Sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025 - 08h16
Bagé, 14.02.2025
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 4.300, Rio, RJ
Sábado, 14.03.1964 e Domingo 15.03.1964
Lacerda Condena
Jango: Pede Ação ao Congresso
Falando à “Tribuna”, logo após o comício da
Central, o Governador Carlos Lacerda acusa o sr. João Goulart de ter, desta
vez, furado a barreira da Constituição, e conclamou o Congresso a:
Levantar-se e defender o que resta da liberdade e
da paz neste País.
Declarou o sr. Carlos
Lacerda:
O comício foi um assalto à Constituição, ao bolso e
à honra do povo. O discurso do sr. João Goulart é subversivo e provocador, além
de estúpido. O candidato a candidato furou ontem a barreira da Constituição. O
pavor de perder o controle sobre as negociatas e escândalos de toda a ordem,
que abafa com sua autoridade presidencial, fê-lo perder a cabeça. Esse homem já
não sabe o que faz.
A simulação de briga com o cunhado ficou ontem
desmascarada. Um simula estar mais à esquerda para fingir que me situa na
direita, e assim, no centro, no falso centro, com o apoio dos comunistas e dos
oportunistas não “radicalizados”, ele conta ficar no poder. As máscaras ontem
caíram.
A guerra revolucionário está desencadeada. Seu
chefe ostensivo é o sr. João Goulart, até que os comunistas lhe deem outro.
Triste foi ver as Forças de Segurança Nacional, a pretexto de que o sr. João
Goulart é o seu comandante em chefe, ficaram de sentinela para o ato
totalitário de ontem. Acho que o Congresso deve levantar-se e defender o que
resta da liberdade e da paz neste País. Então as Forças Armadas compreenderão o
que o povo já sentiu: que acima das ambições e leviandades de uma pessoa
ocasional estão a Constituição e o paz do povo brasileiro.
# Atmosfera Revolucionária no ato da Encampação e
Desapropriação #
Guerra civil,
fechamento do Congresso, constituinte e até implantação da socialização
crescente da economia do País foram os elementos essenciais utilizados pelos
oradores do comício de ontem pelas reformas de base, do presidente João Goulart
ao deputado Leonel Brizola; do presidente da SUPRA ao representante do CGT. O
sr. João Goulart antecipou o quadro da revolução civil, ao creditar àqueles que
se opõem às reformas um possível derramamento de sangue no País. O deputado
Leonel Brizola pediu o fechamento do Congresso, seguido de constituinte e de
plebiscito para as reformas de base que o parlamento não terá votado ao cabo da
atual legislatura.
O sr. Miguel Arrais
enfatizou o aspecto “altamente significativo”
da encampação das refinarias de petróleo. E os demais oradores detiveram-se
entre as reformas e a revolução.
Brizola Pede
fechamento do Congresso
Os oradores do comício
de ontem, governadores, deputados líderes políticos, sindicais e estudantis, se
prenderam à necessidade das reformas, como tema central dos seus
pronunciamentos repetindo pontos de vista comuns aos discursos do sr. João
Goulart, à exceção do sr. Leonel Brizola, que escapou ao geral para pedir o
fechamento do Congresso. Damos, a seguir, os pontos mais importantes desses
pronunciamentos.
Brizola
O deputado Leonel
Brizola ensaiou uma crítica à “política
de conciliação do governo”, mas acabou pedindo o fechamento do Congresso,
por se mostrar incapaz de votar leis que beneficiem o povo, principalmente
quando se trata de um projeto de reforma agrária. Disse mais o sr. Brizola:
O Congresso é, hoje, um poder que está
comprometido, que se compõe de uma maioria de privilegiados. Aquele Congresso
não dará mais nada ao povo brasileiro. Não está mais identificado com as
aspirações do povo brasileiro.
Portanto, aqui vai uma palavra de quem deseja uma
estrutura reformada, de quem deseja ficar livre da espoliação internacional.
Por que não transferir a decisão para o próprio povo brasileiro, fonte de todo
o poder? A única saída pacífica para esse impasse é fazer com que a decisão
venha do povo, com a organização de uma Assembleia Constituinte, para eleger um
congresso popular, de onde sejam eliminadas as velhas raposas da política
brasileira, e do qual façam parte os analfabetos, os sargentos, as classes
trabalhadoras.
A partir de assinatura dos decretos de
desapropriação de terras, através da SUPRA, e de encampação das refinarias,
desencadeará no País, a violência.
Temos que defender nossos direitos contra a minoria
dominante e reacionária que tem espoliado o nosso povo. Diante da violência,
responderemos com violência.
E quanto a nosso presidente, ele que se decida e
caminhe para o nosso lado, porque do povo nada terá a temer.
# Jango vê no Comício
Fantasma da Guerra #
O Presidente João
Goulart assegurou, no comício de ontem, na Central do Brasil, que os
adversários da realização das reformas de base:
Poderão ser os responsáveis perante a história pelo
sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao pretenderem levantar
obstáculos ao Progresso do Brasil e à felicidade de seu povo.
O sr. João Goulart
enfatizou a necessidade de “revisão da
Constituição”, que, a seu ver:
Não atende mais aos anseios do povo e aos anseios
do desenvolvimento da Nação.
Ainda sobre a Carta constitucional, disse
que:
É antiquada, porque legaliza uma estrutura socioeconômica
injusta.
Quanto ao decreto da
SUPRA, declarou o presidente que:
Não é a reformulação do nosso panorama rural empobrecido,
nem a carta de alforria do camponês. Mas é o primeiro passo, uma porta que se
abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro.
Numa resposta indireta
aos que, no clero, se opõem à sua política reformista, afirmou o sr. João
Goulart que “o Cristianismo nunca foi
escudo para os privilegiados”. Lembrando a doutrina de João XXIII, disse
que é nela que procura fundamentar a sua política social. Afirmou o Chefe do
governo:
Aqueles que reclamam do presidente da República uma
palavra tranquilizadora para a Nação, o que posso dizer-lhes que só
conquistaremos a paz social pela justiça social.
O presidente
mostrou-se sensível aos que se opuseram à realização do comício:
Como se, no Brasil, a reação ainda fosse a dona da
democracia e a proprietária das praças e ruas.
E afirmou que:
A democracia que eles desejam impingir-nos é a
democracia anti-povo, do anti-sindicato, da anti-reforma. A democracia que eles
querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; e a democracia dos
monopólios privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra
as governos populares e que levou Getúlio Vargas ao extremo sacrifício.
Sobre os rumores de
que o próprio governo cria ameaças à democracia, o sr. João Goulart disse que a
mais séria delas é:
Desconhecer os direitos do povo e que não há ameaça
mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo e de seus
líderes.
Anunciou, então, uma
ação repressiva:
Cada vez mais e mais implacavelmente, assim na
Guanabara como em outros Estados, contra aqueles que especulam com as
dificuldades do povo. [...]
(*) Hiram Reis e
Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Membro do
Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVII
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