Quinta-feira, 21 de julho de 2022 - 06h15
Bagé, 21.07.2022
Mais
uma vez tenho a honra de repercutir um artigo de meu Mestre Higino Veiga Macedo,
editado em maio de 1991.
Solidariedade
ou Fraternidade
(Cel Eng
Higino Veiga Macedo)
Começo este texto com transcrições. São
acontecidos que contrariam até filósofos: o “animal homem é selvagem por sua natureza” disse um; “o ser o humano é santo, mas a sociedade é
que o degenera” disse outro. O texto trás exemplos de crianças, que por sua
natureza e ambiente podem virar santos ou feras. No contexto, mais que santos:
anjos.
Começo com uma música muito tocante: “He ain’t heavy, he is my brother” – Ele
não pesa, ele é meu irmão. Transcrevo.
É
sobre a entidade “Missão dos Órfãos”, em Washington, DC.
Foi
lá que ficou eternizada a música “He
ain’t heavy, he is my brother”, dos “The
Hollies”, (você pode não estar lembrando da música, mas depois de ouvir, se
lembrará do grande sucesso!) A história conta que certa noite, em uma forte
nevasca, na sede da entidade, um padre plantonista ouviu alguém bater na porta.
Ao abri-la deparou com um menino coberto de neve, com poucas roupas, trazendo
em suas costas, outro menino mais novo. A fome estampada no rosto, o frio e a
miséria dos dois comoveram o padre. O sacerdote mandou-os entrar e exclamou: –
Ele deve ser muito pesado.
O que carregava
disse: – “He ain’t heavy, he is my
brother”. Eles não eram irmãos de sangue realmente. Eram irmãos da rua. O
autor da música soube do caso e se inspirou para compô-la, e da frase fez o
refrão.
Fere como uma punhalada no peito: “Ele não pesa, ele é meu irmão”. Eram
irmãos da rua! ([1]).
Continuo com outra história, agora das
inúmeras tragédias de guerra. É a historia dos Irmãos Japoneses, registrada no
filme de animação, japonês, “O Túmulo dos
Vagalumes”: Símbolo de Força no Japão! Para melhor entendimento, recortei e
editei as falas dos dois filmetes Youtube citados no rodapé da página seguinte.
A
imagem em questão foi captada em setembro de 1945 pelo jornalista
norte-americano Joe O’Donnell, que trabalhava para a Agência de Informação dos
Estados Unidos. São palavras suas:
Eu
passava por ali e vi um menino de uns dez anos mais ou menos com um bebê preso
a suas costas.
Naqueles
dias, no Japão, era uma imagem habitual das ruas, crianças com seus irmãos
pequenos atados as costas com o precursor do “meitai”, mas aquele menino tinha algo diferente. Parece que
esperava alguma ordem ou a sua vez. Estava descalço e a expressão do seu rosto
era muito dura. A cabeça de seu irmãozinho estava inclinada a um lado, como se
estivesse em sono profundo. O menino permaneceu assim por mais de cinco minutos.
De repente, alguns homens vestidos de branco e, com máscaras, aproximaram-se
dele e desataram as correias que sustentavam o bebê. Nesse momento senti um
frio na espinha ao dar-me conta que estava morto. Apanharam-no e depositaram-no
em cima de uma pira funerária onde queimavam os corpos. Alguém lhe disse:
– Dai-me a carga que trazes as costas!
– Não é carga: É MEU
IRMÃO ([2]).
A vida endureceu uma ainda inocente
alma: “não é carga”... é um
tesouro... “é meu irmão”. Indiretamente disse: Não é
peso; respeite o que trago.
A mesma guerra produziu uma música que
no Brasil fez muito sucesso: ANGELITA ou Angelita de Anzio ([3]).
E no mundo também. Sobre sua história, transcrevo:
É um fato real, comovente que
mostra que no peito de um soldado bate um coração humano. Em 15 de junho de
1944, o combatente e seu pelotão desembarcaram na Costa de Anzio, para
enfrentarem os alemães. Em vez do pelotão esperado, encontrou uma criança
sozinha, apavorada, que aparentava uns cinco anos de idade. Sem ter a quem entregá-la
decidiu levá-la como mascote do pelotão. O destino da menina já estava traçado:
uma granada caiu na trincheira matando-a na hora. Para um soldado, lutar é preciso
e a guerra continuava feroz e ele se viu forçado a abandonar o corpo da menina insepulto.
A Guerra chegou ao fim, passaram-se mais de vinte anos e a lembrança de
Angelita continuava viva em seu coração. O Ex-combatente decidiu escrever ao
prefeito de Anzio para saber notícias, seu nome, onde estava sepultada. O
Conselho Municipal de Anzio desconhecia a história, porém, no Ano Internacional
da Criança dedicou lhe um monumento em virtude de seu valor simbólico. A
escultura – uma criança rodeada de gaivotas – é de autoria do escultor Sergio
Cappellini e foi inaugurada em 22 de janeiro 1979. Em 1964, o grupo musical Los
Marcellos Ferial, gravou Angelita di Anzio. Os autores: T. Roman – M.
Minerbi...
Convido a quem ler, procurar na
internet tal música. É melhor em português. Como foi feliz o letrista:
traduziu, como ninguém, a alma infantil ao repetir nas três estrofes maiores: “As quatro conchas / cheias de areia /
apertava a pequena mão”. Nada é tão aterrorizante para fazer uma criança
separa-se de seu brinquedo: “quatro
conchinhas...”
São três histórias, eivadas de
sentimentos, que tocam qualquer sensibilidade.
A primeira, irmãos na igualdade da
miséria. Tema de música.
A segunda, irmão de sangue que leva às
costas não um peso, mas irmão de sangue para a última morada, consequência de
guerra. Tema de filme.
A terceira, o anjinho pequeno – Angelita
– que sem família ganha por instantes um pelotão de irmãos. mas o destino
impediu a eles a conduzissem para vida. Nunca seria um peso: eram irmãos de
guerra. Tema de música. São manifestações que vão além da solidariedade. Leva
diretamente àquilo que os maçons cultuam como “fraternidade” entre a “igualdade”
das condições vivenciadas no seu mais puro senso de “liberdade” para aflorar a bondade em momentos de terrível provação do
corpo e da alma.
(*) Hiram
Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
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