Sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 - 08h10
Bagé, 31.01.2025
Marinha Reage
Contra Brizola
A cobertura dada ao deputado Leonel Brizola pelo
almirante Cândido Aragão, que culminou com a prisão, em Belo Horizonte, de
quatro fuzileiros navais armados de metralhadoras, provocou nova crise na
Marinha. Almirantes e Oficiais superiores estão dispostos a exigir do ministro
Sílvio Mota ([1])
[e esta do presidente da República] a exoneração de Aragão. (Tribuna da
Imprensa n° 4.286)
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 4.286, Rio, RJ
Quinta-feira, 27.02.1964
Justino Condena Ação Comunista: Manifesto
O General Justino
Alves Bastos, candidato à Presidência do Clube Militar, na chapa “Ordem e Progresso”, deverá divulgar, nas
próximas horas, manifesto condenando a infiltração comunista no Clube Militar e
conclamando as Forças Armadas a se unirem em defesa do regime. Ao mesmo tempo,
vários oficiais, tanto ligados à chapa “Ordem
e Progresso” como à “Cruzada
Democrática”, que é encabeçada pelo general Muniz de Aragão, preparam-se
para interpelar judicialmente o marechal Augusto Magessi, candidato à
reeleição, exigindo seu imediato afastamento da presidência do Clube.
Interpelação
No momento em que
aquelas duas chapas se unem para combater o marechal Magessi, por considerarem
que sua candidatura é “divisionista”
os Generais Silvestre Travassos e Emanuel de Almeida Morais, em reunião
realizada ontem, interpelaram o atual presidente do Clube sobre a infiltração
comunista em sua chapa. O marechal Magessi contestou a acusação, afirmando que
“tudo não passa de intriga” aos
componentes da “Cruzada Democrática”.
Na Justiça
Por outro lado, para
obter judicialmente o afastamento imediato do marechal Magessi da presidência
do Clube, a oficialidade da “Cruzada”
e da “Ordem e Progresso” pretende
invocar o artigo 58 do Regulamento do Voto Secreto, que o impede, no exercício
do cargo, de ser candidato à reeleição. Esses Oficiais acusam o marechal
Magessi de manipular as verbas do Clube em termos eleitorais e de usar a
franquia postal para expedir boletins da campanha.
Justino
O General Justino
Bastos, que foi chamado às pressas ao Recife, para reassumir o comando do IV
Exército, por motivo dos últimos acontecimentos políticos, agravados pela greve
dos lavradores de cana de açúcar, já está preparando, segundo elementos ligados
à sua chapa, o manifesto condenando a infiltração comunista no Clube, o qual
vem engrossar a campanha contra a reeleição do marechal Magessi. Antes de
viajar, o general Justino pretende promover os últimos entendimentos para a
organização de sua chapa.
Pregação de Brizola
Reabre Crise Militar
Os acontecimentos
provocados em Belo Horizonte pela insistência do sr. Leonel Brizola de realizar
o anunciado comício da Frente de Mobilização Popular, em consequência do qual foram
feridas mais de 40 pessoas, reacenderam a crise latente na Marinha, onde
voltaram a levantar-se as vozes de protesto contra o envolvimento da corporação
nas jogadas revolucionárias do cunhado do presidente. Também em Brasília foram
grandes as repercussões do episódio, tendo líderes parlamentares de diversas
correntes tratado do assunto, na Câmara e no Senado, a maioria para condenar o
que chamam ação subversiva do sr. Leonel Brizola.
# Militares Levantam-se Contra Envolvimento da Armada #
Crise na Armada
Ainda sob o calor dos
acontecimentos, em reuniões realizadas por todo o dia de ontem, no Rio,
Almirantes e Oficiais Superiores mostraram-se dispostos a ir ao ministro da
Marinha, nas próximas horas, a fim de exigir a saída do almirante Cândido Aragão
do comando do Corpo de Fuzileiros Navais. Porta-voz do Almirante Sílvio Mota
admitiu a possibilidade de ceder o ministro a essa pressão, pedindo a demissão
de Aragão sem demora, a fim de aproveitar o momento político em que o
presidente da República procura esvaziar o sr. Leonel Brizola e o instante
psicológico criado pela prisão, em Belo Horizonte, de fuzileiros navais
servindo como guarda-costas do deputado.
Dispositivo Perigoso
Os oficiais superiores
que se opõem à permanência do almirante Aragão naquele comando veem com
crescente inquietação seu trabalho junto às bases e aos escalões que lhe estão
subordinados. Consideram que Aragão está levando a cabo, de maneira paciente e
sistemática, a instalação de um dispositivo revolucionário na Marinha. Seria
esse o principal dos argumentos para convencer tanto o Almirante Sílvio Mota
quanto ao presidente João Goulart da necessidade de se mudar imediatamente o Comandante
dos Fuzileiros, pois o governo deverá observar o risco que, adviria da
continuação do atual esquema, com o comando de uma das tropas mais ágeis e
melhor equipadas nas mãos do deputado Leonel Brizola, que faz tudo para
arruinar os esforços de conciliação do presidente da República.
Mesmo que esse esquema
não venha a servir para uma aventura mais perigosa, e ainda na linha da
argumentação que os Almirantes pretendem apresentar ao Ministro da Marinha, não
convém ao governo a continuidade de uma situação que possibilita incidentes
como o de Belo Horizonte, quando elementos das Forças Armadas foram presos pela
polícia de um Estado, portando armas pesadas e pondo em dúvida os propósitos do
governo federal de manter o princípio da autoridade e do direito, conforme tem
proclamado sucessivamente o presidente João Goulart.
Posto-Chave
Esperam
os Oficiais Superiores da Marinha, entre os quais se incluem representantes de
tendências que vão da oposição moderada à mais radical, encontrar com esse
raciocínio um denominador comum que permita o diálogo com o governo, quanto ao
afastamento do atual comandante dos Fuzileiros. O Governo ver-se-ia livre de um
homem que, por suas ligações com o extremismo de esquerda representado por
Brizola, pode causar e causa embaraços aos esforços conciliatórios do
presidente. E os militares de tendência conservadora passariam a sentir-se mais
confiantes de que aquela corporação não serviria de instrumento para uma
aventura contra o regime.
# Na Câmara Federal #
Nada menos que seis
deputados ocuparam a tribuna da Câmara para tratar dos acontecimentos de Belo
Horizonte. Apenas um deles, o sr. Fernando Santana, tomou posição favorável ao
sr. Brizola, investindo contra os que se dispuseram a evitar o comício. O sr.
Fernando Santana, que foi, aliás, o primeiro a abordar o problema, defendeu
seus colegas da Frente de Mobilização Popular, afirmando, a certa altura, que “um clima de ódio e terror instalou-se na
capital mineira em torno de um ato público”. E ameaçou:
Nos também dispomos de elementos, em qualquer parte
deste País, para impedir qualquer manifestação daqueles que, no campo político,
se opõem à nossa orientação.
A resposta ao sr.
Fernando Santana foi dada pelo udenista mineiro Elias do Carmo, que acentuou:
Queremos declarar, de bom som, que se esse clima de
intranquilidade e de terror ideológico está sendo implantado, nós o devemos
àqueles que como o sr. Leonel Brizola, vão afrontar o povo, levando armas de
guerra para mostrar que nós, mineiros, dentro de nossa terra, não temos o
direito de defender o regime democrático.
A Mentira Nacional
O orador seguinte foi
o líder da Minoria, sr. Pedro Aleixo, também mineiro, que apontou a “campanha das reformas de base”, que foi
o pretexto para o comício, como “a
instauração do reino dos mentirosos no Brasil”. O sr. Pedro Aleixo
condenou, também, o envolvimento do Corpo de Fuzileiros Navais nas pregações do
sr. Brizola. E afirmou:
A intenção era de que fossem disparados alguns
tiros naquela terra, para que, ao eco dos estampidos, pudesse o Brasil supor
que Minas se havia curvado à mentira nacional que é a pregação das reformas de
base.
Concluindo, disse que
“não foi um comício que se impediu e sim
um vexame para o povo mineiro”.
O Terror do Povo
Depois disso falou o
pessedista, também mineiro, Último de Carvalho, que criticou especialmente “a condução de armas de guerra por parte dos
acompanhantes do sr. Leonel Brizola”, salientando:
Mas isto ainda não é tudo de grave, porque as
metralhadoras estão espalhadas por todo lado neste País, nas mãos dos
comunistas e de muitos homens de esquerda. O mais grave é que a Polícia do
Governador Magalhães Pinto, mesmo depois da apreensão destas armas, fê-las
desaparecer e não prendeu os que as portavam.
O sr. Último de
Carvalho aludiu, também, ao fato de que, não encontrando quem o quisesse
conduzir, o sr. Leonel Brizola e seus comparsas sacaram de revólveres e
intimaram um motorista a parar, obrigando-o a levá-los para o aeroporto, de
onde fugiram para o Rio. “O terror do
povo os impelia”, concluiu.
Reação ao Ultraje
O sr. Teófilo Pires,
do PR mineiro, também condenou a ação do sr. Brizola, acrescentando:
Os acontecimentos que se desenrolaram na capital
mineira não são senão a medida da reação de Minas Gerais ao ultraje que
tentaram fazer-lhe. É exatamente neste sentido que os mineiros se rebelam,
revoltam-se e manifestam-se, como já o haviam feito há um mês, contra o
congresso comunista da CUTAL.
Finalmente, o udenista
mineiro Oscar Correia declarou:
O que se tentou fazer em Minas foi a pregação da
subversão da ordem, a pregação da revolução na marra, como diziam os próprios
cartazes que para ali levaram os partidários das ideias dos organizadores do
comício. Mas o povo soube repelir os agitadores à altura.
Virgílio Defende
No Senado, o sr. Artur
Virgílio, líder do PTB, fez a defesa do sr. Leonel Brizola, atribuindo ao IBAD
toda a culpa pelos acontecimentos. Afirmou:
Um fato como este, que abre uma cisão no diálogo
democrático, poderá fazer com que a sua repetição em outros Estados leve o
tumulto e a confusão à campanha eleitoral que se aproxima.
O parlamentar
petebista fez o elogio do sr. Magalhães Pinto, cuja conduta, permitindo a
realização do comício, “foi altamente
democrática”, no seu entender.
Brizola Esbraveja
Em meio a tudo isso, o
sr. Leonel Brizola deu ontem a público uma nota em que diz que o comício foi
realizado, apesar de:
Um dispositivo policial anárquico e hostil, e
grupos de uns trezentos provocadores, protegidos estrategicamente pela própria
Polícia.
Refere-se à:
Falta de idoneidade política das autoridades
responsáveis pela ordem pública em Minas Gerais, a serviço da minoria de
privilegiada que domina e explora o nosso povo.
E diz que o Governador
Magalhães Pinto:
Se não está envolvido na situação, não tem mais o
controle do seu próprio Governo.
(*) Hiram Reis e
Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro do
Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
[1] Sílvio Borges
de Sousa Mota (Y 11.02.1902, Rio de
Janeiro, RJ / V 03.02.1969, Rio de
Janeiro, RJ). Foi ministro da Marinha do Brasil no Governo João Goulart, de 15.06.1963
a 27.03.1964.
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