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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X


Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X  - Gente de Opinião

Bagé, 20.12.2024

 

Continuando engarupado na memória:

 

 

Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJ

Sexta-feira, 25.10.1963

 

Sindicâncias do Sequestro dão em Nada

 

 

O General Antônio Henrique Almeida de Morais entregará, nas próximas 48 horas, ao ministro Jair Dantas Ribeiro, os resultados das sindicâncias que promoveu sobre a tentativa de sequestro de que seria vítima o Governador Carlos Lacerda, quando dos acontecimentos que culminaram com o pedido de Estado de Sítio, posteriormente retirado ao Congresso.

 

Círculos militares antecipam que não chegará a haver abertura de Inquérito Policial-Militar para apurar a ocorrência, em que estiveram envolvidos paraquedistas do Núcleo da Divisão Aeroterrestre. Por motivos óbvios, o general Jair Dantas Ribeiro aceitará as explicações dadas pelo comandante daquela tropa. General Alfredo Pinheiro, de que tudo se tratava de “exercício de adestramento do pessoal”.

 

Tribuna da Imprensa n° 3.185, Rio, RJ



Sábado-Domingo, 26 e 27.10.1963


Jair Arquiva Caso do Sequestro

 

O general Jair Dantas aprovou a decisão do comandante do I Exército, general Morais Âncora, de considerar a movimentação de paraquedistas, apontada como destinada a sequestrar o Governador da Guanabara, como infração ao regulamento disciplinar do Exército, advertindo o general Alfredo Pinheiro, comandante do Núcleo Aeroterrestre, e mandando arquivar o caso. O relatório do general Antônio Henrique Almeida de Morais, em duas laudas datilografadas, acentua que o Cel Mafra, por determinação do general Pinheiro ordenou o deslocamento do Grupamento de Engenharia, sem o prévio conhecimento do comando do I Exército e que a “ordem de infeliz inspiração provocou atritos, manifestações e desentendimentos” no núcleo, “gerando um clima de desconfiança dentro da organização militar”.

 

Relatório

 

Acentua o relatório sobre as sindicâncias, realizadas pelo general Antônio Henrique Almeida de Morais, que na madrugada de 4 de outubro, o general Alfredo Pinheiro resolveu realizar “um teste de conduta para cumprimento de ordens”, telefonando ao Cel Mafra mandando que tomasse providências. O Cel Mafra retransmitiu as ordens ao capitão Rodoválio para que acionasse o Grupamento de Unidades Divisionárias e alertasse outros grupamentos: Grupo de Obuses e Batalhão Santos Dumont.

 

Informa o relatório que às 07h00, no café da manhã, deu ordens para que a Cia de Engenharia se deslocasse pela estrada de Jacarepaguá, até a praça fronteiriça ao Clube de Regatas Flamengo e “ficasse em condições de deter todos os carros oficiais que, ali penetrassem”.

 

O deslocamento, iniciado às 08h00, terminou às 09h30, com a chegada da companhia à praça, onde já se encontrava o cel Mafra, que determinou as entradas que deveriam ser bloqueadas.

 

Depois de aguardarem durante meia hora, os paraquedistas receberam ordens de regressar, “sem que se registrasse qualquer incidente no local”. Acentua o relatório que “fatos lamentáveis registraram-se enquanto isto, no quartel, com atritos, manifestações e desentendimentos” entre os oficiais, tendo os Tenentes Coronéis Francisco Boaventura Cavalcante Júnior e José Aragão Cavalcante, comandante do Grupo de Obuses e do Batalhão Santos Dumont protestado contra a ordem, com o general Pinheiro e com o cel Mafra, alegando “a ilegalidade das ordens recebidas”.

 

Em certo trecho, diz textualmente o relatório:

 

O teste de verificação foi de infeliz inspiração, levando-se em conta a situação, de agitação política reinante naquele dia no País, bem assim o alvitre de tal ordem, considerada absurda a pretexto de sentir a reação de seus subordinados e por isso não pode ser aproveitada pelo comando, criando ao contrário um clima de desconfiança dentro da Organização Militar.

 

Diz, entretanto, o relatório não haver ficado comprovado o atentado contra o Governador da Guanabara e que ambos os oficiais negam, bem como os testemunhos afirmam que nenhuma ordem foi dada neste sentido.

 

Conclui informando não ter sido possível apurar a origem da divulgação da manobra, acentuando que o fato de jornais e emissoras terem imediatamente tomado conhecimento do caso, comprova a existência cie facções políticas dentro das unidades

 

Âncora

 

Foi o seguinte o despacho do general Âncora, comandante do I Exército, no relatório encaminhado pelo general Almeida de Morais:

 

I   Em virtude das conclusões contidas no relatório da sindicância apresentado pelo gen. Antônio Henrique Almeida de Morais, no qual ficou constatada a inexistência de crime ou propósito de atentado a quem quer que seja e que os fatos apurados são classificados na área do Regulamento Disciplinar do Exército, resolve:

 

1. Declarar de pleno direito o ato do comandante do Núcleo de Divisão Aeroterrestre, gen Alfredo Pinheiro Filho, de realizar exercícios-testes, quando e onde desejar e até de seu dever isso fazer, de acordo com as necessidades da adequada preparação ia GU, para atender à situações de emergência

 

2. Advertir ostensivamente o Exmo. sr. gen brig Alfredo Pinheiro Soares Pilho, por ter no exercício em causa executado deslocamento de tropa para fora de sua área, sem ter dado o indispensável aviso prévio ao comandante da Guarnição da Vila Militar e ao comandante do I Exército. Na presente advertência foram levados em consideração os relevantes serviços prestados, na paz e na guerra, pelo gen Pinheiro e bem assim sua dedicação na especialidade de paraquedista.

 

3. Declarar que foram impróprias as condições de enquadramento do motivo criado para o exercício, por não terem permitido o real aproveitamento imediato do teste do cumprimento de ordens e discrição de execução.

 

4. Remeter ao Exm° Ministro da Guerra a documentação constante da presente sindicância para as providências complementares, julgadas necessárias.

 

II         Publique-se a presente solução em Boletim Interno, Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1963. (As) Gen Div Armando de Morais Âncora, comandante do I Exército.

 

Jair

 

Logo abaixo da nota do general Âncora, o general Jair Dantas Ribeiro exarou o seguinte despacho:

 

I   Aprovo a solução dada pelo comandante do I Exército bem como as medidas decorrentes;

 

II         Comunique-se a sua Exª o comandante do I Exército, publique-se no Boletim Interno e arquive-se. (As) Gen Ex Jair Dantas Ribeiro, Ministro da Guerra.

 

 

Tribuna da Imprensa n° 3.187, Rio, RJ

Terça-feira, 29.10.1963


A Reação de um Desesperado

 

Uma vez mais o sr. João Goulart volta a acionar o seu dispositivo sindical para promover a agitação no País: desta vez, a crise tem um endereço novo e procura atingir em toda a plenitude o governador Ademar de Barros.

 

Inconformado com a deliberação do presidente nacional do PSP, que instruiu a bancada do partido na Câmara para requerer o “impeachment” do presidente, o sr. João Goulart recorre ao processo criminoso, vil, sórdido, mas essencialmente seu: a greve política.

 

Através da paralisação geral dos trabalhadores paulistas, o presidente da República descobre uma fórmula para a vingança dupla: desacredita politicamente o chefe do Executivo estadual e abre caminho para a intervenção federal em São Paulo. Que, de resto, é um capítulo no cronograma por ele estabelecido, de intervir paulatinamente em todos os Estados, até consumar o golpe, implantando a ditadura.

 

No minucioso planejamento da greve geral, o sr. João Goulart conta com a colaboração preciosa do sr. Clodsmith Riani, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria. A substituição de fato do general Pery Bevilacqua no comando do II Exército é outro fator que os patrocinadores do movimento ilegal interpretam como trunfo.

 

Mas se os planos se mostram tão cor-de-rosa para o chefe do Governo, é preciso que ele saiba que o povo já não mais admite as suas manobras reprisadas. Ontem, ele investiu contra o sr. Carlos Lacerda. Hoje, se volta contra os srs. Ademar de Barros e Miguel Arrais. Amanhã terá toda a Nação contra si. Só não vê isso quem não quer.

 

Beneficiário permanente das greves, o sr. João Goulart, como que embriagado, transforma a greve, que é arma legítima de reivindicação dos trabalhadores, em um rombudo instrumento político. Por isso, já não merece mais crédito nem mesmo por parte da massa operária, que assiste a desmoralização do processo de pressão contra os empregadores.

 

Com uma paciência quase oriental, o Brasil inteiro se dispunha a aguardar, como no texto bíblico, p transcurso dos anos das vacas magras. O sr. João Goulart no poder representava uma espécie de purgatório para a Nação. Mas ele mesmo se incumbiu de abrir as frentes de luta.

 

Não será, pois, de estranhar que muito brevemente ele se ache só, completamente ilhado.

A vocação deste País e indestrutivelmente democrática. O seu futuro e o futuro luminoso e radiante das grandes potências. Mas a cada dia que passa se torna mais e mais difícil conciliar democracia, desenvolvimento e João Goulart. Pois não é a partir da escola pública que nos ensinam a impossibilidade de somar quantidades heterogêneas?

 

Tribuna da Imprensa n° 3.188, Rio, RJ

Quarta-feira, 30.10.1963


O Jogo da Intervenção

 

Afinal a ameaça consumou-se: uma greve geral paralisou ontem, quase totalmente, a capital paulista e deve atingir hoje todas as categorias profissionais, inclusive os trabalhadores do porto de Santos. Diante de todos esses acontecimentos, o sr. João Goulart assume, teatralmente, um ar preocupado e se arroga a posição de juiz sereno, formulando apelos, simulando mediações.

 

Era preciso que o País ignorasse a sua atuação nos momentos que precederam à deflagração do movimento paredista para que a atitude de agora merecesse respeito. Usando duas máscaras, o presidente da República mantém encontros simultâneos com os líderes do Comando Geral dos Trabalhadores e com os ministros de Estado. Enquanto insufla os primeiros, determina aos segundos a adoção de medidas acauteladoras.

 

Dentro dessa autêntica comédia o seu fim vai sendo atingido, os juros começam a ser pagos: se o comando do II Exército não se comportou da maneira prevista, omitindo-se, como era desejo do presidente, ainda assim o sr. João Goulart consegue tirar o melhor proveito da circunstância. A atitude do sr. Ademar de Barros, intransigente, reprimindo a agitação como é dever do Governador do grande Estado, esse procedimento, no desgoverno do sr. João Goulart é pretexto para outro golpe: fica definitivamente consumada a sua saída e abre-se o caminho para a intervenção em São Paulo.

 

Como um jogador de xadrez, apenas isso, o presidente da República procura transformar os xeques-mates em vantagens políticas pessoais.

 

De uma coisa, porém, podem ficar certos, Jango e seus cúmplices: a Nação repelirá energicamente qualquer tentativa de intervenção em São Paulo.

 

Já nos hasta a intervenção branca a que todo País se acha, infortunadamente submetido.

 

Inquérito põe Honra do Exército em Xeque

 

Brasília, 29 (Da Sucursal) – Em discurso, ontem, na Câmara dos Deputados, o ex-presidente da UDN, deputado Herbert Levy, afirmou que o ministro do Guerra deixou de apurar, por completo, fatos importantíssimos ligados ao atentado contra o governador Carlos Lacerda, no dia 4 deste mês.

 

Criticou o procedimento dos responsáveis pelo Inquérito Policial Militar que concluiu pela inexistência do atentado, assinalando que “a honra do Exército brasileiro está em jogo e não pode ser enlameada, seja por que motivo for”.

 

Continuando seu pronunciamento, o representante da UDN reportou-se ao problema da greve em São Paulo, considerando-a como um movimento resultante da agitação reinante no País, provocada pelos representantes dos setores de extrema-esquerda. Disse que os comunistas infiltrados em todos os sindicatos, apenas servem para desvirtuar os mais legítimos interesses das classes trabalhadoras.

 

Estas, em sua luta por melhores condições de trabalho, veem-se desnorteadas com a sua atuação dirigida para os acontecimentos políticos nos quais são levados a participar muitas vezes, sem saber o verdadeiro sentido que possuem.

 

Declarou que considerava legítimas as greves, de caráter reivindicatório, por serem uma justa motivação. E frisou:

 

A única maneira de serem extintos de vez os constantes e prejudiciais movimentos grevistas no Brasil será a adoção do salário-móvel, na forma de projeto em tramitação na Câmara. A esse respeito já solicitei a cooperação do PTB para ser requerida urgência para a votação dessa proposição.

 

Homens de Esquerda

 

Mencionou o deputado udenista que:

 

Mais uma vez se comprova que o Governo não só olha tranquilamente, mas até aplaude ou incentiva a obra de destruição dos homens de esquerda, para quem, “quanto pior. Melhor”.

 

Disse mais:

 

No setor marítimo por exemplo, a ação exercida pelos esquerdistas é ainda mais intensa. De tal maneira os homens de extrema esquerda tomaram a direção desse setor, que o transporte sobre água, que em todo o mundo custa 10% menos do que o transporte rodoviário está aniquilado no Brasil e, da linha da vida do desenvolvimento econômico da Nação, transformou-se em linha de asfixia.

Citou, como exemplo, o que está ocorrendo com a Fosforita Olinda S/A, a maior organização industrial de Pernambuco. Com o aumento, em um ano, do preço do frete por tonelada as Cr$ 3.273,82 para Cr$ 10.880,00, o escoamento da produção da empresa está cada vez mais difícil e oneroso, quando feito por via marítima. Concluindo seu discurso, afirmou que:

 

Nesta altura portanto mais do que nunca, temos que fazer a mobilização das forças democráticas para nos opormos aos desígnios subversivos daqueles a quem a Nação, em má hora, confiou a tarefa de defender a ordem e as instituições públicas.

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

E-mail: hiramrsilva@gmail.com

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