Segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024 - 07h30
Aspectos Históricos
As terras do atual
Município de Santa Vitória do Palmar, assim como o Estado do Rio Grande do Sul
como um todo, foram arduamente disputadas por Espanha e Portugal nos tempos da
expansão marítima. Tanto que por determinado tempo, as terras do Taim até as do
Chuí tiveram de ser consideradas como Campos Neutrais – Tratado de Santo
Ildefonso (1777) – tratando-se de um largo pedaço de terra desabitado, a fim de
minimizar o confronto entre os colonizadores. Portugal tinha a intenção de
colonizar a região para garantir a defesa do território e fornecer, no início
do século XVIII, carnes e couros para a região mineradora recém-descoberta, no
atual Estado de Minas Gerais, região que não tinha produção de alimentos.
Com o propósito de fortalecer seu Posto na
Colônia do Sacramento, os portugueses escolheram a Barra de Rio Grande para
construir um presídio ([1])
que ganhou o nome de Jesus-Maria-José. Rio Grande foi oficialmente fundada em
19.02.1937 pelo Brigadeiro José da Silva Paes. Este contou com o conhecimento
do Coronel Cristóvão Pereira de Abreu,
desbravador que veio para o Sul em busca do gado “chimarrão” ([2]).
Meses antes do desembarque do Brigadeiro na Barra do Rio Grande, Cristóvão
Pereira já havia montado um posto avançado de doze homens às margens do Arroio Chuí,
indo em seguida à região de Rio Grande encontrar-se com Silva Paes, que vinha
por Mar.
Após a fundação do Forte Jesus-Maria-José,
Silva Paes prosseguiu para o Sul, dividindo a expedição em duas partes: uma
marchando por terra e outra navegando pela Lagoa Mirim e pelo Arroio São
Miguel, onde os grupos se unem. Seguiram então por terra até chegar em um local
estratégico, em cima de um morro, onde se avista o movimento dos barcos que
transitam pelo Arroio São Miguel.
Ali Silva Paes manda levantar uma Fortificação
de pedras, o Forte São Miguel. A partir de então seguem-se uma série de
disputas entre as potências ibéricas pelas terras do Sul do continente
americano. Os espanhóis chegam a invadir a Vila de Rio Grande de São Pedro,
ocupando-a por treze anos, até que os portugueses a retomam em 1776.
O português Francisco José de Souza Soares
de Andréa [chegado ao Brasil com a Família Real, 1808], Comandante Militar do
Rio Grande do Sul na época do Tratado Definitivo [1851], entre Brasil e
Uruguai, foi designado Comissário brasileiro para a Demarcação dos Limites
estabelecidos no dito Tratado. Na execução destes trabalhos, a pedido do
estancieiro Manoel Correa Mirapalhete, demarcou o local para se fundar uma
povoação.
Em 19.12.1855, foi lavrado o termo de
criação do povoado com o nome de Andréa e uma igreja tendo por padroeira Santa
Vitória, no lugar chamado Coxilha do Palmar de Lemos. A primeira pedra foi
assentada por seu fundador Comendador Mirapalhete. Santa Vitória do Palmar tem
este nome devido à esposa de Manoel Correa Mirapalhete chamar-se Vitória e ser
grande devota da Santa Vitória, e Palmar devido à grande quantidade de
palmeiras na região.
Em 1858, foi criado pelo então Presidente
da Província [Silva Ferraz] o 2° Distrito do Taim, constituído pela Capela de
Santa Vitória do Chuí. A Lei Provincial n° 808, de 30.10.1872, elevou à
categoria de Vila a Povoação fronteiriça, emancipando-se do Município de Rio
Grande. A Lei Provincial n° 945, de 15.05.1874, criou o Município de Santa
Vitória do Palmar. Finalmente, através da lei n° 1736, de 24.12.1888, foi
elevada à categoria de Cidade. Após a Revolução de 1893, um surto de progresso
passou por Santa Vitória do Palmar, como se pode verificar pelo elevado número
de prédios que foram construídos daí até 1911.
Região de pecuária por ocasião de sua
fundação, a cidade dos antigos palmares viu a decadência dessa atividade no
correr do século XX. E, apesar da criação de gado bovino e ovino ainda ser de
grande importância, abriu-se espaço para o crescimento da produção do arroz.
(Fonte: IBGE)
Relato Pretérito ‒ Santa Vitória do Palmar
Domingos de Araujo e Silva
(1865)
Santa Vitória do Palmar: Capela fundada na Freguesia do Taim, e elevada à Freguesia
pela Lei n° 417 de 06.12.1858; faz parte do Município do Rio Grande e da
Comarca deste nome. Esta Freguesia tem por limites: ao Oriente a costa do
Oceano; ao Sul o Arroio Chuí, desde a sua Foz até o Passo Geral deste mesmo
Arroio, e daí por uma linha reta tirada quase na direção Este-Oeste e
determinada pelos marcos da divisa com a República Oriental do Uruguai, que
demoram ([3])
desde o mesmo Passo Geral do Chuí até o Passo Geral do Arroio São Miguel: ao
Ocidente o Arroio de São Miguel, desde o dito Passo Geral até a sua Foz, e
daqui abrangendo todo o território e Costa Oriental da Lagoa Mirim e suas águas
pertencentes ao Império, na forma dos respectivos Tratados, que foram
celebrados com a referida República Oriental e Atas de Demarcação. Existem
nesta Freguesia duas escolas públicas de instrução primária, uma para cada sexo,
e ambas criadas por Ato da presidência de 08.06.1861. (SILVA)
(Presidente Emílio Garrastazu Médici)
Venho como sempre fui.
Venho do campo, da fronteira, da
família, da caserna; venho da minha terra e de meu tempo.
Venho do Minuano.
“Este
vento faz pensar no campo, meus amigos, este vento
vem de longe, vem do pampa e do céu”.
Valho-me,
ainda uma vez, do poeta augusto do Sul ([4]), para ver no vento, o homem do
campo de todo o Brasil – o homem que ninguém vê, sem face e sem história – aquela
humildade mansa, que a vida vai levando na quietação do caminho abraçado à
coxilha.
(Augusto Meyer)
Esse vento faz pensar no campo, meus amigos,
Esse vento vem de longe, vem do pampa e do céu.
Olá compadre, levanta a poeira em
corrupios,
Assobie e zune encanado na aba do chapéu.
Curvo, o chorão arrepia a grenha
fofa,
Giram na dança de roda as folhas mortas
Chaminés botam fumaça horizontal ao sopro louro
E a vaia fina fura a frincha das portas.
Olá compadre, mais alto, mais alto!
[...]
Bibliografia
SILVA, Domingos de Araujo e. Dicionário Histórico e
Geográfico da Província de São Pedro ou Rio Grande do Sul ‒ Brasil ‒ Rio de
Janeiro, RJ ‒ Casa dos Editores Eduardo & Henrique Laemmert, 1865.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós
(IHGTAP)E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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