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Hiram Reis e Silva

Regressando do Rio Roosevelt


 Regressando do Rio Roosevelt - Gente de Opinião

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Hiram Reis e Silva (*), Porto Alegre, RS, 21 de novembro de 2014.

Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado.
(Emília Viotti da Costa)

Os vivos são sempre, e cada vez mais, governados necessariamente pelos mortos.
(Isidore Auguste Marie François Xavier Comte)

A história do mundo nada mais é que a biografia dos grandes homens.
(Thomas Carlyle)

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Concluímos a 7ª Fase do “Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar ‒ Descendo o Roosevelt”. Nossa expedição reverenciou dois ícones da história da humanidade que gravaram para sempre seus nomes dentre os mais corajosos desbravadores de todos os tempos ao sulcar as tumultuárias águas de um Rio inóspito enfrentando a fome, Saltos, Cachoeiras, Rápidos e toda a sorte de adversidades impostas pela densa floresta tropical e seus habitantes.

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Dediquei esta descida a um personagem quase desconhecido o 3° Sargento Manoel Vicente da Paixão, do 5° Batalhão de Engenharia, um veterano que participou com destaque dos trabalhos da Comissão das Linhas Telegráficas enfrentando as adversidades do Sertão no planalto dos Parecis. Como Cabo fora nomeado, por Rondon, para comandar um Posto Militar instalado no Juína, que serviria de ponto de apoio à Comissão de Rondon. Neste Posto ele recebeu, em 1911, a visita de um grupo de Índios Nhambiquara tendo o mérito de lhes conquistar a confiança e o prestígio. Deste Posto, Paixão passou a servir no Acampamento Geral da Construção, onde graças aos seus relevantes serviços foi promovido a graduação de Sargento. Concluindo seu tempo de serviço nas fileiras do Exército reengajou no 5° Batalhão de Engenharia, continuando a contribuir com sua invulgar capacidade de trabalho e liderança à Comissão de Linhas Telegráficas e, mais tarde, à Expedição Científica Roosevelt-Rondon. O Sargento Paixão sempre demonstrou a seus superiores, pares e subordinados uma inexcedível boa vontade no desempenho de suas funções e, como disse Rondon:
 

“servindo de exemplo aos seus camaradas, pelo espírito de disciplina que imprimia a todos os seus atos, e sobretudo pela moralidade de sua vida de Soldado e de Homem”.
 

O Sargento Paixão foi covardemente assassinado por um dos camaradas que vinha furtando, sistematicamente, os escassos víveres destinados a suprir a todos os membros da Expedição.

Diferente da saga empreendida por Roosevelt e Rondon percorremos este Rio dos “ermos e dos sem fim” munidos de telefone satelital, GPS, mapas, gêneros alimentícios suficientes além de encontrar, eventualmente, ribeirinhos que nos indicavam os melhores locais para a transposição das inúmeras cachoeiras.

A ausência do Cabo Mário, do 8° BEC, foi preenchida pelo extraordinário guerreiro que é o Coronel Ivan Angonese, do Colégio Militar de Porto Alegre, que além de hábil canoeiro, é um cozinheiro, pescador e parceiro formidável. A experiência colhida nas corredeiras do Rio Aquidauana, Formoso e tantos outros que singrei no passado permitiram-me enfrentar com segurança e tranquilidade os obstáculos que se nos apresentaram diariamente, guiando meus companheiros pelas melhores passagens.

Diversos amigos enviaram missivas incentivando-me quando souberam que o Comando Militar do Norte não autorizara a participação do Cabo Mário na Expedição Centenária Roosevelt-Rondon. Este fato quase impediu a realização de nossa jornada não fosse a pronta resposta do Coronel Angonese em nos acompanhar. Vamos reproduzir algumas delas em sinal de agradecimento a todos aqueles que nos enviaram mensagens incentivando-nos a prosseguir.

Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani

Com tristeza reconheço que esta é a realidade. Sei que uma andorinha só não caracteriza o verão, mas agradeço a Deus termos um oficial como Você, Coronel Hiram. Apesar de tudo, avante heróico navegador. Seu espírito indomável jamais se dobrará perante a mesquinhez. Talvez tudo isto seja ignorado, como era por mim até agora, mas os que tomarem conhecimento, oferecerão a Você, um heroi, uma reconhecida continência, como o faço agora.

Coronel Manoel Soriano Neto

Caríssimo amigo e acendrado patriota Hiram! Muitas palmas para o seu novo livro! Que o excepcional lavor de sua nova obra, de forte conteúdo cívico-patriótico, sirva de bom luzeiro àqueles que amam, de fato, a Terra em que nasceram! Quando eu tive o privilégio de escrever as abas de seu livro “Desafiando o Rio-Mar ‒ Descendo o Solimões”, afirmei e agora reitero: “Tal como Orellana e Pedro Teixeira, no heroico pretérito, o Coronel Hiram, pela epopeia há pouco realizada [a singradura do Rio Solimões], acaba de consagrar, galhardamente, o seu ilustre nome em nossa historiografia, “ad perpetuam rei memoriam”. As belezas e lições atemporais entesouradas em seu magnífico e mais recente escrito têm o condão de robustecer, de forma superlativa, o sentimento de brasilidade, o apreço à nossa Soberania e a relembrança de nossos avoengos lusitanos ‒ “De nada a brava gente se temia” ‒ mote que se adapta, à perfeição, à saga por você empreendida, desta feita ao longo do Rio Roosevelt, prenhe de audácia e coragem... Insista, persista e não desista, destemido argonauta de nossa Amazônia! E nos momentos de descrença, pois, desgraçadamente, eles vêm e nos atordoam, lhe transmito, para reflexão, um importante pensamento de autoria do notável escritor Jacob August Riis:

Quando nada parece ajudar, eu vou e olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes, sem que nenhuma só rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas e eu sei que não foi aquela a que conseguiu isso, mas TODAS AS OUTRAS QUE VIERAM ANTES!

Ex toto corde” (“De todo o coração”), o mais amigo dos abraços deste seu sempre admirador, Soriano.

Coronel Aguinaldo da Silva Ribeiro

Caro Coronel Hiram,

Tenho a absoluta certeza de que o senhor concluirá com êxito mais essa tarefa, em que pese todos os tipos de obstáculos. É oportuno destacar que a “árvore da adversidade também dá fruto doce”, sendo assim, as remadas continuadas e vigorosas nos Rios amazônicos que o Comandante costuma executar, vencerão não só as marolas, mas também os pessimistas e a desconfianças dos descrentes. Pude pessoalmente, nas águas do Tapajós, acompanhar e saudar mais um dos seus feitos. Foi naquela oportunidade que engajei o “Batalhão Rondon”. A colaboração foi com o barco regional “Piquiatuba” e com os nossos valorosos homens dos Rios. Jovens caboclos que de maneira desinteressada cooperaram, seja com ou sem luminosidade, sob sol ou chuva, com vento ou sem vento, o acompanharam até a sua chegada na Pérola do Tapajós. Sua amizade com aquela tropa se consolidou e tenha certeza que há um respeito mútuo pela camaradagem, liderança, determinação, humildade, tenacidade, confiança, exemplo, entre outros atributos, que tive o privilégio de vivenciar e ter como referência pessoal. Dessa forma, busquei retribuir ao meu Comandante de Pelotão um pouco dos ensinamentos e do apoio recebidos durante o período acadêmico.

Lembro também do caso que o senhor destacou e que resultou na sua punição. Até para os companheiros de turma esse fato é pouco comentado ou desconhecido. A forma como foi disparado, envolvendo um dos seus Cadetes, aquele que inclusive lhe fez acordar mais cedo para cuidar do carro dele e, creio que, com a filha no colo. Recordo, ainda, da sua chegada em Aquidauana, quando eu o encontrei preparando a casa para receber a sua família. O tempo passa, mas esse infortúnio parece não ser esquecido ou relevado ou desconsiderado, apesar de destacar que lhe trouxe coisas boas. Todavia, já que o caso não quer ser esquecido, que suas explicações e o relato dos fatos sejam do conhecimento de mais e mais almas. “Tâmo” junto Comandante e torço por mais um sucesso e como dizia o Marechal RONDON, “Pra frente, custe o que custar”.

Boas remadas e fique com Deus.

Selva!

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Fonte: (*) Hiram Reis e Silva é Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM - RS);

Sócio Correspondente da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER)

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com;

Blog: desafiandooriomar.blogspot.com.br

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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