Segunda-feira, 15 de janeiro de 2024 - 06h20
Bagé, 15.01.2024
Por Cel PM Sérgio Pastl (*)
É com alegria que
a pedido do ilustre Coronel Professor Engenheiro Hiram Reis e Silva escrevo
estas linhas sobre os Mares de Dentro [Laguna dos Patos, Lagoas Mirim e
Mangueira].
Colhi em Hünsche
[1977] a notícia do primeiro naufrágio moderno, o bergantim “Flor de Porto Alegre” que trazia
imigrantes germânicos do Rio de Janeiro para a Colônia Alemã de São Leopoldo,
após oito semanas da chegada da Europa. Nele viajava o Pastor Carlos Leopoldo
Voges, procedente de Hamburgo de onde zarpara com 475 imigrantes em
27.06.1824, no veleiro “Georg Friedrich”,
sob o comando do Capitão Johann Peter Cristian Rosilius, aportando na Capital
do Império em 10.10.1824. O citado bergantin naufragou nos últimos dias de
1824, “[...] nos bancos de areia diante
de Mostardas”. Penso que poderia ser o banco São Simão, onde 120 anos mais
tarde encalhou o veleiro Odin, registrado na capital gaúcha e localizado sobre
o banco por um avião da Varig. Sua carta náutica registra muitos naufrágios,
embora existam ainda alguns sinistros mais recentes ainda não cartografados,
principalmente pequenas embarcações.
Principiei assim
estas linhas para que o leitor acautele-se e bem planeje suas aventuras no Mar
de Dentro. Nela já vimos bonança, mas também tempestades. Paraíso lagunar, em
cujas margens desenvolveu-se a civilização dos Tapes, depois caminho dos
Bandeirantes para as “Vacarias del Mar”,
Açorianos a partir do Século XVIII, e após Germânicos, Italianos e tantas
outras etnias que nela souberam tirar seu sustento, ergueram cidades e criaram
seus filhos e a sociedade gaúcha.
Repleta de praias agradáveis com águas cristalinas, piscosa em
grande parte do ano, especialmente se a salinidade do Atlântico consegue
penetrar em suas águas até Mostardas na altura do Farol Cristóvão Pereira, obra
de inenarrável beleza arquitetônica, assim como o Farol do Capão da Marca, seu
vizinho mais ao Sul. Uma pena que perdeu-se por erosão o Farol do Bojuru, mas
por fotos antigas verifica-se que nossa Marinha esmerou-se em sua concepção e
construção. Ressalte-se a natureza em suas margens e muitas ilhas ainda
praticamente intocadas, carente de projetos de desenvolvimento sustentável,
antes que a ação do homem desacautelado de boas práticas econômicas tire dela
seu sustento sem a respeitar.
Orgulha-nos a pujante orizicultura com o uso racional de suas
águas, que traz relevante riqueza às populações de seus municípios lindeiros.
Destaca-se ainda em propriedades na Costa Doce gado bovino e ovino de primeira
linha, de renomadas raças e que alcançam destacados prêmios nas feiras e bom
preço nos remates e frigoríficos. Vemos já parques eólicos a instalarem-se e
gerando energia – e divisas – para regiões da costa doce.
Sonha-se com piscicultura [camarão e peixes] em cativeiro,
como os irmãos catarinenses bem souberam fazer com ostricultura nas águas
abrigadas da costa do vizinho estado. A pesca de captura no Litoral Pátrio e
seus sistemas lagunares e insulares está com os dias contados, segundo sérios
estudos da Marinha em parceria com o Ibama e renomadas Universidades.
Outrora o grande
caminho logístico do Estado, perdeu sua importância original a partir da
segunda metade do Século XX para o modal rodoviário, mas não seu potencial
estratégico, que está em vias de ser melhor utilizado. A razão lógica é a
redução do preço no frete a pelo menos 20% do custo do caminhão, além da
segurança intrínseca deste modal.
Desbravada originalmente por intrépidos bandeirantes, lusos
como Cristóvão Pereira de Abreu, Paulistas como Raposo Tavares e tantos outros,
temos hoje na pessoa do Coronel Hiram e seus incansáveis parceiros, Hélio
Riche Bandeira, Pedro Auso, Norberto Weimberg, apenas para citar os mais
indômitos, modernos Ulisses gaúchos, dignos de um Homero descrever sua Ilíada.
São suas singraduras dignas de epopeias literárias, crônicas agradáveis onde
muito se aprende, inebriando-nos com sua narrativa recheada de pitorescas
observações das águas, sua fauna e flora, sua geografia e principalmente, sua
gente. Parabéns, Coronel Hiram, e saiba que seu trabalho de pesquisa muito nos
enriquece, e deixa-nos ainda mais cativados pelos Mares de Dentro.
(*) Coronel PM Sérgio Pastl: oficial da Turma de 1980, da Academia de Polícia Militar (APM). Foi Comandante da Academia de Polícia Militar (2003-2004), Chefe de Gabinete do Comando Geral da BM (2004-2006), Comandante do Policiamento da Capital (2007), Diretor de Ensino da Brigada Militar (2007-2011), Diretor de Logística e Patrimônio da Brigada Militar (2011), Membro da Comissão Consultiva de Proteção Contra Incêndio de Porto Alegre (1992-1994), Sócio Individual Colaborador da ABNT – CB 24 (1988-2001) e Instrutor das Escolas da Brigada Militar em disciplinas relacionadas à proteção Contra Incêndios e Defesa Civil (APM, Escola de Bombeiros, Escola de Cabos e Soldados, Escola de Sargentos), desde 1981 até a presente data. Um aficionado nauta que conhece a arte da navegação e os segredos dos Mares de Dentro como poucos.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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