Quarta-feira, 3 de janeiro de 2024 - 06h15
Bagé, 03.01.2024
Rumo à Costa
de Santo Antônio (25.05.2015)
A Rosângela me ajudou a carregar o
material até o Clube Náutico e depois o caiaque até o Arroio Velhaco de onde
parti por volta das 06h20. Aproei diretamente para o Pontal D. Helena
enfrentando ondas de través de mais de metro geradas por um vento de Sudeste de
20 km/h. Depois de uma breve parada no Pontal, continuei a viagem com a proa
voltada para o Pontal de Santo Antônio e aproada com o Sol, que chamejava logo
acima da linha do horizonte.
Os bancos de areia no entorno do
Pontal D. Helena forçavam-me a alterar a rota constantemente. O vento aumentou
de intensidade e as ondas de través de mais de metro e meio golpeavam com
violência a Alheta de Boreste do meu valoroso caiaque que seguia seu curso
impassível como um Lorde britânico, estável, firme, inabalável como um rochedo.
Aportei a uns 4 km adiante do Pontal. Subi na duna mais alta e tentei, sem
sucesso, falar com o Coronel Pastl e familiares, finalmente consegui me
comunicar com a Rosângela e pedi que os mantivesse informados de minha
progressão. O vento e as ondas amainaram, tinha decidido remar forte, sem parar
até o pôr-do-sol, quando, de repente, fui convidado a parar no acampamento do
simpático pescador Vanderlei Pereira (30°38’56,0” S / 51°18’04,3” O) que me
acenava vivamente desde a praia.
O acampamento simples primava pela
limpeza e higiene, dos 17 cães de outrora só contei quatro agora. É uma parada
emergencial bastante interessante, com abrigo e fogão à disposição.
Comuniquei-me por telefone com meu pessoal, e, depois de um gole de café,
despedi-me do gentil amigo e seus parceiros continuando minha jornada remando
forte aproveitando o vento de popa. Aproei rumo às falésias procurando encurtar
caminho evitando contornar a longa e suave enseada de Santo Antônio. Por volta
das 16h00, apareceram estranhas nuvens encurvadas e resolvi, por segurança, me
achegar mais da margem. Eu tinha de me aproximar, o mais possível, do Morro da
Formiga para conseguir, no dia seguinte, aportar na Vila de Itapoã onde me
abrigaria na aprazível Pousada dos Quiosques protegido do mau tempo previsto
para a quarta-feira (27).
Aportei no
mesmo local onde eu e o professor Hélio acampáramos, no dia 24.09.2011, e
encontrei ali os vestígios da enorme fogueira que acendêramos com o objetivo de
sinalizar para o Coronel Pastl. Montei a barraca atrás das dunas e coloquei o
caiaque como quebra-vento e ponto de ancoragem da barraca caso os ventos de
Este aumentassem. Consegui, de uma duna mais alta à SO do acampamento, falar
com a Rosângela e informar-lhe que estava tudo bem. A noite foi tranquila, a
duna abrandava razoavelmente as rajadas do vento. Percorrera 63 km, totalizando
485 km.
Rumo à Itapoã
(26 a 27.05.2015)
Acordei cedo,
comuniquei-me com a Rosângela, desmontei a barraca, preparei as mochilas,
arrastei o caiaque vazio para a praia, carreguei o “Cabo Horn” e parti às 07h30. Aproei para o acampamento dos pescadores
da Praia do Canto do Morro à Oeste do Morro da Formiga. Enfrentei ondas de até
dois metros de altura na Costa de Santo Antônio, felizmente as pachorrentas “Três Marias” mais pareciam rechonchudas
e morosas matronas romanas, naveguei longe da costa procurando evitar a
rebentação. Aportei, depois de remar 18 km, no acampamento dos pescadores,
cumprimentei-os e segui, em seguida, minha rota, já que meu caro amigo Vlademir
S. Rodrigues se encontrava em tratamento de saúde. O acampamento estava,
estrategicamente, protegido dos ventos pelo Morro da Formiga. Logo que
contornei a Ponta da Formiga comecei a enfrentar fortes ventos de través e
contrariando a orientação dos amigos pescadores rumei direto para o Farol de
Itapoã. Logo que atingi a Latitude do Farol procurei me abrigar dos ventos
refugiando-me na Costa Leste. Remei direto até a Pousada dos Quiosques, por 29
km, sem parar totalizando 532 km. Concluí a Circunavegação da Laguna dos Patos,
aportando na Vila de Itapoã.
1. Assim os
céus, a terra e todo o seu exército foram acabados.
2. E
havendo Deus acabado no dia sétimo a
obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito.
(Bíblia ‒ Gênesis
2:1-3)
Foram 14 dias, com 3 de descanso.
Como o Grande Arquiteto do Universo descansaria 2 dias, se tivesse concluído
sua criação em duas semanas, eu, um humilde servo do Senhor, tive de parar um
dia a mais.
Foram 532 km de uma dura prova. Nos
três dias de descanso a minha amada Rosângela Maria de Vargas Schardosim estava
comigo, uma “companheiraça”.
Como a previsão do tempo para a
quarta-feira (27.05.2015) era de muita chuva e vento optei por permanecer
confortavelmente instalado na Pousada dos Quiosques, na Vila de Itapoã. O
velhinho não é de ferro!!!
Rumo à Ilha do Chico Manoel
(28.05.2015)
Parti da Vila
Itapoã, com destino à Ilha do Chico Manoel, às 09h30. As ondas de través de
quase três metros golpeavam a Bochecha de Bombordo do meu “Cabo Horn” com violência enquanto rajadas de vento de 50 km/h
tentavam arrebatar meu remo. O caiaque, fabricado pelo amigo Fábio Paiva,
corcoveava altaneiro sem perder o prumo e a rota. Ao passar próximo aos Pontais
as ondas formavam um formidável banzeiro golpeando a proa e a bochecha de
Bombordo e Boreste alternadamente. Lembrei-me dos tempos de guri quando
gineteava com os irmãos Marcelo e Maurício Fernandes Hunnicutt os novilhos da
Fazenda de seu pai em Pouso Alegre nas Minas Gerais.
Aportei às
12h00 na Ilha onde o Toco, alertado pelo amigo velejador Christian Willy, já me
aguardava com as instalações em condições. Meu amigo zelador estava empenhado
numa pesada faxina em decorrência do temporal do dia anterior. Tomei um banho
quente, coloquei uma roupa seca e ingeri massa crua a título de refeição para
me recompor. Foi um deslocamento de apenas 17 km, totalizando 549 km.
Rumo Praia de Ipanema (29.05.2015)
Parti às 06h30, o amigo Toco ligara
o gerador permitindo que eu arrumasse minha bagagem com mais facilidade. Foi um
deslocamento lento e tranquilo até a Ponta Grossa, onde cheguei às 08h45.
Aportei na Praia de Ipanema exatamente às 10h00 como programara, depois de
remar 18 km, totalizando 567 km. Lá estava o pessoal da Comunicação Social do
Comando Militar do Sul, liderados pela Major Mônica.
Dez minutos depois chegou a repórter
Lara Ely da Zero Hora que publicou a reportagem no dia seguinte.
Zero Hora, sábado, 30 de maio de 2015
Contra Capa
O Coronel da Lagoa dos Patos: Ondas de quase três metros e vento de 50 km/h
são alguns dos desafios que Hiram Reis e Silva, 64 anos, e seu caiaque
enfrentaram durante a jornada de 567 quilômetros desde Viamão até Pelotas e de
lá até Ipanema. A viagem de 14 dias do militar da reserva pelas águas doces
pode virar um livro. Sua Vida | 28
Sua Vida ‒ Página 28
Aventura no Mar de Dentro
De caiaque, aos 64 anos, Coronel do Exército concluiu ontem volta
completa pela Lagoa dos Patos.
Repórter LARA ELY
Ao
desembarcar ontem pela manhã na praia de Ipanema, na Zona Sul de Porto Alegre,
o Coronel da Reserva do Exército Hiram Reis e Silva concluiu uma jornada de 567
quilômetros em 14 dias. A bordo de um caiaque, ele completou uma volta completa
pela Lagoa dos Patos.
Apesar da experiência conquistada ao percorrer mais de
11 mil quilômetros por vias aquáticas que circundam tribos indígenas e
florestas tropicais da Amazônia, o militar não teve facilidades na expedição
gaúcha: enfrentou ventos de 50 km/h e ondas com quase três metros de altura.
E há de se levar em conta que, para quem já tem 64
anos, virar o caiaque, comer macarrão desidratado e passar frio por duas
semanas [com apenas três dias de descanso] são adversidades consideráveis.
Hiram encarou-as com muito bom humor.
– Prefiro
viver dessa maneira a ficar sem fazer nada em casa – afirma o coronel.
Esta é a sexta vez que o militar percorreu a lagoa, mas
a primeira em que conseguiu finalizar todo o percurso. A aventura começou na
manhã do dia 13, tendo como ponto zero a Praia da Varzinha, em Viamão. Em
direção ao Sul, ele optou por remar na margem mais ventosa, a Oriental, e
contar com a ajuda do “Nordestão”
para descer até Pelotas.
– No primeiro
dia, o barco que me acompanhava teve a vela rasgada. Depois, em São Lourenço,
deu pane no motor, e tive de seguir sozinho até o fim.
Remando em média nove horas por dia, Hiram preencheu os
dois compartimentos de carga do caiaque oceânico com um colchão de ar, um saco
de dormir, travesseiro inflável, roupas e alimentos [basicamente água e massa
desidratada].
– Ter um bom
caiaque é fundamental para o remador. É como o cavalo e o cavaleiro, os dois
formam um conjunto – compara.
Os
três dias de descanso foram gastos com pesquisa e anotações em locais como Vila
Itapuã, Tapes, Arambaré e a Fazenda Soteia, em Pelotas.
O
feito faz parte de um projeto abrangente denominado “Jornada pelos Mares de Dentro”, que incluiu a circunavegação da
Lagoa Mirim, realizada nos meses de dezembro de 2014 a janeiro de 2015. A
partir da experiência, o Coronel pretende escrever um livro e registrar
histórias e curiosidades desses mananciais.
O projeto é independente e conta com ajuda de 150
apoiadores. A ideia surgiu como uma forma de manter a atividade e driblar a
depressão depois que a mulher, Neiva Maria, sofreu um AVC e ficou em estado
semivegetativo – como vive há 11 anos. Os gastos no cuidado com ela são altos
e, por isso, fica difícil publicar os livros. Mas Hiram não desiste: ele sabe
que, quando for a hora, conseguirá cumprir a missão e imprimir as melhores
histórias. Até lá, seguirá remando em busca de novas descobertas, com a
aprovação dos filhos.
– No início, ficávamos
preocupados. Depois nos acostumamos. Sabemos que ele chegará bem – diz a filha
Vanessa Mota Reis e Silva. (Continua...)
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
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