Sábado, 22 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVIII


Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVIII - Gente de Opinião

Bagé, 21.02.2025

 

Continuando engarupado na memória:

 

 

Tribuna da Imprensa n° 4.305, Rio, RJ

Sexta-feira, 20.03.1964

 

A Hora é de Grandeza

(Hélio Fernandes)

 

 

Se o sr. Jango Goulart quer a Constituinte; se o sr. João Goulart considera que o Congresso está ultrapassado: se o sr. João Goulart considera que a Constituição brasileira, com apenas 18 anos de vida, já está superada e obsoleta, então só lhe resta um caminho para provar a sua sinceridade: RENUNCIAR JUNTO COM O CONGRESSO, PASSANDO O CARGO AO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, e abrindo caminho, aí, sim, para a Constituinte.

 

A hora é de decisões, a hora é de grandeza, a hora é de humildade. E se o sr. João Goulart, como prega abertamente em praça pública, considera que o mandato dos senadores e dos deputados já não é legítimo, então o que dizer do seu mandato, que além de ser anterior aos dos atuais congressistas ainda tem uma evidente e indisfarçável suspeição: foi conquistado indiretamente, não foi o povo pela sua vontade expressa e soberana que o colocou no cargo de presidente da República.

 

É impossível escapar da constatação: o sr. João Marques Belchior de Goulart é um simples suplente substituindo o efetivo que fugiu do cargo apavorado pela própria covardia. E tanto isso é verdade irrespondível, que nos fins de 1959 e no início de 1961, quando se procurava um candidato das forças situacionistas para substituir o sr. Juscelino Kubitschek e enfrentar nas urnas o sr. Jânio Quadros, foi o próprio sr. João Goulart, entre consciente e amedrontado, que considerou que NÃO POSSUÍA O MÍNIMO DE CONDIÇÕES ELEITORAIS PARA ENFRENTAR O SR. JÂNIO QUADROS.

 

Não querendo então enfrentar o sr. Jânio Quadros, largou o “abacaxi” nas mãos do ínclito e ilustre marechal Lott e acomodou-se na disputa da Vice-Presidência, protegido e favorecido pelo espantoso equívoco cometido pelo saudoso Fernando Ferrari, que foi quem deu a vitória precisamente ao sr. João Goulart, pela ânsia que o dominava de afastá-lo da vida pública.

 

Em 1960, o sr. João Goulart declinou da honra de ser candidato a presidente da República. Agora, elevado à condição máxima por efeito de uma renúncia estarrecedora, o sr. João Goulart fala e age como se fosse o grande líder do País, como se fosse realmente um ídolo do povo, como se tivesse passado a vida a cuidar do seu bem-estar, a trabalhar infatigavelmente para resolver os seus problemas e aflições.

 

EM 1960, foi o próprio Jango, livremente, sem coação de ninguém, que considerou insuficientes as suas credenciais para disputar a Presidência da República. Agora, depois de 30 meses de “exercício” do cargo, não há como deixar de reconhecer que não só a falta de credenciais do candidato continua a mesma como a sua condição de administrador se revelou nefasta e catastrófica. Como candidato, o sr. João Goulart não convence a Nação; como presidente, já convenceu-a completamente de que é um inútil e um incapaz. Depois de desgovernar o País por 30 meses, parando o seu índice de desenvolvimento; elevando as taxas de inflação a uma altura jamais imaginada, e tornando praticamente insuportáveis as condições de vida dos assalariados, dos profissionais liberais, da classe média e das forças empresariais, ou seja dos 75 milhões de brasileiros, o sr. João Goulart resolve “governar” por decretos.

 

Já não discutimos a inconstitucionalidade dessa forma de governo, pois ela é gritante. Entremos logo no mérito das medidas, para não perder tempo, decreto que desapropriou as refinarias já vimos que foi simplesmente uma farsa, deixando os antigos acionistas na posse das empresas até que se trave a longa batalha judiciária que já se prenuncia e se prepara. O decreto da SUPRA é uma colossal mistificação, feita para agitar e subverter e nunca para dar terras ao camponês que queira trabalhá-las. O decreto da SUPRA atinge apenas 2% das propriedades brasileiras, e não terá o menor efeito ou impacto benéfico. O decreto de desapropriação de terras é um decreto feito por um latifundiário para enganar camponeses. Seu objetivo é enganar, é mistificar, é agitar, é subverter. Mais nada.

 

Finalmente o decreto dos aluguéis é não só um engodo como um espantoso crime cometido friamente contra o País e pois contra os trabalhadores, que serão as suas principais vítimas. O decreto dos aluguéis, além de não resolver coisa alguma, pois não se modificam as leis econômicas por decretos, a não ser que, aconselhado pelo sr. Jurema, Jango já tenha resolvido revogar a lei da oferta e da procura, terá uma consequência infalível e matemática: A PARALISAÇÃO IMEDIATA DA INDÚSTRIA DE CONSTRUÇÕES. Quem é que vai querer construir sabendo que os aluguéis não atingirão uma justa remuneração para o capital empregado? O erro colossal de Jango [que é o erro cometido por todos os primários] é pretender debelar os males atacando as consequências em vez de liquidar as causas. As causas de todos os nossos males localizam-se na inflação, pois a ela é que deve ser “creditada” a razão maior para o aumento dos aluguéis.

 

Paralisando a indústria da construção o sr. Jango Goulart para efetivamente todo o País, pois se há uma indústria onde se refletem todas as outras essa é a da construção. Parando esta, haverá fatalmente o desemprego em massa. E então, desesperados, sem ter o que comer ou o que levar para os filhos, os trabalhadores compreenderão finalmente quem é esse “benfeitor” que se apossou do País em tão má hora. Isso não será consolo pois então o País já estará mergulhado no caos e na desesperança.

 

Estamos em pleno domínio da mistificação, da demagogia e da insince­ridade. O resultado disso será a comunização do País, coisa possível de observar pelos que sabem ver nos acontecimentos. Mas se Jango pensa que se bene­ficiará dessa situarão, está muito enganado. Não há dúvida de que ele é o mais forte candidato a Naguib que este País já conheceu. Mas que o Nasser será outro muito mais forte do que ele, isso também é fora de dúvida. Quem viver, verá.

 

Povo Reage Contra JG

 

Para Muitos Havia um Milhão de Democratas na Passeata Anticomunista de Ontem

 

Houve quem estimasse até em um milhão o número de pessoas que participaram do desfile anticomunista promovido ontem à tarde, no centro da capital paulista. Acima do número, porém, e já tão significativo, sobrepaira a gigantesca demonstração de amor à liberdade e fidelidade ao regime proporcionada pelo povo paulista contra a política do sr. João Goulart.

 

Mais de 500 mil pessoas mobilizaram-se na tarde de ontem, em pleno centro da capital paulista, para fazer um protesto pacífico, mas firme e decidido, contra a progressiva comunização do País. O episódio reflete cristalinamente o estado de espírito da maioria esmagadora do povo brasileiro, contrário à sucessão de agressões que os agentes da subversão, sob o comando e patrocínio direto do sr. João Goulart, desencadearam nos últimos tempos.

 

Aos 150 mil que compareceram ao comício antidemocrático da Central do Brasil, através dos paulistas, respondeu com perto de um milhão de brasileiros que integraram a “Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade”. Era preciso que isso aconteces para que o presidente da República se compenetrasse de que os agitadores comuno-carreiristas de seu governo nada conseguirão com suas ameaças ao Congresso, à Constituição e à continuidade do regime democrático.

 

# S. Paulo em Marcha Contra o Comunismo #

 

Cerca de 500 mil pessoas, alguns cálculos chegavam a um milhão, participaram, ontem, do “Marcha da Família Com Deus pelo Liberdade”, que durante duas horas percorreu as ruas centrais do capital, paulista, da Praça da República até à Praça da Sé, onde os manifestantes foram saudados pelo repicar dos sinos das igrejas e os toques de clarim dos dragões da Força Pública, enquanto a banda da guarda-civil executava o “Paris Belfort”, hino da revolução constitucionalista de 1932. Na Praça da Sé, foi lida a oração das mães paulistas à Nação, exortando os brasileiros a tomarem posição em favor do regime democrático e da constituição e alertando-os contra o perigo da penetração comunista. O documento assinala que:

 

A falta de amor, a inconsciência, a displicência e o egoísmo permitiram a infiltração comunista no País. Reformas, sim, nós faremos, a começar nela reforma da nossa atitude, ante a ameaça comunista.

 

Caravanas

 

A concentração começou a se formar, às 12h00, na Praça da República, engrossando com a chegada de caravanas procedentes de 300 municípios paulistas. Os cinemas foram fechados, enquanto o comércio, indústria e escolas suspenderam suas atividades mais cedo, permitindo que houvesse maior participação na marcha. Precedidos de cavalarianos da Força Pública, os manifestantes iniciaram a passeata, às 16h00, partindo da Praça da República e passando pela Barão de Itapetininga, Praça Ramos de Azevedo, Viaduto do Chá, Praça Patriarca e Rua Direito, até chegarem, duas horas depois, à Praça da Sé.

 

Durante todo o trajeto de 3 Km, os integrantes da Marcha entoaram o Hino Nacional, portando faixas e bandeiras do Brasil e de São Paulo. A certa altura, foram cantados alguns estribilhos alusivos à situação política, como: “Um, dois, três, Jango não vai ter vez” e “Verde-amarelo, fora com a foice e o martelo”. A chegada da multidão à Praça da Sé, ponto final da manifestação, foi precedida de saudação por parte dos dragões da Força Pública e da banda da Guarda Civil, esta executando o hino da Revolução de 1932. Nas escadarias da Igreja da Sé um comício foi logo organizado, tendo por tônica a defesa do regime, da Constituição e o repúdio ao “comunismo avassalador”.

 

Oradores

 

Depois de lida a oração das mães paulistas à Nação, falaram os senadores Padre Calazans e Auro de Moura Andrade, e os deputados Plínio Salgado e Herbert Levy, todos conclamando o povo a unir-se em defesa das instituições democráticas e contra a infiltração comunista. Os mais veementes oradores foram o Padre Calazans e o deputado Plínio Salgado. Enquanto o representante udenista criticava a ação do Congresso, o presidente do PRP chamava a atenção das Forças Armadas para que vissem a manifestação que “os democratas ali realizavam naquele momento”. O senador Auro de Moura Andrade, o orador mais aplaudido, concitou o povo a confiar nas Forças Armadas e acentuou em certo trecho de seu discurso:

 

Na Guanabara, pediram ao povo que levantassem os braços pela substituição do regime; agora, eu peço àqueles que desejam a ordem e a democracia que levantem as mãos.

 

O deputado Herbert Levy manifestou que aquela concentração “era uma advertência ao presidente de República e ao seu cunhado”, frisando que “o povo brasileiro não quer comunismo, não quer ditadura, e por isso aqui estamos: para defender a Constituição”. As referências ao sr. João Goulart foram recebidas com apupos pela multidão. Enquanto na Praça da Sé se desenvolviam as manifestações pela democracia, no Largo de São Francisco dois pelotões da Força Pública dissolviam, a borrachadas, um comício pelas reformas de base improvisado por estudantes e trabalhadores que tiveram de refugiar-se no prédio da Faculdade de Direito.

 

Manifesto

 

Será divulgado hoje à tarde na capital um manifesto, subscrito por dirigentes estaduais de todos os partidos, inclusive do PTB, contendo vigorosa pregação em favor do regime e da Constituição. Várias reuniões de presidentes das sessões regionais dos partidos já foram realizadas com o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ciro Albuquerque. Um novo encontro será realizado hoje, às 11h00, para a aprovação da redação definitiva do documento, cujos linhas básicas são:

 

1) Intransigente defesa do regime e das instituições democráticas, contra qualquer forma de extremismo, sejam comunistas ou fascistas;

 

2) Inteira e absoluta solidariedade ao Congresso Nacional único poder competente para produzir as reformas de estrutura necessárias para superar a atual crise brasileira;

 

3) Apelo ao Congresso para que, no caso específico das reformas, se conduza com serenidade, examinando cuidadosamente as sugestões feitas recentemente pelo Governo Federal.

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);

Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);

E-mail: hiramrsilva@gmail.com

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 22 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVII

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVII

Bagé, 19.02.2025 Continuando engarupado na memória:  Tribuna da Imprensa n° 4.302, Rio, RJTerça-feira, 17.03.1964 Oposição Articula-se em Contra-Ofe

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXV

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXV

Bagé, 14.02.2025 Continuando engarupado na memória:  Tribuna da Imprensa n° 4.300, Rio, RJ Sábado, 14.03.1964 e Domingo 15.03.1964 Lacerda Condena J

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIV

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIV

Bagé, 12.02.2025 Continuando engarupado na memória:  Tribuna da Imprensa n° 4.299, Rio, RJSexta-feira, 13.03.1964 Comício Serve Como Senha à Agitação

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIII

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIII

Bagé, 10.02.2025 Continuando engarupado na memória:  Tribuna da Imprensa n° 4.296, Rio, RJTerça-feira, 10.03.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernandes) 

Gente de Opinião Sábado, 22 de fevereiro de 2025 | Porto Velho (RO)