Domingo, 15 de dezembro de 2019 - 10h49
Bagé, 11.12.2019
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Revista Manchete, n° 1.539
Rio de Janeiro,
RJ – Sábado, 17.10.1981
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A Luta Pela terra III
[Alexandre Garcia]
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N |
a margem esquerda do
Baixo Amazonas, na região dos rios Paru, Jari, Cajari e Preto, os problemas
são os grandes latifúndios, com vazios demográficos, onde a unidade de medida é
o milhão de hectares. Sobre essa região, volta-se a cobiça estrangeira,
motivada pelo fabuloso potencial do subsolo. Por isso, o Presidente Figueiredo
criou, no início do ano passado, o Grupo Executivo para a Região do Baixo
Amazonas [Gebam], vinculando-o ao Conselho de Segurança Nacional. Numa ação
fulminante, o Gebam, em pouco mais de um ano de trabalho efetivo, impediu que
5,1 milhões de hectares ‒ área superior à do Estado do Rio de Janeiro ‒ se
transformassem em enclaves estrangeiros na Amazônia. E já vai se asber por
quê. Naquela região estão a Jari Florestal, que reivindicava para si 3,5
milhões de hectares; a Agroindustrial Amapá Ltda., que detinha 600 mil
hectares; e a herança Barata, que totalizava 1 milhão de hectares. A Jari está
sendo praticamente ocupada pelo governo, e sua pretensão territorial caiu, por
iniciativa própria, para 1,6 milhão de hectares: a Agroindustrial Amapá teve
suas terras desapropriadas para fins de reforma agrária; e a venda da herança
Barata para uma multinacional foi sustada por ato ministerial.
O governo descobriu a
intermediação de uma empresa testa de ferro, que depois passaria as terras da
herança, em Calçoene, para uma multinacional. Imediatamente, a transação foi
bloqueada, em base legal, pois os títulos de posse não se enquadravam na
legislação. A Agroindustrial Amapá Ltda. instalou-se nas proximidades da Jari,
entre os rios Cajari e Preto. Ela detinha 100 mil hectares legitimados e 490
mil em títulos de posse. Utilizando-se de propostos brasileiros, dois
estrangeiros estavam adquirindo a área. A operação foi interrompida a tempo,
por decreto de desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária.
Agora, estão sendo
indenizadas as poucas benfeitorias da área, “e vamos botar os caras pra fora” ‒ segundo expressou uma fonte
governamental. O projeto Jari tem origem num dos grandes latifundiários da
região, José Júlio de Andrade, que implantou, no passado, diversas colocações
de seringueiros na região do rio Jari. Ele registrou algumas posses em
intendências municipais e outras na repartição de terras do Pará. Instituída a
Jari Comércio e Navegação Limitada [depois S.A.], essa empresa passou a deter
os títulos de posse.
O |
norte-americano Daniel
Ludwig não comprou as terras, mas a empresa, transformando-a na Jari Florestal
e Agroindustrial Ltda. A Jari reivindicava, como propriedade sua, um total de
3,5 milhões de ha. Depois que as atenções do governo passaram a se voltar para
a imensa área, a Jari reduziu sua pretensão para 1,6 milhão de ha, conforme
solicitação encaminhada ao INCRA.
Além disso, o governo
brasileiro está entrando decididamente na região da Jari. A Marinha foi a
pioneira. Em Monte Dourado, sede da Jari, foi instalada uma agência da
Capitania dos Portos.
Há dias, começou a
patrulhar o rio a embarcação Rio Jari, com a tarefa de policiar e fiscalizar a
área. Em breve, outra embarcação, baseada em Macapá, fiscalizará a saída norte
do rio Amazonas. A FAB também já chegou. A Comissão de Aeroportos da Amazônia
[Comara] está se instalando para construir os prédios que abrigarão as
repartições federais ‒ e as residências dos funcionários, para ficar totalmente
independente da Jari. Um destacamento de proteção ao voo da FAB brevemente
estará no local.
Assim que os prédios
ficarem prontos, serão implantadas as repartições nacionais: uma inspetoria da
Receita Federal, uma delegacia da Policia Federal, um posto de fiscalização do
IBDF, um posto do Ministério do Trabalho, um posto do Ministério da Providencia
Social, uma subagência do Banco do Brasil e da Cacex e uma Junta de Conciliação
e Julgamento [na sede do município, Almeirim, por proposta que tramita no
Congresso].
A |
Secretaria Especial do
Meio Ambiente [SEMA] instalará, no limite norte do projeto, uma estação
ecológica. Os estrangeiros interessados nas grandes extensões de terras
daquelas áreas falam em implantar projetos florestais, que exigem inicialmente
grande investimento, o desmatamento e o subsequente trabalho de reflorestamento
com estâncias homogêneas.
No Amapá, há 10 milhões
de hectares de cerrados, nos quais basta plantar a floresta, sem gasto de
desmatamento. Isso indica que o interesse estrangeiro não é pelo florestamento.
O que o Radam, a Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais e a Decegeo
descobriram naquela área mostra que a maior riqueza está no subsolo.
Não parece ser outra a
razão pela qual os estrangeiros estão de olhos voltados para a região, As
pesquisas sobre recursos minerais já estão se iniciando em dois importantes
municípios: em Almeirim, onde já está acampada a CPRM, e em Marzagão, onde o
Radam já deflagrou as operações ‒ notícias difundidas pela imprensa de Macapá.
Será feito um zoneamento ecológico da região e a seguir, o INCRA promoverá o
assentamento de colonos. Quando foi criado, o Gebam recebeu as seguintes
incumbências:
1) Fortalecer
a presença federal na margem esquerda do Baixo Amazonas;
2) Propor
soluções para o problema fundiário;
3) promover e acompanhar os projetos de desenvolvimento econômico e
social na região.
Isto está sendo
executado com extrema rapidez, para tentar neutralizar a ação dos estrangeiros
naquela área. Hoje, sem dúvida, após um tempo relativamente curto de trabalho,
já se pode dizer que o Baixo Amazonas é de fato brasileiro. (MANCHETE, N°
1.539)
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Revista Manchete, n° 1.550
Rio de Janeiro,
RJ – Sábado, 02.01.1982
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Empresários Nacionais vão Comprar o Projeto Jari
[Alexandre Garcia]
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Daniel
Ludwig quer Vender sua Propriedade Localizada na Amazônia e que Ocupa um
Território Maior que o da Holanda
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A |
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té a iniciativa privada
conseguiu furar o bloqueio: as Casas Pernambucanas, estão se instalando em
Monte Dourado, território da Jari.
Pode-se supor que não
seria bem esse tipo de infra-estrutura que Daniel Ludwig pedira ao governo,
quando escreveu ao Planalto queixando-se da falta de apoio governamental.
Carente de crédito, o projeto passou a acumular dívidas. Ludwig desejava que o
governo assumisse a infraestrutura da cidade, de Monte Dourado, de 15 mil
habitantes, que tinha erguido dentro do Jari, com todos os serviços urbanos por
sua conta.
Desiludido. Daniel
Ludwig decidiu não investir mais dólar algum no projeto e autorizou o advogado
carioca José Luiz Bulhões Pedreira a negociar o Jari.
O empreendimento seria
vendido por 250 milhões de dólares [mais de Cr$ 31 bilhões], pagáveis em três
anos, segundo se comenta. Consta que a Jari deve 170 milhões de dólares a
bancos estrangeiros, a serem resgatados nos próximos três anos, além de 180
milhões de dólares pela compra da fábrica de celulose à Ishikawajima. Esta
última dívida tem o aval do BNDE e é pagável em sete anos, em prestações
semestrais. Já está vencida uma prestação de 17,8 milhões de dólares.
Por enquanto, o único
nome brasileiro que aparece de modo firme, como interessado em adquirir a Jari,
é o do industrial Augusto Trajano de Azevedo Antunes, 75 anos, líder de um
grande conglomerado de mineração. Na quinta-feira, 17 de dezembro, o empresário
foi a Brasília, explicar sua posição ao Presidente Figueiredo.
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Como o Projeto Jari engloba,
além da Jari Florestal e Agropecuária, a Caulim da Amazônia e a São Raimundo
Agropecuária, ainda não se pode saber se o Grupo Antunes ficaria com apenas uma
delas, ou mais, ou agiria como líder de um conglomerado de outras empresas
brasileiras daqueles ramos. Como já existe a disposição de Daniel Ludwig de se
desfazer do Jari, resta a ação das outras partes.
O governo quer deixar a
iniciativa privada agir livremente no negócio, embora acompanhando com
interesse o assunto. Os empresários brasileiros, por sua vez, parecem aguardar
algum estímulo oficial. A transação tanto pode ficar concluída já neste ano
como estender-se para o ano que vem. De qualquer forma, antes mesmo de o
negócio ficar concluído, os brasileiros já botaram firmemente seus pés no Jari.
(MANCHETE, N° 1.550)
Fontes:
MANCHETE, N°
1.539. A Luta Pela terra III [Alexandre
Garcia]‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Revista Manchete, n° 1.539, 17.10.1981.
MANCHETE, N°
1.550. Empresários Nacionais vão Comprar
o Projeto Jari [Alexandre Garcia] ‒ Daniel Ludwig quer Vender sua Propriedade
Localizada na Amazônia e que Ocupa um Território Maior que o da Holanda ‒
Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Revista Manchete, n° 1.550, 02.01.1982.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel
de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador,
Escritor e Colunista;
·
Campeão do
II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
·
Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro
do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador
da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com.
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