizar determinado
ato”, sua origem vem do latim “competĕre” no sentido de “competir,
concorrer, buscar a mesma coisa que outro, atacar, hostilizar”, portando
nada referente a “APTIDÃO PARA...” mas, mesmo no latim, antes, veio do
antepositivo latino, oriundo do verbo latino “peto,is,īvi” que tem
sentido de “lançar-se sobre, atacar; dirigir-se para, tentar atingir,
aproximar-se de; alcançar, atingir; buscar, procurar, pedir, solicitar,
requerer; desejar, aspirar a, pretender; rogar, suplicar, pedir com instância”,
derivado da raiz indo-europeia “pete”.
Portanto, nada com referência a “APTIDÃO DE...”.
A não ser uma deturpada metáfora, por extensão ou por sentido figurado. Aliás,
algumas ciências aumentaram as metáforas para explicar melhor alguns de seus
fenômenos.
Agora “OBJETIVO” é uma palavra antiga do
dicionário militar. Na língua portuguesa tem sua etimologia como substantivo e
adjetivo. O que interessa é o significado como substantivo: “atingir,
conquistar, chegar” – “O OBJETIVO”. Significado de “aquilo que se
pretende alcançar quando se realiza uma ação; alvo, fim, propósito, objeto”.
Daí, nas escolas e ou nos treinamentos militares se busca atingir, chegar,
conquistar um “OBJETIVO”. Tal objetivo vai desde o domínio de
conhecimentos matemáticos, à conquista de ponto importante do terreno numa
manobra ou guerra.
Mas querer substituir “OBJETIVO” por “COMPETÊNCIA”,
há um enorme desprezo pelo significado das palavras na língua. Especulo que
seja um desses modernizadores de plantão (mascarando seus “OBJETIVOS”
interesseiros) que usando alguma tradução capenga de línguas estrangeiras,
propôs tal mudança. Com certeza não será a língua espanhola, pois ali “COMPETENCIA”
é competição, torneio, campeonato de qualquer esporte. É competição desportiva.
Infelizmente, nas Escolas
Militares já não se conquistam objetivos: executar expressões matemáticas;
analisar sintaticamente um período... ou desmontar um fuzil com máximo de
rapidez; conquistar uma cota dominante no terreno... isso agora é “COMPETÊNCIA”.
“Sic Cogito”
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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