Quarta-feira, 18 de outubro de 2023 - 06h20
Bagé, 18.10.2023
Por Cristian Mairesse Cavalheiro (*)
Existem pessoas que
apenas passam pelo mundo, outras... passarinho. Parafraseando nosso célebre poeta
Mário de Miranda Quintana, digo que o Coronel Hiram Reis e Silva é uma destas
pessoas que foram designadas pelo Grande Arquiteto do Universo para fazer a
diferença, para arriscar coisas grandiosas.
Tive a honra de
conhecê-lo, em 1990, e conviver com ele durante sete anos, como Tenente do
Exército do Centro de Informática Nr 3, e, sob seu comando, posso dizer que
aprendi muito da arte da liderança, da determinação, disciplina e camaradagem.
Nossa amizade persiste desde então.
Vários anos depois,
quando recebi seu e-mail, em 2007, informando que estaria planejando a primeira
descida, pelo Rio Solimões, na Amazônia, de pronto respondi, como bom soldado,
que estaria a postos para apoiá-lo, e na troca seguinte de e-mails, fomos às
lágrimas juntos.
Desvendar os “Mares de Dentro”, em busca da Terceira
Margem entre o céu e a terra, é mais um dos seus tantos feitos.
No seu Blog, “desafiandooriomar.blogspot.com”,
observa-se a grandeza do desafio físico e emocional de navegar com seu caiaque
“Cabo Horn” por mais de 13,5 mil quilômetros pelos principais afluentes do
Rio-Mar.
Sua força física e
mental foi forjada em profícuos anos de caserna, abrindo estradas, construindo
pontes, cursando o Curso de Operações na Selva, no CIGS, em Manaus, nas provas
de canoagem, no Mato Grosso do Sul, onde se sagrou campeão em 1989 e nas
corridas diárias.
Com um colesterol
inferior a 200 mg/dL e triglicerídeos abaixo de 150 mg/dL, este veterano faz
inveja a um atleta profissional, esbanjando energia e saúde aos 65 anos de
idade.
Este novo desafio de
Circunavegar a Laguna dos Patos, que outrora chamava apenas de um treinamento,
é mais outro feito onde durante 14 dias navegou por 567 km, uma média de uma
maratona por dia, no seu caiaque.
A leitura é muito
agradável, pois mistura literatura, poesia, história, tece curiosos comentários
sobre a fauna, a flora, o clima e a geografia, que fazem um chamamento à
responsabilidade social e ambiental, enaltece nossos heróis e nossa terra além
de reportar suas experiências náuticas em forma de um diário de bordo. Tudo
isto em um contexto muito simples, na trilogia do Homem, Caiaque e Laguna.
Duas características
sobressaem no Coronel Hiram: “resiliência”,
e “planejamento”, elevando sempre o
sarrafo ao máximo em tudo que faz. Segundo o dicionário, “resiliência” é um conceito oriundo da física, que se refere à
propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia, quando
exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Aliado ao “planejamento”, que é processo onde se
escolhe e organiza ações, antecipando os resultados esperados em busca de
alcançar objetivos pré-definidos.
Mesmo para um
navegador experiente, estudar os mapas e as cartas náuticas, levantar os pontos
de paradas ideais no terreno imaginário – marcando criteriosamente as
coordenadas e coordenar as ações dos grupos de apoio, não garante, por si só, o
sucesso na empreitada. Conta-se com o fator sorte e, sobretudo, com a
hospitalidade dos habitantes locais e dos irmãos navegadores, sempre muito
fácil para uma pessoa de alma e hábitos simples como os do Coronel Hiram.
Intercalando
calmarias com ondas, ventos, ciclones, bancos de areia, situações de sustos e
perigos, comendo massa crua, peixes e banquetes oferecidos pelos novos amigos
ribeirinhos, dormindo em barracas, casebres com água fria ou em pousadas com
água quente, sozinho ou com sua companheira Rosângela Maria de Vargas
Schardosim e amigos fiéis, comemorando aniversário, viradas de ano e natais
navegando, nada disso o impediu de manter firme o seu foco – Cumprir a Missão.
Observando as fotos e paisagens documentadas, sinto um misto de uma
nostalgia nunca vivida, encontrando a paz no alvorecer e o sabor e cheiros da
natureza e com tudo que o Coronel Hiram passou nestes anos todos navegando,
posso me orgulhar de ter ajudado um pouco a encorajá-lo respondendo àquele
primeiro e-mail.
(*) Cristian Mairesse Cavalheiro: 47 anos, gaúcho, graduado em Análise de Sistemas pela PUCRS, Pós-Graduado pela UFRGS e Mestre em Gestão em Negócios pela Unisinos, possui 27 anos de experiência em Tecnologia, tendo passagens como 1° Tenente Analista de Sistemas do Exército no 1° Centro de Telemática (CTA), sócio da Harppia Informática e hoje Chief Information Officer (CIO) e co-founder da Getnet S.A.
A Foz do Camaquã e São Lourenço, as águas, ora doces ora salgadas, os enormes bancos de areia, as margens da Laguna dos Patos e seu entorno estão impregnadas indelevelmente com as heroicas e arrojadas passagens de Giuseppe Garibaldi, e, por isso mesmo, dedicamos nossas jornadas pela Laguna dos Patos ao “Herói de dois Mundos”.
No dia 01.09.1838, Garibaldi foi nomeado Capitão-Tenente – Comandante da Marinha Farroupilha. Sem dispor de embarcações o Comandante precisava fabricá-las e construiu um pequeno estaleiro na Foz do Camaquã, alvo fácil para os imperiais. O ataque promovido, no dia 17.04.1839, pelo Coronel Francisco Pedro de Abreu, o célebre Moringue frustrou-se após o mesmo ter sido ferido no braço e enfrentar a brava resistência dos revolucionários. Três meses mais tarde, Moringue retornou e destruiu o estaleiro abandonado. Os bancos de areia da Laguna eram usados astutamente pelo Comandante italiano para fugir do ataque dos pesados navios de guerra inimigos. Ao se aproximar dos bancos, Garibaldi ordenava aos seus marinheiros:
– Avante, meus patos, saltemos à água!
E os meus patos caíam n’água e à força dos braços erguiam o lanchão, transportando-o para o outro lado do banco de areia. (GARIBALDI)
Garibaldi, como outrora tinha feito Imperador romano Marco Antônio, realizou ainda a formidável epopeia de transportar por água e por terra os lanchões Rio Pardo e Seival desde a Foz do Rio Capivari, na Laguna dos Patos, até a Barra do Rio Tramandaí.
Bibliografia
GARIBALDI, Giuseppe. Memorias de José Garibaldi – Brasil – Rio Grande, RS – Oficinas a vapor de “O Intransigente”, 1907)
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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