Segunda-feira, 2 de dezembro de 2019 - 10h19
Bagé, 28.11.2019
Daniel Keith Ludwig
Ludwig adquiriu, em 1967, a Empresa de Comércio e
Navegação Jari Ltda., possuidora de extensas propriedades na Amazônia.
Instalando um complexo agroindustrial que produzia celulose e arroz,
dedicava-se à criação de gado além de explorar recursos minerais como a bauxita
e o caulim. Foi desmatada uma área de mais de 200 mil hectares de floresta,
para o cultivo de espécies exóticas (gmelina – Gmelina arborea) – com a
finalidade de produzir celulose. O milionário, invadiu territórios indígenas e
ribeirinhos que viviam às margens dos Rios Paru e Cajari gerando sérios conflitos
com os moradores locais. A partir da década de 1980, teve início a derrocada financeira
do Projeto Jari que foi transferido para um grupo de empresários brasileiros,
liderado pelo Banco do Brasil e pelo Grupo Caemi Mineração.
Grupo Jari
Em 1999, o Projeto foi adquirido pelo Grupo ORSA pelo
valor simbólico de 1 dólar. A negociação com o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durou dois anos. O projeto passou a
ter o nome de Grupo Jari, e os empresários firmaram compromisso em sanar os
passivos sociais e ambientais. A Revista Manchete publicou uma série de reportagens
sobre o Projeto Jari que fazemos questão de repercutir pelo seu grande valor
histórico:
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Revista Manchete, n° 1.362
Rio de Janeiro,
RJ – Sábado, 27.05.1978
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A Fábrica Flutuante de Daniel Ludwig
[Nilson Pereira Lima e David Louis Olson]
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gmelina é uma árvore
originária da Ásia, mas as sementes plantadas nas propriedades de Ludwig foram
trazidas diretamente da Nigéria. O tipo de pinho cultivado no Jari é do Caribe.
A empresa está construindo uma série de unidades habitacionais ‒ “silvivilas” ‒ dotadas da infraestrutura
necessária à vida comunitária. Nestas “silvivilas”
já estão alojadas cerca de 750 famílias. A empresa programa plantar 200 mil
hectares e construir 10 dessas comunidades. O plano prevê também a preservação
de uma faixa muito extensa de floresta nativa para evitar o desequilíbrio
ecológico. O projeto global foi elaborado em 1967 quando o Grupo Ludwig assumiu
o controle acionário da Empresa de Comércio e Navegação Jari Ltda. A aquisição
foi realizada pela Entrerios Comércio e Administração Ltda., “holding” brasileira do grupo.
A ocupação do vale do
rio Jari teve início no município de Almeirim, no Pará, com a missão dos frades
capuchinhos de Santo Antônio. A empresa de Ludwig vai transformar radicalmente
os métodos de exploração da Amazônia, criando empregos diretos para mais de
quatro mil pessoas. No município de Monte Dourado ‒ polo central das atividades
da Jari ‒ os moradores dispõem de uma infraestrutura sócio sanitária bastante
satisfatória, e recebem até assistência hospitalar gratuita.
A absorção de uma
mão-de-obra relativamente abundante representou excelente contribuição para o
Primeiro Plano Quinquenal de Desenvolvimento da Amazônia.
Os empregados da Jari
consideram que a empresa abriu caminho aos pioneiros. Nos portos construídos
pela firma aportam navios de até 55 mil toneladas. Os quatro aeroportos da
empresa recebem uma média mensal de 2.500 passageiros.
A Jari também está
montando uma infraestrutura de exploração da pecuária em suas terras, onde já
existem cinco mil búfalos e cerca de sete mil cabeças de gado. Para 1990
prevê-se um rebanho de 25 mil cabeças.
Os técnicos estão
procurando “racionalizar” a floresta,
que ainda contém cerca de 500 tipos de árvores economicamente não
aproveitáveis. Mas toda a madeira considerada boa é explorada pelas duas
serrarias da empresa que trabalham 24 horas ininterruptamente por dia.
O solo não fértil
fornece matéria-prima para a indústria de construção que consome uma média muito
alta de pedra britada. O ritmo de construção das estradas nas terras da
companhia ‒ um milhão e trezentos mil hectares ‒ está programado para uma média
de 860 km por ano. Atualmente já existem 300 km de estradas principais, e 4.000
de estradas vicinais. A média de rendimento do pinho chega a 28 m3
por hectare, fornecendo matéria-prima para a fabricação de móveis e celulose. A
“Gmelina arborea” atinge até dez
metros de altura no prazo de 2 anos, representando assim uma verdadeira fortuna
para a empresa.
O regime de ocupação
racional da Amazônia tem proporcionado à Jari algumas surpresas agradáveis
como, por exemplo, a descoberta da maior reserva de caulim do mundo. O caulim é
utilizado na fabricação de papel, na indústria farmacêutica e na produção de cerâmica.
O Brasil, que era importador do produto, deverá passar brevemente à condição de
exportador.
A reserva de caulim ‒ conhecido
pelo nome científico de “Amazon 88” ‒
está calculada em 50 bilhões de toneladas.
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As terras já atualmente
cultivadas eram, até três anos atrás, simples pantanais abandonados. Nas
culturas de arroz do Jari ocorre um fenômeno praticamente inédito no mundo, que
é a dupla safra anual. O supervisor das culturas, o agrônomo holandês Arend
Reedijk, explica que a empresa dispõe de equipamentos ultramodernos, utilizando
seis aviões Ipanema adquiridos à Embraer, vinte e seis colheitadeiras
automotrizes, seis tratores de 320 cavalos e outros vinte e quatro de 215.
Há mais de dois mil
empregados na plantação. No ano passado, a empresa exportou 13 mil toneladas de
arroz para a Itália e a produção de 1978 está calculada em 30 mil toneladas que
deverão dar ao Brasil um total aproximado de 120 milhões de dólares de divisas.
A irrigação é garantida
por um conjunto de bombas com capacidade para movimentar até um milhão de
litros por minuto. Segundo os cálculos de Reedijk, a produção de arroz em 1981
deverá chegar a 350 mil toneladas. A experiência do transporte de uma fábrica
moderna em plataformas flutuantes exigiu a criação de uma tecnologia
inteiramente nova por parte de técnicos japoneses e canadenses altamente
especializados.
A construção da usina,
nos estaleiros da Ishikawajima Harima, em Kure, no Japão, durou 2 anos e custou
ao Grupo Ludwig o total de 250 milhões de dólares. O transporte das unidades
por via marítima custou 3 milhões de dólares.
A linha integrada de
produção de pasta kraft branqueada tem capacidade para fabricar 750 ton
métricas por dia, e comporta equipamentos de todos os grandes países produtores
do mundo.
A implantação do projeto
de Ludwig exigiu estudos extremamente minuciosos, pois representava um
verdadeiro desafio para a técnica moderna. Como implantar uma fábrica de
celulose a 400 km de distância da foz do Amazonas, numa região que não dispõe
de qualquer estrutura de apoio nem de outros tipos de recursos modernos? Montar
a usina trazendo as peças de fora seria, além de muito problemático, oneroso
demais.
A única solução era
transportar via marítima e fluvial uma fábrica já inteiramente montada. Ludwig
teve a colaboração de um engenheiro naval de renome internacional, Elmer L.
Hans, que nos últimos 40 anos tem participado de todos os grandes
empreendimentos marítimos dos mais diferentes países.
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onsiderado como “o pai da construção dos navios modernos”,
Hann, que exerce há 28 anos a função de supervisor de estaleiros no Japão,
começou sua vida profissional logo depois da 2° GM, estudando um novo método de
construção naval para os japoneses, que haviam perdido toda a sua frota. Daniel
Ludwig arrendou estaleiros japoneses pelo prazo de dez anos e Elmer Hans
introduziu técnicas ultramodernas para a construção dos superpetroleiros ‒ setor
em que Ludwig foi pioneiro.
Para o transporte da
fábrica de celulose, Hann contou com os serviços de um dos diretores da
Ishikawajima que figura entre seus mais fiéis alunos, H. Shinto. “Com a colaboração de um técnico do gabarito
de Shinto”, diz Hann, “tudo teria que
dar certo. O aluno ultrapassou seu antigo professor”.
Sentado num banco de
madeira da Amazônia, Elmer Hann olha para a usina que se ergue como um imenso
edifício sobre as águas e confessa que o transporte das unidades do Japão para
a Amazônia foi a maior façanha de sua vida de técnico. (MANCHETE, N° 1.362)
Fonte:
MANCHETE, N°
1.362. A Fábrica Flutuante de Daniel
Ludwig [Nilson Pereira Lima e David Louis Olson] ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro,
RJ ‒ Revista Manchete, n° 1.362, 27.05.1978.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel
de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador,
Escritor e Colunista;
·
Campeão do
II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
·
Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro
do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador
da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com.
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