Segunda-feira, 18 de dezembro de 2023 - 14h26
Bagé, 18.12.2023
Partida da Capital das Figueiras
(22.09.2011)
Partimos cedo
contando mais uma vez com o apoio dos valorosos amigos brigadianos. As
condições atmosféricas eram favoráveis e chegamos em tempo recorde aos Banco
dos Desertores onde o amigo Pedro Auso eventualmente acampa (30°52’43,87” S /
51°23’22,13” O). Infelizmente alguns campistas ignorantes fazem fogo junto às
raízes das seculares figueiras que hoje dão visíveis sinais de fragilidade e
dentro em breve tombarão vítimas silentes da inconsequência humana.
Ultrapassamos o
Banco dos Desertores e aproamos Norte penetrando na enorme enseada conhecida
como “Saco de Tapes”.
Os
bosques de pinus, ao longe, não respeitam as cercas, frágeis lindes
artificiais, e estão invadindo, lentamente, as áreas de mata nativa,
alastrando-se pelas areias brancas das dunas.
Como
os hunos de outrora, as silentes hordas bárbaras sufocam e padronizam com sua
intensa monotonia os belos campos. Indefesas figueiras prestes a serem
sufocadas pelos rudes pinheiros aguardam mudas, estáticas, as impiedosas
mortalhas que avassaladoras se aproximam. Outros sinais fatídicos da presença
humana se fazem presentes na poluição das águas, o mau cheiro e a espuma
flutuando na superfície marcam sua presença.
A grande
enseada, conhecida como Saco de Tapes, que protege a cidade de poluições de
outros centros não permite esconder o descaso dos seus gestores em relação ao
sagrado manancial que poluem sem qualquer critério, um crime ambiental para um
povoado que se propõe a abrigar um balneário turístico às margens da Laguna. Encontramos,
numa das paradas, uma pequena tartaruguinha que tentava nadar nas águas sujas e
agitadas, capturei-a e deixei-a em um pequeno afluente mais limpo e calmo. O
Cel Pastl enviou e seguinte e-mail:
Chegaram hoje às 15h00 em Tapes os nautas, que tiveram ontem novamente o inestimável apoio do Sr. Pedro Auso de Camaquã, bem como da guarnição da BM de Arambaré, destacando-se o Sd PM Paulo, Sd PM Lima e o Sd PM Guastuci. Pernoitaram e fizeram as refeições no Destacamento, e o Sd PM Guastuci gentilmente despachou o material de dormitório e cozinha hoje pelo ônibus para Tapes, onde o apanhei às 16h00. No Clube Náutico Tapense fizeram uma refeição forte no Restaurante do Sr. Roger, e hospedaram-se na casa de veraneio da Nara e do Valmir [irmão da Aninha], no Balneário Pinvest. (E-mail do Coronel Pastl – 22.09.2011)
Histórico de Tapes
Por volta de 1808, atraídos pela fertilidade do solo e pela abundância das pastagens da região, imigrantes açorianos estabeleceram-se na área, instalando estâncias e charqueadas que foram a base da economia local por algum tempo. Posteriormente, decorrentes da própria configuração geográfica, desenvolveram-se a prática da agricultura e da pecuária que constituem atualmente a principais riquezas do Município.
Mesclado com a cultura indígena, os açorianos e negros, seguidos dos imigrantes, desenvolveram aqui suas tradições, seus usos e costumes que hoje ainda fazem parte do nosso cotidiano. Em 1824, Patrício Vieira Rodrigues adquiriu a antiga Sesmaria de Nossa Senhora do Carmo. No ano seguinte, estabeleceu uma charqueada na Foz de um Arroio na Lagoa dos Patos, e passou a chamar-se Arroio da Charqueada. Em função desta atividade é criado, no local, um Porto, que deu origem à Cidade de Tapes. A primeira sede do Município, denominada Freguesia de N. Sr.ª das Dores de Camaquã, foi criada dia 29.08.1833. Sua emancipação política e administrativa ocorreu em 12.05.1857, mas, por questões políticas ou econômicas, a Freguesia passava a integrar ora no território de Porto Alegre, ora de Camaquã, chegando inclusive a pertencer a Triunfo e Rio Pardo. Em 16.12.1857, foi elevada à categoria de Vila, sendo esta a data considerada como a de emancipação política do Município.
Em 25.06.1913, o Município desincorporou-se definitivamente de Porto Alegre e, em 22.05.1929, através de um plebiscito, foi realizada a transferência da Sede da Vila de Nossa Senhora das Dores para o Porto de Tapes, então 2° Distrito. Posteriormente, o Decreto n° 10 de 21.09.1929 muda o nome de “Município de Dores de Camaquã” para “Município de Tapes”, sendo Primeiro Intendente o Sr. Manoel Dias Ferreira Pinto. (www.riogrande.com.br)
Partida da Namorada da Lagoa (24.09.2011)
Amanhã deverão repousar e partirão sábado às 05h30, em direção ao Acampamento do Sr. Willi [Capão da Lancha], farão a travessia dos caiaques pela areia da restinga do pontal, e prosseguirão costeando ao Norte em direção à Ilha da Barba Negra.
De outra banda, o Comandante Vitor Hugo com este colaborador e o Major Nunes partiremos às 08h00 de sábado no impecável “Marbe 24” do Comandante Vitor em direção contrária, estimando o Vitor Hugo cinco horas até Itapuã e mais duas horas e meia até o Morro da Formiga, a partir de onde iremos descendo, costeando ao Sul. Combinei com o Cmt Hiram que ao crepúsculo, se ainda não tivermos nos encontrado, que ele aportará à terra, e nós prosseguiremos com as luzes acesas no veleiro, e então ele lançará sinalizadores ao nos avistar. (E-mail do Coronel Pastl – 22.09.2011)
Tínhamos tentado passar a noite, véspera da partida, no veleiro do Coronel Pastl, mas os fortes vemtos e as marolas tornaram isso impossível. Partimos nates das 06h00, depois de pernoitar na sauna do Clube Náutico Tapense. Os ventos de Este, de 15 nós (
A marcação pelo GPS (30°44’33,30” S / 51°17’48,25” O) não podia ser mais precisa. No ponto de travessia terrestre havia um pequeno rebaixamento que certamente, nas grandes cheias, permite a passagem das águas da Laguna dos Patos até o Saco de Tapes. Carregamos os caiaques e as tralhas pelo estreito até a Costa Ocidental da Laguna, parodiando, numa escala infinitamente menor, a travessia realizada, em junho de 1839, de Giuseppe Garibaldi, desde a Foz Rio Capivari, na Lagoa do Casamento, até a Barra do Rio Tramandaí.
Concluída a passagem, reportamos ao Cel Pastl nossa localização. O Coronel Pastl e o Comandante Vitor Hugo estavam ultimando os preparativos para zarpar do Clube Náutico Itapuã a bordo do “Marbe 24”.
A navegação transcorreu favoravelmente até as 13h00 quando atracamos a uns quatro quilômetros do ponto previsto para nosso acampamento. Mantendo este ritmo, conseguiríamos ultrapassar em uns
A exatos 999 m do nosso destino, o caiaque do Hélio virou e ele resolveu rebocá-lo pela margem até o ponto de encontro com a equipe de apoio. Brinquei com o professor que a culpa era da numerologia, escrevi a distância que faltava na areia e pedindo que ele a lesse mantendo-se de frente para mim (666).
Apocalipse – Capítulo 13
16 E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas,
17 Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.
18 Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis [666]. (BÍBLIA SAGRADA)
Naveguei vigorosamente até o local previsto, estacionei o caiaque e peguei uma corda para ajudar a rebocar o caiaque do Hélio. Amarrei a corda nas alças de proa e popa e inclinei o caiaque 45° com a direção das ondas e deixei que elas o empurrassem até o acampamento. Carregamos, exaustivamente, toras de lenha seca durante três horas para usar como sinalização para a equipe de apoio que infelizmente não apareceu.
Improvisamos um acampamento no alto de uma duna parcialmente protegido dos ventos. Passei a noite inteira alimentando uma pequena fogueira para nos aquecer e, vez por outra, subia até o topo da elevação para ver se avistava as luzes da embarcação da equipe de apoio. Levantei antes de o Sol raiar e chamei o Hélio para iniciarmos os preparativos para vencer o último lance de nossa travessia.
Os ventos de Este continuavam vigorosos e o Hélio teve de parar logo à frente. A popa do caiaque, enfraquecida pelos quatro furos feitos para a colocação do leme improvisado, tinham enfraquecido a estrutura e apresentava uma fissura pela qual a água entrava com facilidade.
Não havia mais condições de o parceiro continuar naquelas condições.
Subi até a duna mais alta e, como na tarde e noite anterior, não consegui contatar a equipe de apoio, reportei, então, ao amigo Pedro Auso nossa situação que me assegurou que tomaria alguma providência.
No final de todo o imbróglio tivemos de deixar o caiaque, pilotado pelo professor Hélio, escondido nas dunas para ser resgatado futuramente.
O “Cabo Horn” foi tracionado pelo “Marbe 24” que teve de lançar mão do motor de popa para vencer os ventos de proa.
Mais uma vez o “Cabo Horn”, da Opium FiberGlass, que durante todo o percurso dera mostras de sua extrema estabilidade ao enfrentar ondas de todos os tipos e tamanhos, percorreu durante quase três horas o percurso até o Morro da Formiga sem apresentar qualquer tipo de dificuldade no seu controle, mesmo enfrentando ondas superiores a 2 metros.
No Morro da Formiga, no acampamento dos amigos pescadores, encontramos o Pedro Auso e sua esposa Vera Regina que se deslocaram especialmente de Camaquã para nos conduzir até o Destacamento da Brigada Militar de Barra do Ribeiro, onde fui resgatado pela Rosângela.
Analogias à Parte
(Maria Augusta Sá)
Mete-te no teu caiaque
E sem medo faz-te ao Rio
E sente no coração um baque
E a adrenalina de fio a pavio...
E grita e tuas emoções liberta,
Vence um e mais outro rápido
Até chegares a zona aberta
Onde o Rio para perdido... [...]
Nossa jornada e a de Garibaldi tiveram trechos comuns como a Laguna dos Patos, a Foz do Camaquã e uma pequena travessia terrestre. Uma das embarcações de Garibaldi, o Farroupilha, naufragou antes de completar a missão de atingir Laguna, o mesmo acontecendo com o caiaque pilotado pelo professor Hélio que avariado não chegou até o Guaíba.
O apelo histórico talvez tenha sido forte demais e tenha interposto obstáculos adicionais à consecução de nossa proeza. Esse, contudo, foi apenas um treinamento para que, em abril do ano que vem (2012), possamos realizar uma travessia, sem surpresas, em homenagem ao Centenário do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA).
Estamos envidando esforços de todo tipo para que o Professor Hélio consiga, para a travessia de abril de 2012, um caiaque oceânico modelo “Cabo Horn”. Isto evitaria surpresas e um desgaste físico desnecessário, já que este modelo é, sem sombras de dúvida, o caiaque ideal para enfrentar a Laguna dos Patos e suas condições meteorológicas adversas.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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