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Hiram Reis e Silva

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV


Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV  - Gente de Opinião

Bagé, 06.12.2024

 

Continuando engarupado na memória:

 

 

Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJ


Sábado, 10.08.1963

 

Lacerda diz na CPI que Pressões


são Feitas Pelo Próprio Governo

 

 

O Governador Carlos Lacerda, depondo ontem na Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as pressões sobre o Congresso, denunciou o Comando-Geral dos Trabalhadores como orientador da pressão sindical comunista contra a instituição, disse que a Frente Parlamentar Nacionalista é uma organização de fachada do Partido Comunista dentro do Congresso, e afirmou que as pressões:

São um aspecto da ocupação do Brasil por uma força internacional, que obedece à sede do comunismo em Moscou. 

O Governador da Guanabara acusou diversos jornalistas de receberem favores oficiais do Governo em troca da


deturpação das notícias parlamentares, e disse que as pressões contra o Congresso têm repercussão em sua administração.

O depoimento do Sr. Carlos Lacerda não pôde ser concluído ficando a parte final marcada para a próxima terça-feira.


 

Pressão de Comunista

 

O Sr. Carlos Lacerda denunciou a “crescente influência do comunismo em todos os partidos políticos e em todos os setores da vida nacional”, e em seguida apresentou um estudo da Universidade de Pensilvânia sobre como se processou a infiltração comunista na Guatemala, lendo demorados trechos, “para demonstrar a similitude com os fatos que ocorrem no País”. 

Prosseguiu o Sr. Carlos Lacerda afirmando que está “sinceramente convencido de que a Frente Parlamentar Nacionalista é na realidade uma organização de fachada do Partido Comunista dentro do Congresso”. Acrescentou que a formação de frentes parlamentares esquerdistas faz parte da tática do comunismo internacional em sua luta pela conquista do Poder. Deu ênfase ao que considera os quatro pontos principais da tática dos comunistas do Brasil para o aniquilamento da democracia:

 

1) A neutralização do Exército, a pretexto de disciplina-lo:

 

2) A coação contra o Congresso sobre fatos reais ou falsos, como no atual inquérito sobre o IBAD, no qual se procura caracterizar o Congresso como uma força espúria, a fim de coagir moralmente os seus Deputados e Senadores;

 

3) A intervenção na Guanabara, como primeiro passo para a intervenção em São Paulo e no Rio Grande do Sul, “a que parecem ligados o Ministro da Justiça e outras autoridades”; e

4) A abolição do direito de propriedade, através da reforma agrária com prévia emenda constitucional.

 O Sr. Carlos Lacerda disse que aos comunistas interessa ainda a cessação das relações econômicas e financeiras do Brasil com as potências do Ocidente. Disse: 

Aí só nos restaria ensinar a Internacional Comunista à banda da PM para receber os técnicos russos no Aeroporto Santas Dumont, a exemplo do que ocorreu em Cuba.

 

Sindicatos Comunistas 

O Governador da Guanabara, ao falar sobre o movimento sindical do País, afirmou que: 

Neste momento está ocorrendo a derrogação dos princípios que informam à Justiça do Trabalho, com o aparecimento de um órgão totalitarista ilegal, o Comando-Geral dos Trabalhadores, que não representa a massa dos trabalhadores e é dirigido por homens que vão fazer cursos, as vezes com dinheiros públicos,em Moscou, Havana e Praga. 

Frisou que não é contra as greves por motivos Justos: 

Mas contra as greves ilegais, que não se confundem com as greves por direito, e são um movimento revolucionário pira impor os objetivos reais do movimento, que são totalitários. 

O Governador Lacerda afirmou que a Petrobrás: 

Está sendo convertida na mais baixa fonte de subversão do País. 

O mesmo ocorrendo com o Sr. Leonel Brizola: 

Cuja influência decorre do fato de ser cunhado do Presidente da República. 

Classificou a Rádio Mayrink Veiga como: 

Outra fonte de subversão. 

Revelando que o seu proprietário nominal, Sr. Miguel Leuzi, é mero testa-de-ferro do Deputado. Leonel Brizola. Acrescentou que: 

Diariamente a emissora viola a Constituição do País, constituindo-se no instrumento oficial da calúnia comtra o Congresso.

 

Pressão Oficial 

Afirmou que o Governo Federal aproveitou-se de favores oficiais que concede às empresas privadas para solicitar destas fundos para a campanha do plebiscito, especificamente pelo não: 

Funcionando como agentes de recolhimento do dinheiro o Sr. Hugo de Faria e outros. 

Considerou o folheto editado pelo Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) sobre a conveniência de os eleitores votarem pelo não, como: 

Uma prova concreta de pressão contra o Congresso. 

Frisando que somente o Senai forneceu recursos da ordem de Cr$ 100 milhões para a campanha do plebiscito.

 

Jornalistas Denunciados 

O Governador Carlos Lacerda declarou que a Câmara e o Senado estão sendo submetidos a um processo de deformação de notícias, além de omissão de informações, especialmente no que diz respeito à determinados políticos. Afirmou que estes jornalistas: 

Obedecem a seus interesses, quando deturpam ou omitem as atitudes dos parlamentares.

 Denunciou a existência em Brasília da chamada “bancada escocesa”, formada por deputados e jornalistas que após as sessões diárias se reúnem em bares e até em boates e de cujos encontros, surgem informações políticas e são comentadas as atuações dos parlamentares. 

Declinou o nome dos seguintes jornalistas: Carlos Castello Branco. Chefe da Sucursal de Brasília do Jornal do Brasil, como sendo Procurador do DNER e sua mulher funcionária do Tribunal de Contas; Edísio Gomes de Matos, repórter político da Sucursal de Brasília, do Jornal do Brasil, como sendo funcionário da Fundação Educacional de Brasília e do Instituto do Açúcar e do Álcool; Maria da Graça Dutra, do Correio Brasiliense; Otacílio Lopes, da Sucursal do Diário de Notícias como funcionário da Justiça; D’Allembert Jacoud, da Sucursal de O Estado de São Paulo, como sendo ligado ao Deputado Almino Afonso e funcionário do Instituto Nacional do Mate; Osvaldo Costa, Diretor do jornal O Semanário; Evandro Carlos de Andrade, repórter político do Jornal do Brasil e do O Estado de São Paulo, como funcionário da Caixa Econômica; Fernando Pedreira, do O Estado de São Paulo e Tribuna da Imprensa, que o Sr. Carlos Lacerda afirmou ser “public-relations” do Sr. Almino Afonso; Benedito Coutinho dos Diários Associados, segundo o Governador, quem leva os Diretores destes ao Presidente da República, funcionário da Rede Ferroviária Federal; Mauritônio Meira. Chefe da Sucursal da Última Hora, e Flávio Pilla, do mesmo jornal; e Raimundo Ferreira de Brito, Chefe da Sucursal do Correio da Manhã em Brasília. 

O Sr. Carlos Lacerda afirmou em seguida que o jornal Brasil Urgente, dirigido por Frei Carlos Josafá, é financiado quase integralmente pela Petrobrás. Declarou que o Correio da Manhã é dirigido pelo jornalista Jânio de Freitas: 

Egresso do Jornal do Brasil com escalas em Moscou e Praga. 

Disse que a campanha pela reforma agrária que faz o matutino é dirigida pelo Sr. Jorge Serpa, diretor da empresa Mannesman, o que disse contrariar as leis do País.

 

Invadir Jornais 

Sabre o IBAD, o Sr. Carlos Lacerda declarou que: 

Deplora profundamente a influência do dinheiro na política. 

Considerando o fato: 

Uma desgraça nacional. 

Acrescentou que, na conjuntura brasileira, é “tolerável e indispensável” que os adeptos da democracia tirem dinheiro de seus bolsos para defendê-la. Após diversos comentários sobre as distorções feitas por jornalistas, propôs à comissão que: 

Invada os jornais, as rádios e as televisões para que o povo conheça os fatos que lhe estão sendo negados, a verdade que lhe está sendo deturpada. 

Ao fim da exposição do Governador da Guanabara, o Deputado Amaral Neto propôs à CPI que ela seja retransmitida posteriormente por emissoras de rádio, sob sua garantia. O requerimento do deputado udenista será examinado na sessão de segunda-feira. 

Indagado pelo Deputado Dirceu Cardoso sobre a Frente Parlamentar Nacionalista, o depoente reiterou os termos das declarações feitas anteriormente, entregando à CPI exemplares do livro “Em Cima da Hora”, da escritora francesa Suzanne Labin, por ele traduzido. 

Perguntado pelo Deputado Nélson Carneiro sobre se as pressões contra o Congresso tem repercutido em sua administração, respondeu que: 

A Guanabara sofre uma sistemática e violenta pressão do Governo Federal. 

Frisou que es episódios da tentativa de federalização cia Polícia Militar e outros órgãos de segurança do Estado e da prisão do jornalista Hélio Fernandes, pela publicação de circulares do Ministro da Guerra em que o Governador da Guanabara era atacado, comprovam sua afirmativa.

 

Pressões Legítimas 

Perguntado sobre o que considera pressões legítimas e pressões espúrias, disse que considera como sendo das primeiras as que exigem que os deputados se definam durante as campanhas eleitorais e a apresentação de memoriais contendo reivindicações ao Congresso, entre outras. Considerou pressões ilegítimas: 

Usar do dinheiro público para arrancar esta ou aquela medida do Congresso, distribuir sinecuras a jornalistas, chamar deputados ao Palácio e prometer-lhes dinheiros públicos, convidar parlamentares para o Ministério em troca de apoio político, repor a ditadura do Ministério do Trabalho sobre os trabalhadores, distinguir entre generais e generais do povo, e forçar o choque entre generais e sargentos. 

O depoimento do Governador da Guanabara foi interrompido às 18h00, por ter ele de cumprir compromissos à noite, mas terá prosseguimento na terça-feira.

 

Novas Convocações 

A CPI que investiga pressões sobre o Congresso convocará para depor os ex-Ministros Odilo Denis, Silvio Heck e Grun Moss, e o General Cordeiro de Faria, todos sem data marcada até agora. Na próxima segunda-feira serão ouvidos o Presidente do Pacto de Unidade e Ação, Sr. Osvaldo Pacheco, e o Comandante da Artilharia de Costa da 1ª RM, General Antônio Henrique de Almeida Morais. A CPI deverá solicitar ainda o comparecimento de Frei Carlos Josafá e dos Srs. Álvaro Vieira Pinto, Ari Campista, Jorge Serpa, Hélio Fernandes e Armando Falcão. (JORNAL DO BRASIL N° 186, 10.08.1963

 

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

E-mail: hiramrsilva@gmail.com

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