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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVII


Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVII - Gente de Opinião

Bagé, 19.02.2025

 

Continuando engarupado na memória:

 

 

Tribuna da Imprensa n° 4.302, Rio, RJ

Terça-feira, 17.03.1964

 

Oposição Articula-se em Contra-Ofensiva a Jango

 

 

Brasília (Sucursal) – Retorno do Congresso à Guanabara, “impeachment” do presidente, urgência para o projeto Aniz Badra e proposição da nova lei do inquilinato, estes os pontos principais da contraofensiva articulada nos diversos círculos da oposição, para enfrentar o “rush” iniciado pelo sr. João Goulart sexta-feira última com o comício da Central do Brasil. Enquanto se anunciava para hoje o pedido de “impeachment” “face às atitudes inconstitucionais do presidente”, a UDN decidia encarregar o deputado Pedro Aleixo do elaboração de um projeto de lei de inquilinato, para a reformulação de toda a legislação vigente a respeito e pedia, através de seu líder, nova urgência para votação do projeto Aniz Badra.

 

Impedimento: Jair Adverte Para o Perigo

 

Brasília (Sucursal) – O general Jair Dantas Ribeiro manifestou ontem, em palestra informal com alguns amigos, que a aceitação do pedido de “impeachment” seria “a decretação de falência do Congresso”, justificando que o encaminhamento da proposição criaria no País condições políticas idênticas às de agosto de 1961 e as Forças Armadas seriam levadas a intervir, não podendo fazê-las contra o povo. O ministro da Guerra, juntamente com seus colegas da Marinha e da Aeronáutica, dará nas próximas horas um importante pronunciamento em apoio à ação reformista do governo e contra a tentativa de “impeachment”. O pronunciamento marcará o início de uma série de pronunciamentos de ministros civis e chefes militares, dentro do esquema de mobilização em favor das reformas.

 

Mobilização

 

Paralelamente, as forças populares desencadearam urna campanha nacional favorável às reformas, criando um clima nacional que impossibilite qualquer tentativa de “impeachment” por parte do Congresso. A primeira dessas manifestações será feita no dia 21 de abril em Belo Horizonte, sob o patrocínio do PTB, com a presença do Presidente da República. Até o dia 1° de maio, quando pretendem as esquerdas reunir 1 milhão de pessoas no Pacaembu, os ministros e autoridades do Governo deverão fazer repetidos pronunciamentos, abrindo caminho para a campanha em favor da Constituinte com Jango.

 

Sargentos

 

Dispensados do serviço por ordem do ministro Jair Dantas Ribeiro, sem que fossem ouvidos os chefes esquerdistas dos subalternos, sargentos que trabalham no Ministério da Guerra irão quarta-feira ao Palácio das Laranjeiras, em ônibus especiais fornecidos pelo ministro, reivindicar do sr. João Goulart a aprovação de nova tabela de vencimentos para a classe, anistia aos revoltosos de Brasília e a reforma constitucional no item das inelegibilidades. O grupo de sargentos será engrossado com um contingente de oficiais das três Armas, que pretendem realizar uma passeata até o Palácio, onde sustentarão, juntamente com os subalternos, as reivindicações comuns a ambos. Segundo se revela, o sr. João Goulart mostrará aos militares, na ocasião, os esforços que o Governo tem feito para atender a todas as pretensões das Forças Armadas, principalmente no que diz respeito à atualização dos padrões de vencimentos.

 

Tribuna da Imprensa n° 4.304, Rio, RJ


Quinta-feira, 19.03.1964


Resposta a um Caluniador

(Hélio Fernandes)

 

Em Nota Oficial, rabiscada do próprio punho, o ministro da Guerra, general Jair Dantas Ribeiro, comunica ao País que resolveu processar, mais uma vez, este repórter. O motivo de agora: a reportagem assinada que publiquei fazendo revelações estarrecedoras sobre a compra de fuzis, onde a proteção dada a um dos grupos concorrentes ameaça, o contribuinte com um prejuízo de 10 milhões de dólares. Na Nota injuriosa publicada pelo ministro não há uma só explicação sobre a compra, pois o ministro se considera muito importante para se dar ao trabalho de dialogar com a opinião pública. Diálogo só com os pelegos do governo que ele sustenta. Ainda na sua Nota Oficial, o general Jair Dantas Ribeiro chama este repórter de caluniador e a “Tribuna”, Jornal do qual sou diretor-responsável e único, de jornal antipátria. Vamos responder por parte:

 

Na minha reportagem sobre a negociata dos fuzis, não há uma só referência pessoal ou não ao ministro da Guerra, não há uma só acusação formal a S. Exª como autor ou protetor da negociata;

 

Há apenas uma foto de S. Exª com a legenda: “O ministro Jair Dantas ainda não disse nada”. É de estranhar, portanto, que S. Exª tenha tão rapidamente enterrado a carapuça e se julgasse atingido por afirmações que eu não fiz;

 

Alguns dos fatos ligados à compra dos fuzis são públicos e notórios, como a expulsão dos jornalistas da sala do ministro, no ato da assinatura do protocolo entre o Ministério e o grupo belga. Isso foi publicado em vários jornais, inclusive aqui na “Tribuna”, sem o menor desmentido do sr. ministro ou dos seus prestimosos relações públicas;

 

Alguns dos fatos citados por mim são escabrosos demais para que se configurem como simples coincidência. S. Exª terá que explicar, já não mais a mim ou à “Tribuna”, mas, sim, à opinião pública, porque resolveu comprar fuzis belgas, preterindo os alemães, embora estes ofereçam as seguintes vantagens: SÃO MAIS MODERNOS, MAIS FÁCEIS DE MANEJAR, MAIS LEVES, MAIS EFICIENTES, MAIS FÁCEIS DE FABRICAR, USAM QUALQUER TIPO DE MUNIÇÃO, ALÉM DE SEREM MAIS BARATOS;

 

Há ainda outro aspecto estarrecedor, citado na minha reportagem. Os vendedores do fuzil alemão, usado por mais de 500 mil soldados da NATO, propuseram o pagamento não em dólar e à vista, como exigem os belgas, mas em minério da Vale do Rio Doce. É principalmente esse aspecto, além dos outros citados, que torna a operação com os alemães mais sedutora e irrecusável;

 

O que diz a isso o sr. ministro da Guerra? E o que diz S. Exª do fato de a Vale do Rio Doce, logo que soube da proposta alemã, ter insistido na sua realização, pois a ela interessa, e muito, vender minério à Alemanha, pois sendo esta a maior compradora mundial de minério não compra uma só grama ao Brasil? São essas algumas das respostas que o ministro terá que dar à opinião pública.

 

Vamos agora à parte da calúnia, da injúria e da difamação, pelas quais o ministro da Guerra será processado por mim, pois já constituí advogados para isso. S. Exª será chamado ao Tribunal competente para explicar porque me chamou de caluniador e de diretor de um jornal antipátria.

 

S. Exª vai ter que explicar aos juízes porque considera a “TRIBUNA DA IMPRENSA” um jornal antipátria, acusação séria demais para que fique sem explicação. Todas as campanhas feitas por este repórter, nos seus quase 29 anos de jornalismo, trazem a marca da brasilidade, foram feitas com o sentido inequívoco e indiscutível de defender interesses nacionalistas, sem aspas, contra interesses antinacionais.

 

São tantas as nossas campanhas nesse sentido, que algumas até se perdem no tempo. Mas desafio o sr. Jair Dantas Ribeiro a mostrar publicamente, uma só vez, qualquer campanha em que eu tenha defendido o interesse estrangeiro contra o legítimo interesse nacional, novamente sem aspas. Vou citar algumas, de passagem, para refrescar a memória de S. Exª. Há anos luto quase que sozinho contra os laboratórios estrangeiros. Fui eu quem denunciou, publicamente, o fato de os laboratórios estrangeiros dominarem 85% da indústria brasileira do ramo.

 

Desde o tempo em que escrevia no bravo “Diário de Notícias”, venho revelando que as companhias estrangeiras de seguro dominam o mercado brasileiro. É minha a afirmação, feita em reportagem e não respondida até hoje, de que, a partir de 1946 se processou a desnacionalização das empresas brasileiras de seguros, sem uma providência do Governo.

 

A Campanha de esclarecimento sobre os erros e os equívocos da má implantação da indústria automobilística “brasileira”, que só favoreceu a vorazes grupos estrangeiros, é minha, e única e exclusivamente minha. E ainda há dias, em vários comentários, eu assinalava a desastrosa participação do sr. Shultz Wenck, da Volkswagen, nesse processo ruinoso para o Brasil. Este senhor, sozinho, detém mais de 80% das ações da Volkswagen, com prejuízos mais do que evidentes para o Brasil.

 

A Indústria de construção naval brasileira teve sempre neste repórter um defensor ardente e entusiasmado. E foi uma campanha deste repórter que evitou que o governo “nacionalista”, com aspas, do qual faz parte o general Jair, comprasse na Iugoslávia navios que poderiam facilmente ser construídos no Brasil. Apesar de uma campanha também insistente, não consegui impedir a negociata da compra das colheitadeiras na Tchecoslováquia, onde um “over-price” de mil dólares por unidade fez alguns auxiliares do sr. João Goulart, principalmente o sr. Eugênio Caillard, esquecerem a condição de “nacionalistas”.

 

Poderia alongar-me e citar inúmeras outras campanhas feitas em defesa do interesse brasileiro. Vou citar apenas uma última, da qual me orgulho e que é precisamente a que mais exaspera os meus inimigos, como o general Jair Dantas Ribeiro: A CAMPANHA ANTI-COMUNISTA. Esta, sim, é que concentra sobre mim o ódio de todos os carreiristas como o general Jair Dantas. Pois não só eles ficam ameaçados nas suas carreiras, que prezam acima dos interesses do próprio País, como ficam completamente nus, e eles, sim, passíveis de serem classificados como antipátria.

 

De todas as campanhas que tenho feito, a mais arriscada, a mais temerária, a que mais perigos encerra é a de esclarecimento sobre a traição comunista que se prepara no Brasil. E qual é a posição do ministro da Guerra, enquanto essa traição se prepara, já agora às escâncaras, com estarrecimento de todo o País? Até agora não foi possível saber em que trincheira se colocou o ministro da Guerra, não foi possível saber se S. Exª está disposto a cumprir firmemente e sem vacilações o seu papel constitucional de defensor da ordem, da legalidade, do regime e das instituições.

 

O ministro da Guerra vai ter que provar no Tribunal competente, a menos que os Tribunais competentes sejam fechados antes de julgamento, porque resolveu subverter tão espantosamente a realidade, classificando como antipátria precisamente um jornal e um jornalista que se colocam na primeira linha da luta contra a traição e contra a vergonhosa submissão de alguns brasileiros aos interesses subversivos da Rússia. Ou será que o ministro foi traído pelo subconsciente e considera antipátria os que como eu se colocam contra a “pátria comunista”? Será que a identificação de S. Exª, com os pelegos comunistas, “nacionalistas” e comunocarreiristas já chegou a esse ponto?

 

# Jango Ameaça São Paulo com Intervenção #

 

O sr. João Goulart ameaça decretar intervenção federal em S. Paulo caso o governador Ademar de Barros confirme sua disposição de não dar cumprimento ao decreto da SUPRA, que desapropria terras por interesse social. A informação é do sr. João Pinheiro Neto, superintendente da SUPRA, que, em entrevista à imprensa, anunciou a expropriação de duas fazendas do presidente da República e de áreas situadas nos eixos de ferrovias e estradas de rodagem federais de cinco Estados. Dessa forma, dá início à execução dos princípios contidos no decreto assinado sexta-feira, no Comício das Reformas, pelo sr. João Goulart e que constitui o primeiro passo para a reforma da estrutura agrária do País.

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

E-mail: hiramrsilva@gmail.com

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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