Quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012 - 06h29
O Rio Trombetas, que Acuña denomina Cunuris, e na língua geral é Oriximiná, não foi ainda navegado até as suas cabeceiras, porque numerosas e altas cataratas se contrapõem aos viajantes, que lhes vão procurar nos arredores a salsaparrilha e o cravo-do-maranhão. Acima das cachoeiras, dizem que o Rio corre através de campos.
(Johann Baptist Von Spix e Carl Friedrich Philipp Von Martius – 1819)
Nossa estada em Parintins, novamente, foi bastante agradável graças aos nossos bons amigos Major PM Túlio Sávio Pinto Freitas, Comandante em Parintins e o Sr. Manuel Joaquim Coelho Lima. Passamos a manhã de sábado e domingo na companhia do Joaquim, visitando a cidade e arredores, jantamos, no domingo, com o Comandante Túlio e sua querida família na excelente pizzaria “Mr. Pizza”. Tivemos, porém, uma desagradável experiência, eu e meu filho na manhã de sábado (04.02.2012), estávamos passeando pela região do Porto Hidroviário de Parintins quando observamos uma movimentação no Centro de Convenções, como as portas estavam abertas entramos e ficamos admirando as evoluções do boi. Já estávamos nos preparando para sair quando apareceu um casal de brasileiros mal-educados, que deveriam ser guias do navio de turistas que atracara na cidade, dizendo que não podíamos permanecer no recinto porque aquele show era exclusivo para os passageiros do referido navio. Disse aos dois que deveriam ter providenciado um cartaz ou alguém na porta impedindo a entrada para evitar tais constrangimentos e deixei os arrogantes babás de turistas falando sozinhos.
A cidade de Parintins que se propõe a ser um pólo turístico incorre nas mesmas omissões e mazelas das demais comunidades que temos tido a oportunidade de visitar durante nossas jornadas. As calçadas são usadas, indevidamente por proprietários de veículos automotores como estacionamento e comerciantes para expor seus produtos forçando os pedestres a arriscarem suas vidas ao transitar pelas ruas. O tratamento de esgoto simplesmente não existe e das valetas exala um mau cheiro extremamente desagradável.
Os flutuadores do Porto Hidroviário de Parintins não possuem cunhas a montante para desviar os troncos que descem o rio e, além disso, as treliças de um dos vãos, suportados por eles, ficam submersas retendo os imensos troncos que se não forem retirados arrastarão o vão inteiro como já aconteceu em Manacapuru. É impressionante verificar a total incompetência técnica e desleixo na construção dos Portos Hidroviários da Amazônia brasileira. Fomos informados que outros portos estão prontos em Manaus e só não seguiram para seus destinos porque aguardam o “momento político” ideal para serem liberados. É importante que o Chefe do DNIT, General Fraxe, meu dileto amigo, nomeie uma comissão de engenheiros para verificar estas obras antes que ocorram acidentes graves provocando vítimas fatais.
-Partida de Parintins, AM (06.02.2012)
Dormimos no hotel e acordamos por volta das quatro horas. Arrumamos nossos poucos apetrechos, a maioria já tinha sido levada para o barco de apoio pela tripulação na noite anterior, e nos dirigimos ao Piquiatuba ancorado no Porto Hidroviário. Trocamos as roupas, equipamos os caiaques e partimos antes das cinco horas. Coloquei a lanterna de cabeça por segurança e remamos, sem forçar o ritmo, pela margem direita até as proximidades da Foz do Ramos quando aproamos para a margem esquerda onde fizemos uma pequena parada para colocar as saias nos caiaques e partimos com a intenção de passar ao largo da Serra de Parintins.
Serra de Parintins: elevação de altitude máxima de 152 m na divisa do Estado do Amazonas com o Estado do Pará. Conhecida também como Serra Valeria em homenagem à moradora mais antiga do local.
Abordamos a Ilha que fica em frente da comunidade Santa Júlia pela margem Setentrional, evitando a grande curva da margem esquerda do Rio Amazonas, e atravessamos o canal que a divide. Nossa intenção era encontrar o Sargento Aroldo Sérgio Barroso, prático do Piquiatuba antes de ir para a reserva. De excelente piloto acostumado a conduzir com segurança embarcações pelos temíveis banzeiros e correntezas amazônicas, nosso caro amigo, hoje Pastor, se dedica a conduzir as almas de seus seguidores pela rota segura da fé. Fizemos uma segunda e derradeira parada antes de rumar para a margem esquerda do Amazonas, depois da grande curva. Aproei para uma pequena Comunidade que se avistava ao longe (11 km) e parti célere, acompanhado de meu filho João Paulo para nosso objetivo final, que alcançamos às 12h30, depois de navegar 80 km em 07h30.
A Comunidade de São Sebastião do Corocoró, Distrito de Nhamundá, possui uma bela Escola Estadual, mas com o mesmo defeito de todas que tenho visitado nas minhas jornadas. Não possui alojamento para os professores que vem de Parintins e ficam, precariamente, abrigados nas residências de pessoas da Comunidade. A Escola foi erroneamente construída em terreno baixo e na última grande cheia, de 2009, como relatou sua diretora, sofreu com a ação dos fortes banzeiros quando as águas atingiram a meia altura das portas e a danificaram seriamente.
Reforço, mais uma vez que é necessária a criação e a instalação de Centros Integrados de Educação e Saúde, ou o nome que queiram dar (CITIs, CIEPs), nas Comunidades maiores geograficamente e estrategicamente bem distribuídos para os quais seriam transportadas diariamente as crianças do entorno em um barco escolar a motor. Reputamos que, ao se planejar estes Centros Integrados de Educação e Saúde, se projete, também, refeitórios para distribuição da merenda escolar, áreas desportivas e alojamento para professores e profissionais de saúde que inevitavelmente terão de ser recrutados nas sedes dos municípios mais próximos. Os alunos retornariam, ao final do dia, às suas Comunidades devidamente alimentados e monitorados pelos elementos de saúde além de terem à sua disposição uma educação que lhes permitiria alcançar o ensino superior.
Ficamos observando enormes iguanas (chamados aqui na Amazônia de camaleões) dependurados nos galhos comendo sementes e flores das árvores próximas ao barco, vez por outra um deles despencava dos galhos para a água com a maior naturalidade e sumia no meio da vegetação aquática.
Camaleão da Amazônia (Iguana iguana): a iguana-verde ou iguana-comum é uma espécie de lagarto arborícola e herbívoro nativo da América Central e do Sul. Este réptil adulto pode atingir até 1,8 m de comprimento e pesar 9 kg. Os seus ovos eclodem depois de 10 a 15 semanas. O iguana adulto é herbívoro, mas seu filhote se alimenta de pequenos invertebrados.
A tripulação canina fora autorizada a desembarcar e proporcionaram uma cena inusitada. Três enormes cachorros, da Comunidade, correram atrás do Coxinha que disparou procurando a proteção do barco, mas antes que o alcançasse foi ultrapassado pelo Comandante Mário, que achou que os cães estavam atrás dele também, o Mário deixou o Coxinha muito para trás e pulou agilmente para a embarcação antes do parceiro canino.
-Partida de São Sebastião do Corocoró, AM (07.02.2012)
Acordamos às 04h50, hora do Amazonas, e partimos eu e o João Paulo antes do amanhecer. A viagem transcorreu sem alteração e entramos no Paraná do Cachoeiri, às 09h30min, apesar da cheia a velocidade da correnteza era inferior à do ano passado e atingimos, somente às 12h15min o Rio Trombetas. Chegamos às 12h45, hora do Amazonas, 13h45, hora do Pará, no porto de Oriximiná. Liguei para os Irmãos da PM, Capitão PM Marcelo Ribeiro Costa, Comandante de Oriximiná e seu Sub-comandante Capitão PM Flávio Antônio Pires Maciel, que nos colocaram em contato com os Irmãos da Maçonaria da Loja Vitória Régia n° 33. Os Irmãos maçons imediatamente foram até o Barco e nos levaram para conhecer as instalações da sua Loja, a Igrejinha do Padre Nicolino e agendaram uma entrevista, para o dia seguinte com um líder Wai-wai além de nos instalarem, gratuitamente, no excelente Hotel Oriximiná, administrado pela encantadora senhora Kátia Maria Feijão Ribeiro.
-Livro
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false
Fonte: Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Vice- Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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