Quinta-feira, 16 de abril de 2020 - 14h07
Bagé, 06.04.2020
Más ai! Los que partieron
Su pan de proscripción i de
amargura,
Los que a luchar vinieron
I a la patria, con él, su
sangre dieron;
Un brazo mercenario
Armar supieron en la noche
oscura.
Aquí, en la sombra, vino
Su víctima a buscar el
asesino;
A Federação n° 43
Porto Alegre, RS ‒ Terça-Feira,
20.02.1894
História do Sítio de
Bagé
Fatos e Documentos
Durante esse dia 23, a artilharia
fez vários tiros magníficos, obtendo bons resultados. Ao mesmo tempo a
fuzilaria respondia valentemente ao fogo do inimigo. À noite o inimigo repetiu
o assalto da véspera, mas com menor intensidade, porque a artilharia conhecedora
das suas posições, lhes infundia respeito.
Pela madrugada de 24 o fogo dos
assaltantes tornou-se extremamente vivo.
Os defensores da praça, tanto os
que cuidavam os muros, como os que guarneciam as trincheira; aproveitavam a
passagem dos atacantes, que corriam, curvados de uma para outras ruas para
desfecharem sobre eles descargas quase sempre coroadas de êxito.
A artilharia fez fogo sobre as
melhores posições do inimigo, que foram abandonadas.
Algumas casas ficaram danificadas;
o mercado público, a casa do Major João Pompílio Bueno, a do Tenente Juvenal de
Mattos Freire, e outras.
Às 8 1/2 da manhã, por ordem do
Coronel Telles, saíram da praça 4 seções de infantaria, afim de desalojar o
inimigo das posições que ocupava.
Estas seções eram as seguintes:
uma do 31° comandada pelo Alferes Paes Leme; outra do destacamento do Batalhão
de Engenheiros, comandada pelo 2° Tenente Jorge Wiedmann, e 2 seções do 2° Batalhão
da Brigada Militar do Estado, uma comandada pelo Capitão Bernardino Vaz da
Costa e a outra pelo Alferes Amadeu Massot, tendo como auxiliares os Alferes Juvêncio
Lemos e Francisco Varella, que foram ambos gravemente feridos.
O ataque ao mercado foi irresistível,
fugindo o inimigo em todas as direções, espavorido e sofrendo um grande
prejuízo.
A seção do 31° ocupou as trincheiras
que o inimigo havia levantado junto ao ângulo do mercado que faz frente à rua 7
de Setembro.
Quando a nossa infantaria
regressou para a praça os inimigos voltaram novamente às mesmas posições.
Pessoas de todos os sexos, idades
e condições, que, afrontando o fogo da fuzilaria inimiga conseguiam chegar à
praça, afirmaram unânimes que na parte da cidade ocupada pelo “Exército Libertador”, o saque era
extraordinário e geral, tanto às casas de comércio como as de família eram
arrombadas a machado e a coice de armas e a onda devastadora alastrava-se pelo
seu interior, tudo destruindo; roupas, fazendas, gêneros, joias, móveis, tudo,
tudo convinha aos maragatos, que quase completamente nós, ao chegarem aqui,
tiveram ensejo de enroupar-se, apresentando alguns o mais bizarro e repugnante
aspecto.
Uns punham à cabeça chapéus de mulher,
faziam de saias brancas ponchos atados ao pescoço, enfeitavam-se com grinaldas
de noiva e faziam chiripá de retalhos de vestidos de seda.
Parecia que um delírio infernal,
que uma influência demoníaca se havia apoderado de todos aqueles monstros, cada
qual empenhado em mostrar mais cinismo, mais descaro e maior crueldade.
E tudo entre gritos, risadas,
insultos, tiros e um ruído desenfreado, para aumentar o terror que os seus atos
vandálicos inspiravam.
A casa do Tenente Juvenal de
Mattos Freire, cujos tiros mortíferos causaram os maiores prejuízos ao bando de
salteadores, foi alvo do ódio que votavam ao valente e leal oficial; depois de
a haverem arrombado e arrebatado dela tudo o que lhes convinha e podiam levar, destruíram
a machado os móveis, espelhos, quadros e tudo o mais que nela havia, sem deixarem
intacto um só objeto.
Igual procedimento tiveram na tipografia
do “Quinze de Novembro”, folha a que
consagravam especial rancor pela hombridade com que estigmatizou sempre os seus
atos, e cujo redator procuravam com o maior empenho, para o trucidarem
implacavelmente.
Este, porém, achava-se, conforme prometera,
na praça em segurança, empunhando armas e defendendo dignamente a causa da
honra e da liberdade da Pátria, e os bandidos despeitados vingaram-se, nas coisas,
do ódio que tinham à pessoa.
A casa da família de Antenor
Soares foi completamente destruída, inutilizados os móveis a bala e a machado;
a roupa toda roubada, a louça quebrada, a biblioteca, de mais de 2.000 volumes,
rasgada em parte atirada a um poço, a tipografia empastelada ([1]), a máquina
de impressão quebrada a machado. Foi um prejuízo total, do qual nada pôde
salvar-se.
Infinidade de outras casas, cujo número
não é possível precisar, tiveram a mesma sorte; só se ouviam gemidos e lamentações,
rostos consternados, faces cavadas pelo sofrimento, e no meio dos montões de
destroços, pessoas da classe baixa do povo, cacheando febrilmente os despojos
que os maragatos haviam desprezado.
O saque livre, prometido como recompensa
aos mercenários pelos chefes da intitulada “revolução”,
era a palavra de ordem e estava sendo cumprida com todo o possível
desenvolvimento. Os bandidos saciavam os seus desejos, tomavam um fartão de
roubo, e os chefes, maiores bandidos ainda, exultavam de gozo, tripudiavam de
alegria por terem podido dar cumprimento à sua palavra “honrada”!
A orgia desenfreada do “Exército Libertador” era tristemente
acompanhada pelo choro dolorido de uma criança que as balas assassinas feriram,
dos prantos derramados pelas viúvas das vítimas degoladas traiçoeiramente, por
um concerto de imprecações, soluços e lamentos, que há de atrair sobre suas
cabeças toda a cólera celeste.
Os que ainda possam acreditar nos
intuitos patrióticos, nas intenções nobilíssimas, no desejo de liberdade e de ordem
tão pomposamente apregoados pelos pretensos revolucionários, examinem os fatos,
analisem e admirem o espetáculo que eles prepararam, e imaginem o que seria da
população rio-grandense, se a vitória coroasse os esforços dessa gente.
Como nos dariam, os bandidos, um
governo honesto, moralizado, livre e
cheio de patriotismo!
Depois de haverem talado ([2])
completamente os nossos campos, e prosseguindo em linha reta sua obra de
destruição, vêm, para o triunfo completo de seus desejos, atacar as cidades e
saqueá-las!
É deste modo que o Rio Grande há de
ficar livre da tirania do “castilhismo”,
e a República afastada do “despotismo”
do Marechal Floriano!
Teríamos uma Pátria livre,
governada por ladrões, incendiários e assassinos! Miseráveis bandidos!
A heroica resistência desses dias
custou-nos, é verdade, ondas de sangue precioso, que veio vivificar as raízes
da árvore da liberdade.
Morreram os seguintes oficiais, praças
e paisanos:
4 oficias mortos e 10 feridos,
sendo dos mortos 2 Capitães do Corpo Provisório de D. Pedrito: Orestes Confúcio
de Bittencourt e Juvêncio Corrêa dos Santos, e os Alferes Bento Antonio de
Souza, do 5° Regimento, e Vicente de Azevedo, do 31° Batalhão.
Os feridos são: 4 do 2° Batalhão
da Reserva da Brigada Militar, Capitão Bernardino Carlos da Costa, Alferes Juvêncio
Maximiliano Lemos, Francisco Varella e Antonio Raphael dos Santos, 1 Major, Raymundo
Martins de Lemos e 1 Capitão, Gaudêncio Antunes Maciel, dos civis de D.
Pedrito; o 1° Tenente Alfredo Pires, do 4° Regimento de Artilharia e o Coronel
Carlos Telles Comandante da Guarnição, tendo sido contuso o Major Massot do 2° Batalhão.
Tivemos 37 praças mortas e 91
feridas.
O inimigo perdeu 400 homens.
Desertaram os seguintes oficiais e
algumas praças, estas acossadas pela fome:
Tenentes Moreira Sobrinho, do 4°; Capitão
Zeferino Moraes, do 5°; Tenente Camargo, do Corpo de Transporte; Alferes Bessa,
do Corpo de Transporte; Tenente farmacêutico Corrêa de Brito; Major Cassão, comandante
de civis; Major Heráclito e um oficial do corpo Cassão. [Continua] A FEDERAÇÃO
N° 43.
Bibliografia:
A FEDERAÇÃO
N° 43. História do Sítio de Bagé ‒
Brasil ‒ Porto Alegre, RS ‒ A Federação n° 43, 20.02.1894.
Solicito Publicação
(*) Hiram
Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
·
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
·
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
·
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
·
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
·
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
·
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
·
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
·
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
·
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
·
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
·
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
·
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
·
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
·
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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