Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025 - 08h15
Bagé, 17.01.2025
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 4.259, Rio, RJ
Sexta-feira, 24.01.1964
Petrobras em Crise: Negociata
Uma crise de graves proporções
eclodiu ontem na Petrobrás, com o ultimato do presidente da empresa, general
Albino Silva; ao presidente João Goulart para a demissão do diretor Jairo de
Farias por este haver denunciado, e provado, uma negociata de 200 milhões de
dólares patrocinada pelo próprio general Albino Silva, com a cumplicidade de
seu filho tenente Luís Pimpão, assessor de relações públicas da empresa.
A negociata envolve a
compra, por dois anos, de 20 milhões de barris de petróleo, por um preço
considerado pelos setores técnicos da Petrobrás como acima do médio das
aquisições normais da empresa. No entender do diretor Jairo de Farias, a compra
deixa a empresa estatal à mercê da companhia vendedora pois qualquer
paralisação no fornecimento implicaria no colapso de toda economia de País. O
negócio fechado pelo general Albino Silva foi tachado pela diretoria da
Petrobrás como um atentado à segurança nacional.
Propostas
Em meados do ano
passado, uma companhia estrangeira propôs à Petrobrás a venda, por cinco anos,
de petróleo para refino Apesar de a Petrobras estar providenciando a
diversificação da sua instalação refinadora, a fim de comprar petróleo mais
barato da Argentina, o general Albino Silva encaminhou a proposta, no dia 7 de
novembro de 1963, ao Escritório Comercial de Petróleo e Derivados, solicitando
parecer com a maior urgência “face a
expirar dia 13 do corrente, a validade da oferta” – segundo consta do “documento confidencial” enviado pelo
chefe do ECOPE ao diretor Jairo Faria, datado do mesmo dia 13. Os termos da
proposta eram os seguintes, segundo o documento confidencial:
a) Quantidade: 55.000 BPD de petróleo;
b) Prazo de fornecimento: 5 anos;
c) Qualidade: 50 por cento de petróleo árabe e 50 por
cento de petróleo da Líbia;
d) Preço: petróleo árabe: US$ 2,08/barril CIF Rio e
US$ 2,085/barril CIF Santos; petróleo da Líbia: US$ 2,18/barril CIF Rio e US$
2,19/barril CIF Santos;
e) Condições
de pagamento: 120 dias após a data de embarque.
Análise
Recusada a proposta o
general Albino Silva voltou à carga fazendo o negócio diretamente entre a
presidência e a companhia estrangeira, apesar dos pareceres contrários de todos
os órgãos da Petrobrás, conforme decisão aprovada pela diretoria da empresa
(Ata 1.443, interna de 18 de outubro de 1963). Na negociata feita pelo general
Albino Silva, o prazo foi diminuído para dois anos segundo se pode ler na carta
enviada pelo próprio general ao sr. Howard Auld datada do dia 22 de novembro de
1963, encimada pelo código “PRES/E-694/63”.
Eis a íntegra da carta:
Acusamos o recebimento da carta de V. S.as
de 22 de novembro em resposta à nossa de 21 do corrente. Em resposta,
informamos que poderemos aceitar a sua oferta de fornecimento de petróleo
árabe, nas seguintes condições básicas.
a) Prazo de fornecimento: 2 anos, com opção para mais
um ano, a ser declarada ao fim do primeiro ano do contrato;
b) Quantidade – vinte milhões de barris de petróleo
árabe 34° API no decurso de 24 meses: e dez milhões de barris adicionais, no
caso do aceite da opção;
c) Preço: US$ 2,08 por barril, CIF Rio ou US$ 2,085
CIF Santos;
d) O contrato final deverá incluir as condições
previstas na sua carta de 14 do corrente sobre a oferta em apreço e incluir,
também, as condições usuais quanto a flexibilidade da programação, força maior
e decréscimo das importações ao incremento da produção nacional. Atenciosas
saudações. Albino Silva presidente.
Embaixo da assinatura
do general Albino Silva, lê-se o “De
acordo”, assinado pelo sr. Howard Auld.
Entre Amigos
Nas conclusões do
exame da proposta de venda por cinco, anos o sr. Stefan Prechnik, chefe do
Escritório Comercial de Petróleo e Derivados condena a proposta da seguinte
maneira:
O preço para o fornecimento em cinco anos, não é
firme, se situa acima do preço médio das aquisições realizadas pela Petrobras
nos últimos anos.
O preço aceito pelo general Albino Silva para o
prazo de dois anos é o mesmo preço oferecido para 5 anos segundo se pode
comparar no documento confidencial.
Diz ainda o sr. Stefan
Prechnik que:
A aceitação da proposta implicaria em dar à
companhia uma participação crescente nos fornecimentos Petrobras.
E mais:
Julgamos conveniente a aquisição do petróleo árabe
por períodos menores, utilizando contratos de 12 a 18 meses e compras “pot”
para manter o preço baixo, conforme se tem verificado.
Finalmente, diz o
documento confidencial:
Comunicamos que já solicitamos a Socal e Texaco uma
proposta para fornecimento de petróleo árabe nas bases acima, e que, devido à
exiguidade do tempo, deverá ser apresentada ao ECOPE no dia 14 do corrente.
Entretanto, o general
Albino Silva não levou em conta as outras propostas, com preços mais baixos,
preferindo fazer um “negócio entre amigos”,
entre ele e o sr. Howard Auld, diretamente, sem a aquiescência da diretoria da
Petrobrás, e a toque de caixa.
Militares já Sabem
Os altos chefes
militares já estão a par dos recentes acontecimentos na Petrobrás, inclusive o
Conselho de Segurança Nacional. O chefe da Casa Militar, general Assis Brasil,
o comandante da Vila Militar general Oromar Osório além dos deputados da Frente
Parlamentar Nacionalista estão de posse de cópia: fotostáticas referentes a
negociata. Estes últimos deverão trazer a público, na Câmara dos Deputados, o
maior dos escândalos até agora ocorridos na Petrobrás.
(*) Hiram Reis e
Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro do
Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
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