Sexta-feira, 17 de maio de 2024 - 07h52
Bagé,
17.05.2024
Relato Pretérito ‒ Lagoa Mirim
Domingos de A. e Silva (1865)
Mirim (Lagoa –). Grande Lagoa situada na costa do Oceano
Atlântico, além do Albardão, e no extenso areal do Município do Rio Grande,
Estado Oriental ([1]) e Municípios de Jaguarão,
Piratini e Pelotas; recebe as águas de alguns Rios pertencentes ao Estado
Oriental e dos Rios Jaguarão, Bretanhas, Chasqueiro, etc, e deságua na Lagoa dos
Patos por um canal natural denominado Rio de S. Gonçalo: tem 41 léguas de
comprimento, a contar da Barra do Arroio de S. Miguel até a Boca do Canal de S.
Gonçalo; 8 de largura máxima, contadas da Barra do Rio Canoa até a Foz do
Jaguarão; e 9 braças de profundidade média no canal. É navegada por grande
número de embarcações de calado regular, e o podia ser por navios de grande
calado se o sangradouro de S. Gonçalo lhes concedesse passagem.
O território Ocidental
compreendido entre o Arroio de S. Miguel e o Rio Jaguarão, que pertencia à
Espanha, foi tomado pelos portugueses; porém, quando com a doença do
Tenente-general Sebastião Xavier da Veiga Cabral, então governador da
Província, e sua morte a 05.11.1801, a confusão e a insubordinação lavravam nas
nossas tropas, os espanhóis conseguiram retomar esse território que
presentemente ainda faz parte do Estado Oriental. (SILVA)
Ponta Alegre ‒ Foz do Rio Jaguarão (17.03.2016)
O Juiz
Federal Itagiba Catta Preta Neto, da Seção Judiciária Federal do Distrito
Federal, atendeu a uma ação popular e suspendeu, em caráter liminar, ou seja,
temporário, a posse do ex-Presidente Luiz Inácio Lula no cargo de novo
Ministro-chefe da Casa Civil ou em “qualquer outro que lhe outorgue
prerrogativa de foro”. (Alex Rodrigues ‒ Agência Brasil, Brasília, DF,
17.03.2016)
Partimos
somente às 06h40, o tempo nublado enganou-nos e atrasamos a alvorada. Novamente
as condições meteorológicas favoreciam a progressão e aportamos no mais belo
Monumento dos Mares de Dentro – o Farol da Ponta Alegre, às 07h40. Subi no
majestoso Farol e comuniquei-me com a Rosângela que me informou que o
Lullarápio tinha sido nomeado ontem, pela PresidAnta, Ministro da Casa Civil
com o objetivo explícito de deslocar a competência do seu julgamento para o
Supremo Tribunal Federal. Na janela mais alta do Farol encontrei aninhada uma
robusta tamanduá mirim que não me deu qualquer atenção, quando passei por ela,
continuando encolhida como se estivesse procurando proteger sua pequena cria
ou em trabalho de parto. Não quis dirimir minha dúvida importunando o pequeno
animalzinho e deixei-o em paz. O Tamanduá mirim, Tamanduá de colete ou Melete
(Tamandua tetradactyla: tetradactyla, em grego, significa “quatro dedos” que é o número de dedos que esta espécie possui nas
patas dianteiras). O Mirim, curiosamente, apresenta cinco dedos nas patas
traseiras sendo que o quinto dedo e sua garra passam quase despercebidos, pois,
são pequeninos, atrofiados mesmo. A gestação varia de 5 a 6 meses gerando
somente um filhote que é protegido pela mãe até a próxima prenhez.
Fizemos
uma segunda parada, por volta das 13h00, ao Sul da Foz do Arroio Bretanha onde
contatei, novamente, a Rosângela que me informou que o Lullarápio já não era
mais Ministro. Pobre país, seria apenas mais um hilário lance proporcionado
pelos nossos desastrados gestores se isso não estivesse dando mostras ao mundo
das mazelas de uma caótica política e desmesurados desmandos próprios de uma
tragicomédia tupiniquim de 5ª categoria.
Continuamos
nossa navegação rumo SO enfrentando ventos de proa. Abandonei a ideia inicial
de acampar na Foz Arroio Juncal e resolvi acampar na Foz do Rio Jaguarão. Fiz
mais uma parada ao Sul da Ponta Negra a um quilometro da costa, a água não me
chegava à cintura e não valia a pena desviar-me da rota alongando o trajeto.
Reboquei o caiaque por uns 400 m procurando exercitar as pernas, montei no meu
incrível “Argo II” ([2]) e prossegui aproado para
a Ponta do Juncal de onde seguiria direto para a Foz do Rio Jaguarão.
Aportamos
17h15 na Foz do Jaguarão onde acampamos à sua margem direita.
Tinha
percorrido 62,2 km, desde a Ponta Alegre à Boca do Jaguarão.
² 1° Perna Total = 349,1 km.
² 2° Perna Parcial = 161,1 km.
² Total Parcial = 510,2 km.
Rio
e cidade de Jaguarão (18 a 20.03.2016)
Expressões Chulas de Grampos Telefônicos de Lula Reproduzem Preconceitos
Entre queixas e negociações, as ligações do ex-Presidente e atual
Ministro Luiz Inácio Lula da Silva interceptadas pela Polícia Federal são
recheadas de um linguajar que passa longe do politicamente correto. O
ex-Presidente perguntou onde estão “as mulher de grelo duro” do PT e brincou
que a diretora do Instituto Lula, Clara Ant, acordou achando que era “presente
de Deus” quando cinco homens entraram em sua casa ‒ até descobrir que eram
policiais federais. (Paula
Ferreira e Renato Grandelle ‒ O Globo, Rio de Janeiro, RJ, 18.03.2016)
Em Brasília, outra multidão se aglutinou em frente ao Palácio do
Planalto com cartazes contrários a Dilma, enquanto parlamentares de oposição
cobraram aos gritos a renúncia no plenário da Câmara. O protesto começou por
volta das 17 horas já para protestar contra a nomeação de Lula para Ministro da
Casa Civil. Cresceu depois da liberação dos áudios pela Justiça. Milhares de
pessoas se concentraram, erguendo bandeiras do Brasil e faixas onde se lia
“Fora Dilma”, e réplicas da Constituição.
(Gustavo Moniz e Afonso Benites ‒
El País, São Paulo, SP e Brasília, DF, 19.03.2016)
O advogado de Lula, Roberto Carlos Martins, disse em uma conversa
telefônica do dia 8 de março que, na sua avaliação, o ex-Presidente será
condenado pelo Juiz Sérgio Moro. A declaração apareceu em um dos grampos feitos
pela Polícia Federal. Assim, o advogado sugere a Lula que aceite o cargo no
governo de Dilma Roussef. (Redação ‒ O
Tempo, Contagem, MG, 20.03.2016)
Partimos,
18.03.2016, desta feita, embarcados no veleiro Corais, às 06h35, da Foz do Rio
Jaguarão e aportamos, às 10h40, no Iate Clube Jaguarão, onde pernoitaríamos
graças ao apoio do amigo Roberto Borges Couto. Nosso objetivo era abastecer e
descansar, por um dia, pelo menos, dependendo das condições meteorológicas.
Instalamo-nos confortavelmente no salão do Iate Clube Jaguarão onde a esposa do
amigo Washington Moreira presenteou-nos com saborosos bolinhos de arroz.
O
Comandante do veleiro “Sumiço”, Dr.
Ermo Machado, deu uma carona ao Norberto para que o mesmo abastecesse os camburões
de combustível e mais tarde trouxe-nos, de presente, uma saborosa linguiça para
o almoço. Aproveitamos o tempo bom para secar e limpar nossos equipamentos.
À tarde,
fomos fazer compras para complementar nossos gêneros alimentícios e produtos
farmacêuticos. De volta ao Iate Clube Jaguarão, encontramos nosso caro e
jovial amigo o veterano canoísta Antônio Buzzo, parceiro de nossa primeira
Circunavegação pela Lagoa Mirim, com quem ficamos conversando longas horas.
Sábado,
19.03.2016, tempo ruim, muita chuva, vento forte e frio forçaram-nos a
permanecer acantonados no Iate Clube Jaguarão. De manhã ficamos conversando
longamente com o Sr. Moreira que me presenteou com dois livros do escritor
Roberto Burgos Benedetti, o “Lagunero”
e o “De La Laguna a La Antártida” que
degustamos avidamente durante toda a jornada. Benedetti reproduz no “Lagunero” um pensamento que norteia a
todos amantes da natureza que empreendem jornadas similares à nossa:
Y es
realmente difícil hacer entender al no iniciado, o al que realmente no Le gusta
el contacto directo con la naturaleza agreste, lo que pasa por el espíritu del
devoto cuando se aleja del mundo “civilizado”.
Pasa, tal vez, por algo intrínseco, profundo, una herencia ancestral, pero va
más allá. Va mas allá también de la simple contemplación de cosas y paisajes
que nos gustan, porque si los viéramos en una película no sería lo mismo. Hay
una especie de comunión de los sentidos con el entorno, y estos se agudizan.
Observamos detalles que en trajín cotidiano pasarían inadvertidos, escuchamos
sonidos a los que normalmente no daríamos importancia.
Yo
describiría la sensación como entrar en frecuencia con la naturaleza. Hasta
podemos llegar a sentir placer por el simple hecho de sentir la tierra húmeda
bajo los pies, el Sol en la piel o lo viento en el rostro. Le damos un giro
radical a nuestra actividad física, pero sobre todo la intelectual, ya que
dejamos de lado, momentáneamente, todo el cúmulo de preocupaciones cotidianas
para ocuparnos de cosas más básicas y vitales, como protegernos del Sol, la
lluvia, o el viento; conseguir agua limpia y leña seca para el fuego, cocinar,
armar el “dormitorio”, entre otros.
Nos
concentramos en la navegación, en elegir el mejor camino, en atender las cañas
de pescar, en perseguir una presa o en obtener las mejores condiciones de luz
para una fotografía, dándole otro uso al cerebro, que lo libera de la presión
habitual. Pasa también por una suerte de reafirmación de valores. Nos enfrenta
a nuestras propias capacidades, despertamos habilidades olvidadas y hasta
extendemos nuestros límites personales. Creamos o reafirmamos lazos con los
compañeros ocasionales de aventura. (BENEDETTI)
Almoçamos
com o Buzzo e depois fizemos uma rápida incursão à cidade de “Rio Branco” no Uruguai. Em 30.10.1909, o
Barão do Rio Branco, protagonizou o “Tratado
de Fronteiras da Lagoa Mirim” que cedia parte do território nacional e
Lagoa Mirim ao Uruguai. Como sinal de reconhecimento, em 1915, o governo
uruguaio alterou o nome da cidade para Rio Branco. Atravessamos a bela e
maltratada Ponte Mauá. A reportagem de Zero Hora, de 1996, publicou:
A Dívida Virou Ponte
A histórica Ponte Mauá, que liga
Jaguarão à cidade uruguaia de Rio Branco, não custou um centavo aos cofres do
Império. A obra ficou como pagamento por uma dívida assumida no século passado.
Naquele tempo, o General argentino Juan Manoel de Rosas ameaçava a liberdade do
recém-emancipado Uruguai. Para auxiliar o país amigo, vários empréstimos foram
concedidos por Dom Pedro II. O Uruguai salvou-se. Em compensação, devia 5
milhões de pesos, em 1919. Para acertar as contas, as duas nações fecharam o “Tratado da Dívida”. Depois de três anos
de obras, em 30 de dezembro de 1930, a dívida virou ponte. (FARRAPOS)
Em
19.02.1927, foi assinado, na cidade de Montevidéu, o Acordo Relativo à Ponte
Internacional – “Tratado da Dívida” –
reza o Anexo A, N° 18A:
[...] Nota da Legação do Brasil, em Montevidéu, ao Governo
uruguaio [...]
Em aditamento às conversações que tenho tido com Vossa
Excelência sobre a construção da ponte no Jaguarão e em resposta à Nota 513-21,
com que ontem fui honrado, é-me grato comunicar que o Governo do Brasil
concorda no seguinte:
1. Um
engenheiro, designado pelo Ministério da Viação e Obras Públicas do Brasil,
acompanhará os trabalhos de construção da ponte, desde seu início até sua
inauguração.
2. Não
só o representante do Ministério das Obras Públicas do Uruguai, que dirigir a
construção, como o empreiteiro, facilitarão a esse engenheiro tudo que estiver
a seu alcance para o desempenho de sua missão. (MRE)
Bibliografia
BENEDETTI. Lagunero – Uruguai – Montevideo – 2013.
SILVA, Domingos de Araujo e. Dicionário Histórico e Geográfico da Província de São Pedro ou Rio
Grande do Sul ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Casa dos Editores Eduardo
& Henrique Laemmert, 1865.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato
Grosso do Sul;
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato
Grosso do Sul;
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS);
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO);
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS);
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós
(IHGTAP)
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – I
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