Segunda-feira, 6 de janeiro de 2020 - 09h26
Bagé, RS, 07.01.2020
Depois de uma longa e
burocrática negociação retornamos, em setembro de 2019, ao Roosevelt para
percorrer o trecho que os Cinta-Larga nos tinham impedido de percorrer desde a
Ponte Ten Marques (KM 100) até o KM 269, em 2014. Em 2019, de 12 a 29 de
agosto, eu havia navegado solitariamente, durante 18 dias, sendo 13 de remo,
pelos Rios Branco e Negro, em pleno pico da cheia, desde Boa Vista (RR) até
Manaus (AM) numa extensão total de 860 km.
Pela primeira vez desde
que iniciei minhas amazônicas jornadas, em 2008, tive, apoio das três Forças
Armadas, em uma única jornada, o Exército, em Boa Vista (RR), a Marinha, em
Caracaraí (RR), e a Força Aérea, em Moura (AM), além de contar, pela 1ª vez,
com o apoio irrestrito da Polícia Militar do Estado de Roraima, em Santa Maria
do Boiaçu (RR) e, novamente, do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), no Parque Nacional do Jau (AM). Depois de uma curta
permanência em Manaus parti para Vilhena (RO) para cumprir mais esta etapa a
convite do Dr. Marc Meyers.
Nossas embarcações,
agora, eram dobráveis e desmontáveis. A canoa de carga, que tinha sido usada em
2014, seria pilotada por dois Cinta-Larga (Magno e Estevão) e os dois caiaques
duplos, um tripulado pelo Dr. Marc e o Cel Angonese e o outro por mim e o
Coronel de Cavalaria Marco Antonio Diel, subcomandante do Colégio Militar de
Porto Alegre.
A fragilidade e a
péssima manobrabilidade dos caiaques ficou patente durante todo o percurso e em
mais de uma oportunidade colocou em risco a integridade física dos canoeiros e
o cumprimento da missão.
Novamente, não sendo o
protagonista do evento, tive de me submeter a realizar apenas uma “descida” de Rio e não de participar de
uma Expedição com o intuito de conhecer as gentes e coisas da região
percorrida.
A equipe reuniu-se
primeiramente em Vilhena (RO) onde tinham ficado armazenados os caiaques e dias
depois partimos, de van, para Cacoal (RO), onde ficamos hospedados no excelente
Cacoal Palace Hotel do Sr. Luiz Carlos Bordignon, um formidável empreendedor
que se tornou, em poucos dias, um grande amigo e entusiasta de nossa saga.
Outros fatos notáveis,
dignos de nota, em Cacoal foram a grata oportunidade de conhecer o Sr. Oita Motina
Cinta Larga Filho Semani, Presidente da Associação PATJAMAAJ dos Povos Cinta
Larga, sua esposa Srª Sara Gonzaga Semani Cinta-Larga, seus filhos e a
fantástica história de vida destes guerreiros além da oportunidade de
entrevistar o Cacique João Brabo citado à exaustão no capítulo “Os Cinta-Larga”, de nosso livro. Os 165
km que percorremos em 11 dias permitiram-nos avaliar a grandeza da Expedição
original que enfrentaram, o então, Rio da Dúvida no pico da cheia, com pesadas
canoas de troncos e uma carga considerável.
No 2° dia da Expedição
(11.09.2019), numa transposição à sirga, nosso caiaque virou e minha velha
caixinha à prova d’água, que carrego no convés dos caiaques Argos I e II, com a
borracha de vedação ressecada pelo Sol, deixou entrar água avariando parte de
meu material eletrônico ‒ a Câmara Fotográfica Nikon Coolpix P600 e o GPS
Garmin GPSmap 62sc. Mais do que o considerável prejuízo material, o que mais me
afetou foi a impossibilidade de documentar nossa passagem pelas belas
corredeiras e saltos deste trecho tumultuário do Rio Roosevelt, de colher
imagens daquela natureza pujante e fotografar os nativos Cinta-Larga.
Para complementar minha
desdita, no 2° Acampamento (11°29’26”S \ 60°27’30”O), de 11 para 12.09.2019, um
quilômetro à montante da Aldeia Roosevelt alguém acionou, criminosamente, o
pedido de socorro de meu rastreador que estava dentro do meu chapéu tropical
pendurado na minha barraca. Curiosamente, pouco antes de me afastar do
acampamento para carregar o material na camionete do Professor, tinha mostrado
ao Mestre da Aldeia Roosevelt e a alguns visitantes este importante e emergencial
equipamento. A ativação do alarme colocou imediatamente os serviços de
emergência através do Centro Internacional de Coordenação de Resposta de Emergência
(IERCC), baseado em Houston no Texas em alerta. A Rosângela, em Bagé, RS,
através de um tradutor, respondeu a uma série de perguntas da Central GEOS e
logo em seguida a Polícia Militar (PM) e os Bombeiros Militares (BM) de Cacoal
foram acionados. Já na Aldeia, o tal Professor, contou-nos que uma “amiga” sua lhe telefonara informando que
os BM tinham recebido um alerta à respeito de um tal de “Irani”, integrante da Expedição Centenária, que se afogara e cujo o
corpo não tinha sido encontrado. Uma novela cujos protagonistas acobertados
pelo anonimato permanecerão impunes. Depois de visitarmos a Aldeia Rooseevelt,
retornamos aos nossos caiaques e mais uma vez uma ação facinorosa e covarde
fora cometida. Meu remo flutuava nas águas ao lado do caiaque e não fixado
pelos extensores como eu o deixara. Com mais de 60.000 km de caiaque pelos
mananciais brasileiros tenho uma conduta prussiana em relação ao equipamento e
jamais, repito, jamais permito que meu remo permaneça n’água sujeito a seguir à
torrente, um erro de principiante desatento o que nunca foi meu caso. Imediatamente
busquei meu rastreador infrutiferamente. Voltei à Aldeia com o Angonese para
alertar os familiares e autoridades locais para não considerarem qualquer
alerta emitido pelo nosso rastreador. Novamente o tal Professor disse que sua “amiga” lhe informara que o rastreador
fora acionado novamente, fato que desmentimos junto às autoridades locais e ao
GEOS.
Curiosamente o
equipamento nos foi restituído, nove dias depois, no Cacoal Palace Hotel no dia
21 de setembro ligado ... O jogo de baterias não dura mais de um dia e
meio, curioso não? Infelizmente meus ingênuos companheiros de jornada acharam,
na oportunidade, que eu estava maquinando uma teoria da conspiração. No início
procurei ir à frente estudando os melhores locais de passagem, mas, com o
passar do tempo verifiquei que a nossa formidável equipe de nativos (Magno e
Estevão) tinha mais competência e entusiasmo para tal e resolvi segui-los.
A alimentação foi outro
ponto fraco da nossa empreitada, comer diariamente arroz com linguiça, em um
Rio em que a fartura de peixe era mais do que suficiente para nosso consumo era
um atentado ao bom senso e à saúde. Embora chegássemos cedo, logo no início da
tarde, aos locais de acampamento, a refeição só era servida à noite. Dormir de
barriga cheia para quem tem problema de refluxo não é nada salutar.
Mais uma vez a partida,
de manhã, tinha de aguardar os sonolentos camaradas, o fogo para aquecer o café
e a lenta desmontagem do acampamento. Esta Expedição só não foi um pesadelo
total em virtude da ação de nossos versáteis nativos Cinta-Larga Magno e
Estevão.
(Francisco P. da Fontoura e Joaquim J. Mendanha)
Como a aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o Vinte de Setembro
O precursor da liberdade.
Aportamos, na Ponte da
Aprovale, por volta das 10 horas do dia 20 de setembro, uma data muito especial
para nós gaúchos.
Solicito Publicação
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel
de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador,
Escritor e Colunista;
·
Campeão do
II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
·
Ex-Professor
do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
·
Ex-Pesquisador
do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente
do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro
do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
·
Presidente
da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do
Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da
Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
·
Membro da
Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador
da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador
Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador
Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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