Sexta-feira, 3 de janeiro de 2025 - 07h45
03.01.2025
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 3.233, Rio, RJ
Segunda-feira, 23.12.1963
Brizola Exige Ministério com
Ameaça de Revolução
Ou o senhor Jango Goulart nomeia um Ministério
esquerdista sob meu comando na Fazenda, dentro de vinte dias, ou será derrubado
tranquilamente dentro de quarenta dias.
Esta frase pertence ao
cunhado presidencial, sr. Leonel de Moura Brizola, deputado federal pelo PTB da
Guanabara, ex-governador do Rio Grande do Sul, agitador político de esquerda e
candidato [é a primeira vez que acontece no Brasil] a ministro da Fazenda.
O sr. Brizola ficou
irritadíssimo com o manobra rápida do sr. João Goulart, nomeando o sr. Nei
Galvão para o Ministério da Fazenda, minutos depois de receber a carta de
demissão irrevogável do professor Carvalho Pinto. Brizola considera essa
atitude do cunhado inteiramente contrária aos interesses das esquerdas
brasileiras, que já se estavam preparando para assumir o poder.
Tomado de surpresa com a súbita demissão de
Carvalho Pinto, o sr. João Goulart tomou atitude mais ou menos idêntica,
nomeando Nei Galvão e torpedeando, desse modo, certas pretensões dos seus
amigos de esquerda. A jogada do sr. João Goulart foi considerada “diabólica” por círculos pessedistas que
examinaram ontem a situação política, depois da saída do professor Carvalho
Pinto da Pasta da Fazenda. “Diabólica”
porque atingiu os objetivos perseguidos por Jango:
1) Respondeu à altura a manobra do
professor, demitindo-se sem aviso-prévio e irrevogavelmente, com o que
conseguiu quebrar o impacto da reforma ministerial anunciada pelo Presidente;
2) Descartou-se de Brizola e seu
grupo radical;
3) Pôs na Fazenda um homem
intimamente ligado a Brizola, por mais que Brizola desminta, essa é a verdade,
e aos negocistas do Governo, incluindo o próprio Jango.
Diante
do fato consumado, as esquerdas lideradas por Leonel Brizola resolveram
desencadear uma campanha nacional e pressionar o presidente da República para
obter a Pasta da Fazenda “de qualquer
maneira”, como afirmou ontem o deputado Neiva Moreira. Sentindo-se
frustrados, os esquerdistas atacam o sr. João Goulart pelos flancos mais
vulneráveis do Governo e afirmam, como afirmou o sr. Brizola, que, se dentro de
20 dias não for nomeado um Ministério de esquerda, o grupo romperá com o
Governo e o derrubará.
Acreditam os esquerdistas, que a esta
altura declararam guerra ao sr. João Goulart, que não será muito difícil a
derrubada do presidente da República, pois os dispositivos de segurança do
Governo se sustentam, apenas, no grupo de esquerda, tanto na área civil como na
área militar. Desde que esse grupo passe a conspirar e a agir contra o Governo
será bastante fácil a sua derrubada. A verdade é que o sr. João Goulart não tem
saída para a crise que ele próprio armou. Chamou as esquerdas para o Governo, o
sr. Brizola reivindicou o poder através da Pasta da Fazenda, o sr. Miguel
Arrais pronunciou-se favoravelmente a um Governo “popular”, voltado para os interesses dos nacionalistas.
A “batata
quente”, como afirma Brizola, está nas mãos do presidente. Somente ele está
em condições de decidir: ou aceita as esquerdas e constitui um Ministério
nitidamente esquerdista e nacionalista, ou aceita o desafio público dos
esquerdistas comandados por Brizola e vai à luta. Sobre a situação do
ministério da Fazenda, existe o seguinte:
1) O grupo esquerdista acha que Jango nomeou Nei
Galvão apenas para “ganhar tempo”, pois na primeira quinzena de janeiro incorporará
o dispositivo civil esquerdista ao Governo e assinará a nomeação de Brizola
para a principal Pasta do governo;
2) Grupos petebistas, San Tiago Dantas à
frente, afirmam que Nei Galvão é solução definitiva, até o ponto em que são
definitivos os ministros e os rumos do governo João Goulart.
A uma pergunta de conhecido jornalista palaciano sobre
se Nei Galvão era ministro interino, respondeu o sr. Raul Riff: “Todo ministro de Jango é interino”. Ninguém
conhece, na verdade as verdadeiras intenções presidenciais. O fato é que o sr.
João Goulart perdeu substância com a súbita demissão do professor Carvalho
Pinto, que pôs a nu a manobra presidencial para desmoralizá-lo e substituir o
Ministério por um outro de tipo esquerdista. Jango enfrenta a crise que ele
mesmo alimentou, e dificilmente sairá bem dela. O que se informava ontem nos
círculos palacianos era de que a reforma ministerial será total e ninguém
escapará nem mesmo o sr. Nei Galvão, recentemente nomeado para a Fazenda.
Tribuna da Imprensa n° 3.236, Rio, RJ
Sexta-feira, 27.12.1963
David: Medo Leva Brizola a Bater
O jornalista David
Nascer, agredido, ontem, pelo sr. Leonel Brizola, no aeroporto do Galeão, disse
que o ato do parlamentar foi a:
A reação natural de um homem primário, que depois
de tantas derrotas se desesperou, entrando em pânico.
O diretor de “O Cruzeiro” estava adquirindo uma
passagem para Campinas, no balcão do Varig, quando o sr. Leonel Brizola se
aproximou por trás, colocou a mão em seu ombro direito e, enquanto ele se
virava, naturalmente, atingiu-o com um violento direto na cabeça. Os capangas
do deputado cercaram os dois adversários, que caíram no chão atracados, quando
o jornalista reagiu. Este se queixa de ter recebido pontapés dos capangas,
enquanto lutava.
Como foi Mesmo
Eram cerca de 10h30,
quando o sr. David Nasser foi abordado pelo sr. Leonel Brizola, que o agrediu
imediatamente. O jornalista, recuperando-se rapidamente do soco recebido de
surpresa, reagiu. O agressor sacudiu na mão um recorte da revista “O Cruzeiro” com um artigo do agredido,
em que este o atacava, e prometia fazê-lo engolir o papel. Um dos socos que o
sr. David Nasser desferiu contra Leonel Brizola foi atingir um dos assessores
deste, o jornalista Jessy, cujos óculos saltaram longe. Os adversários
permaneceram engalfinhadas durante alguns momentos, e foram logo separados por
circunstantes e pelo encarregado do policiamento do Galeão, sr. Amário Amado,
que retirou o jornalista da cena enquanto os amigos do deputado tratavam de
contê-lo.
Poltrona e Cafezinho
O sr. David Nasser,
ainda aturdido com a surpresa, sentou-se em uma poltrona do saguão, ao tempo em
que o parlamentar era levado para o lado oposto, na direção do café,
pronunciando palavrões e recebendo apupos. “Fui
covardemente agredido por esse cafajeste”, dizia o sr. David Nasser aos
colegas e amigos que procuravam ouvi-lo. “Mas
ele também levou o dele”. À tarde, o diretor de “O Cruzeiro” recebeu a imprensa em seu gabinete, dizendo que se
sentia:
Como um toureiro distraído, que levou uma chifrada
pelas costas. A luta não terminou, principalmente agora, que o adversário
começa a apresentar sintomas de desespero.
Afirmou que considera
encerrado o incidente e não apresentará queixa à polícia, mas escreverá um
artigo sobre o caso na próxima edição da revista. Apanhei pelas costas e dei de
frente, é tudo. Isso que aconteceu hoje é o primeiro sintoma de que:
A “República de Denner” está chegando ao fim. É a
luta desesperada de quem não quer ir para o exílio ou para a cadeia.
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão
do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro
do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro
da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro
do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro
da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro
da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador
da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro
do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XVI
Bagé, 02.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.213, Rio, RJSexta-feira, 29.11.1963 JG Quer Liquidação do Regime O s
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XV
Bagé, 1°.01.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.211, Rio, RJ Quarta-feira, 27.11.1963 CL Acusa Governo de Acoitar B
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XIV
Bagé, 30.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.205, Rio, RJQuarta-feira, 20.11.1963 Em Primeira mão(Hélio Fernandes)
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e