Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025 - 07h45
15.01.2025
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da
Imprensa n° 4.257, Rio, RJ
Quarta-feira,
22.01.1964
Subversão da
Ordem é Etapa da Revolução
Fazendo um histórico
das tentativas golpistas do Presidente João Goulart, o Deputado Bilac Pinto fez
ontem uma tréplica ao pronunciamento do Chefe da Nação, quando este lhe exigiu
que comprovasse a participação do Governo Federal no armamento de sindicatos e
de grupos que estão sendo organizados para a Guerra Revolucionária.
Introdução
Diz o Parlamentar Udenista:
A resposta à interpelação do sr. João Goulart exige
uma introdução de caráter histórico acerca dos golpes de estado por ele
tentados, desde que assumiu o Governo; da firme posição legalista das Forças
Armadas em todos esses episódios e da paralela preparação da Guerra
Revolucionária, que se vem fazendo com a colaboração, por ação e por omissão,
do sr. João Goulart.
O sr. João Goulart, durante o sistema parlamentarista,
tentou, por duas vezes, a primeira em julho de 1962 e a segunda em setembro do
mesmo ano, desfechar o Golpe de Estado, mediante o fechamento do Congresso
Nacional. Ambas as tentativas falharam por falta de apoio militar.
Percebendo mais tarde o sr. João Goulart que o
plano golpista que consistia no fechamento do Congresso Nacional poderia
malograr porque reagindo contra o ato material de ocupação do Palácio do
Congresso, em Brasília, este poderia reunir-se no Rio ou em São Paulo, cujos
governos lhe dariam garantia. Sua Excelência passou a considerar que o Golpe de
Estado somente poderia ser dado com êxito se fossem feitas, previamente,
intervenções na Guanabara e em São Paulo.
E prossegue e sr. Bilac Pinto:
O anúncio da intervenção em São Paulo foi proferido
pelo sr. Bocaiúva Cunha, então líder do PTB, da tribuna da Câmara dos
Deputados, logo depois de ter o sr. Ademar de Barros articulado o “Manifesto
dos Governadores” em favor da defesa do Congresso e das Instituições”. Na
execução desse plano, o sr. João Goulart tentou intervir na Guanabara, mediante
provocação de uma ação de rua que seria desfechada contra a sede do Governo,
partindo de comício realizado no largo do Machado.
Falta de Apoio
Prossegue o Presidente da UDN:
Essa tentativa, que contava com a cobertura
do então ministro da Guerra, não pode ter prosseguimento em sua execução,
porque o general Osvino, então no comando do I Exército, e que não havia sido
consultado sobre a operação a ela se opôs. Na época, essa atitude foi explicada
como de defesa das esquerdas, porque à intervenção da Guanabara seguir-se-ia a
intervenção em Pernambuco.
A segunda tentativa de intervenção na
Guanabara ocorreu na madrugada do dia 4 de outubro de 1963, e coincidiu com a
remessa ao Congresso Nacional da mensagem presidencial solicitando a decretação
do Estado de Sítio.
O malogro dessa intervenção deveu-se à
firmeza da posição legalista dos Tenentes Coronéis Francisco Boaventura
Cavalcanti Júnior e José Aragão Cavalcanti, comandantes do 1° Grupo de Obuses e
do Regimento de Paraquedistas Santos Dumont, os quais se recusaram a cumprir a
ordem ilegal do general Pinheiro no sentido de organizarem expedição destinada
a prender o Governador Carlos Lacerda. Em face dos embaraços opostos por
aqueles oficiais superiores, a operação foi retardada e, quando o grupo chegou
ao local onde deveria efetuar a detenção do Governador, este ali já não se
encontrava.
Em todos estes episódios o sr. João
Goulart, embora contasse com o apoio de seus ministros da Guerra não conseguiu
levar a termo seus objetivos golpistas em vista da firme posição tomada pela
maioria dos oficiais das três Armas, e sobretudo do Exército, que, em razão de
sua formação democrática e legalista não se conformaram em participar da
implantação da ditadura em nosso País.
No Sul
Acrescenta o Sr. Bilac Pinto:
Mais recentemente, o sr. Ildo Meneghetti,
Governador do Rio Grande do Sul, denunciou novo movimento sedicioso que está
sendo organizado no Sul do País. Diante do insucesso desses movimentos golpistas,
todos eles baseados, exclusivamente na ação das Forças Armadas, o sr. João
Goulart percebeu que com elas não poderá contar para a realização de seus
desígnios de suprimir as instituições democráticas. Resolveu, por isso,
preparar nova tentativa golpista em que possa prescindir do concurso das Forças
Armadas. O único meio que encontrou foi o da Guerra Revolucionária.
Esse tipo de guerra foi criado pelos teóricos
marxista-leninistas e tem sido adotado por movimentos revolucionários diversos
para a conquista do poder, assegurando progressivamente o controle físico e
psicológico das populações com o emprego de técnicas particulares, apoiando-se
numa ideologia e desenvolvendo-se em fases sucessivas e bem caracterizadas. Acontece
porém, que os comunistas já vinham preparando, desde o início do Governo
Goulart, a Guerra Revolucionária, tendo para esse efeito contado sempre com a
colaboração, por ação ou omissão, do sr. presidente da República.
Ajuda importante prestou sr. presidente João
Goulart à guerra revolucionária quando, cedendo à pressão dos comunistas,
repudiou o seu Plano Trienal. Na sua Mensagem ao Congresso Nacional, em março
de 1963, dizia o sr. João Goulart:
O desenvolvimento econômico e social requerido pelo
povo brasileiro implica, basicamente, em que o governo discipline sua ação. O
planejamento, como instrumento de governo, responde a esse requisito. Por
intermédio do planejamento, pode-se aumentar a eficiência na utilização dos
recursos nacionais. O planejamento adequado evita o desperdício de esforços com
falsos objetivos, ou com a eleição de objetivos contraditórios dentro da
própria administração. O planejamento constitui-se, ele próprio em uma reforma
de base, não obstante ser ele instrumental. Os objetivos políticos e sociais da
Nação é que ditam o conteúdo do planejamento.
Determinei, por isso, como condição preliminar de
minha administração, a elaboração de um plano para servir de instrumento básico
ao meu Governo. O “Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social”, ao
mesmo tempo em que é objeto do mais amplo debate democrático das diversas
correntes de opinião do País entrou em execução vigorosa logo após o
“referendum" popular de 4 de janeiro, que determinou a restauração, do
regime presidencialista.
Comenta o Deputado Bilac Pinto:
Abandonando o Plano Trienal, o sr. João Goulart
submeteu-se à liderança dos comunistas e do sr. Leonel Brizola, passando a
pregação demagógica de reformas de base, que constituía a ideologia fundamental
ia Guerra Psicológica.
Cinco Fases
Diz Bilac Pinto:
Um cotejo entre os conceitos de reforma agrária que
constam do Plano Trienal e do Plano da SUDENE e o que agora adota o sr. João
Goulart nos seus discursos demagógicos revela que Sua Excelência passou a ser
instrumento dos comunistas visto que aderiu à pregação por estes sustentada.
Convém esclarecer que alguns autores militares, analisando a Guerra
Revolucionária, afirmam que ela geralmente se desenvolve em cinco fases. As
duas primeiras são de gestação nelas predominando a guerra psicológica, a
preparação e a criação de um ambiente pré-revolucionário. A terceira fase é a
da subversão da ordem, a quarta a da subversão franca e a quinta e última, de
conquista do poder.
Estas três fases finais normalmente se apresentam
com ímpeto acelerado e irresistível, Estudos realizados na Escola Superior de
Guerra e nas Escolas de Estado Maior por oficiais superiores das nossas Forças
Armadas, chegam a conclusão de que, no Brasil a Guerra Revolucionária está na
terceira fase. Essa fase é precisamente aquela em que opera a obtenção de
armas.
Relacionando a conclusão daqueles estudos com
informações de que as armas foram recentemente distribuídas a sindicatos rurais
e da orla marítima; de que há vários núcleos armados em diversos pontos
território nacional e de que armamentos tem sido apreendidos em diferentes
Estados, deliberei depois de avaliar a gravidade desses fatos denunciá-los, a
fim de alertar a Nação e estimular os civis a se organizarem para a defesa do
regime.
Golpes de Estado
Depois de analisar as
etapas que caracterizam a fase da subversão da ordem, já realizadas, tais como
ampla infiltração comunista no Governo, infiltração nas Forças Armadas,
promoção de greves com motivação política ostensiva, infiltração nos partidos
políticos, controle de setores governamentais, controle de organizações
estudantis e trabalhistas o sr. Bilac Pinto passa a comentar os golpes de
Estado tentados pelo sr. João Goulart:
Os golpes de Estado tentados pelo sr. João Goulart
têm sido, reiteradamente, denunciados à Nação e a única defesa que Sua
Excelência até hoje apresentou foi a declaração que fez à imprensa de que
muitas vezes o golpe lhe foi proposto no próprio Palácio do Governo, mas que
rejeitou tais
ofertas. Essa defesa comprometeu irremediavelmente o sr. João Goulart, porque:
a) Evidenciou que os golpistas são homens de sua
intimidade;
b) Que Sua Excelência não tomou as providências que se
impunham de mandar prender e processar os golpistas. Enquanto Sua Excelência
não cumprir o seu dever de denunciar os militares e civis que desrespeitaram
sua autoridade de Chefe de Estado, levando-lhe planos de golpes, temos de
admitir que essas conversas eram feitas por áulicos que procuravam agradar o
presidente, oferecendo-lhe sugestões para a realização de sua aspiração caudilhesca.
As Provas
Depois de comentar o
atentado idealizado contra o Governador Carlos Lacerda e o episódio do Estado
de Sítio, diz o presidente da UDN:
As provas indiciárias de sua coautoria na
preparação da Guerra Revolucionaria são numerosas, a saber:
1. Vem permitindo que o deputado Leonel Brizola,
com violação do Código de Telecomunicações e da Lei de Segurança do Estado,
realize, por meio do serviço público de radiodifusão, a pregação ideológica da
guerra revolucionária e a organização de guerrilheiros – grupos dos onze;
2. Tem permitido, apesar das reiteradas
advertências que lhe tem sido feitas, ampla infiltração de comunistas em todos
os escalões do Governo;
3. Estimula e prestigia a influência comunista na
Petrobrás
4. Permitiu a criação de órgãos sindicais ilegais
como o CGT e PUA, controlados por comunistas, aos quais dispensa o apoio no
Governo:
5. Prestigia e estimula as "greves
políticas”;
6. Tem concorrido para solapar a disciplina no
seio das Forças- Armadas.
Depois de ressaltar a importância dessas
evidências, o sr. Bilac Pinto conclui:
Nós, da UDN, estamos convencidos da necessidade de
uma reforma agrária que assegure melhores condições de vida ao homem do campo e
de uma reforma urbana que torne efetivo o direito à casa própria.
Desejamos dar ao crédito autêntico sentido social e
econômico com a reforma bancária e transformar os impostos em instrumento, ao
mesmo tempo, de coleta de recursos suficientes para as atividades públicas e
para a redistribuição da renda social, por meio reforma tributária.
Entendemos porém que tais reformas devem ser
inspiradas na experiência dos Países do mundo livre, de modo a assegurar, ao
lado da prosperidade social, a: liberdade de cada cidadão.
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão
do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro
do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro
da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro
do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro
da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro
da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador
da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro
do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
E-mail:
hiramrsilva@gmail.com
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