Segunda-feira, 18 de março de 2019 - 09h12
Florianópolis, SC, 11.03.2019
Novos Massacres
18.01.1973 índios atacam um posto de Atração da FUNAI,
matando quatro funcionários.
01.10.1974 o Posto Alalau II não responde ao chamado.
O
avião da Igreja Adventista de Manaus aquatizou. Pedimos ao Pastor que, caso
morrêssemos, contasse nossos últimos desejos a nossas famílias e saímos
correndo em ziguezague. Na entrada do Posto, uma cabeça estava equilibrada no
batente da porta. Era do companheiro Faustino Faria [...] No ataque morreram
seis servidores da FUNAI, todos índios aculturados. Três mortos no Posto, por
Comprido, Bornaldo e seus guerreiros; três, no Rio Alalau, massacrados pelo
Chefe Elso quando se dirigiram para o Posto em uma canoa.
18.11.1974 dia que ficou conhecido como o “Massacre dos
Maranhenses”. Quatro trabalhadores maranhenses, da turma de desmatamento,
foram emboscados e mortos.
29.12.1974 Às 06h00, Ivan foi se banhar no Rio e, em meio
à névoa que cobria a água, ouviu uma fuzilaria. E então, apesar do nevoeiro,
viu Gilberto Pinto na porta do posto agitando os braços, enquanto os
Waimiri-Atroari o cercavam. Ivan não esperou mais. Saiu correndo pelo mato em
busca de socorro no acampamento do 6° Batalhão de Engenharia de Construção [6°
BEC], onde chegou esbaforido às 08h00. (SABATINI)
No massacre do
Posto Abonarí II, morreram o sertanista Gilberto e dois outros companheiros, um
foi considerado desaparecido e um outro escapou.
“Guerreiros” Waimiri-Atroari
Os ataques dos
Waimiri-Atroari, desde 1856, se caracterizaram, sistematicamente, por
emboscadas cruéis e covardes aproveitando-se, em diversas oportunidades, da
boa-fé e amizade que lhes devotavam funcionários do SPI ou FUNAI.
As atrocidades
cometidas contra funcionários desarmados e suas famílias por grupos
numericamente superiores não fazem, absolutamente, jus à sua pretérita e tão
propalada fama de “guerreiros”.
Infelizmente
alguns indigenistas como José Porfírio Carvalho e prelados como o do Padre
italiano Silvano Sabatini apontam o Exército e a Força Aérea Brasileiras como
responsáveis pelo genocídio dos WA.
Baseados em
relatos orais infundados afirmam nos seus livros que estas Forças teriam
atirado em indígenas desarmados e usado armas biológicas para diminuir a
agressividade dos WA.
Se verificarmos
o padrão dos massacres, vamos notar que eles só atacavam quando sua
superioridade numérica era considerável e quando suas vítimas não tinham
qualquer possibilidade de reagir.
Para garantir a segurança
dos trabalhadores da BR-174 foi determinado que os grupos não trabalhassem
dispersos e que se tivesse uma força de dissuasão pronta para agir, caso
necessário.
Revista Veja, n° 331 ‒ São
Paulo, SP
Domingo, 29.12.1974
ÍNDIOS ‒ Outro Massacre
Flechas cruzadas com penas de arara vermelha são um
seguro indício de que os índios Waimiri-Atroari planejam um ataque.
Para a delegacia da Fundação Nacional do índio
[FUNAI], em Manaus, estes sinais de guerra encontrados no Posto Abonarí-II, às
margens da rodovia BR-174, ao Norte do Amazonas, no último dia 26, eram apenas
uma pequena mentira de dois de seus mateiros que queriam passar o ano novo em
casa.
Na manhã de domingo, dia 29, os Atroari,
responsáveis pela chacina da Expedição do Padre Calleri, em 1968, atacaram e
mais uma vez cumpriram com exemplar regularidade uma das características de
suas devastadoras incursões: deixaram um sobrevivente.
Às 06h00, o índio aculturado Ivã Lima Ferreira
abandonou uma das casas do Posto, onde esteve escondido por mais de uma hora, e
foi pedir socorro aos soldados do 6° Batalhão de Engenharia de Construção do
Exército, no quilômetro 220 da BR-174, que liga Manaus a Caracaraí, em Roraima.
No Posto o sertanista Gilberto Pinto de Figueiredo e mais três ajudantes
estavam mortos a flechadas e a golpes de borduna e facão.
Não tão Pacíficos ‒ Em 33 anos de contato com os Atroari, a FUNAI parece ter aprendido muito pouco sobre seus métodos de vida, pois, apesar de ter perdido 62 homens, considerava-os “praticamente pacificados”. Desde 1950, catorze missões de contato foram liquidadas pelos guerreiros e, nos últimos três meses, três ataques mataram catorze pessoas.
Imagem 01 – Corpo do Sertanista Gilberto Pinto
Imagem 02 – Corpo do Sertanista Gilberto Pinto
Imagem
03 – Corpo de Funcionário da FUNAI
Imagem
04 – Funcionário da FUNAI degolado (29.10.1974)
O ataque do dia 29 mostrou não apenas que os
Atroari não estão pacificados mas também que a FUNAI prefere considerar todos
os índios sob sua guarda e responsabilidade tão pacíficos, infantis e curiosos
quanto os que confraternizaram com a Expedição de Pedro Álvares Cabral, em
1500. O engano custou-lhe a morte do sertanista mais capacitado para a
pacificação deste grupo indígena. Figueiredo conhecia os Atroari desde os
primeiros contatos, considerava-os inteligentes e astutos em suas táticas de
guerra, e era chamado pelos guerreiros de “Pai
Gilberto”. Esta intimidade fez com que a Funai, em lugar de evacuar o Posto
ameaçado, o enviasse ao Abonarí-II numa operação de rotina.
Mateiros Fictícios ‒ “Vou porque não sou covarde”, teria dito o sertanista a mulher e aos
nove filhos, na despedida, segundo o Jornal “A Notícia”, de Manaus. A mesma fonte colocaria mais tarde a FUNAI em
comprometedora contradição. Figueiredo teria dado a notícia da ameaça indígena
ao Jornal, pedindo para não ser citado. Então, inventou-se a história dos
mateiros, e nada se fez. O relato parece algo fantástico, mas não chegou a ser
desmentido. As informações sobre o que ocorreu no Posto ainda são poucas, pois
o sobrevivente Ferreira entrou em estado de choque. Sabe-se, contudo, que no
sábado Figueiredo encontrou 27 Atroari liderados pelo Chefe “Capitão Comprido”, significativamente
sem suas mulheres e crianças. Após uma amistosa conversa, os índios ficaram
para dormir, tendo a delegacia de Manaus recebido informações de que estava
tudo bem. Na manhã seguinte, atacaram.
É possível que o experiente sertanista tenha se
enganado sobre os indígenas, mas do depoimento detalhado de Ferreira deverão
surgir informações mais convincentes. Pois, apesar de guerreiros valentes, os
Atroari sofriam muitos problemas com a invasão de suas terras. Num relatório ao
comando do 6° BEC, em 1973, o mateiro André Nunes escreveu:
A avidez dos
índios pelos alimentos dos operários é enorme. Eles comem sal com tanta volúpia
que podem ser comparados a um rebanho bovino. (REVISTA VEJA, N° 331)
Correio Braziliense, n° 4.395
‒ Brasília, DF
Sábado, 04.01.1975
O Episódio dos Waimiri-Atroari
Não faz muito
tempo, encontrava-se o Brasil nas páginas das mais destacadas publicações
mundiais, acusado de executar uma política de extermínio das suas populações
indígenas. A campanha coincidia com os planos de abertura da Transamazônica.
Na realidade,
a coincidência era outra e muito mais grave. Constatava-se que na luta para
alcançar objetivos nacionais mais importantes, estreitamente ligados à
problemática da sua defesa e segurança ‒ a ocupação dos espaços vazios ‒ o Brasil
encontrava obstáculos no seu caminho. Um deles se inseria precisamente na
ardilosa campanha contra a política indigenista que a administração brasileira
estaria pondo em prática.
A verdade é
que acontecia conosco [ou se repetia] o mesmo problema enfrentado por outras
nações do Hemisfério. No correr do processo de desenvolvimento econômico,
verifica-se num ponto ou noutro um choque entre as frentes pioneiras de
penetração da civilização e os aborígenes, ciosos da preservação da sua cultura
e das suas terras de origem. E todo o problema se resume numa questão muito
simples: Como evitar o choque?
Jamais passou pela cabeça de qualquer brasileiro reeditar com os nossos
homens pré-cabralianos
a política do General Custer ([1]) nos Estados Unidos. Não negamos ter existido
no correr dos anos da nossa história fatos lamentáveis, ainda hoje ocorrendo na
imensidão desse mundo vazio que é o nosso Centro-Oeste, mas sem o aval das
autoridades. Mas nunca o massacre deliberado,
como se
homens se constituíssem em gafanhoto ou formigas.
Toda a
questão se relaciona com o ataque dos índios Waimiri-Atroari, no Setentrião
amazônico, onde está sendo aberta uma estrada que nos levará à fronteira da
Venezuela. Os sertanistas encarregados do trabalho de amaciamento dos selvagens
foram massacrados impiedosamente.
Os atacantes
saíram incólumes do choque. E conta a testemunha da tragédia que o sertanista
chefe do grupo da FUNAI, Gilberto Pinto de Azevedo, no auge da luta, atirava
para o alto, enquanto era flechado pelas costas, obediente ao lema de Rondon: “Morrer, se preciso for; matar, nunca”.
Cabe a FUNAI,
dentro das suas normas de conduta, obedientes aos princípios humanitários que
condicionam o comportamento do nosso espírito cristão, continuar, prosseguir,
quando retornar aos postos ora abandonados, na tarefa de atrair para o convívio
da nação, sem desvirtuar-lhes as características culturais, os Waimiri-Atroari,
de modo a que eles se integrem, sem maiores sacrifícios de qualquer das partes,
no grande esforço de ocupação dos vazios brasileiros.
Quanto ao
episódio, ainda que doloroso nas suas consequências, deve ele ficar como um
marco nos anais dessa grande luta de conquista e povoamento dos nossos espaços
geográfico. (CB, N° 4.395)
Revista Manchete, n° 1.189 ‒ Rio de Janeiro,
RJ
Sábado, 01.02.1975
Imagem 05 ‒
Revista Manchete ‒ n° 1.189, 01.02.1975
“Tenho Absoluta Certeza de que os
Atroaris não Atacarão mais. Nossa Tarefa Agora é Reabrir o Posto da FUNAI,
Colocar lá um sertanista Experimentado e Começar Tudo de Novo”
[...] A
seguir, Orlando aborda o problema da morte do sertanista Gilberto Pinto,
assassinado pelos Waimiri-Atroari:
O índio
Waimiri-Atroari não é exceção no panorama indígena nacional. É a mesma coisa:
índio reage sempre da mesma forma. Os Atroari
mantinham contato há muito tempo com os seringueiros da região. Mas a área
que eles habitavam não despertava muito interesse dos brancos e foram deixados
em paz. Só quando tiveram início os trabalhos de construção da estrada
Manaus‒Caracaraí, é que começaram os conflitos entre índios e brancos. A FUNAI
contava na área com um sertanista excepcional: Gilberto Pinto Figueiredo. Ele
tinha nas mãos todo o controle Atroari.
Posso
garantir, sem medo de errar, que quem matou Gilberto não foram os Atroari, mas
sim um Atroari. O índio é completamente independente dentro de sua comunidade e
inteiramente responsável pelos seus atos. Foi um deles que, por vontade
própria, sacrificou o sertanista experimentado. E porque fez isso? Não sei.
Talvez porque o índio se sentia pressionado por todos os lados. Pela construção
da estrada, que violava o seu território. Contra quem reagir? Contra o mais
fraco. Ele tinha ali, nas suas mãos, um núcleo de civilizados, de brancos no
posto da FUNAI.
Ele sabia que aquele grupo já fora sacrificado
algumas vezes sem reagir. E assim não teve dúvidas, agiu violentamente.
Acho lamentável o que aconteceu, Gilberto era realmente excepcional. Mas agora
devemos olhar o futuro. Creio que a FUNAI deve destacar um outro sertanista
para a área. Um homem experiente, que fique lá por longo tempo. Não adianta
mandá-lo para lá e depois de alguns meses removê-lo. Deve fazer um trabalho a
longo prazo, paciente e permanente. Nesse trabalho, ele vai precisar de pelo
menos outros 25 sertanistas, também experimentados no trato com o índio. Tenho
absoluta certeza que os Atroari não atacarão mais. O novo posto deve ser aberto
com presentes, sem pensar no passado, sempre com as vistas voltadas para o
futuro.
Imagem 06 ‒
Revista Manchete ‒ n° 1.189, 01.02.1975
Não podemos esquecer que no trabalho com os
índios, sempre que acontece um incidente como este, nossa missão é perder. Outra coisa: o Atroari não vai aparecer logo. Ele passará uns três meses na aldeia, escondido, mas
não resistirá à tentação de voltar ao posto para receber presentes. Então
será a nossa vez de recebê-lo sem mágoas e começar tudo de novo. (REVISTA
MANCHETE, N° 1.189)
Fontes:
CB, N° 4.395. O Episódio dos
Waimiri-Atroari ‒ Brasil – Brasília, DF – Correio Braziliense n° 4.395,
04.01.1975.
REVISTA VEJA, N° 331. ÍNDIOS ‒
Outro Massacre ‒ Brasil ‒ São Paulo, SP ‒ Revista Veja, n° 331, 29.12.1974.
REVISTA MANCHETE, N° 1.189. Tenho
Absoluta Certeza de que os Atroaris não Atacarão mais... ‒ Brasil ‒ Rio de
Janeiro, RJ ‒ Revista Manchete, n° 1.189, 01.02.1975.
Solicito publicação:
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão
do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com;
Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br
[1] George Armstrong Custer: oficial do exército
dos Estados Unidos e comandante de uma unidade de cavalaria durante a Guerra
Civil Americana e as Guerras Indígenas.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H