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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCLXXVI - Travessia da Laguna dos Patos – Parte VI


Fazenda Flor da Praia - Gente de Opinião
Fazenda Flor da Praia

Bagé, 15.12.2023 

Partida para a Fazenda Flor da Praia (20.09.2011)

Os amigos ficaram aguardando a balsa para transpor o Rio enquanto descíamos o Camaquã rumo à Casa Vermelha como a professora Vera Regina identifi­cara nosso próximo destino. O vento forte nos fez pro­curar abrigo na margem esquerda do Rio e chegamos à Foz sem grandes problemas. Iríamos enfrentar fortes ventos de proa, novamente, fiz uma parada interme­diária e aguardei o Hélio admirando e fotografando a vegetação do entorno. Quando decidi seguir rumo à Ponta do Vitoriano, meu suporte do leme partiu e comecei a sofrer problemas de navegação idênticos aos que, até então, afligiam somente ao professor Hélio.

Aproei diretamente para o Oriente forçando por demais a musculatura do braço e do ombro direito já que os ventos de SO formavam ondas de través que golpeavam primeiramente a alheta de Boreste ([1]) arrastando, em consequência, a proa do caiaque para a direita. Para manter o rumo eu precisava enterrar mais a pá direita do remo e aplicar uma força muito maior com braço direito. Depois de tentar, durante algum tempo, impingir uma rota fixa ao “Cabo Horn”, decidi remar naturalmente. Permitia que o caiaque fizesse uma longa curva, para a direita, na direção das ondas, afastando-me da margem e depois surfava até a costa aproveitando a energia das ondas de popa, era um ziguezaguear constante que, embora aumentasse a distância, me poupava o desgaste excessivo do braço direito.

A meio caminho entre a Foz do Camaquã e a Ponta do Vitoriano, avistamos uma boia de sinalização encalhada e depois, na Ponta do Vitoriano, mais outras duas. O Coronel Pastl me assegurou que, por mais de uma vez, havia reclamado às autoridades competentes, mas que até hoje nenhuma providência havia sido tomada, deixando os enormes e perigosos Bancos de Areia sem qualquer tipo de sinalização visual. Da Ponta do Vitoriano, avistamos a chaminé de uma antiga instalação do IRGA (31°12’03,08” S / 51°38’35,62” O) na Praia do Areal e, mais adiante, a tal Casa Vermelha mencionada pela amiga Vera Regina. O Hélio seguiu costeando e eu apontei a proa para a chaminé, surfando nas ondas de través, sem o leme, porém, o “Cabo Horn” continuava adernando lentamente para Boreste, dificultando um pouco a navegação.

Aportei nas proximidades da chaminé, junto a um grupo de pescadores que retirava o fruto de seu labor das redes. Estavam, já há algum tempo, instalados no complexo do IRGA e, como a instalação tinha sido vendida, recentemente, a particulares, eles teriam de abandonar o local. Combinei com o Hélio a próxima rota, diretamente para a Casa Vermelha e parti.

Aportei na Praia da tal Casa Vermelha ‒ Fazenda Flor da Praia (31°08’25,52” S / 51°37’06,92” O), e procurei alguém para me informar onde estariam meus parceiros. As instalações da fazenda eram impressio­nantes e achei que desta vez usufruiríamos de confor­táveis acomodações para o pernoite.

Ledo engano! O capataz, devidamente armado, apareceu muito tempo depois e nos informou que não recebera nenhuma ordem no sentido de nos hospedar e que nossos amigos deveriam estar mais adiante nas antigas instalações da fazenda onde acampavam, nor­malmente, os pescadores. Nesta altura, o Hélio e eu, muito cansados e encarangados tivemos, desolados, de nos resignar e continuar até a instalação indicada.

Acabei de falar com o Sr. Gabriel da Fazenda Flor da Praia, que nos autorizou a entrar na propriedade e acampar na beira da Praia. Peguei também uma Carta na 1ª DL, que nos dá a posição do local como: 31°07’42,27” S / 51°34’41,61” O. Há três prédios pela vista da Carta [galpões bem junto à Praia]. Como referência é mais ou menos o dobro da distância entre a raiz do Banco do Vitoriano e a chaminé do Engenho da Praia do Areal. (E-mail do Coronel Pastl – 16.09.2011)

O último lance, de aproximadamente 4 km, foi complicado para o Hélio que virou por mais de uma vez o caiaque golpeado pelas fortes ondas de través. Resol­vi picar a voga para não virar também e tentar conse­guir um barco de resgate com algum pescador. Cheguei à Praia (31°07’44,38” S/51°34’41,57” O) onde avistei os netos do Coronel Pastl, que me informaram que só eles estavam ocupando as instalações, portanto não havia nada a ser feito a não ser aguardar o Hélio chegar. O parceiro chegou a pé, algum tempo depois, havia deixado o caiaque escondido em uma vala.

São Pedro de Cafarnaum x Sr. Pedro de Camaquã

Por isso Eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la. (São Mateus, 16, 18)

Até então São Pedro de Cafarnaum ([2]), o “Prín­cipe dos Apóstolos”, conhecido também como “Porteiro do Céu”, “Padroeiro dos Pescadores” e, sobretudo, “Manda-chuva” tinha imposto à nossa travessia todo o tipo de obstáculos e dificuldades.

Dificuldades essas que foram amenizadas, em grande parte, com a chegada de seu xará, o Senhor Pedro de Camaquã ([3]). Os amigos brigadianos de Camaquã, comandados pelo Sargento PM Juliano Gajo, atendendo ao pedido do Coronel Pastl que solicitara a indicação de um vaqueano da região, conhecedor não somente dos locais de paragem ao longo da Laguna dos Patos, mas que fosse prestativo e tivesse livre trânsito entre os moradores locais, chegaram, finalmente, ao amigo Pedro graças à indicação de seu sobrinho Jose­mar Rosa de Sousa. Raramente em minha seis décadas de vida tive a oportunidade de conhecer uma pessoa mais afável, criativa e solícita.

O Mestre Pedro só sossegou depois de resgatar o caiaque do Hélio que tinha ficado na margem. A ope­ração, que se estendeu noite adentro, enfrentou por­teiras fechadas a cadeado e com isso a equipe formada pelo Sr. Pedro, Professor Hélio, Coronel Pastl e seus dois netos teve de carregar por quase três quilômetros, o caiaque até o reboque antes de transportá-lo ao acantonamento. Em Porto Alegre, haviam adaptado um leme no caiaque do Hélio que não estava sendo utili­zado porque o tinham colocado totalmente fora do alinhamento além de perfurarem o casco. O Pedro resolveu então substituir o meu suporte do leme quebrado pelo do caiaque do Hélio e só retornou à sua cidade depois de concretizar sua missão.

A colocação resolveria meu problema de nave­gação, mas o professor Hélio continuaria enfrentando mais surpresas pela frente. A noite foi longa, a residên­cia não tinha portas nem janelas e o vento frio casti­gou-nos durante toda a noite. O saco de dormir esten­dido diretamente sobre o piso duro também não era nada confortável. Saímos depois das sete horas para permitir que o Sol aquecesse um pouco o ambiente e secasse nossas roupas de viagem. O Cel Pastl partiu com os netos prometendo deixar acertado nosso per­noite nas instalações do destacamento da Brigada Mili­tar de Arambaré.

Partida da Fazenda Flor da Praia (21.09.2011)

Indescritível o cenário e a hospitalidade na Costa Oeste. Somente conhecendo o povo, especialmente na Fazenda Flor da Praia e na Ilha do Camaquã, e os brigadianos da região para aquilatar.

O tempo atrasou nossos nautas entre o Laranjal e a Feitoria, que chegaram apenas domingo à tarde em São Lourenço. Segunda-feira rumaram ao Camaquã, na Ilha Santo Antônio, onde tivemos apoio do Sr. Pedro Auso e sua Senhora, Professora Vera, pessoas de fino trato e robustas nas aventuras de caiaque pelas águas do Rio Grande.

Na terça, chegaram os nautas, com luta, quebra de leme, capotagens no “ventão” até a Fazenda Flor da Praia, e hoje em Arambaré.

Amanhã irão a Tapes, onde haverá pausa até sába­do, quando partirão para a Ilha Barba Negra. Vamos contar com o Major Vitor Hugo e o Major Nunes nes­ta perna da jornada. Breve mandaremos relatos mais completos. Por enquanto, muito obrigado, vocês são mesmo pessoas muito importantes e boas apoiando este Projeto. (Cel Pastl)

Iniciamos nossa remada até o Banco da Dona Maria imprimindo um ritmo forte e constante de 4 nós (7,2 km/h). Fizemos uma parada intermediária em um ponto de captação d’água para as plantações de arroz (31°06’10,73” S / 51°30’05,34” O), a vegetação nativa esbanjava beleza com inúmeras bromélias e orquídeas, e a grande quantidade de pegadas de pequenos ani­mais na areia e nas trilhas mostrava que ali a natureza se encontrava em perfeito equilíbrio. Descansados, con­tinuamos nossa navegação e, mais adiante, passamos por umas ruínas mencionadas pelo Sr. Pedro Auso. O Pedro já acampara nessas ruínas uma vez aproveitando a proteção da construção de alvenaria. Paramos na Ponta da Dona Maria e mostrei para o Hélio o canal de acesso à Lagoa do Graxaim em cujas margens se encontra o Povoado de Santa Rita do Sul. O Sol forte e os ventos fracos contrastavam com as condições climáticas que enfrentáramos até então. Aportamos na Boca da Lagoa do Graxaim (31°03’50,74” S / 51°28’01,12” O) onde consegui me comunicar com o pessoal de apoio.

As grandes Garças Mouras e um descuidado João Grande pescavam despreocupadamente à margem da Lagoa, parecendo não notar nossa presença. Continuamos costeando e admirando a mata nativa e as belas figueiras encasteladas nas enormes dunas de areia. Um conjunto, em especial, chamou-me a atenção e paramos para escalar as dunas e admirar as figueiras, totalmente tomadas pelas bromélias e orquídeas (31°01’36,10” S / 51°29’08,72” O). Os monumentos arbóreos (Fícus Organensis) tinham cravado suas raízes nas voláteis e alvas areias tentando, em vão, equili­brar-se enquanto as areias lenta, inexorável e crimino­samente escoavam duna abaixo expondo mais e mais as magníficas fundações das centenárias figueiras.

A beleza do entorno era fantástica, infelizmente minha máquina fotográfica emperrara e eu não pude materializar a bela paisagem que nos cercava. Partimos para Arambaré e topamos no caminho com algumas lontras ariscas (Foz do Arroio do Brejo ‒ 30°57’08,06” S / 51°29’56,00” O) que nadavam com muita graça em busca de suas presas e, logo adiante, vislumbramos, ao longe, a chaminé do antigo complexo do Hotel e Engenho da Família Cibils que, na década de 40 e 50, era o esteio da economia do Município. Admiramos a bela Praia da Costa Doce de aproximadamente 6 km de extensão de muita beleza e entramos no Arroio Velhaco que nasce na cidade de S. Jerônimo. Aportamos no Clube Náutico (30°54’38,01” S / 51°29’47,50” O) onde estacionamos nossos caiaques e fomos procurar abrigo junto ao Destacamento da Brigada Militar. Fomos gen­tilmente recebidos pelo Soldado PM Paulo que, depois de nos instalar nas dependências do Destacamento, levou-nos até o Posto de Saúde para que o Professor Hélio fosse atendido. O Hélio estava com uma infecção no tornozelo e foi prontamente atendido e medicado nas instalações impecáveis do Posto.

Fizemos ainda um pequeno “tour” pela cidade para conhecer parte das quase duzentas figueiras cadastradas no perímetro urbano (Capital das Figueiras), e a maior figueira do estado ‒ a “Figueira da Paz” com uma copa de 50 m de raio, um tronco de 12 m de circunferência, 140 m de perímetro e idade estimada entre 400 e 700 anos. Às belas figueiras urbanas e domesticadas falta, no entanto, o encanto das selvagens e fundamentalmente a magia da beleza agreste do seu entorno. A luta constante contra as intempéries empresta àquelas um charme impregnado de poesia e coragem que as suas irmãs citadinas ignoram.

À noite, o Sr. Pedro Auso apareceu com o leme de seu caiaque para adaptá-lo no caiaque do professor Hélio. Teríamos apenas que regulá-lo na margem de acordo com o ângulo de incidência das ondas de través.

Histórico de Arambaré

Inicialmente chamava-se “Barra do Velhaco”, por estar situada na Foz do Arroio Velhaco. Em 1938, passou a denominar-se “Paraguassu” e, em 1945, adotou o nome de “Arambaré”, que quer dizer “o as­cerdote que espalha luz”. Nesta localidade, conhecida desde os tempos coloniais de 1714, moravam índios com costumes especiais ‒ pescadores e comerciantes de peles que tinham mãos e pés bem desenvolvidos. Eram os índios Arachas, também conhecidos como Arachanes ou Arachãs, que na língua Tupi significa patos” ([4]). Por volta de 1763, casais açorianos vin­dos para o Sul estabeleceram-se na margem esquer­da do estuário do Guaíba e na margem direita da Lagoa dos Patos, fundando fazendas e charqueadas até o Rio Camaquã. Desde essa época, os habitantes do então Distrito de Arambaré uniram-se na busca do desenvolvimento através da agricultura, da pecuária e, sobretudo pelo grande potencial turístico e pela beleza natural da localidade, emancipada em 20.03.1992 [...]. (Fonte: www.portalarambare.rs.­gov.br)

Arachanes

Ninguém deve criminalizar o historiador que merecer boa-fé, quando emprega todas as diligências para se informar; mas merece grande censura aquele que por preguiça ou por espírito de partido não relata, ou desfigura fatos verdadeiros em desabono de alguma corporação ou de qualquer homem particular. (MATTOS)

Nas lagunares jornadas pelos “Mares de Dentro” tive a oportunidade de conhecer a aprazível cidade de Arambaré, na costa Ocidental da Laguna dos Patos, e desfrutar do carinho e da amizade de sua amável popu­lação. As expedições permitem-me conhecer um pouco da história, costumes e lendas locais colhendo infor­mações “in loco” com ribeirinhos e pesquisadores da região. Eventualmente encontramos algumas distorções que procuramos corrigir a luz da ciência ou através do relato de renomados historiadores pretéritos e foi o que aconteceu quando nos deparamos, no site da Prefeitura de Arambaré, com um equivocado “Histórico” que afir­ma textualmente:

[...] Eram os índios Arachas, também conhecidos como Arachanes ou Arachãs, que na língua Tupi significa “patos”. [...].

Valemo-nos da obra do insigne sacerdote jesuíta peruano Antonio Ruiz de Montoya (1585 - 1652) nota­vel por sua grande contribuição literária e importante trabalho missionário para afirmar que:

Ipeg, Ypek. [îpek] [bate n’água]: nadador; pato, vo­cábulo peg = nadar, vocábulo pepeg = bater; este nome é dado a aves diferentes, sempre nadadoras. (MONTOYA)

O site da Prefeitura de Arambaré, como tantos outros, demonstra como diversos pesquisadores desin­formados teimam em afirmar que “Arachanes”, na língua Tupi, significa “Patos”, uma errônea colocação sem qualquer fundamento linguístico ou antropológico. “Arachanes” significa “Povo Oriental”, “Povo da Alvora­da”, “Povo do Alvorecer”. Reforçando essa assertiva va­mos reproduzir alguns parágrafos de obras de historia­dores consagrados desde o longínquo pretérito.

Relatos Pretéritos – Significado de Arachanes

Ruy Díaz de Guzmán (1612)

Guzmán, considerado o primeiro historiador da Região do Prata, nasceu em Assunção, Paraguai, nos idos de 1558 a 1560, e faleceu, a 17.06.1629, na mês­ma cidade. Na obra intitulada “Historia Argentina del Descubrimiento, Población y Conquista de las Provincias del Río de la Plata”, editada em 1612, menciona uma etnia denominada Arachanes e o significado do vocábulo:

Arachanes. Nombre de los Guaraníes en el Río Grande; gente dispuesta y corpulenta; con el cabello revuelto y encrespado por arriba; están en continua guerra con los Charrúas y los Guayanás. [Esta nación ya no existe. Su nombre expresa el lugar que ocupaban con respecto a los demás Guaraníes. Ara es día, y chane, el que vé ([5]). Así, pues, Arachanes, es un pueblo que vé ([6]) asomar el día, es decir un “Pueblo Oriental”.] (GUZMÁN)

Pedro de Angelis (1836)

O historiador italiano Pedro de Angelis, nasceu em Nápoles, Itália, a 29.06.1784, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, a 10.02.1859. De Angelis É considera­do como uma das primeiras e mais importantes figuras da historiografia argentina. Para reforçar nossa afir­mação a respeito do real significado do termo “Aracha­nes” vamos reproduzir um parágrafo da sua obra “Colección de Obras y Documentos Relativos a la Historia Antigua y Moderna de las Provincias del Río de la Plata” (Buenos Aires, 1836):

Arachanes. Nombre de los Guaraníes en el Río Grande; gente dispuesta y corpulenta; con el cabello revuelto y encrespado por arriba; están en continua guerra con los Charruas y los Guayanás. Esta nación ya no existe. Su nombre expresa el lugar que ocupaban con respecto á los demás Guaraníes. “Ara” es día, y “chane”, el que vé. Así pues, Arachanes, es un pueblo que vé asomar el día, es decir un “Pueblo Oriental”. (ANGELIS)

Alejandro M. Cervantes e Vega (1852)

Cervantes e Veja no livro “Celiar: Leyenda Ame­ricana en Variedad de Metros” ratificam a colocação de Guzmán e Angelis:

Charruas. […] Esa constancia con que han combati­do à la par contra los españoles y sus descendientes, y contra los Arachanes, induce á creer que los consi­deraban como á un solo enemigo por la identidad del nombre: pues que “Arachan” en Guaraní significa pueblo que vé asomar el día, es decir, “Pueblo Oriental”. Ara”, día, “Chane”, el que vé. (CERVANTES & VEGA)

Relatos Pretéritos e Hodiernos – Arachanes

O antropólogo e escritor uruguaio Daniel Darío Vidart Bartzabal (nascido em Paysandú, Uruguai, a 07.10.1920, entretanto, no seu “El mundo de los Charruas” refuta a própria existência dos Arachanes:

Daniel Darío Vidart Bartzabal 1920

[...] los arachanes, que jamás poblaron otro territo­rio que no fuera el de la imaginación, no son otra cosa que un ectoplasma histórico, o sea un invento, como tantos otros, de Ruy Díaz de Guzmán.

Ruy Díaz de Guzmán (1612)

Guzmán, por sua vez:

Charruas. Indios del territorio oriental; están en continua guerra con los Arachanes. […]

Guaraní. Guaraní. Una de las naciones más grandes y belicosas del Nuevo Mundo. Había más de 20.000 en las orillas del Río Grande. Donde se llamaban Arachanes; hablan el mismo idioma, y traen el cabello revuelto y encrespado por arriba.

Es gente muy dispuesta y corpulenta, que está en continua guerra con los Charrúas y los Guayanás. Más de 100.000 viven en las inmediaciones de la Laguna de los Patos; gente tratable y amiga de los españoles. […]

Los Timbús, los Agaces, los Caracarás, los Payaguás, eran ramas del mismo tronco, y cuyo idioma hablaban los Carios y Arachanes en el Brasil; los Chiquitos y Chiriguanos en el Perú. […]

Guayanas. Indios de tierra adentro; están en continua guerra con los Arachanes. Nombre que se da a todos los que no son Guaraníes, y que no tienen nombre propio. […] (GUZMÁN)

Padre Pedro Lozano (1753)

Lozano foi um historiador da Ordem Jesuítica que nasceu na cidade de Madri, em 16.06.1697, e faleceu, a 08.02.1752, em Humahuaca (hoje norte da Argentina). O Padre Lozano no Tomo Primeiro da “Historia de la Conquista del Paraguay, Rio de la Plata y Tucuman” concorda com Guzmán corroborando a tese da existência dos Arachanese:

En frente de su boca tiene una isla pequeña que la encubre; pero en lo interior es seguro y anchuroso ([7]), entendiéndose en forma de Lago, por lo cual algunos le llaman la Laguna. Fórmase de dos grandes Ríos, llamados Cayyi é Igai, que corren de Norte á Sur, naciendo de las sierras que llaman del Tapé ([8]), y finalmente se vienen á encontrar en altura de treinta grados, después, de haber discurrido largamente por lo interior del país y recogido en sí otros Ríos de menos nombre.

Las riberas fértiles de este gran Río las poblaban, antes de las invasiones de los mamelucos, más de veinte mil indios Guaraníes que llamaban Arachanes, no porque en las costumbres e idioma se diferenciasen de los demás de aquella nación, sino porque traían revuelto y encrespado el cabello: era gente bien dispuesta, corpulenta y muy belicosa, ejercitando de continuo las armas con la nación de los Charrúas que poblaban las costas del Río de la Plata, y con los Guayarás de tierra adentro. (LOZANO)

O Cônego João Pedro Gay na sua “História da República Jesuítica do Paraguai”, editada em 1862, reporta-nos, baseado no livro de Ruy Díaz de Guzmán:

Capítulo XXIII – Geografia das Missões Jesuíticas do Paraguai

Artigo II – & 8° – Descrição das referidas Bacias e de seus territórios extraída de um livro que foi escrito no ano de 1612, onde se vê o que eram as Províncias do Rio Grande do Sul, de Santo Catarina, de Mato Grosso etc. [...]

[...] O segundo é o Rio Grande que dista sessenta léguas do Rio da Prata. Sua entrada oferece dificuldades por causa da grande correnteza com que este Rio entra no mar, mas tendo-se entrado nele é seguro e grande e se estende como um Lago; sua entrada é escondida por uma ilha que a encobre.

Em suas margens estão estabelecidos mais de vinte mil índios Guaranis, que em aquela terra chamam Arachanes, não porque em seus usos, costumes e linguagem se diferenciem dos índios da nação Guarani, senão porque trazem o cabelo alçado, encrespado para cima. É gente corpulenta e bem parecida que tem frequentemente guerra com os Charruas do Rio da Prata, e com outros índios que moram no interior chamados Guayanás, se bem que este nome se dá à todos os índios que não são Guaranis o que não tem nome próprio. (GAY)

Ángel Juan Zanón (1998)

Zanón em “Pueblos y culturas aborígenes del Uruguay: Charrúas, Minuanes, Chanáes, Guaraníes” confirma a existência dos Arachanes:

Los Tapuyas antropológicamente eran más altos que los Guaraníes, de piel más oscura y constituían una etnia sumamente numerosa. El mestizaje generado por los Guaraníes con los Tapuyas según estudios históricos y arqueológicos dejan entrever que los Arachanes presumiblemente sean sus descendientes. (ZANÓN)

Imaginário Arachane

Si nos llamamos descendientes de los Charrúas sin poseer generalizados rastros de aquella etnia es porque el mito, asumido por buena parte del pueblo uruguayo, se remite a un paradigma simbólico y no a un antepasado fáctico. (Daniel Vidart)

O consultor e escritor Hugo W. Arostegui, escreveu em seu Blog (hugoaros.blogspot.com.br), no dia 04.06.2016, o artigo “Los Arachanes”, do qual ex­traímos uma parte interessante intitulada “Imaginario Popular Uruguayo sobre los Arachanes”:

Cierta leyenda habla de un grupo de personas que habiendo cruzado el océano Pacífico, 2000 años antes de Cristo, llegaron a las costas del Atlántico, después de peregrinar desde los Andes en Chile.

El punto final del viaje se halla en las inmediaciones de la Fortaleza de Santa Teresa, en el lugar conocido como Cerro Verde. En base a Díaz de Guzmán y a los hallazgos ([9]) en los cerritos de indios se supone que los Arachanes se diferenciaron siempre de las demás tribus de la región, por su aspecto corpulento y alta estatura, que eran sedentarios y construyeron casas circulares de piedras con techos ([10]) de madera y paja ([11]), auténticos quinchos sobre túmulos artificiales.

Los edificios comunitarios o públicos, poseían una estructura cuadrada o rectangular doble. También se suele denominar “Arachanes” a los habitantes del departamento de Cerro Largo. (AROSTEGUI)

Bibliografia:

 

AROSTEGUI, Hugo W. Los Arachanes – Uruguai – Rivera – Blog: hugoaros.blogspot.com.br/2016/06/los-arachanes.html – 04.06.2016.

CERVANTES & VEGA, Alejandro Magariños & Ventura de la. Celiar: Leyenda Americana en Variedad de Metros ‒ Espanha ‒ Madri ‒ Establecimiento Tipográfico de D. F. de P. Mellado, 1852.

GAY, João Pedro. História da República Jesuítica do Paraguai – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Revista Trimensal do Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Brasil – Tomo XXVI – Tipografia de D. Luiz dos Santos, 1863.

GUZMÁN, Ruy Díaz de. Historia Argentina del Descubrimiento, Población y Conquista de las Provincias del Río de la Plata (1612) – Argentina – Buenos Aires – Imprenta Del Estado, 1835.

LOZANO, Padre Pedro. Historia de la Conquista del Paraguay, Rio de la Plata y Tucuman ‒ Tomo Primeiro ‒ Argentina ‒ Buenos Aires ‒ Casa Editora Imprenta Popular, 1874.

MATTOS, Marechal Raymundo José da Cunha. Dissertação Acerca do Sistema de Escrever a História Antiga e Moderna do Império do Brasil ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Revista Trimensal do Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Brasil ‒ Tomo XXVI ‒ Tipografia de D. Luiz dos Santos, 1863.

MONTOYA, Padre Antonio Ruiz de. Vocabulário das Palavras Guaranis Usadas pelo Traductor da Conquista Espiritual – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro (1879/1880) – Vol. VII – Typ. Leuzinger & Filhos, 1879.

ZANÓN, Ángel Juan. Pueblos y Culturas Aborígenes del Uruguay: Charrúas, Minuanes, Chanáes, Guaraníes – Uruguai – Montevidéu – Rosebud Ediciones, 1998.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]    Alheta de Boreste: popa de Boreste (lado direito). (Hiram Reis)

[2]    Cafarnaum: Aldeia de Naum. (Hiram Reis)

[3]    Camaquã: Rio Correntoso. (Hiram Reis)

[4]    Patos: pato em Tupi é ipeg. (Hiram Reis)

[5]    El que vê: o que vê. (Hiram Reis)

[6]    Pueblo que vê: pessoas que vêem. (Hiram Reis)

[7]    Anchuroso: amplo. (Hiram Reis)

[8]    Tapé: Tapes. (Hiram Reis)

[9]    Hallazgos: achados. (Hiram Reis)

[10]  Techos: telhados. (Hiram Reis)

[11]  Paja: palha. (Hiram Reis)

Galeria de Imagens

  • Fazenda Flor da Praia
    Fazenda Flor da Praia
  • Ponto de Captação D’água
    Ponto de Captação D’água
  • Figueiras
    Figueiras
  • Dunas
    Dunas
  •  Antigo Engenho da Família Cibils – Arambaré, RS
    Antigo Engenho da Família Cibils – Arambaré, RS
  • Figueira da Paz
    Figueira da Paz

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