Segunda-feira, 8 de abril de 2024 - 15h04
Bagé,
08.04.2024
Incidente com a Fragata
Emerald (24.06.1861)
Correio da Tarde, n° 139
Rio de Janeiro, RJ – Quarta-feira, 26.06.1861
Notícias e Avisos Diversos
A uma das folhas da manhã
comunicaram a seguinte ocorrência: Anteontem à noite um escaler da fragata
inglesa Emerald assaltou no meio da baía um bote, que largara do cais do “Pharoux” com dois fuzileiros navais, um
marinheiro do registro e dois pretos remadores. Logo que o escaler atracou, os
ingleses começaram a espancar os remadores e passageiros, resultando daí
desaparecer um dos fuzileiros navais e atirarem-se ao mar os outros passageiros
do bote, a fim de evitarem as pancadas. (CDT, N° 139)
Correio Mercantil, n° 175
Rio de Janeiro, RJ – Sexta-feira, 28.06.1861
Notícias Diversas
O Sr. Christie, Ministro inglês
nesta Corte, remeteu para a polícia, à requisição do Sr. Ministro dos Negócios
Estrangeiros, o oficial e marinheiros que compunham a tripulação do escaler da
Fragata Emerald, acusados de haverem praticado as violências de que já demos
notícia.
Ontem, na presença do Sr. Chefe
de Polícia, do cônsul inglês e do comandante da Fragata teve lugar o
interrogatório do oficial e de alguns marinheiros. Hoje devem ser inquiridos os
passageiros e remadores do bote.
Em consequência do conflito que
teve lugar na noite de 24 do corrente entre o escaler da fragata inglesa “Emerald” e um bote do cais “Pharoux”, foi adiada a saída deste
navio, a fim de que as autoridades tomem conhecimento do ocorrido. (CORREIO
MERCANTIL, N° 175)
Jornal do Commercio - n° 177
Rio de Janeiro, RJ – Sexta-feira, 28.06.1861
Gazetilha
O nobre Sr. Taques, sem dúvida
ignorante dos antecedentes desta questão, não se apressou em pedir ao Ministro
inglês a continuação das providências dadas, isto é, a entrega dos marinheiros
da Emerald, acusados do fato criminoso perante as nossas autoridades. O nobre
deputado dirigiu uma nota neste sentido, a 16, se não me engano, e foi depois,
como a Câmara sabe, que uma fragata inglesa com direção ao Rio da Prata tomou a
seu bordo o guarda-marinha e os mais réus. Por isso afirmo que o desfecho
desagradável desse acontecimento se deve imputar ao Sr. ex-Ministro de
Estrangeiros, Deputado pela Bahia. (JDC, N° 177)
Correio Mercantil, n° 188
Rio de Janeiro, RJ – Quinta-feira, 11.07.1861
Notícias Diversas
Pela secretaria da polícia
foi-nos comunicado o seguinte extrato das averiguações a que procedeu o Sr. Dr.
chefe de polícia sobre o conflito, que teve lugar na noite de 24 de junho deste ano, entre a lancha da
fragata inglesa “Emerald” e o bote
que do cais “Pharoux” seguia para a
fortaleza do Villegaignon. [...]
O soldado do Batalhão naval
Simão Rodrigues de Quevedo diz que depois das 9 horas da noite de 24 de junho,
seguiam do cais “Pharoux” em um bote,
onde iam, além dele, mais quatro pessoas, a saber: seu camarada Vicente
Ferreira Ramos, um marinheiro da barca der vigia da alfândega dois remadores;
que ao chegar o bote, à Ponta do Trem foi perseguido por um escaler guarnecido
por ingleses, sendo por fim alcançado por este, saltando no bote o oficial
inglês e mais quatro pessoas, dos quais três estavam armados com espadas e dois
com pedaços de remos; que estes cinco ingleses começaram logo por espancar os
que iam no bote, os quais se lançaram ao mar com exceção do soldado Ramos, que
foi o mais espancado e estava em completa prostração, sendo depois atirado ao
mar pelo guarda-marinha ajudado por outro inglês, descarregando sobre ele o
dito guarda-marinha nova pancada ao vir à tona d’água, a qual o fez ir ao
fundo, sem tornar a aparecer ouvindo-o apenas gritar – ai Jesus; que foram
salvos pelo escaler do brigue “Pavuna”,
que acudiu a seus gritos; estando bem próximo o escaler inglês, que nenhum
socorro lhes prestou; que nenhum motivo houve para essa agressão; o finalmente
que reconheceria o guarda-marinha se o visse.
O marinheiro da barca do vigia
da alfândega João José de Sá declara que, dirigindo-se para Villegaignon, na
noite de 24 de junho, em um bote com dois soldados, foram em certa altura
perseguidos pelo lanchão da fragata inglesa o, além da Ponta do Trem, foi o
bote abordado pelo lanchão, entrando naquele cinco ou seis ingleses, que
principiaram logo a espancá-los, obrigando-os assim a lançarem-se ao mar,
resultando daí morrer um dos soldados; que foram salvos pelo escaler do brigue
“Pavuna”, sendo que os ingleses, bem
longe de os socorrer, repeliam, ao contrário, os que se lhes aproximavam, com
pancadas do remos, sendo que ainda conserva os sinais das pancadas que recebeu
estando já no mar.
O remador do bote, Jerônimo,
preto, diz que conduzindo no bote, na noite de 24 de junho, dois soldados dos
fuzileiros navais, e um marinheiro da barca de vigia da Alfândega, foram
acometidos além da Ponta do Trem pelo lanchão da fragata inglesa, que abordou o
bote, saltando nele diversos marinheiros e o oficial, que os espancaram com
remos e espadas; que à vista do tal agressão, atiraram-se ao mar, sendo salvos
pelo escaler do brigue “Pavuna”,
motos um dos soldados que, tendo caído no bote em consequência das pancadas que
recebera foi lançado ao mar pelos ingleses, tendo desaparecido; que do lanchão
inglês nenhum socorro foi prestado aos que se atiraram ao mar, repelindo-os
antes com os remos quando dele se aproximavam.
O remador do bote, Joaquim,
preto, releio o mesmo que o outro remador, quanto à agressão, ao fato de se
lançarem ao mar, de serem repelidos pelos ingleses os que se lhes aproximavam,
e do serem salvos pelo escaler do brigue “Pavuna”,
com exceção do um dos soldados, que soube ter desaparecido, não podendo ser
minucioso por ter sido o primeiro a lançar-se ao mar logo no começo do
conflito.
O Mestre da Armada nacional,
Manoel do Nascimento Braga, diz que estando a bordo do brigue “Pavuna”, e acudindo aos gritos de
socorro, fez arrear o escaler e seguiu para o lugar de onde partiam os gritos,
e então viu um bote abandonado e um lanchão guarnecido por ingleses; que tratou
de recolher os náufragos, que eram dois pretos remadores, um soldado naval o um
marinheiro, fazendo esforços inúteis para salvar um outro soldado naval que
vinha no bote e desapareceu no mar; que ao chegar ao lugar do acontecimento
quis a gente do lanchão agredi-lo, retirando-se ao reconhecer que o escaler era
de guerra, tendo visto à proa do lanchão um guarda-marinha inglês, com a espada
na mão.
O soldado naval, a bordo do
brigue “Pavuna”, João Francisco de
Novaes, fazendo parte da tripulação do escaler que foi acudir aos náufragos,
confirma quanto referiu o Mestre da Armada.
O imperial marinheiro a bordo
do brigue “Pavuna”, que também fez
parte da tripulação daquele escaler, exprime-se pela mesma maneira que os dois
precedentes.
Em 5 do mês corrente, em
presença do cônsul inglês e o comandante da fragata inglesa “Forte”, foram apresentados ao soldado
naval Simão Rodrigues de Quevedo quatro guardas-marinhas ingleses e entre eles
o guarda-marinha Francis Maie, e, convidado aquele soldado naval para designar
dentre eles qual o que havia saltado no bote, e aí espancado e atirado ao mar o
soldado naval Vicente Ferreira Ramos, foi por ele sem hesitação designado o
guarda-marinha Francis Maie, como o autor dos referidos fatos.
À vista do resultado destas
averiguações, trata-se de instaurar o competente processo contra o
guarda-marinha Francis Maie e o imediato William Langford. (CORREIO MERCANTIL,
N° 188)
Bibliografia
CDT, N° 139. Notícias e Avisos Diversos – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio
da Tarde, n° 139, 26.06.1861.
CORREIO MERCANTIL, N° 175. Notícias Diversas – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio
Mercantil, n° 175, 28.06.1861.
CORREIO MERCANTIL, N° 188. Notícias Diversas – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio
Mercantil, n° 188, 11.07.1861.
JDC, N° 177. Gazetilha – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Comércio, n°
177, 28.06.1861.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós
(IHGTAP)E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H