Sexta-feira, 20 de dezembro de 2024 - 07h19
Bagé,
20.12.2024
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna
da Imprensa n° 3.184, Rio, RJ
Sexta-feira,
25.10.1963
Sindicâncias
do Sequestro dão em Nada
O General Antônio
Henrique Almeida de Morais entregará, nas próximas 48 horas, ao ministro Jair
Dantas Ribeiro, os resultados das sindicâncias que promoveu sobre a tentativa
de sequestro de que seria vítima o Governador Carlos Lacerda, quando dos
acontecimentos que culminaram com o pedido de Estado de Sítio, posteriormente
retirado ao Congresso.
Círculos militares
antecipam que não chegará a haver abertura de Inquérito Policial-Militar para
apurar a ocorrência, em que estiveram envolvidos paraquedistas do Núcleo da
Divisão Aeroterrestre. Por motivos óbvios, o general Jair Dantas Ribeiro
aceitará as explicações dadas pelo comandante daquela tropa. General Alfredo
Pinheiro, de que tudo se tratava de “exercício
de adestramento do pessoal”.
Tribuna da Imprensa n° 3.185, Rio, RJ
Sábado-Domingo, 26 e 27.10.1963
Jair
Arquiva Caso do Sequestro
O general Jair Dantas
aprovou a decisão do comandante do I Exército, general Morais Âncora, de
considerar a movimentação de paraquedistas, apontada como destinada a
sequestrar o Governador da Guanabara, como infração ao regulamento disciplinar
do Exército, advertindo o general Alfredo Pinheiro, comandante do Núcleo
Aeroterrestre, e mandando arquivar o caso. O relatório do general Antônio
Henrique Almeida de Morais, em duas laudas datilografadas, acentua que o Cel
Mafra, por determinação do general Pinheiro ordenou o deslocamento do
Grupamento de Engenharia, sem o prévio conhecimento do comando do I Exército e
que a “ordem de infeliz inspiração provocou atritos, manifestações e
desentendimentos” no núcleo, “gerando
um clima de desconfiança dentro da organização militar”.
Relatório
Acentua o relatório
sobre as sindicâncias, realizadas pelo general Antônio Henrique Almeida de
Morais, que na madrugada de 4 de outubro, o general Alfredo Pinheiro resolveu
realizar “um teste de conduta para
cumprimento de ordens”, telefonando ao Cel Mafra mandando que tomasse
providências. O Cel Mafra retransmitiu as ordens ao capitão Rodoválio para que
acionasse o Grupamento de Unidades Divisionárias e alertasse outros
grupamentos: Grupo de Obuses e Batalhão Santos Dumont.
Informa o relatório
que às 07h00, no café da manhã, deu ordens para que a Cia de Engenharia se
deslocasse pela estrada de Jacarepaguá, até a praça fronteiriça ao Clube de
Regatas Flamengo e “ficasse em condições
de deter todos os carros oficiais que, ali penetrassem”.
O deslocamento,
iniciado às 08h00, terminou às 09h30, com a chegada da companhia à praça, onde
já se encontrava o cel Mafra, que determinou as entradas que deveriam ser
bloqueadas.
Depois de aguardarem
durante meia hora, os paraquedistas receberam ordens de regressar, “sem que se registrasse qualquer incidente no
local”. Acentua o relatório que “fatos
lamentáveis registraram-se enquanto isto, no quartel, com atritos,
manifestações e desentendimentos” entre os oficiais, tendo os Tenentes
Coronéis Francisco Boaventura Cavalcante Júnior e José Aragão Cavalcante,
comandante do Grupo de Obuses e do Batalhão Santos Dumont protestado contra a
ordem, com o general Pinheiro e com o cel Mafra, alegando “a ilegalidade das ordens recebidas”.
Em certo trecho, diz
textualmente o relatório:
O teste de verificação
foi de infeliz inspiração, levando-se em conta a situação, de agitação política
reinante naquele dia no País, bem assim o alvitre de tal ordem, considerada
absurda a pretexto de sentir a reação de seus subordinados e por isso não pode
ser aproveitada pelo comando, criando ao contrário um clima de desconfiança
dentro da Organização Militar.
Diz, entretanto, o
relatório não haver ficado comprovado o atentado contra o Governador da
Guanabara e que ambos os oficiais negam, bem como os testemunhos afirmam que
nenhuma ordem foi dada neste sentido.
Conclui informando não
ter sido possível apurar a origem da divulgação da manobra, acentuando que o
fato de jornais e emissoras terem imediatamente tomado conhecimento do caso,
comprova a existência cie facções políticas dentro das unidades
Âncora
Foi o seguinte o
despacho do general Âncora, comandante do I Exército, no relatório encaminhado
pelo general Almeida de Morais:
I – Em virtude das conclusões contidas no
relatório da sindicância apresentado pelo gen. Antônio Henrique Almeida de
Morais, no qual ficou constatada a inexistência de crime ou propósito de
atentado a quem quer que seja e que os fatos apurados são classificados na área
do Regulamento Disciplinar do Exército, resolve:
1.
Declarar de pleno direito o ato do
comandante do Núcleo de Divisão Aeroterrestre, gen Alfredo Pinheiro Filho, de
realizar exercícios-testes, quando e onde desejar e até de seu dever isso
fazer, de acordo com as necessidades da adequada preparação ia GU, para atender
à situações de emergência
2.
Advertir ostensivamente o Exmo. sr. gen
brig Alfredo Pinheiro Soares Pilho, por ter no exercício em causa executado
deslocamento de tropa para fora de sua área, sem ter dado o indispensável aviso
prévio ao comandante da Guarnição da Vila Militar e ao comandante do I
Exército. Na presente advertência foram levados em consideração os relevantes
serviços prestados, na paz e na guerra, pelo gen Pinheiro e bem assim sua
dedicação na especialidade de paraquedista.
3.
Declarar que foram impróprias as condições
de enquadramento do motivo criado para o exercício, por não terem permitido o
real aproveitamento imediato do teste do cumprimento de ordens e discrição de
execução.
4.
Remeter ao Exm° Ministro da Guerra a
documentação constante da presente sindicância para as providências
complementares, julgadas necessárias.
II – Publique-se a presente solução em
Boletim Interno, Rio de Janeiro, 25 de outubro de 1963. (As) Gen Div Armando de
Morais Âncora, comandante do I Exército.
Jair
Logo abaixo da nota do
general Âncora, o general Jair Dantas Ribeiro exarou o seguinte despacho:
I – Aprovo a solução dada pelo comandante do I
Exército bem como as medidas decorrentes;
II – Comunique-se a sua Exª o comandante do I
Exército, publique-se no Boletim Interno e arquive-se. (As) Gen Ex Jair Dantas
Ribeiro, Ministro da Guerra.
Tribuna
da Imprensa n° 3.187, Rio, RJ
Terça-feira, 29.10.1963
A
Reação de um Desesperado
Uma vez mais o sr.
João Goulart volta a acionar o seu dispositivo sindical para promover a
agitação no País: desta vez, a crise tem um endereço novo e procura atingir em
toda a plenitude o governador Ademar de Barros.
Inconformado com a
deliberação do presidente nacional do PSP, que instruiu a bancada do partido na
Câmara para requerer o “impeachment”
do presidente, o sr. João Goulart recorre ao processo criminoso, vil, sórdido,
mas essencialmente seu: a greve política.
Através da paralisação geral dos trabalhadores paulistas, o presidente
da República descobre uma fórmula para a vingança dupla: desacredita
politicamente o chefe do Executivo estadual e abre caminho para a intervenção
federal em São Paulo. Que, de resto, é um capítulo no
cronograma
por ele
estabelecido, de intervir paulatinamente em
todos os
Estados, até
consumar o
golpe, implantando a
ditadura.
No minucioso planejamento da greve geral, o sr. João Goulart conta com a
colaboração preciosa do sr. Clodsmith Riani, presidente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Indústria. A substituição de fato do general Pery
Bevilacqua no comando do II Exército é outro fator que os patrocinadores do
movimento ilegal interpretam como trunfo.
Mas se os planos se mostram tão cor-de-rosa para o chefe do Governo, é
preciso que ele saiba que o povo já não mais admite as suas manobras
reprisadas. Ontem, ele investiu contra o sr. Carlos Lacerda. Hoje, se volta
contra os srs. Ademar de Barros e Miguel Arrais. Amanhã terá toda a Nação
contra si. Só não vê isso quem não quer.
Beneficiário permanente das greves, o sr. João Goulart, como que
embriagado, transforma a greve, que é arma legítima de reivindicação dos
trabalhadores, em um rombudo instrumento político. Por isso, já não merece mais
crédito nem mesmo por parte da massa operária, que assiste a desmoralização do
processo de pressão contra os empregadores.
Com uma paciência quase oriental, o Brasil inteiro se dispunha a
aguardar, como no texto bíblico, p transcurso dos anos das vacas magras. O sr.
João Goulart no poder representava uma espécie de purgatório para a Nação. Mas
ele mesmo se incumbiu de abrir as frentes de luta.
Não será, pois, de estranhar que muito brevemente ele se ache só,
completamente ilhado.
A vocação deste País e
indestrutivelmente democrática. O seu futuro e o futuro luminoso e radiante das
grandes potências. Mas a cada dia que
passa se
torna mais
e mais
difícil conciliar
democracia, desenvolvimento
e João
Goulart. Pois
não é
a partir
da escola
pública que
nos ensinam
a impossibilidade de
somar quantidades
heterogêneas?
Tribuna
da Imprensa n° 3.188, Rio, RJ
Quarta-feira, 30.10.1963
O
Jogo da Intervenção
Afinal a ameaça
consumou-se: uma greve geral paralisou ontem, quase totalmente, a capital
paulista e deve atingir hoje todas as categorias profissionais, inclusive os
trabalhadores do porto de Santos. Diante de todos esses acontecimentos, o sr.
João Goulart assume, teatralmente, um ar preocupado e se arroga a posição de
juiz sereno, formulando apelos, simulando mediações.
Era preciso que o País
ignorasse a sua atuação nos momentos que precederam à deflagração do movimento
paredista para que a atitude de agora merecesse respeito. Usando duas máscaras,
o presidente da República mantém encontros simultâneos com os líderes do
Comando Geral dos Trabalhadores e com os ministros de Estado. Enquanto insufla
os primeiros, determina aos segundos a adoção de medidas acauteladoras.
Dentro dessa autêntica comédia o seu fim vai sendo atingido, os juros
começam a ser pagos: se o comando do II Exército não se comportou da maneira
prevista, omitindo-se, como era desejo do presidente, ainda assim o sr. João
Goulart consegue tirar o melhor proveito da circunstância. A atitude do sr.
Ademar de Barros, intransigente, reprimindo a agitação como é dever do
Governador do grande Estado, esse procedimento, no desgoverno do sr. João
Goulart é pretexto para outro golpe: fica definitivamente consumada a sua saída
e abre-se o caminho para a intervenção em São Paulo.
Como um jogador de xadrez, apenas isso, o presidente da República
procura transformar os xeques-mates em vantagens políticas pessoais.
De uma coisa, porém, podem ficar certos, Jango e seus cúmplices: a Nação
repelirá energicamente qualquer tentativa de intervenção em São Paulo.
Já nos hasta a intervenção branca a que todo País se acha,
infortunadamente submetido.
Inquérito põe Honra do
Exército em Xeque
Brasília, 29 (Da Sucursal) – Em discurso, ontem, na Câmara dos
Deputados, o ex-presidente da UDN, deputado Herbert Levy, afirmou que o
ministro do Guerra deixou de apurar, por completo, fatos importantíssimos
ligados ao atentado contra o governador Carlos Lacerda, no dia 4 deste mês.
Criticou o procedimento dos responsáveis pelo Inquérito Policial Militar
que concluiu pela inexistência do atentado, assinalando que “a honra do Exército brasileiro está em jogo
e não pode ser enlameada, seja por que motivo for”.
Continuando seu pronunciamento, o representante da UDN reportou-se ao
problema da greve em São Paulo, considerando-a como um movimento resultante da
agitação reinante no País, provocada pelos representantes dos setores de
extrema-esquerda. Disse que os comunistas infiltrados em todos os sindicatos,
apenas servem para desvirtuar os mais legítimos interesses das classes
trabalhadoras.
Estas, em sua luta por
melhores condições de trabalho, veem-se desnorteadas com a sua atuação dirigida
para os acontecimentos políticos nos quais são levados a participar muitas
vezes, sem saber o verdadeiro sentido que possuem.
Declarou que
considerava legítimas as greves, de caráter reivindicatório, por serem uma
justa motivação. E frisou:
A única maneira de
serem extintos de vez os constantes e prejudiciais movimentos grevistas no
Brasil será a adoção do salário-móvel, na forma de projeto em tramitação na
Câmara. A esse respeito já solicitei a cooperação do PTB para ser requerida
urgência para a votação dessa proposição.
Homens de Esquerda
Mencionou o deputado
udenista que:
Mais uma vez se
comprova que o Governo não só olha tranquilamente, mas até aplaude ou incentiva
a obra de destruição dos homens de esquerda, para quem, “quanto pior. Melhor”.
Disse mais:
No setor marítimo por
exemplo, a ação exercida pelos esquerdistas é ainda mais intensa. De tal
maneira os homens de extrema esquerda tomaram a direção desse setor, que o
transporte sobre água, que em todo o mundo custa 10% menos do que o transporte
rodoviário está aniquilado no Brasil e, da linha da vida do desenvolvimento
econômico da Nação, transformou-se em linha de asfixia.
Citou, como exemplo, o que está ocorrendo com a Fosforita Olinda S/A, a
maior organização industrial de Pernambuco. Com o aumento, em um ano, do preço
do frete por tonelada as Cr$ 3.273,82 para Cr$ 10.880,00, o escoamento da
produção da empresa está cada vez mais difícil e oneroso, quando feito por via
marítima. Concluindo seu discurso, afirmou que:
Nesta altura portanto
mais do que nunca, temos que fazer a mobilização das forças democráticas para
nos opormos aos desígnios subversivos daqueles a quem a Nação, em má hora,
confiou a tarefa de defender a ordem e as instituições públicas.
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão
do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro
do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro
da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro
do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro
da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro
da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador
da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro
do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
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