Segunda-feira, 6 de janeiro de 2025 - 08h05
Bagé,
06.01.2025
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 3.239, Rio, RJ
Terça-Feira, 31.12.1963
Análise da Farta Propaganda Promocional do
Governo
Mostra o Brasil que Jango Destruiu
Numa custosíssima matéria paga, custeada pela Petrobrás, Eletrobrás, Vale do Rio Doce e Siderúrgica Nacional, o sr. Jango Goulart faz uma dispendiosa promoção de si mesmo, subordinada ao título: “O Que Jango já Fez”. De graça, vamos contribuir para a promoção de S. Exª, trabalhando na sua divulgação. Só que não publicaremos tudo o que os arautos do sr. João Goulart andaram espalhando e nos permitiremos fazer uma análise das “realizações” de Jango, análise que bem poderia ter a denominação: O BRASIL QUE JANGO DESTRUIU.
PLANEJAMENTO – É o primeiro item do custoso folheto, tratado com ênfase pelos escribas oficiais. Realmente o sr. Jango Goulart, logo no início do seu governo, se dedicou ao planejamento. Depois de meses de trabalho, surgiu o Plano Trienal, que as trombetas palacianas anunciaram como a oitava maravilha do mundo, panaceia para todos os males, milagre que curaria definitivamente o nosso subdesenvolvimento e que nos conduziria à posição de potência mundial.
MAS o planejador escolhido, o senhor Celso Furtado, que produziu um plano pífio, mas de qualquer maneira um plano, cometeu um erro crasso: batizou o seu trabalho de Plano Trienal e lá se foi tudo por água abaixo. Se tivesse denominado o produto do esforço dos seus técnicos de Plano João Goulart, estaria “salva a Pátria” e o plano ainda em execução. Mas como o sr. João Goulart é mais vaidoso do que uma vedeta de teatro rebolado, enterrou o plano e ninguém mais falou nele. A isso se resume o PLANEJAMENTO no governo João Goulart.
LOGO depois, no capítulo das “formidáveis realizações” de Jango, vem ENERGIA. Como realizações de Jango são citadas obras com as quais ele nada tem a ver, como Urubupungá, Três Marias, Paulo Afonso, Cachoeira Dourada etc. E nas outras obras citadas para dar a impressão de que Jango está fazendo muita coisa no setor da energia, não há uma só indicação concreta, positiva, definitiva. Não podendo arrolar realizações que não sejam postas em dúvida, “creditam” ao Presidente não só o que é dos outros, como até mesmo o que ele não está fazendo. E lá vem então a constante: obra tal: serão gastos tantos bilhões; obra qual; serão gastos mais tantos cruzeiros; obra não sei de que; serão empregados mais outros bilhões. Tudo vago, impreciso, colocado no futuro e não no presente.
CONTINUANDO a mistificação, Jango fala em Sete Quedas, “que será” a maior usina hidrelétrica do mundo. Pelos planos, grandiosos, de Jango, só essa usina terá uma capacidade maior do que toda a potência instalada no País. O que os escribas oficiais não disseram: Jango deixará o poder sem que essa obra tenha sequer sido iniciada. O motivo é mais do que evidente: não temos crédito externo nem recursos internos para a construção dessa obra mirabolante. E tudo por causa do desgoverno João Goulart.
O QUE o folheto também não diz: a construção de Urubupungá está sendo atrasada por causa da construção de um suspeitíssimo aeroporto, numa negociata que vem revoltando os meios políticos e econômicos de Mato Grosso e de São Paulo. Aliás, obra retardada ou encarecida por causa de negociata é a coisa mais comum no governo João Goulart.
PETRÓLEO – Jango foi muito modesto nesse capítulo. Poderia ter dito que já tornou o País autossuficiente em matéria de óleo cru, poderia ter dito que elevou desmesuradamente a nossa capacidade de transporte, poderia ter falado, e isso sem que sofresse contestação de ninguém, que entregou definitivamente o controle da Petrobrás aos comunistas. Essa é realmente a única realidade do governo João Goulart. Os comunistas, hoje podem parar o País, totalmente, em poucos minutos. Isso é obra de João Goulart.
EM MATÉRIA de pesquisa de petróleo, Jango repete erros também de outros governos. Não inovou, seguiu o caminho desgovernado de outros. Continuou pensando em encampar as refinarias particulares. Tentativa que é renovada ou intensificada, de acordo com a prodigalidade dos donos das refinarias particulares. Para bom entendedor, meia palavra basta. Qualquer dia, os donos das refinarias vão cansar de atender às exigências, vão fechar as bolsas, e serão encampadas mesmo.
FICAREMOS então autossuficientes em matéria de refino, quando deveríamos mesmo era nos libertar da importação, antes de qualquer coisa. E, se amanhã estourar uma guerra, ou se por qualquer outro motivo não pudermos mais importar petróleo, as refinarias encampadas, e já então economicamente destruídas, pelo Governo estarão em excelente condição para refinar água gelada. Pois petróleo bruto, que é bom, não haverá!
AÇO, química pesada, equipamentos, material
de transporte, minério de ferro, são outros capítulos mistificadores dessa
extensa relação de obras incluídas no emocionante fascículo, “O que Jango já fez”. Quase se poderia
dizer, como os fascículos seriados, voltem na próxima semana, ou no próximo
mês, ou no próximo ano, pois até agora, no Governo Jango, o que há mesmo é um
trinômio: INCAPACIDADE, DESORIENTAÇÃO E CORRUPÇÃO.
AGROPECUÁRIA – Jango diz que imprimiu um ritmo novo à agricultura. Nesse ritmo, os trabalhadores do campo continuaram sem sementes, sem enxadas, sem crédito, sem coisa alguma. Nosso rebanho, que sempre foi considerado um dos maiores do mundo, não impediu que a carne passasse a ser artigo de luxo, trocando os frigoríficos e os açougues, pelas lojas bem montadas das grandes joalherias. E o trabalhador deixou de comer carne, pois um quilo dela ultrapassou a casa dos mil cruzeiros. Mas naturalmente como compensação, e que compensação, o criador João Goulart passou a ganhar rios de dinheiro, pois hoje criar bois no Brasil é um dos maiores negócios do mundo. E como grande latifundiário e criador, Jango deve estar satisfeitíssimo com essa realização do seu próprio governo.
PESCA – Jango deu grande incentivo a essa atividade, aproveitando todos os fins de semana para ir pescar em Uruaçu numa das suas monumentais fazendas.
EM outros capítulos do fascículo, Jango exalta a sua obra no setor do crédito rural, do cooperativismo, da mecanização, dos fertilizantes, diz que encontrou “a solução adequada e definitiva”. Então por que tanto barulho com a reforma agrária?
ABASTECIMENTO – foi criada a SUNAB, que até
agora só fez dar empregos a trabalhistas ligados ao governo. É espantosa a
desfaçatez com que o governo trata esse problema importantíssimo. Tudo que
havia, e já era pouco, nesse setor, foi desarticulado pela monstruosa incapacidade
de Jango e de seus auxiliares, que mais se poderia chamar de cúmplices.
INDÚSTRIA NAVAL – essa indústria já existia antes de Jango. E no seu governo continua com os mesmos erros de antes, os equívocos espantosos são os mesmos de sempre, a começar pela sua implantação que repetiu os tremendos erros da indústria automobilística.
MAS no governo Jango o setor da Indústria
naval foi marcado pela espantosa importação de navios que se tentou fazer da
Iugoslávia, com preços aumentados e com mais do que visível prejuízo para a
indústria naval dita brasileira, que seria a única prejudicada. Essa importação
foi impedida pela colaboração deste humilde repórter, que conseguiu liquidá-la.
Depondo na Comissão Parlamentar que investigava a Petrobrás, denunciei essa
operação com tantos documentos e com tal luxo de detalhes que a própria
Comissão quis interromper os seus trabalhos para ir incorporada ao senhor João
Goulart, pedir providências contra essa importação. E essa Comissão Parlamentar
era “apenas” presidida pelo sr.
Nélson Carneiro e integrada por Luís Viana, Antônio Carlos Magalhães, Valério
Magalhães, Teódulo Albuquerque
e outros. Mas felizmente a importação não foi feita, com grande prejuízo para
alguns espertinhos do governo. Alguns meses
depois
dessa denúncia
e de outras tão
estarrecedoras quanto essas, eu era preso por
ter publicado
inocentes circulares.
Naturalmente foi coincidência.
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão
do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro
do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro
da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro
do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro
da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro
da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador
da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro
do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com
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