Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025 - 08h05
Bagé, 12.02.2025
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 4.299, Rio, RJ
Sexta-feira, 13.03.1964
Comício Serve Como Senha à Agitação
Enquanto
notícias procedentes de Pernambuco dão conta que agitadores comunistas estão em
atividade, influenciando os camponeses a invadirem terras, logo após terem
ciência da assinatura do decreto da SUPRA, prevista para hoje, durante o
comício da Central, círculos oposicionistas dizem que a “concentração será a senha para a agitação”. Não só o interior de
Pernambuco reflete um clima de tensão, como também em outros Estados
brasileiros teme-se rebeliões, o que já levou o Conselho Nacional de Segurança
a colocar em ação o seu dispositivo para verificar a extensão dessa situação.
[...]
# Em Primeira Mão #
(Hélio
Fernandes)
O
sr. João Goulart ficou irritadíssimo com o másculo documento das classes
conservadoras repelindo o seu governo de agitações e de “reformas”. O presidente ficou furioso pelo fato de a Associação
Comercial, representando o pensamento dos legítimos homens de empresa no
Brasil, ter ficado a favor de reformas para valer e não de mera fábrica de
agitação e de tumulto que são os decretos que o sr. Goulart deve assinar hoje. O
documento das classes conservadoras foi entregue pessoalmente ao presidente por
três dos mais notórios e conhecidos pelegos patronais: Iris Meinberg, Aroldo
Cavalcante e Charles Moritz. Aliás, os três estavam presentes à reunião dos
líderes das classes conservadoras, e quando o sr. Jorge Bhering afirmou que “também existem pelegos entre nós”, não
tiveram coragem de esboçar um gesto, embora soubessem, todos sabiam, que a
carapuça era dirigida exclusivamente aos três. Logo que recebeu o pronunciamento
da Associação Comercial, o sr. Jango Goulart chamou o sr. Raul Ryffe e disse
com o maior cinismo:
Vamos assustar esses poltrões. Chame o Jurema e
mande ele divulgar que vai intervir na Associação Comercial e processar os seus
diretores pela Lei de Segurança.
Jurema, que é o “bobo da corte” e está no Governo para
isso mesmo, tratou de cumprir as ordens presidenciais. E imediatamente espalhou
que estava “reunido com juristas
estudando a fórmula de fechar a Associação”. Mesmo um “ministro” como Jurema sabe que a Associação não é um ajuntamento de
moleques ou vagamundos, e que não pode ser fechada por causa de um
pronunciamento. Mas como o objetivo era causar agitação e amedrontar alguns, a
“notícia” foi espalhada. Mas não
causou o menor impacto, principalmente por causa da fonte.
Menos de 24 horas
depois, apavorado com a repercussão negativa da apregoada intervenção, o sr.
João Goulart mandava apressadamente que o “Repórter
Esso” desmentisse o fato, em todas as suas edições. O sr. Rui Gomes de
Almeida, ontem, não fez outra coisa senão receber solidariedade de todos os
pontos do País, através de telegramas, telefonemas, etc. E gente que nunca
aparece na Associação, apareceu ontem para cumprimentar o sr. Rui Gomes de
Almeida. Rigorosamente verdadeiro: o sr. José Aparecido não pediu demissão
coisa nenhuma. Foi demitido porque o sr. Magalhães Pinto não pôde mais aguentar
o ônus da sua manutenção. O que entornou o caldo foi o seguinte: em virtude da
desbragada proteção que o sr. Aparecido estava dando aos comunistas, a FAREM [Federação
das Associações Rurais de Minas] recomendou a todos os seus associados do
interior que retirassem os seus depósitos do Banco Nacional de Minas Gerais, em
sinal de protesto pela atitude do sr. José Aparecido.
Os resultados foram
tão danosos para o banco em Minas, que em alguns lugares quase chegou a haver
corrida. O próprio diretor do Banco, filho do sr. Magalhães Pinto, foi ao Governador
pedir que tomasse providências para resolver o problema criado. E o sr. José
Aparecido foi sumariamente demitido, criando-se imediatamente um ambiente de
bem estar geral. Essa é que é a verdade sobre a súbita saída do sr. Aparecido
da Secretaria do Governo. Às vésperas do “grande
comício das reformas” organizado e patrocinado pelos comunistas e apoiado
pelo sr. João Goulart, verifica-se o desmoronamento das esquerdas brasileiras,
divididas em setores que divergem fundamentalmente sobre os rumos que devem
tomar em relação ao problema sucessório. O sr. João Goulart vetou,
praticamente, a presença do sr. Leonel Brizola no comício subversivo, pois
condicionou-a a que o deputado gaúcho se mantenha calado ou, se quiser falar,
que o faça por escrito, submetendo o texto preliminarmente à apreciação do
Presidente da República. Brizola, evidentemente, reagiu à sua maneira ao veto
presidencial e disse aos seus amigos e partidários da esquerda radical que “não se submete aos caprichos do cunhado”.
E acrescentou:
Sou bem capaz de aparecer nesse comício e falar
mesmo sem autorização. Quero ver quem é que vai me proibir.
Quanto ao sr. Miguel
Arrais, outro esquerdista que disputa com Jango Goulart as preferências
populares na área nacionalista, até à madrugada de ontem ainda não havia
decidido se comparece ou não ao comício desta tarde. Arrais quer igualmente falar
de improviso e também não aceita sequer as ponderações do “dono” do comício. Deu-se, assim, o impasse que os conciliadores não
conseguiram eliminar até à hora em que entregávamos esta coluna. Sabe-se agora
que o sr. João Goulart tentou afastar Brizola e Arrais do palanque oficial do
comício por instruções do general Jair Dantas Ribeiro. Temendo maiores reações
por parte do povo, o ministro da Guerra decidiu que o comício, que será
garantido totalmente pelo Exército, com a colaboração da Marinha e Aeronáutica,
deve ser pacífico, e para tanto é indispensável que o sr. Brizola e os mais
radicais da liderança esquerdista não estejam presentes no palanque.
Enquanto isso, há
informações seguras de que mais de mil pessoas anticomunistas pretendem
comparecer em massa ao comício da Central do Brasil, a fim de protestar com
veemência contra a subversão e a comunização do País. Não pretendem fazer atos
de provocação, nem mesmo vaiar o presidente da República.
Mas querem protestar
em praça pública, afinal, um direito que assiste a qualquer cidadão brasileiro.
Direito igual ao que tem o sr. João Goulart de falar ao povo em local proibido
pelo seu próprio “inventor” e guia
espiritual. As oposições interpretam o tom espetacular que o sr. João Goulart
quer dar ao comício desta tarde, que tem merecido uma intensa propaganda no
rádio e televisão há vários dias, como uma manobra de mobilização das massas,
pressão sobre o Congresso e os partidos políticos, visando principalmente a uma
futura tomada de posição efetiva contra o regime. O tema da reeleição do
presidente deverá ser colocado durante o comício, embora os promotores dessa
ideia tenham sido desautorizadas pelo sr. Goulart. O presidente acha que um
assunto explosivo como esse não pode ser colocado assim sem mais nem menos.
Estão
convencidos os dirigentes da Oposição que o presidente João Goulart vai partir
para uma nova e espetacular ofensiva, não pela obtenção das reformas de base,
mas para pressionar o Congresso e a opinião pública a fim de obter, isto sim, a
reforma política da Constituição. A um dos seus mais credenciados conselheiros
políticos, o presidente confessou, há dias, que “impedirá
de qualquer maneira”
a eleição do sr. Carlos Lacerda e lutará, o quanto puder, para derrotá-lo. Mas
acha que essa derrota só pode ser imposta por ele, Jango, pessoalmente.
O
senhor Jânio Quadros entendeu-se, há dias, por telefone, com o presidente João
Goulart. Conversaram durante vinte minutos sobre o problema da sucessão
presidencial. A certa altura da conversa o ex-presidente da República sentiu
que o sr. Goulart encaminhava ou procurava encaminhar uma solução extra
constitucional para a sucessão presidencial. Disse
das imensas
dificuldades em conduzir pacificamente o
processo eleitoral,
com o
agravamento
da crise
econômico-financeira,
a inflação desenfreada
e a radicalização
política provocada
pelas candidaturas
em choque. Jânio, habilmente, calou-se. E combinaram
nova conversa para depois do comício de hoje. Líderes ruralistas de Governador
Valadares informaram ao Governador Magalhães Pinto, oficialmente, que não estão
dispostos a permitir que o sr. Leonel Brizola faça o seu prometido, e duas
vezes adiado, comício subversivo naquela cidade mineira.
E dificilmente o deputado gaúcho sairá incólume se
pisar em Governador Valadares. Nem a polícia poderá conter a fúria popular.
Magalhães entendeu-se
imediatamente com os assessores imediatos de Brizola, pedindo-lhes que
intercedam junto ao agitador esquerdista para que cancele definitivamente sua
visita a Governador Valadares. Há, porém, um grupo esquerdista mais audacioso
que quer forçar, de qualquer maneira a ida de Brizola àquela cidade. Brizola
ainda não se decidiu, mas é quase certo que, depois da experiência de Belo
Horizonte, e das ameaças da população de Valadares, não apareça por lá. Pois
sua coragem se limita às chamadas ondas hertzianas ([1]). O governo do sr. João Goulart anda anunciando
planos de obras rodoviárias sabendo que não irá executá-las. Como podem ser
construídas novas estradas quando os pagamentos da Rio-Bahia, já há muito
inaugurada, não foram até agora efetuados? A falta de pagamento impossibilitará
os empreiteiros da execução de novos empreendimentos. Construir sem pagar é um
programa rodoviário “sui generis”, e
muito ao tipo deste governo de promessas.
(*) Hiram Reis e
Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia
de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Membro do
Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
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