Quarta-feira, 20 de maio de 2009 - 06h08
Falar de Rondon é abusar dos adjetivos, é falar no superlativo. Encontramos na obra do Major Amílcar Botelho de Magalhães Júnior relatos dos bravos que compunham a Comissão Rondon. Apresentamos ao leitor brasileiro a vivência contagiante de brasilidade de um ícone tão magnífico que a própria história resolveu materializar sua grandeza emprestando seu nome a um estado brasileiro - Rondônia. Este artigo mostra, através de pequenos episódios, sua capacidade invulgar de liderança pelo exemplo.
- Theodore Roosevelt
“A América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao Norte o Canal de Panamá, ao Sul o trabalho de Rondon - científico, prático, humanitário. Rondon não é apenas oficial e gentleman como os que mais o são nos mais bem organizados exércitos do mundo. É também excepcional, audaz e competente explorador, ótimo naturalista, cientista, estudioso, filósofo. Com ele a conversa vai da caçada de onças e dos perigos da exploração do sertão à antropologia indígena; dos perigos da civilização industrial, puramente materialista, à moralidade positivista. O Positivismo do Coronel Rondon é realmente a Religião da Humanidade, doutrina que o impele a ser justo, bondoso e útil, a viver corajosamente sua vida e, com igual bravura, afrontar a morte. Nunca vi, nem conheço obra igual. Os homens que a estão realizando são, pela sua abnegação e patriotismo, os maiores que existem. Um povo que tem filhos desta ordem há de vencer. O século XX pertence-lhes”.
- Contingente de indesejáveis
“Ao tempo das primeiras commissões que o General Rondon chefiou - não nos cansemos de admirar que desde o posto de 1° Tenente - o Exercito Brasileiro era constituido, não pelo sorteio militar como atualmente, mas por elementos exclusivamente provindos da classe baixa da sociedade e por indivíduos na maioria analfabetos, mal educados e sem moralidade. Tal era a consequência do voluntariado de que se compunha e cuja insuficiência anual forçava o engajamento e o reengajamento de uma corja de vagabundos e indisciplinados que infestavam as fileiras com os seus incorrigíveis e inveterados maus costumes.
(...) A 2ª revolta a que me referi, não chegou a estalar e vamos ver como um acaso feliz fe-la abortar. Entretanto, desta feita, os sublevados arquitetaram um plano diabólico, legitimo fruto dos mesmos cérebros que dirigiram meses antes a revolta dos marinheiros da esquadra nacional. A frente dos onze principais agitadores estava o celebre ‘Russinho’, ex-marinheiro que se vangloriava de ter assassinado Baptista das Neves e que, dados tais precedentes, tomara a si a parte de leão no desenrolar dos trágicos acontecimentos, cuja realização todos eles antegozaram até o minuto solene em que deveria explodir o movimento sedicioso: o ‘Russinho’ reservara-se o direito de assassinar Rondon!
A um machadeiro, distinguido pela confiança do Tenente Joaquim Manoel Vieira de Mello Filho, comandante do contingente e encarregado da turma da picada (derrubada da mata, desbastamento das galhadas, limpeza da faixa cujo eixo o piquete determinava) estava atribuída pelos seus companheiros de levante, a tarefa ingrata e sanguinária de extinguir a vida deste valente oficial. A ocasião era propicia porque apenas o chefe e esse outro oficial encontravam-se no acampamento, visto como o Ministro da Guerra de então (General Menna Barreto) entendera de bom alvitre ordenar o recolhimento de vários oficiais aos seus corpos, sem atender ás justas ponderações do Chefe da Commissão! Liquidados os oficiais, pretendiam os revoltosos apoderar-se do cofre do acampamento, dos viveres, dos meios de transporte existentes, etc. e marchar pela linha, derrubando a machado todos os postes, prendendo quem não aderisse e assaltando as povoações e as cidades por onde a linha atravessasse!
Vejamos como as qualidades pessoais de Rondon formaram a luz da estrela da salvação... Com a memória fora do comum, ele conhecia pelo nome todas os praças e sabia exatamente em que detalhe de serviço cada qual se aplicava.
Era pela madrugada e o acampamento agitava-se no burburinho quotidiano... Certamente os revoltos os haviam de ter trocado entre si as últimas seguranças de que cada um estava bem compenetrado do papel que devia representar; certamente trocaram entre si o último olhar significativo e cabalístico; quando ecoou pelas costas de Rondon uma palavra comum, e apropriada não só ao sinal convencionado como ao movimento natural de formatura no acampamento...
- VAMOS! disse uma voz firme e resoluta, em tom apenas perceptível ás fileiras que se estendiam em frente á barraca do Chefe da Commissão.
A este grito sedicioso, pronunciado com a máxima naturalidade pelo célebre ‘Russinho’, Rondon volta-se de frente para ele, sem nunca imaginar o que fervia na pestilenta cabeça daquela fera humana!
Vê-o de machado em punho e brada-lhe incontinenti:
- Que faz você de machado? Já não sabe que ao toque de formatura deve estar pronto para começar a fabricação das grampos?
Não é preciso dizer que a machadada não foi desfechada! A agressão estava projetada pelas costas e a súbita meia-volta entontecera o criminoso que balbuciou uma desculpa e seguiu a cumprir o seu dever”. (Magalhães)
- Um chá para o Estado Maior
“No ponto de vista em que Rondon se coloca, comer é secundario! Da sua reconhecida e extraordinária sobriedade, resultava naturalmente imaginar que o estomago alheio se comportasse como o dele. Além de se distrair á mesa dividindo grande parte da sua ração com os cães (que manifestavam sua alegria natural, lambendo-lhe de repente o rosto, enquanto pousavam-lhe as patas enlameadas sobre o kaki); muita vez vi caras amarradas quando do seu farnel, em marcha, retirava alimento para os amimados e fiéis amimais
Conta-se mesmo a propósito que, de uma feita, quando certo serviço da construção atravessava um goiabal silvestre, ele proibira terminantemente que o pessoal tirasse frutas, tornadas assim verdes como as uvas da fábula de La fontaine... Se de um lado uma tal concessão perturbava sem dúvida a marcha dos trabalhos, interrompendo-os certamente por alguns momentos, o fato é que naquele dia os 12 homens, inclusive o chefe, só á tarde iriam encontrar recursos de alimentação, enquanto que tinham tido por almoço, todos eles, só e unicamente um papagaio.
Muita praga devia ter-lhe caido sobre a cabeça nessa memorável data! As referencias que precedem, relacionam-se com a epigrafe deste capítulo, como vamos ver. Ainda a poucos annos, consequentemente quando Rondon estava já na idade que repele essas violencias, este pouco caso pelo estomago conservava-se inalterável.
Era assim que, durante as ultimas explorações que realizou, para determinações geográficas necessárias à Carta de Mato-Grosso, pelos vales do Gi-Paraná, Jamary e Guaporé, tornou-se vulgar a sua ordem:
- Faça jantar para os soldados e um chá para o estado-maior!” (Magalhães)
- Último a dormir e 1° no acordar
“Alem de se contentar com porções mínimas de alimentos, o que mais me admirava quando observava os hábitos do General Rondon nos acampamentos, era justamente o pequeno numero de horas com que satisfazia a necessidade de dormir. Ele era o último que se recolhia á barraca e o 1° que se levantava! Algumas vezes em que me levantei antes do toque de alvorada, pelas 4 horas da madrugada, ao dar-lhe o bom dia, verifiquei que á luz mortiça de uma vela ordinária, havia ele já escrito na sua mesa de campanha dezenas de telegramas de serviço e as longas cartas diárias que redigia à sua estremecida família. E estava já fardado de kaki, tinha a barba feita a ‘Gilette’ (fazia-a no escuro, sem espelho, caminhando de um lado para outro da barraca) e tomara mais cedo ainda o seu infalível banho da madrugada, no rio ou no córrego mais próximo do acampamento.
Tais hábitos não sofriam modificação alguma, quer chovesse quer não; quer o trabalho tivesse corrido normalmente, quer houvesse exigido esforços duplicados; quer se tratasse do 1° ou do último dia do ano ou de outro qualquer dia; quer no 1° quer no último ano de sua vida de sertão...
Nenhum traço, porem, se lhe descobria que denotasse abatimento ou cansaço: parecia a encarnação do homem de ferro de que cogitava com espanto o soldado discursador do meu acampamento...” (Magalhães)
- O bicho de Côco Babassú ou Aguassú (Tapurú)
“Durante as expedições através do sertão as privações de alimento eram incidentes com os quais deviam sempre contar os expedicionários; poupava-se então quanto possível, reduziam-se as rações, lançava-se mão do expediente da caça, utilizavam-se os recursos da floresta - o mel, o palmito, as frutas silvestres.
Num desses trágicos momentos de rações reduzidas e de ponto de interrogação quanto aos recursos para o dia seguinte, um dos funcionários de categoria média veio comunicar ao seu chefe a importante descoberta de um bicho de côco que servia admiravelmente para matar a fome... Explicou que o molusco apresentava uma massa gordurosa que se prestava a assar ao calor das brasas, como um bolo de arroz em gordura, e que assim frito tornava-se delicioso ao paladar. O General, porém, ria-se a bandeiras despregadas e o descobridor cada vez mais se esforçava para o convencer de que .deveria provar o bicho de côco assado, para então verificar a verdade do que estava afirmando.
Quando o interlocutor mais apreensivo se mostrava e mais encarniçado na defesa de sua preciosa descoberta, o General então definiu o seu pensamento com estas simples palavras:
- Eu não estou duvidando do que você afirma; rio-me porque eu conheço a muito tempo esse bicho de côco e eu o como sempre, mas crú! Na verdade, em dias de fome, não só servia o bicho de côco, como também a tanajura !” (Magalhães)
- Uma reação fantástica
(...) “Rondon levou a tais extremos a reação do espírito sobre o seu abalado físico, que em uma das marchas, a pé, por cima do árido chapadão de Parecis; já muito longe; sofrendo horrivelmente o martírio da sede, levado aos paroxismos pelo estado febril em que se encontrava; caiu redondamente ao solo, desacordado, inerte, presa de uma síncope! Cercaram-no os companheiros, acudiram ao chefe querido e estóico: vários portadores partiram em rumos divergentes em busca de água., só encontrada muito distante do ponto em que ocorrera o acidente. Felizmente e com a força milagrosa de sua vontade de aço, o chefe reergueu-se e perseguiu a marcha horas depois.
E assim mesmo doente continuou o seu serviço de exploração. Quando acidentalmente sentiu-se melhorar, a sua convalescença foi ainda assinalada por um célebre passeio em que sobrepujou em resistência outros companheiros que com ele seguiram, dentre os quais um deles, ao regressar ao acampamento, teve a seguinte exclamação original:
- Vá ser doente para o inferno!
(...) “é fato indiscutível ter ele adquirido de seu próprio bolso, antes de partir de Cáceres, pelo alto preço de 400$000, um excelente boi de montaria para o seu uso particular e que se tornou célebre nessa expedição (Juruena ao Madeira). Ainda mais esse animal foi mandado por ele anexar á tropa com esta designação especial: só o chefe poderia utilizar-se dele quando o ordenasse.
Marchou a expedição pelo sertão afora e a cada sintoma de enfraquecimento físico que o médico observava no chefe da expedição, insistia para que Rondon se resolvesse a dar ordem de arriar o boi e montar. Os companheiros da exploração, no vivo interesse de salvar o chefe, secundavam as ponderações do médico e havia em torno de Rondon um verdadeiro coro: ‘porque não montar, quando o animal ali estava à mão e viera para esse fim exclusivo?’
Evidentemente o estado de saúde do chefe agravava-se dia a dia! Houve mesmo algum mais íntimo que lhe fez sentir o perigo de um fracasso da expedição, se ele continuasse a tanto arriscar e viesse a perecer! Talvez que esta última ponderação amiga houvesse afinal vencido a resistência do chefe; o caso é que, sob a ação dos seus habituais 40° de febre, num dos acessos do impaludismo, mandou ele arriar o célebre boi e montou. Andou assim cerca de quatrocentos metros apenas...
‘Senti-me humilhado, diminuído, diante dos meus comandados; impossível subordinar-me a semelhante situação e refleti que era então preferível morrer!’
De repente, olhando para trás e em torno de si, ao contemplar os seus companheiros, todos a pé, sob o peso das mochilas, deixando ler no aspecto físico o abatimento e o cansaço das marchas, suarentos, cobertos de pó; a sua alma vibrante e enérgica reagiu subitamente! Apeou-se incontinenti e com gesto autoritário e que não admite dúvidas, mandou que conduzissem o boi para a retaguarda! E até o fim da expedição gozou o privilegiado boi das regalias de montada do chefe... sem nunca mais sentir-lhe o peso!” (Magalhães)
- Resistência Física
(...) “A subida de um morro, enquanto os mais moços do que ele e que tinham de idade em media 25 anos menos, alcançavam suarentos e esfalfados a parte mais alta, depois de interromperem - o acesso para tomar fôlego, Rondon, adiantando-se de muito no tempo despendido para a subida, que efetuara de um só arranco, ria-se dos companheiros e dizia-lhes pilherias a propósito do retardamento com que iam chegando. É preciso dizer que todos se haviam empenhado em chegar primeiro, com ardor igual ao de um desafio e de uma aposta...
(...) Em tais reconhecimentos era sempre Rondon quem tomava a ponta da vanguarda. Só confiou este serviço de máxima responsabilidade, em 1909, ao Tenente Lyra, e a experiência demonstrava que poderoso era o auxílio do índio, não só pela resistência de infante e pela habilidade de indicar os melhores passos no rumo desejado, como pelo incomparável trabalho de que só o silvícola se desempenhava de modo a merecer a absoluta confiança do chefe: o reconhecimento militar! O índio, conhecedor por experiência própria, de todos os planos e processos usados por outras nações indígenas, para os ataques e surpresas, executava só, o trabalho de uma boa patrulha. Avançava sorrateiramente, sem fazer o menor ruído no mato, sempre atento e perspicaz; agachado quando era mister, e observava a zona toda em direção á marcha da expedição, garantindo-a contra a possibilidade de uma agressão. E sempre que ele afirmava haver índio perto e que índios acompanhavam a expedição para atacar, as suas previsões se realizavam, embora as precauções a que davam lugar os seus avisos.
Pois bem, Rondon marchava sertão dentro com um desses resistentes e leais caciques da tribo dos Parecis. A ânsia de avançar o mais possível com o reconhecimento, fez com que ele resistisse aos desejos manifestados pelo índio no sentido de escolher para pouso um certo córrego, a que atingiram quando já o sol estava mais para o poente do que para o zênite. Debalde o Pareci ponderava que poderia acontecer, como sucedera certa vez, não encontrarem outro pouso á distancia conveniente, antes de cair a noite.
Fácil admitir tal hipótese quando se marcha por terreno desconhecido, como era o caso. A' vista, porém, da decisão terminante em que se manifestava o chefe, partiu o índio de novo com ele, prosseguindo o reconhecimento, não sem um olhar de inveja para a linda ramagem que ensombrava a água marulhenta e fresca... O receio talvez de que a previsão do índio se realizasse, produziu desde logo um aumento de velocidade da marcha. A certa altura, quando começava a tardar a descoberta de outro córrego, o índio estacou. Carregou o sobrolho, olhou fixamente o chefe e, sentando-se no solo, declarou solenemente que dali não sairia mais; que tinha as pernas cansadas mesmo e nem um passo mais daria em frente; se Rondon quisesse, que fosse sozinho! Não houve lógica capaz de o convencer do contrário! Este fato é bastante eloquente, ao que me parece, para demonstrar a que limites atinge a resistência de Rondon.
(...) o próprio Rondon quem nos pretende convencer de que qualquer homem pôde fazer o mesmo e que para isso é bastante querer!” (Magalhães)
- O estilo é o Homem
(...) “Tenente Lyra, cuja memória venero sob todos os aspectos, dizia-me sempre em suas palestras cintilantes:
- Rondon é uma individualidade difícil de apreciar, porque apresenta uma infinidade de aspectos. Tal a verdade que cada vez mais se acentua em meu espírito, quanto mais medito sobre a sua personalidade. E' uma espécie de prisma de muitas faces, de cores variegadas, cada qual mais brilhante. Não só porque o estilo é o homem, como também para que se aprecie a maneira por vezes original com que ele descreve as coisas e a empolgante beleza literária de algumas passagens referidas ao correr da pena; aqui transcrevo trechos traçados pela sua própria mão, onde se encontram atestados autênticos das suas opiniões e dos seus ideais.
‘À noite tivemos um espetáculo maravilhoso, determinado pelo incêndio que irrefletidamente ateamos ao macegão da várzea da lagoa Zoerekê. Todo chapadão em derredor foi destruído pelo fogo voraz que se alastrava em línguas extensas, lambendo a macega ressequida e deixando após si o negrume da sua destruição; apanhando não só os insetos e répteis, como os pequenos mamíferos e até aves, como os inhambús, perdizes, maxalalagás (saracura do chapadão) e seriemas’.
‘No Utiarity o rio corre mansamente antes da queda; ao aproximar-se desta deu-se o desnivelamento brusco, de modo a formar uma grande corredeira marulhosa e junto do salto as águas se subdividem por causa d'uma pequena ilha. Um grande golfo forma-se á esquerda; outra porção maior contorna a ilha á direita e antes de se despenhar se subdivide, indo uma pequena parte para o abismo, onde cai como extenso e alvo lençol e a outra, de maior volume, volve por um salto preliminar a encontrar-se com o grosso das águas provenientes do golfo’.
‘O panorama é empolgante e tão belo, que me levou a dar-lhe este apelido ao simples ver. Através de irisantes arco-íris, destacam-se á vista do observador as gradações de cores na linha de incidência da superfície plana que vem, com a convexa que desce, na quéda d'agua, desde o nacarado e verde-gaio até o plúmbeo argentino e azul celeste. Cobrindo a enorme bacia formada pelo martelar contínuo e milenário da possante queda, lá está a poeira d'água, desbordante, que por fim sobe, torcicolando, a marcar, no meio da floresta imensa, o ponto em que o chapadão se erodiu, determinando o descomunal desnível. Não resisti ao desejo de ver a arcada que todo Salto, apresenta, formada lentamente pela ação física dissolvente e mecânica das águas. (...) é simplesmente arrebatador, feérico, os arco íris cruzam-se, as névoas condensadas não permitem a ninguém aproximar-se do incomparável anfiteatro, sem receber as entrudescas manifestações da maravilhosa catarata; circunda-o luxuriante vegetação, forrando de alcatifa do verdor aqueles escombros areníticos, produto da fenomenal fratura. As andorinhas dos saltos a brincarem, em vôos mergulhantes, atravessam a formidável massa líquida que se despenha’.
- O vaqueiro mimoseano
”Se alguém se refere a seus inestimáveis serviços, contesta, atribuindo-os aos companheiros. Foi, na realidade, conjunto raro o dos auxiliares de Rondon - é que, como os grandes chefes, sabia escolher ‘the right man for the right place’. E, depois, impunha-se pela força do exemplo, executando inúmeras vezes aquilo de que ninguém era capaz, como capacidade física também.
Narrava-o nosso saudoso amigo General Ivo Soares, mais tarde presidente da Cruz Vermelha Brasileira e, na ocasião, chefe do Corpo de Saúde do Exército:
‘Era Rondon Capitão Chefe da Comissão Telegráfica do Sul de Mato Grosso e eu 1° Tenente médico da mesma comissão. Certa manhã, não havendo os campeadores aparecido com o animal de montada do chefe e tendo este um compromisso que o obrigava a seguir para Coxim, mandou encilhar uma besta de tração que se encontrava no acampamento, não obstante a ponderação da ordenança que, com toda a disciplina, lhe viera transmitir um recado do arrieiro: aquele animal não dava montaria e, mesmo como animal cargueiro, várias vezes corcoveara com as cargas... Respondera-lhe energicamente o chefe, reiterando a ordem para que se arreasse a besta com os seus apeiros, apertando bem a silha.
Trataram, então, de obedecer-lhe. Mas, para tanto, foi mister amarrar solidamente o muar a um palanque e vendar-lhe os olhos. O animal bufava como touro ou como onça... Era um domingo e estava o pessoal em descanso, de modo que a nova despertou a curiosidade geral e, por entre o arvoredo e escondidas por trás das barracas, convergiam as praças os olhares para o palanque e talvez estivessem algumas antegozando a queda espetacular do seu capitão.
Rondon examinou cuidadosamente a implantação da silha, que dividia em duas a barriga do animal, os loros, as rédeas e, de um pulo, cavalgou a fera, que foi rapidamente desvendada e solta das amarras. Reproduziu-se, então, um daqueles espetáculos do ‘far-west’ norte americano ou dos nossos destemidos domadores, nas campinas do Rio Grande do Sul, entre os ‘vaqueiros’ do Norte ou de Mato-Grosso. O animal saiu com um raio, aos corcovos, barafustando pelas barracas. derrubando ramadas, dando coices, como se tivesse enlouquecido! Era terrível e parecia indomável. Mas o peão era também de se lhe tirar o chapéu! E não caiu, tornando vãos todos os desesperados esforços da alimária para o deitar ao chão. Depois de empolgantes passagens, conseguiu o cavaleiro metê-lo na estrada e nesse dia se apresentou em Coxim, montado na besta já domada, banhada de suor copioso, com a boca ensangüentada”. (Viveiros)
Fonte: MAGALHÃES, Major Amílcar Botelho de – Impressões da Comissão Rondon – Brasil, Rio de Janeiro,1921 – Editora Brasiliana.
VIVEIROS, Esther de – Rondon conta sua vida - Brasil, Rio de Janeiro,1958 – Livraria São José.
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Telefone:- (51) 3331 6265
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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