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Hiram Reis e Silva

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXV


Hiram Reis e Silva - Gente de Opinião
Hiram Reis e Silva

Bagé, 14.02.2025

 

Continuando engarupado na memória:

 

 

Tribuna da Imprensa n° 4.300, Rio, RJ

 

Sábado, 14.03.1964 e Domingo 15.03.1964

 

Lacerda Condena Jango: Pede Ação ao Congresso

 

 

Falando à “Tribuna”, logo após o comício da Central, o Governador Carlos Lacerda acusa o sr. João Goulart de ter, desta vez, furado a barreira da Constituição, e conclamou o Congresso a:

 

Levantar-se e defender o que resta da liberdade e da paz neste País.

 

Declarou o sr. Carlos Lacerda:

 

O comício foi um assalto à Constituição, ao bolso e à honra do povo. O discurso do sr. João Goulart é subversivo e provocador, além de estúpido. O candidato a candidato furou ontem a barreira da Constituição. O pavor de perder o controle sobre as negociatas e escândalos de toda a ordem, que abafa com sua autoridade presidencial, fê-lo perder a cabeça. Esse homem já não sabe o que faz.

 

A simulação de briga com o cunhado ficou ontem desmascarada. Um simula estar mais à esquerda para fingir que me situa na direita, e assim, no centro, no falso centro, com o apoio dos comunistas e dos oportunistas não “radicalizados”, ele conta ficar no poder. As máscaras ontem caíram.

 

A guerra revolucionário está desencadeada. Seu chefe ostensivo é o sr. João Goulart, até que os comunistas lhe deem outro. Triste foi ver as Forças de Segurança Nacional, a pretexto de que o sr. João Goulart é o seu comandante em chefe, ficaram de sentinela para o ato totalitário de ontem. Acho que o Congresso deve levantar-se e defender o que resta da liberdade e da paz neste País. Então as Forças Armadas compreenderão o que o povo já sentiu: que acima das ambições e leviandades de uma pessoa ocasional estão a Constituição e o paz do povo brasileiro.

 

# Atmosfera Revolucionária no ato da Encampação e Desapropriação #

 

Guerra civil, fechamento do Congresso, constituinte e até implantação da socialização crescente da economia do País foram os elementos essenciais utilizados pelos oradores do comício de ontem pelas reformas de base, do presidente João Goulart ao deputado Leonel Brizola; do presidente da SUPRA ao representante do CGT. O sr. João Goulart antecipou o quadro da revolução civil, ao creditar àqueles que se opõem às reformas um possível derramamento de sangue no País. O deputado Leonel Brizola pediu o fechamento do Congresso, seguido de constituinte e de plebiscito para as reformas de base que o parlamento não terá votado ao cabo da atual legislatura.

 

O sr. Miguel Arrais enfatizou o aspecto “altamente significativo” da encampação das refinarias de petróleo. E os demais oradores detiveram-se entre as reformas e a revolução.

 

Brizola Pede fechamento do Congresso

 

Os oradores do comício de ontem, governadores, deputados líderes políticos, sindicais e estudantis, se prenderam à necessidade das reformas, como tema central dos seus pronunciamentos repetindo pontos de vista comuns aos discursos do sr. João Goulart, à exceção do sr. Leonel Brizola, que escapou ao geral para pedir o fechamento do Congresso. Damos, a seguir, os pontos mais importantes desses pronunciamentos.

 

Brizola

 

O deputado Leonel Brizola ensaiou uma crítica à “política de conciliação do governo”, mas acabou pedindo o fechamento do Congresso, por se mostrar incapaz de votar leis que beneficiem o povo, principalmente quando se trata de um projeto de reforma agrária. Disse mais o sr. Brizola:

 

O Congresso é, hoje, um poder que está comprometido, que se compõe de uma maioria de privilegiados. Aquele Congresso não dará mais nada ao povo brasileiro. Não está mais identificado com as aspirações do povo brasileiro.

 

Portanto, aqui vai uma palavra de quem deseja uma estrutura reformada, de quem deseja ficar livre da espoliação internacional. Por que não transferir a decisão para o próprio povo brasileiro, fonte de todo o poder? A única saída pacífica para esse impasse é fazer com que a decisão venha do povo, com a organização de uma Assembleia Constituinte, para eleger um congresso popular, de onde sejam eliminadas as velhas raposas da política brasileira, e do qual façam parte os analfabetos, os sargentos, as classes trabalhadoras.

 

A partir de assinatura dos decretos de desapropriação de terras, através da SUPRA, e de encampação das refinarias, desencadeará no País, a violência.

 

Temos que defender nossos direitos contra a minoria dominante e reacionária que tem espoliado o nosso povo. Diante da violência, responderemos com violência.

 

E quanto a nosso presidente, ele que se decida e caminhe para o nosso lado, porque do povo nada terá a temer.

 

# Jango vê no Comício Fantasma da Guerra #

 

O Presidente João Goulart assegurou, no comício de ontem, na Central do Brasil, que os adversários da realização das reformas de base:

 

Poderão ser os responsáveis perante a história pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao pretenderem levantar obstáculos ao Progresso do Brasil e à felicidade de seu povo.

 

O sr. João Goulart enfatizou a necessidade de “revisão da Constituição”, que, a seu ver:

 

Não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do desenvolvimento da Nação.

 

Ainda sobre a Carta constitucional, disse que:

 

É antiquada, porque legaliza uma estrutura socioeconômica injusta.

 

Quanto ao decreto da SUPRA, declarou o presidente que:

 

Não é a reformulação do nosso panorama rural empobrecido, nem a carta de alforria do camponês. Mas é o primeiro passo, uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro.

 

Numa resposta indireta aos que, no clero, se opõem à sua política reformista, afirmou o sr. João Goulart que “o Cristianismo nunca foi escudo para os privilegiados”. Lembrando a doutrina de João XXIII, disse que é nela que procura fundamentar a sua política social. Afirmou o Chefe do governo:

 

Aqueles que reclamam do presidente da República uma palavra tranquilizadora para a Nação, o que posso dizer-lhes que só conquistaremos a paz social pela justiça social.

 

O presidente mostrou-se sensível aos que se opuseram à realização do comício:

 

Como se, no Brasil, a reação ainda fosse a dona da democracia e a proprietária das praças e ruas.

 

E afirmou que:

 

A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia anti-povo, do anti-sindicato, da anti-reforma. A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; e a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra as governos populares e que levou Getúlio Vargas ao extremo sacrifício.

 

Sobre os rumores de que o próprio governo cria ameaças à democracia, o sr. João Goulart disse que a mais séria delas é:

 

Desconhecer os direitos do povo e que não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus líderes.

 

Anunciou, então, uma ação repressiva:

 

Cada vez mais e mais implacavelmente, assim na Guanabara como em outros Estados, contra aqueles que especulam com as dificuldades do povo. [...]

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

E-mail: hiramrsilva@gmail.com

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