Quarta-feira, 10 de abril de 2024 - 08h00
Bagé,
10.04.2024
Naufrágio do “Prince of Wales” (5 a 08.06.1861)
Diário do Rio de Janeiro, n° 191
Rio de Janeiro, RJ – Domingo, 14.07.1861
Sinistros – Bem Desastrosa a Nossa Costa para a Navegação
no Decurso do mês de Junho
O 1°
naufrágio se deu com o brigue brasileiro “Guahyba”,
Capitão Francisco Paulino da Silva, em viagem do Rio de Janeiro para Porto
Alegre, no dia 2 de junho, no lugar denominado Lagoa do peixe, cerca de 60
milhas longe da Barra, morrendo o cozinheiro e o passageiro Joaquim José dos
Reis.
2° O patacho inglês “Hound”, na madrugada do dia 6; tendo-lhe faltado os ferros com o
grande temporal, veio à praia na Costa do Sul, 3 milhas longe da Barra;
salvando-se a tripulação.
3° Barca inglesa “Prince of Wales”, que se supõe ter naufragado no mesmo dia 6,
perdendo-se na Costa do Albardão no lugar denominado – Romeiro – cerca de 50
milhas longe da Barra. Morreu toda a tripulação, e por um papel que se
encontrou em um dos cadáveres [contrato de marinheiro] veio-se no conhecimento
do navio, o qual seguia de Glasgow para Montevidéu, com carga de fazendas e
louça.
4° Ultimamente o vapor de guerra “Paraguassú” naufragou na Costa do Estado
Oriental, no lugar denominado Olho d’Água. Julga-se ter apanhado o temporal de
23 para 24, que caiu nesses dias, e tendo aberto água, viu-se forçado a
procurar a praia para salvar sua tripulação; todavia morreram 5 pessoas,
escapando 90 e tantas.
Além disso, muitos navios que entraram neste
porto sofreram grandes avarias, e outros por milagre de Deus escaparam da praia
por terem sofrido fortíssimas travessias. (DRJ, Nº 191)
Fragata Britânica “HMS
Fort” (17.06.1862)
Dicionário Histórico-Biográfico
da Primeira República (1889-1930)
Alzira Alves de Abreu
[...] na noite de 17.06.1862,
três tripulantes da fragata inglesa “HMS
Forte”, vestidos à paisana, jantaram num hotel localizado no Alto da
Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, e, ao término da refeição, já embriagados,
caminharam em direção à cidade e molestaram diversas pessoas, entre elas a
sentinela de um destacamento policial.
Houve combate corporal, e os
estrangeiros foram detidos com a ajuda de outros soldados.
Um simples caso de arruaça se
transformou em um incidente diplomático, à medida que foi levado ao
conhecimento do embaixador inglês no Rio de Janeiro, William Dougal Christie,
que solicitou explicações junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Em 05.12.1862, o embaixador
Christie emitiu nota endereçada ao governo brasileiro, na qual requisitou que
fossem punidos os soldados do destacamento policial responsáveis pela prisão
dos tripulantes da fragata Forte, que fossem censurados o chefe de polícia e o
oficial que receberam os ingleses na prisão e os detiveram sob custódia durante
toda uma noite, bem como que fosse apresentado um pedido de desculpa oficial
por parte do governo brasileiro.
O Marquês de Abrantes, na época
Ministro das Relações Exteriores, recusou as exigências impostas pelo
embaixador Christie, e a contenda finalmente foi arbitrada pelo rei da Bélgica,
cujo laudo, favorável ao Brasil, foi entregue em importante audiência no
castelo de Laeken, residência oficial dos soberanos belgas, em 21.06.1863, aos
plenipotenciários de ambas as partes envolvidas na questão, sendo o
plenipotenciário brasileiro Joaquim Tomás do Amaral. (ALVES DE ABREU)
Foreign Office
British and Foreign State Papers (1863-1864)
London, 1869
O reporte remitido por Abrantes
incluía a versão dos feitos brindada pelos membros do destacamento da Tijuca:
1. Que na tarde de 17
de julho, após cear e tomar duas garrafas de vinho de Bordéus e meia garrafa de
conhaque no hotel de Robert Bennett na Tijuca, os três estrangeiros se
dirigiram para a cidade;
2. Que no caminho
molestaram aos transeuntes e trataram de desmontar a um ginete violentamente ao
tomar as rendas de seu cavalo;
3. Que às 19h00
chegaram na estação do destacamento e o chamado Clemenger deu uns passos até o
sentinela e o perguntou “O que estava
fazendo aí?”. Quando o sentinela lhe deu a ordem de retirar-se, Clemenger
começou a dar-lhe golpeadas pelo que o sentinela se defendeu com a coronha de
sua arma sem usar sua baioneta para não feri-lo e chamou a guarda;
4. Que a guarda fez
uso moderado da força para deter os estrangeiros que opuseram viva resistência;
5. Que uma vez detidos
no posto o comandante requereu seus nomes e que, ao não compreender a língua,
se utilizaram os serviços como tradutor do vizinho austríaco Rodolph Müller mas
os estrangeiros “optaram por não
responder as perguntas mostrando-se altivos e desdenhosos”;
6. Apesar de tudo, “foram tratados pelo comandante do
destacamento com a maior amabilidade e urbanidade, providenciando-os não só de
papel para escrever e cartas para jogar, mas também colocando a sua disposição
sua própria cama, a única na casa de guarda”;
7. Que se bem estes
três estrangeiros “não estavam
completamente embriagados, não pareciam estar em plena possessão de suas
faculdades mentais”;
8. Que ao dia seguinte
foram enviados ao Rio sem que o comandante soubesse ainda que eram oficiais
navais britânicos. Em sua chegada "não foram postos na prisão de escravos,
mas sim na de homens livres, onde também pode haver pessoas de cor já que,
segundo nossa legislação não existe nenhuma diferença nas condições de
encarceramento a causa desta condição". Tão logo como se conheceu sua
condição de oficiais, foram enviados de imediato para outro centro
penitenciário especial e logo para os quartéis dos corpos policiais. (FOREIGN
OFFICE, 1869)
Bibliografia
ALVES DE ABREU, Alzira. Dicionário histórico-biográfico da Primeira República (1889-1930) –
Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Editora CPDOC - FGV, 2015.
DRJ, Nº 191. Sinistros – Bem Desastrosa a Nossa Costa para a Navegação no Decurso do
mês de Junho – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Diário do Rio de Janeiro, n°
191, 14.07.1861.
FOREIGN OFFICE,
1864. HMS Fort – Inglaterra –
Londres – Foreign Office – British and Foreign State Papers, Volume LIV,
p.639/649, 1863/1864.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato
Grosso do Sul.
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós
(IHGTAP)E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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