Quarta-feira, 20 de dezembro de 2023 - 06h09
Bagé, 20.12.2023
A Canoa Fantástica
(Castro Alves)
Pelas sombras temerosas
Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai
ao certo ou vai à toa?
Semelha um tronco gigante
De palmeira, que se escoa...
No dorso da correnteza,
Como
boia esta canoa!
Mas não branqueja-lhe a
vela!
N’água o remo não ressoa!
Serão fantasmas que descem
Na
solitária canoa?
Que vulto é este sombrio
Gelado, imóvel, na proa?
Dir-se-ia o gênio das
sombras
Do
inferno sobre a canoa!
Foi visão? Pobre criança!
À luz, que dos astros coa ([1]),
É teu, Maria, o cadáver,
Que
desce nesta canoa?
Caída, pálida, branca!
Não há quem dela se doa?!
Vão-lhe os cabelos a rastos
Pela
esteira da canoa!
E as flores róseas dos
golfos,
‒ Pobres flores da Lagoa,
Enrolam-se em seus cabelos
E vão seguindo a canoa!
Na última Travessia
tínhamos sido forçados a abandonar o caiaque pilotado pelo Professor Hélio, na
Costa de Santo Antônio (30°29’44,2” S / 51°16’23,5” O), entre o Pontal de Tapes
e o Morro da Formiga. Estávamos aguardando a manutenção do veleiro do Coronel
Pastl para resgatá-lo, mas os adiamentos sucessivos aumentavam a probabilidade
de não mais encontrarmos nossa velha nau.
Havia comprado o “Anaico”, da KTM, na década de 80, e com
ele desafiado águas brancas e quedas d’água dos mananciais do Mato Grosso do
Sul onde ele se mostrara insuperável nessa modalidade, o seu valor sentimental,
portanto, não era, absolutamente, mensurável.
Destacamento
Precursor
Ele e sua esposa Vera já haviam encontrado o melhor e
mais perto acesso por terra para cumprir esta missão. Era através da Fazenda
Boa Vista, que se situava ao Norte do Município de Tapes e ia até a Laguna dos
Patos nas proximidades do local onde estava o caiaque a ser resgatado.
(Professor Hélio)
O Pedro Auso e sua esposa Vera
Regina, de Camaquã, decidiram fazer uma incursão terrestre exploratória com
sua camionete, no dia 08.10.2011, sábado, e conseguiram autorização para
adentrar na Fazenda Boa Vista. O Pedro tinha uma ideia aproximada da
localização e conseguiu, chegar com sua camionete o mais próximo possível das
praias da Laguna dos Patos, aproximadamente a 1,7 km, em linha reta, do alvo.
Comunicou-me a proeza e combinamos que, no dia seguinte, nos encontraríamos,
acompanhados do Professor Hélio e sua filha Dafne para executarmos o resgate
do “Anaico”.
Fazenda Boa Vista
Localizada a
Operação Resgate
Somente
no dia 9 de outubro, num domingo em que até o Sol apareceu contrariando a
previsão do tempo, que era de chuvas esparsas em quase todo o estado,
conseguimos desencadear a operação de resgate do caiaque que, avariado, ficara
escondido atrás de uma duna de areia no último ponto de nossa travessia. Eram
06h30 quando eu e minha filha Dafne passamos na casa do Coronel Hiram Reis para
então nos deslocarmos até o quilômetro 332 da BR-116, em Tapes, onde nos
encontraríamos com o Sr. Pedro, mais identificado como “São Pedro” por toda proteção e ajuda a nós prestada. (Professor
Hélio)
No domingo, 09.10.2011, partimos de
Porto Alegre, às 06h40 em direção à BR-
Chegamos
ao ponto de encontro com seu Pedro cronometradamente juntos e nos dirigimos
para a sede da Fazenda Boa Vista, onde deixamos o carro do Coronel Hiram Reis e
seguimos na camionete rural do Sr. Pedro, sendo que somente esta conseguiria
vencer os precários caminhos a serem percorridos. Durante este trajeto de
carro, o Sr. Pedro nos contou que, no dia anterior ele e Dona Vera já haviam
ido a este local e caminhado diversos quilômetros tentando achar o caiaque, mas
sem sucesso. Por este motivo que a Dona Vera, embora tenha admirado muito o
local, teve de ficar descansando em casa. (Professor Hélio)
Chegamos juntos ao local do encontro
a exatos vinte minutos antes da hora marcada, 08h00. Como o Pedro já tinha
feito um reconhecimento prévio, fomos até a sede da Fazenda, deixamos o meu
carro e partimos, os quatro, na sua camionete. Perto da penúltima porteira
transposta, encontramos um bando de emas correndo pelos campos e avistamos a
casa sede da antiga fazenda, cercada por lindas e centenárias figueiras. O
trajeto até os limites da Fazenda, com a região das Areias da margem da Laguna,
é de uma beleza fantástica.
Chegando ao destino, constatei, pelo
GPS, que o caiaque se encontrava a
Ao
caminhar pela Praia, também observamos belas orquídeas e bromélias junto às
dunas, contrastando com o lixo junto às margens levado pelas águas, e inúmeros
mexilhões dourados mortos, às vezes, causando mau cheiro. (Professor Hélio)
Depois de caminhar por uns quarenta
minutos, chegamos ao local onde deixáramos nosso caiaque e, felizmente, lá
estava ele, o remo, o leme, e a saia. Como as águas da Laguna ainda estavam
bastante calmas, sugeri, ao Hélio que fosse remando até os eucaliptos e lá
nos aguardasse.
Nos eucaliptos, fizemos uma pausa
para alimentação e hidratação antes de partirmos para o percurso mais estafante
que seria o de carregar o caiaque pelas dunas e terrenos alagadiços.
Iniciei, com o Hélio, o transporte
pelas dunas e, logo de início, verificamos o quanto seria cansativo tal
procedimento. A Dafne carregou o remo e fomos lentamente vencendo os
obstáculos. Mais adiante, o Pedro me substituiu e fomos nos revezando até
chegarmos exaustos ao local onde estava estacionada a camionete.
Fizemos uma parada para descanso e
um pequeno lanche antes de carregarmos o caiaque na camionete e retornarmos à
sede onde transferimos o caiaque para o meu carro.
Encerramos nossa missão com um
almoço no Restaurante das Cucas, na BR-116 – km 338 – Barra do Ribeiro, RS.
Nossas expedições pelos caudais da “Terra
Brasilis” nos têm propiciado encontrar pessoas fantásticas e muito
prestativas como o caso do amigo Pedro Auso e tantos outros cujas amizades
fazemos questão de solidificar.
(Antônio Mavignier de Castro)
Amo, às vezes, fitar como os marujos
Do velho cais, ao céu crepuscular,
O perfil oscilante dos saveiros
E o adeus das
velas para o meu olhar.
Ao contato dos barcos forasteiros,
Sinto em mim o desejo singular
De correr mundo como os marinheiros,
De ser marujo
dominando o Mar...
É que, de certo, em épocas remotas,
As minhas ilusões foram gaivotas
No anil dos
mares, ao rugir do Sul...
E, além seguiram – desgraçadas delas! –
O roteiro de Sol das caravelas
Talvez perdidas nesse abismo azul!
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H