Sexta-feira, 25 de julho de 2014 - 06h11
Hiram Reis e Silva, Bagé, RS,
Os sítios mais característicos da cultura marajoara são, normalmente, aterros artificiais, conhecidos como “Tesos”, que têm alguns metros de altura e dezenas de metros de comprimento. Os “Tesos”, bastante numerosos, são distribuídos na parte Leste da Ilha de Marajó, numa área de extensos campos naturais, alagados durante boa parte do ano, localizada ao redor do Lago Arari. (NEVES)
Os “Tesos” ou “Mounds”
Pesquisadores, desde o século XIX, vêm encontrando sinais de que a Ilha de Marajó teria sido ocupada por uma notável cultura indígena. Tendo em vista que a região é, em grande parte, formada por grandes planícies sujeitas a inundações cíclicas, esses grupos teriam construído aterros artificiais – conhecidos como “Tesos” – à margem dos Rios de Lagoas. Nestes “Tesos”, que podem chegar alcançar 200m de comprimento, 30m de largura e 10m de altura, os aborígenes construíram suas Aldeias. Nas escavações realizadas foram encontrados nos “Tesos” maiores um considerável número urnas mortuárias e peças cerâmicas bastante elaboradas. Algumas especulações consideram que a população da Ilha pode ter atingido, no seu apogeu, mais de 100.000 habitantes. Evidentemente para manter uma população desta magnitude, estes grupos teriam de ter dominado uma técnica agrícola intensiva e sofisticada, na vazante eles aproveitavam para cultivar as várzeas ricamente fecundadas pelas águas do Rio-mar e nas cheias eram obrigados a limitar-se aos “Tesos”.
Relatos Pretéritos - Tesos ou Mounds
General José Vieira Couto de Magalhães (1876)
Na Bacia do Amazonas conhecem-se numerosos desses aterros, e alguns deles, talvez os mais notáveis, na Ilha de Marajó, onde, entre outros, há um que forma uma Ilha artificial dentro do Lago Arari. Esses aterros, mais ou menos extensos, assumem por vezes formas de animais; existe um no centro de Marajó, sobre o qual já passei, e que tem a forma de um jacaré colossal, sobre cujo dorso deve ter vivido outrora uma tribo inteira. Serve ainda hoje para lugar de construção de casas dos fazendeiros de gado e seus vaqueiros, que habitam aquela região, que se cobre de água durante as cheias do Amazonas. Considerando-se que as regiões onde eles existem são alagadiças em muitas dezenas de léguas; que, se as tribos eram errantes e nômades, as guerras em que se empenhavam continuamente umas com outras, as deviam impedir de alargar-se por muitas léguas dessas regiões, conclui-se que eles, desde que ocuparam tais regiões, começaram esses aterros, sem os quais seria impossível explicar sua existência durante a estação pluvial em lugares que se convertem em verdadeiros mares mediterrâneos. Portanto, o princípio de tais aterros é mais ou menos contemporâneo da ocupação dessas regiões pelos selvagens. Pois bem, no fundo desses aterros encontram-se as mais antigas urnas funerárias, sem comparação mais grosseiras, tanto pelo preparo da argila como pela estrutura e lavores, do que as que se encontram nas camadas médias e superiores. (COUTO DE MAGALHÃES)
Angyone Costa (1934)
CAPÍTULO VI – MOUNDS – O PACOVAL, CAMUTINS E SANTA ISABEL
No Brasil, a terra dos “mounds” (cerâmicos) é a Amazônia. Dentro da Amazônia, a Ilha de Marajó. Fica ela situada na Foz do grande Rio e os primeiros cronistas chamavam-na Ilha de Joanes, nome tirado a uma antiga aldeia de Índios, estabelecida no local onde foi erigida a Vila que ainda hoje se chama Joanes. Mais tarde, depois da fundação da cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, por Francisco Caldeira de Castelo Branco, que a instalou em 10.01.1616, segundo documento encontrado por Capistrano de Abreu e estudado por Garcia, os portugueses começaram a se estabelecer no Rio Marajoaçu, e desenvolvendo seu comércio vieram a dar o nome de Marajó a Ilha, pelo qual se tornou conhecida. Marajó, conhecido e valioso depósito de “mounds” segundo o testemunho de vários viajantes que a têm percorrido em diversas épocas, inclusive o próprio autor, é de formação aluvial, de nível baixo e deprimido. Não tem rocha a não ser o grés ferruginoso e é sujeita a inundações gerais, no período de janeiro a junho, época das grandes chuvas, quando se transforma em Lago, de onde emergem os “Tesos”, cobertos de capões de mato, nos quais se edificam as casas das fazendas ou se reúnem as manadas até que as terras enxuguem.
Na região Sul e Ocidental ela se veste de matas e seringais. Estes seringais já hoje muito abandonados são situados de preferência nas cabeceiras e no Alto dos seus Rios de curso perene, como o Anajás e o próprio Arari, navegáveis por pequenas embarcações a vapor. Constantemente batida pelas refregas do Oceano, apenas na sua orla do Nordeste vê aflorar o grés, sendo sujeita a um constante rebaixamento produzido em parte pela erosão dos terreno movediços, que as águas levam, a se verificar a hipótese de Reclus, divulgada por Euclides da Cunha, e combatida por Raimundo Morais, a enriquecer o patrimônio territorial das Antilhas e do Golfo México.
O PACOVAL
É no Lago Arari, situado na parte Oriental de Marajó, na zona dos campos de pastagens, a meio caminho das cidades de Cachoeira e de Soure, e propriamente a 48km a Sudoeste desta última, que emerge a pequena Ilha do Pacoval, valioso “mound-building”, rigorosamente uma Ilha dentro de outra, e de evidente construção artificial.
O Arari é um extenso lençol de água derramado por 30km de Norte a Sul, por 05 de Este a Oeste, pouco fundo, muito piscoso, como muito farta é toda a Ilha de Marajó, e se atribui a formação dos “mound-builings” aí encontrados a tribos riparias (ribeirinhas) que para esse lugar acorressem em eras remotas, atraídas pela sedução e fartura do Lago e das extensas campinas em redor. Numa das suas margens encontra-se o precioso “mound”, o Pacoval, riquíssimo pelo seu conteúdo, ao lado de outro Ilhote, apresentando os dois a morfologia, talvez de inspiração totemista, de um jaboti. Por ocasião das vazantes normais, 03 a 04m da superfície do Pacoval, em sentido oblíquo, ficam expostos ao Sol, permitindo um mais perfeito trabalho de sondagem da sua louçaria. (ANGYONE COSTA)
Victor Zappi Capucci (1987)
CERÂMICA MARAJOARA - LOCALIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS DEPÓSITOS
Os depósitos de Cerâmica Marajoara estão localizados, de um modo geral, nos campos da metade Oriental de Marajó, tendo o Lago Arari como centro. José Ferreira Teixeira, numa monografia apresentada ao Congresso Brasileiro de Geografia, informa-nos que os aterros encontrados em Marajó:
estão situados dois na Confluência do Rio Anajás, margem esquerda, com o Igarapé Frei Dionísio, nos lugares chamados “Tezinho” e “Guajará”, nas terras da Fazenda Campo Lindo, atualmente de Teixeira & Cia.; cinco necrópoles, na margem esquerda do Rio Camotins, afluente direito do Rio Anajás, e dois na margem direita daquele Rio, nas terras de diversos fazendeiros; dois aterros na fazenda Boa Vista, na margem direita do mesmo Rio Anajás; no Lago Arari, são notados dois aterros, sendo um chamado Pacoval, na margem do Lago, junto à fazenda Severino, dos herdeiros do Dr. Vicente José de Miranda, e outro nas terras da fazenda Diamantina, dos filhos de Luís Lobato, na Ilha denominada Cuieiras. Estas necrópoles pertenceram aos Índios Arari, como as do Rio Anajás aos selvagens da tribo dos Anajá.
Na Ilha Macacão, sede da fazenda Laranjeiras, à margem direita do Lago Guará, encontra-se um aterro que pertenceu à tribo dos Índios Marauaná; estes selvagens também possuíam outra necrópole menor, na margem esquerda do Rio São Miguel; nos terrenos da fazenda Santa Maria, na margem direita do Rio Camará, pertencente aos filhos de Francisco José Cardoso, existem três aterros dos Índios Caiá, de Monsarás; na fazenda Pacoval, nas cabeceiras do Rio Pacoval, afluente esquerdo do Rio Cururu, está colocada uma necrópole dos índios Aruã, como na fazenda Monguba, de Benjamim Magno, no Rio Cururu, há um aterro dos mesmos selvagens. Na fazenda Montenegro, de D. Bertina Miranda, e na denominada Naratuba, de Rodolfo Chermont & Irmãos, encontra-se uma necrópole em cada uma, outrora pertencente aos Aruã; no Igarapé Bacabal, afluente esquerdo do Rio Ganhoão, os referidos índios possuíam um cemitério.
Angyone Costa acha provável que em Marajó ainda existam “Tesos” riquíssimos em cerâmicos na área intercalada entre os Rios Ganhoão, Cururu, Lagos Mututi e Assapão.
OS TESOS DO IGARAPÉ CAMUTINS
O Igarapé dos Camutins, afluente do Anajás, é famoso pela existência de inúmeros “Mounds” situados às suas margens. Nesses “Mounds” coroados de terra preta, abunda a louça do ameríndio, donde se deduz pelo solo e pelos despojos que os indígenas enterravam o defunto na mesma colina em que viviam. Este Rio, ao contrário dos outros, cheios de meandros, é quase reto, levando os moradores da zona a supor que o solo das beiradas convexas, motivo das curvas, tenha sido levado para os aterros artificiais que depois se cobriam de cinzas, sobejos de cozinha, substâncias domésticas geradoras da terra preta.
Curioso, entretanto, de notar é que os especialistas apenas se referem, ao tratar da cerâmica indígena de Marajó, ao cemitério do Pacoval de Arari, quando o cemitério do Pacoval do Rio Cururu, também afluente do Anajás, é muito maior e menos mexido pelos exumadores de louça. Basta dizer que o “Mound” de Arari tem de 02 a 05m de altura, ao passo que o “Mound” de Cururu chega a 10m.
É oportuno transcrevermos aqui um interessante estudo de Peter Paul Hilbert, etnólogo do Museu Goeldi, relativamente à situação dos “Tesos” marajoaras do alto Camutins. Nesta obra, trata Hilbert dos “Tesos” do curso superior do Igarapé dos Camutins, incluindo-os no número dos já conhecidos com segurança, ou dos “Tesos” arqueologicamente explorados, descrevendo a sua sequência de Sul para Norte. Conforme confessa o citado autor, não se trata de um estudo completo de tais sítios, em virtude das explorações insuficientes, mas de uma orientação básica geral que poderá servir futuramente. Diz-nos o etnólogo Hilbert:
Sobre o número e a distribuição geográfica dos sítios da Fase Marajoara, situados ao longo do Igarapé dos Camutins, ainda existem hoje algumas incertezas.
O Igarapé dos Camutins é um afluente da margem direita do Alto Anajás, situado aproximadamente ao centro da metade Oriental da Ilha de Marajó. A primeira referência sobre a existência de urnas funerárias provenientes dessa região data do tempo de Martius (1867). Devemos a Ferreira Penna a primeira investigação científica (1870), cuja coleção, oriunda desse mesmo lugar, encontra-se no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Na primeira descrição feita por Derby, no ano de 1876, são mencionados, além dos três primeiros “Tesos”, situados Rio abaixo, e mais ao Sul, outros doze “Tesos”, que podem ser encontrados a uma distância de meia légua Rio acima.
Quase todos se acham na estreita zona da mata que margeia o Igarapé, mas consta que há dois no campo. Encontram-se às vezes fragmentos de louça no campo, e na mata, no nível ordinário.
Esses “Tesos”, porém, não foram visitados por Derby, que termina sua descrição com uma comparação com a cerâmica do Pacoval, no Lago Arari.
Farabee visitou em 1913 a mesma região dos “Tesos”, localizada mais ao Sul, tal como o fizera Derby, e empreendeu extensivas escavações no “Magno Mound”. Procedeu ele também a uma escavação superficial no “Teso” mais Meridional do grupo dos Camutins. O grande “Teso Cemitério” visitado por Derby não pôde ser incluído entre suas pesquisas porque o seu proprietário de então não o permitiu. Com relação aos “Tesos” situados mais acima desta região, Farabee se expressou da seguinte forma:
Numa distância de 2 milhas para cima, na mesma margem do Rio, encontram-se outros dezessete “Tesos” de diferentes tamanhos, todos ao longo da margem do Rio. Os dois últimos estão perto um do outro, a uma distância de 150 pés, e, com exceção do “Teso” Camutins e o do “Magno Mound”, são os maiores do grupo. Tem 20 pés de altura e terminando em ponta, como montes de feno na primavera. A posição dos “Tesos” era devida a pequenos Regatos ao longo da margem do Rio; 18 encontravam-se à margem esquerda. O Rio corre aqui de Norte para Sul, o vento sopra de Leste e o campo aproxima-se do Rio a leste, e não a Oeste, onde há pragas de toda espécie.
Outros “Tesos” não são mencionados por Farabee acima dos dois últimos que ele descreveu. O relatório de Sandoval Lage, datado de 1944, é o último antes do dos Evans. Suas descrições dos “Tesos” do Camutins são sem dúvida um pouco exageradas; ele enumera 40 Tesos, entre os quais alguns, segundo ele, alcançaram de 20 a 40 metros. (...)
Lage pela primeira vez chama a atenção para o número de Tesos do Alto Camutins, na fazenda São Marcos, os quais ele crê haverem escapado às observações até então feitas, por causa de seu pequeno tamanho. Temos razões para supor que se trata aqui da sequência dos “Tesos” descritos abaixo, no presente trabalho, embora os “Tesos” citados por Lage estejam situados, segundo este, à margem de um afluente do Alto Camutins.
Devemos a Clifford Evans Jr. e a Betty Meggers Evans as últimas e sem dúvida as mais completas pesquisas feitas no Igarapé do Camutins, por ocasião de uma extensiva exploração arqueológica levada a efeito nas Ilhas de Marajó, Mexiana e Caviana, bem como no território do Amapa, entre 1948 e 1949. Realizaram seus trabalhos sob os auspícios do Departamento de Antropologia da Universidade de Colúmbia, em colaboração com o Museu Nacional do Rio de Janeiro, com o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, com o Museu Territorial do Amapá. O autor deste trabalho teve a honra, como representante do Museu Goeldi, de participar das pesquisas arqueológicas levadas a efeito no centro de Marajó. (...)
O último “Teso” do grupo dos Camutins situado mais acima, e que foi visitado e pesquisado pelos Evans, é o “Teso” chamado Inajasal. É o sítio citado no relatório de Evans e Meggers como tendo uma altura de 6,25m, uma profundidade da camada-cultura de 2,15m, e do qual se deriva o nome do tipo da cerâmica designado como Inajá plain, do segundo tipo da Fase Marajoara (Camutins plain) e que se distingue pelas particularidades acima descritas.
Comparando-se os sítios do curso Superior com os do Médio e Baixo Camutins, observa-se que aqueles possuem menor extensão e menor altura. Isto se poderia explicar pela sua própria disposição primitiva. Por outro lado, parece, no entanto, que os sítios em questão são mais erodidos que os demais situados Rio abaixo. Demonstra isso o fato de que a maior parte dos “Tesos” fica debaixo d’água durante a época das chuvas, sendo, portanto, apenas rudimentos de suas formas primitivas.
Somente cinco sítios – Pau d’Arco, Aratengá, Urubu, Cuieiras e Furinho – acham-se acima d’água no inverno, e estes, mesmo assim, só com pequenas áreas de sua superfície.
Parece que essa redução data de pouco tempo e tem relação com a parcial mudança do aspecto hidrográfico do Camutins, a qual se observa desde alguns decênios. Antigamente, o Rio possuía, segundo dizem alguns nativos, um leito relativamente profundo e contínuo, mesmo durante a seca. A pesca era abundante apesar de grande número de jacarés, hoje tão raros. No entanto, quando há cerca de trinta anos foi introduzido o búfalo aquático nessa região, o aspecto se modificou. (CAPUCCI)
A primeira importação foi feita, em 1902, por Bertino Lobato de Miranda, para Fazenda São Joaquim, nas margens do Rio Ararí. (Hiram Reis)
Esse animal vive de preferência nas proximidades dos cursos d’água e passa a maior parte do dia dentro d’água. Frequentemente muda, dia e noite, de uma para outra margem, deslocando, deste modo, permanentemente, parte dos barrancos, com o seu peso, que em média é mais que duas vezes o peso de um boi. As consequências desse seu sistema de vida, entre a água e a terra, devem ser visíveis também na formação do próprio leito do Rio, e isto é o que se verifica.
O Camutins está-se obstruindo cada vez mais; hoje em dia, no verão, está parcialmente seco, e peixes maiores, como pirarucu, tucunaré, apaiari etc., estão desaparecendo. Os próprios “Tesos”, quase sempre situados à margem do Igarapé, representam, por causa da vegetação mais rica, pontos especiais de atração para o gado de toda espécie e, dessa forma, estão particularmente expostos à influência devastadora dos cascos de animais. Não é de todo impossível que desta maneira, em combinação com o efeito erosivo das inundações anuais, pequenos sítios já se tenham nivelado. (...)
Relativamente à distribuição geográfica dos “Tesos”, pode-se constatar que a grande maioria deles está localizada à margem esquerda, particularidade que já foi apontada por observações anteriores no Baixo e Médio Camutins.
Escavações foram feitas tanto em Cuieiras como em Furinho, por uma Expedição do Museu Paulista, integrada, em 1950, por Harold Schultz e Myrthes Nogueira e da qual participou também o autor, como representante do Museu Goeldi. Os objetos arqueológicos aí encontrados se acham no Museu Paulista.
Cuieiras e Furinho são “Tesos-cemitério”, o que já se manifesta nos muitos cacos pintados e ornados encontrados à superfície. É interessante observar a completa ausência de cacos de tangas, quer do tipo pintado simplesmente em vermelho, quer do tipo vermelho sobre branco, os quais geralmente estão presentes em qualquer coleta feita à superfície dos “Tesos-cemitério” da Fase Marajoara. Também nas urnas escavadas posteriormente em Cuieiras, só uma tanga foi encontrada. Uma acentuada escassez de cacos de tanga em Furinho também se faz sentir.
A maior profundidade atingida em Cuieiras não chega a dois metros e em Furinho a cerca de 1,70m em um corte geral de aproximadamente um metro e meio.
Na região marginal do “Teso”, as urnas estão colocadas em diferentes alturas, mas numa só camada. Mais para o centro do “Teso”, a colocação se torna de duplas camadas, nas quais as urnas ou estão depositadas imediatamente umas sobre as outras, ou separadas por uma camada mais ou menos espessa de terra.
As urnas estavam cobertas por meio de uma tampa com abertura para baixo. Essa tampa ou se salientava sobre os bordos da urna ou caia sobre eles. Muitas vezes, tais tampas foram quebradas pela pressão das urnas depositadas acima ou pela pressão da terra, e caíram para dentro das urnas. A maior parte das urnas continha restos de ossos humanos misturados com terra, os quais, na maioria dos casos, tinham-se decomposto inteiramente, formando na parte mais baixa da urna uma massa cinzenta escura misturada com terra.
Urnas com restos de cinza de ossos humanos foram achadas pelos Evans no Baixo Camutins e no monte Carmelo; não puderam ser observadas. Tratava-se, neste caso, de urnas pequenas policrômicas ou sem pintura e que se encontravam sempre nas camadas superiores dos depósitos. (CAPUCCI)
Geólogos do INPE Contestam Formação Artificial dos Tesos
Bancos, baixios, praias, restingas, além do que já foi balanceado, são as resultantes da faina perene daquele fabuloso dragão, que vomita dia e noite, anos e anos, a matéria sorvida nos cimos. (DE MORAES)
Geólogos do INPE mapearam, graças a imagens de satélite, uma considerável rede de paleocanais que cobria grande parte da Ilha de Marajó até o fim da Era do Gelo (11 mil anos atrás). Estes canais transportavam grandes quantidades de sedimentos que eram progressivamente depositados nos seus meandros e quando estes canais secaram estes enormes bancos de areia transformaram-se em terrenos mais elevados.
Esta nova perspectiva apresenta uma interpretação muito mais racional e palatável em relação à formação dos “Tesos” marajoaras considerando que os mesmos surgiram graças a um processo natural de deposição. A civilização marajoara, por sua vez, teria somente aproveitado da existência destes aterros gerados pela ação das águas ampliando-os.
Tese Questiona os Povos Antigos no Marajó
(Fonte: Folha Online: 19.10.2009)
Um grupo de geólogos acaba de apimentar ainda mais uma das maiores controvérsias da arqueologia atual. Eles afirmam que os chamados “Tesos” marajoaras, grandes aterros que abrigavam aldeias indígenas na pré-história, foram formados naturalmente, e não construídos por povos antigos. Se confirmada, a hipótese será um duro golpe na visão atual dos arqueólogos de que a Amazônia foi habitada por sociedades complexas e altamente hierarquizadas, diferentes dos povos indígenas atuais. (...)
PALEOCANAIS
O problema dessa interpretação arqueológica é que nunca se encontraram, em Marajó, vestígios de agricultura em grande escala que pudessem ter sustentado uma população tão grande quanto Roosevelt, Schaan e colegas supõem que houvesse na Ilha. (...)
Neste ano, num estudo publicado no periódico “Geoarchaeology”, um trio de pesquisadores liderados pela geóloga Dilce Rossetti, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) fornece uma nova interpretação: a maior parte da monumentalidade dos “Tesos” marajoaras se deve não à ação humana, mas a um processo natural de deposição. A civilização marajoara teria simplesmente aumentado os aterros, ampliando um trabalho realizado pela água. Rossetti e seus colegas mapearam, usando imagens de satélite, a rede de paleocanais que cobria grande parte de Marajó até o fim da Era do Gelo, cerca de 11 mil anos atrás. Como o nome indica, paleocanais são riachos pré-históricos, que secaram há muito tempo. Esses canais transportavam grandes quantidades de areia e argila, que acabavam sendo depositadas em seus meandros. Quando eles secaram, esses bancos de areia acabaram virando zonas elevadas.
Nós notamos a correspondência dos sítios arqueológicos com os Paleocanais.
Disse Rossetti à Folha, por e-mail.
Segundo Rossetti e seus coautores, Ana Maria Góes e Peter Mann de Toledo, o formato ovalado dos Tesos é uma pista de sua origem fluvial.
De posse das imagens de satélite, o grupo do Inpe também foi a campo. Em Marajó, eles perfuraram tanto os paleocanais quanto dois “Tesos” arqueológicos, o Teso dos Bichos e o Teso Santa Luzia. Em ambos foram coletadas e datadas amostras de sedimento de 18 metros de profundidade.
A análise dos testemunhos (cilindros de sedimento de cinco centímetros de diâmetro) mostra que só nos 2 metros de cima (ou seja, as camadas mais recentes) há vestígios de material arqueológico. Abaixo disso, afirma Rossetti:
registra-se que os sedimentos não foram modificados depois de sua formação.
Em bom português, os humanos participaram da construção dos “Tesos”, mas só de sua parte final. Estruturas menos monumentais também demandariam menos mão-de-obra em sua construção, o que abalaria a visão dos arqueólogos de uma civilização complexa. (...)
Fonte:
ANGYONE COSTA. Introdução à Arqueologia Brasileira – Etnografia e História – Brasil – São Paulo – Companhia Editora Nacional, 1934.
CAPUCCI, Victor Zappi. Fragmentos de Cerâmica Brasileira – Brasil – São Paulo – Editora Nacional, 1987.
COUTO DE MAGALHÃES, José Vieira. O Selvagem – Brasil – São Paulo – Companhia Editora Nacional, 1935.
NEVES, Eduardo. Arqueologia da Amazônia – Brasil – Rio de Janeiro – Jorge Zahar Editor Ltdª, 2006.
(*) Hiram Reis e Silva é Coronel de Engenharia;
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H