Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025 - 08h37
Bagé, 21.02.2025
Continuando
engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 4.305, Rio, RJ
Sexta-feira, 20.03.1964
A Hora é de
Grandeza
(Hélio
Fernandes)
Se o sr. Jango Goulart
quer a Constituinte; se o sr. João Goulart considera que o Congresso está
ultrapassado: se o sr. João Goulart considera que a Constituição brasileira,
com apenas 18 anos de vida, já está superada e obsoleta, então só lhe resta um
caminho para provar a sua sinceridade: RENUNCIAR JUNTO COM O CONGRESSO,
PASSANDO O CARGO AO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, e abrindo caminho,
aí, sim, para a Constituinte.
A hora é de decisões,
a hora é de grandeza, a hora é de humildade. E se o sr. João Goulart, como
prega abertamente em praça pública, considera que o mandato dos senadores e dos
deputados já não é legítimo, então o que dizer do seu mandato, que além de ser anterior
aos dos atuais congressistas ainda tem uma evidente e indisfarçável suspeição:
foi conquistado indiretamente, não foi o povo pela sua vontade expressa e
soberana que o colocou no cargo de presidente da República.
É impossível escapar
da constatação: o sr. João Marques Belchior de Goulart é um simples suplente
substituindo o efetivo que fugiu do cargo apavorado pela própria covardia. E
tanto isso é verdade irrespondível, que nos fins de 1959 e no início de 1961,
quando se procurava um candidato das forças situacionistas para substituir o
sr. Juscelino Kubitschek e enfrentar nas urnas o sr. Jânio Quadros, foi o
próprio sr. João Goulart, entre consciente e amedrontado, que considerou que
NÃO POSSUÍA O MÍNIMO DE CONDIÇÕES ELEITORAIS PARA ENFRENTAR O SR. JÂNIO
QUADROS.
Não querendo então
enfrentar o sr. Jânio Quadros, largou o “abacaxi”
nas mãos do ínclito e ilustre marechal Lott e acomodou-se na disputa da
Vice-Presidência, protegido e favorecido pelo espantoso equívoco cometido pelo
saudoso Fernando Ferrari, que foi quem deu a vitória precisamente ao sr. João
Goulart, pela ânsia que o dominava de afastá-lo da vida pública.
Em 1960, o sr. João
Goulart declinou da honra de ser candidato a presidente da República. Agora,
elevado à condição máxima por efeito de uma renúncia estarrecedora, o sr. João
Goulart fala e age como se fosse o grande líder do País, como se fosse
realmente um ídolo do povo, como se tivesse passado a vida a cuidar do seu
bem-estar, a trabalhar infatigavelmente para resolver os seus problemas e
aflições.
EM 1960, foi o próprio
Jango, livremente, sem coação de ninguém, que considerou insuficientes as suas
credenciais para disputar a Presidência da República. Agora, depois de 30 meses
de “exercício” do cargo, não há como
deixar de reconhecer que não só a falta de credenciais do candidato continua a
mesma como a sua condição de administrador se revelou nefasta e catastrófica.
Como candidato, o sr. João Goulart não convence a Nação; como presidente, já
convenceu-a completamente de que é um inútil e um incapaz. Depois de
desgovernar o País por 30 meses, parando o seu índice de desenvolvimento;
elevando as taxas de inflação a uma altura jamais imaginada, e tornando
praticamente insuportáveis as condições de vida dos assalariados, dos profissionais
liberais, da classe média e das forças empresariais, ou seja dos 75 milhões de
brasileiros, o sr. João Goulart resolve “governar”
por decretos.
Já não discutimos a
inconstitucionalidade dessa forma de governo, pois ela é gritante. Entremos
logo no mérito das medidas, para não perder tempo, decreto que desapropriou as
refinarias já vimos que foi simplesmente uma farsa, deixando os antigos
acionistas na posse das empresas até que se trave a longa batalha judiciária
que já se prenuncia e se prepara. O decreto da SUPRA é uma colossal
mistificação, feita para agitar e subverter e nunca para dar terras ao camponês
que queira trabalhá-las. O decreto da SUPRA atinge apenas 2% das propriedades
brasileiras, e não terá o menor efeito ou impacto benéfico. O decreto de
desapropriação de terras é um decreto feito por um latifundiário para enganar
camponeses. Seu objetivo é enganar, é mistificar, é agitar, é subverter. Mais
nada.
Finalmente o decreto
dos aluguéis é não só um engodo como um espantoso crime cometido friamente
contra o País e pois contra os trabalhadores, que serão as suas principais
vítimas. O decreto dos aluguéis, além de não resolver coisa alguma, pois não se
modificam as leis econômicas por decretos, a não ser que, aconselhado pelo sr.
Jurema, Jango já tenha resolvido revogar a lei da oferta e da procura, terá uma
consequência infalível e matemática: A PARALISAÇÃO IMEDIATA DA INDÚSTRIA DE
CONSTRUÇÕES. Quem é que vai querer construir sabendo que os aluguéis não
atingirão uma justa remuneração para o capital empregado? O erro colossal de
Jango [que é o erro cometido por todos os primários] é pretender debelar os
males atacando as consequências em vez de liquidar as causas. As causas de
todos os nossos males localizam-se na inflação, pois a ela é que deve ser “creditada” a razão maior para o aumento
dos aluguéis.
Paralisando a
indústria da construção o sr. Jango Goulart para efetivamente todo o País, pois
se há uma indústria onde se refletem todas as outras essa é a da construção.
Parando esta, haverá fatalmente o desemprego em massa. E então, desesperados,
sem ter o que comer ou o que levar para os filhos, os trabalhadores
compreenderão finalmente quem é esse “benfeitor”
que se apossou do País em tão má hora. Isso não será consolo pois então o País
já estará mergulhado no caos e na desesperança.
Estamos em pleno
domínio da mistificação, da demagogia e da insinceridade. O resultado disso
será a comunização do País, coisa possível de observar pelos que sabem ver nos
acontecimentos. Mas se Jango pensa que se beneficiará dessa situarão, está
muito enganado. Não há dúvida de que ele é o mais forte candidato a Naguib que
este País já conheceu. Mas que o Nasser será outro muito mais forte do que ele,
isso também é fora de dúvida. Quem viver, verá.
Povo Reage Contra JG
Para Muitos Havia um
Milhão de Democratas na Passeata Anticomunista de Ontem
Houve quem estimasse
até em um milhão o número de pessoas que participaram do desfile anticomunista
promovido ontem à tarde, no centro da capital paulista. Acima do número, porém,
e já tão significativo, sobrepaira a gigantesca demonstração de amor à
liberdade e fidelidade ao regime proporcionada pelo povo paulista contra a
política do sr. João Goulart.
Mais de 500 mil
pessoas mobilizaram-se na tarde de ontem, em pleno centro da capital paulista,
para fazer um protesto pacífico, mas firme e decidido, contra a progressiva
comunização do País. O episódio reflete cristalinamente o estado de espírito da
maioria esmagadora do povo brasileiro, contrário à sucessão de agressões que os
agentes da subversão, sob o comando e patrocínio direto do sr. João Goulart,
desencadearam nos últimos tempos.
Aos 150 mil que
compareceram ao comício antidemocrático da Central do Brasil, através dos
paulistas, respondeu com perto de um milhão de brasileiros que integraram a “Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade”.
Era preciso que isso aconteces para que o presidente da República se
compenetrasse de que os agitadores comuno-carreiristas de seu governo nada
conseguirão com suas ameaças ao Congresso, à Constituição e à continuidade do
regime democrático.
# S. Paulo em Marcha
Contra o Comunismo #
Cerca de 500 mil
pessoas, alguns cálculos chegavam a um milhão, participaram, ontem, do “Marcha da Família Com Deus pelo Liberdade”,
que durante duas horas percorreu as ruas centrais do capital, paulista, da
Praça da República até à Praça da Sé, onde os manifestantes foram saudados pelo
repicar dos sinos das igrejas e os toques de clarim dos dragões da Força
Pública, enquanto a banda da guarda-civil executava o “Paris Belfort”, hino da revolução constitucionalista de 1932. Na
Praça da Sé, foi lida a oração das mães paulistas à Nação, exortando os
brasileiros a tomarem posição em favor do regime democrático e da constituição
e alertando-os contra o perigo da penetração comunista. O documento assinala
que:
A falta de amor, a inconsciência, a
displicência e o egoísmo permitiram a infiltração comunista no País. Reformas,
sim, nós faremos, a começar nela reforma da nossa atitude, ante a ameaça
comunista.
Caravanas
A
concentração começou a se formar, às 12h00, na Praça da República, engrossando
com a chegada de caravanas procedentes de 300 municípios paulistas. Os cinemas
foram fechados, enquanto o comércio, indústria e escolas suspenderam suas
atividades mais cedo, permitindo que houvesse maior participação na marcha.
Precedidos de cavalarianos da Força Pública, os manifestantes iniciaram a
passeata, às 16h00, partindo da Praça da República e passando pela Barão de
Itapetininga, Praça Ramos de Azevedo, Viaduto do Chá, Praça Patriarca e Rua
Direito, até chegarem, duas horas depois, à Praça da Sé.
Durante
todo o trajeto de 3 Km, os integrantes da Marcha entoaram o Hino Nacional,
portando faixas e bandeiras do Brasil e de São Paulo. A certa altura, foram
cantados alguns estribilhos alusivos à situação política, como: “Um, dois, três, Jango não vai ter vez” e
“Verde-amarelo, fora com a foice e o
martelo”. A chegada da multidão à Praça da Sé, ponto final da manifestação,
foi precedida de saudação por parte dos dragões da Força Pública e da banda da
Guarda Civil, esta executando o hino da Revolução de 1932. Nas escadarias da
Igreja da Sé um comício foi logo organizado, tendo por tônica a defesa do
regime, da Constituição e o repúdio ao “comunismo
avassalador”.
Oradores
Depois
de lida a oração das mães paulistas à Nação, falaram os senadores Padre
Calazans e Auro de Moura Andrade, e os deputados Plínio Salgado e Herbert Levy,
todos conclamando o povo a unir-se em defesa das instituições democráticas e
contra a infiltração comunista. Os mais veementes oradores foram o Padre
Calazans e o deputado Plínio Salgado. Enquanto o representante udenista
criticava a ação do Congresso, o presidente do PRP chamava a atenção das Forças
Armadas para que vissem a manifestação que “os
democratas ali realizavam naquele momento”. O senador Auro de Moura
Andrade, o orador mais aplaudido, concitou o povo a confiar nas Forças Armadas
e acentuou em certo trecho de seu discurso:
Na Guanabara, pediram ao povo que levantassem os
braços pela substituição do regime; agora, eu peço àqueles que desejam a ordem
e a democracia que levantem as mãos.
O deputado Herbert
Levy manifestou que aquela concentração “era
uma advertência ao presidente de República e ao seu cunhado”, frisando que
“o povo brasileiro não quer comunismo,
não quer ditadura, e por isso aqui estamos: para defender a Constituição”.
As referências ao sr. João Goulart foram recebidas com apupos pela multidão. Enquanto
na Praça da Sé se desenvolviam as manifestações pela democracia, no Largo de
São Francisco dois pelotões da Força Pública dissolviam, a borrachadas, um
comício pelas reformas de base improvisado por estudantes e trabalhadores que
tiveram de refugiar-se no prédio da Faculdade de Direito.
Manifesto
Será divulgado hoje à
tarde na capital um manifesto, subscrito por dirigentes estaduais de todos os
partidos, inclusive do PTB, contendo vigorosa pregação em favor do regime e da
Constituição. Várias reuniões de presidentes das sessões regionais dos partidos
já foram realizadas com o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ciro
Albuquerque. Um novo encontro será realizado hoje, às 11h00, para a aprovação
da redação definitiva do documento, cujos linhas básicas são:
1) Intransigente defesa do regime e das instituições democráticas,
contra qualquer forma de extremismo, sejam comunistas ou fascistas;
2) Inteira e absoluta solidariedade ao Congresso
Nacional único poder competente para produzir as reformas de estrutura
necessárias para superar a atual crise brasileira;
3) Apelo ao Congresso para que, no caso específico das
reformas, se conduza com serenidade, examinando cuidadosamente as sugestões
feitas recentemente pelo Governo Federal.
(*) Hiram Reis e
Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor,
Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: https://youtu.be/9JgW6ADHjis?feature=shared
Campeão do II
Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente
da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
Ex-Professor do
Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do
Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do
Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4°
Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da
Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Membro do
Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
Comendador da
Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXVII
Bagé, 19.02.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.302, Rio, RJTerça-feira, 17.03.1964 Oposição Articula-se em Contra-Ofe
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXV
Bagé, 14.02.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.300, Rio, RJ Sábado, 14.03.1964 e Domingo 15.03.1964 Lacerda Condena J
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIV
Bagé, 12.02.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.299, Rio, RJSexta-feira, 13.03.1964 Comício Serve Como Senha à Agitação
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – XXXIII
Bagé, 10.02.2025 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 4.296, Rio, RJTerça-feira, 10.03.1964 Em Primeira Mão(Hélio Fernandes)