Domingo, 22 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCLXXXIX -) Prefácio


Terceira Margem – Parte DCLXXXIX -) Prefácio - Gente de Opinião

Bagé, 15.01.2024

 

Por Cel PM Sérgio Pastl (*)

É com alegria que a pedido do ilustre Coronel Professor Engenheiro Hiram Reis e Silva escrevo estas linhas sobre os Mares de Dentro [Laguna dos Patos, Lagoas Mirim e Mangueira].

Colhi em Hünsche [1977] a notícia do primeiro naufrágio moderno, o bergantim “Flor de Porto Alegre” que trazia imigrantes germânicos do Rio de Janeiro para a Colônia Alemã de São Leopoldo, após oito semanas da chegada da Europa. Nele viajava o Pastor Carlos Leopoldo Voges, procedente de Ham­burgo de onde zarpara com 475 imigrantes em 27.06.1824, no veleiro “Georg Friedrich”, sob o comando do Capitão Johann Peter Cristian Rosilius, aportando na Capital do Império em 10.10.1824. O citado bergantin naufragou nos últimos dias de 1824, “[...] nos bancos de areia diante de Mostardas”. Pen­so que poderia ser o banco São Simão, onde 120 anos mais tarde encalhou o veleiro Odin, registrado na capital gaúcha e localizado sobre o banco por um avião da Varig. Sua carta náutica registra muitos naufrágios, embora existam ainda alguns sinistros mais recentes ainda não cartografados, principal­mente pequenas embarcações.

Principiei assim estas linhas para que o leitor acautele-se e bem planeje suas aventuras no Mar de Dentro. Nela já vimos bonança, mas também tempestades. Paraíso lagunar, em cujas margens desenvolveu-se a civilização dos Tapes, depois caminho dos Bandeirantes para as “Vacarias del Mar”, Açorianos a partir do Século XVIII, e após Germânicos, Italianos e tantas outras etnias que nela souberam tirar seu sustento, ergueram cidades e criaram seus filhos e a sociedade gaúcha.

Repleta de praias agradáveis com águas cristalinas, piscosa em grande parte do ano, especialmente se a salinidade do Atlântico consegue penetrar em suas águas até Mostardas na altura do Farol Cristóvão Pereira, obra de inenarrável beleza arquitetônica, assim como o Farol do Capão da Marca, seu vizinho mais ao Sul. Uma pena que perdeu-se por erosão o Farol do Bojuru, mas por fotos antigas verifica-se que nossa Marinha esmerou-se em sua concepção e construção. Ressalte-se a natureza em suas margens e muitas ilhas ainda praticamente intocadas, carente de projetos de desenvolvimento sustentável, antes que a ação do homem desacautelado de boas práticas econômicas tire dela seu sustento sem a respeitar.

Orgulha-nos a pujante orizicultura com o uso racional de suas águas, que traz relevante riqueza às populações de seus municípios lindeiros. Destaca-se ainda em propriedades na Costa Doce gado bovino e ovino de primeira linha, de renomadas raças e que alcançam destacados prêmios nas feiras e bom preço nos remates e frigoríficos. Vemos já parques eólicos a instalarem-se e gerando energia – e divisas – para regiões da costa doce.

Sonha-se com piscicultura [camarão e peixes] em cativeiro, como os irmãos catarinenses bem souberam fazer com ostricultura nas águas abrigadas da costa do vizinho estado. A pesca de captura no Litoral Pátrio e seus sistemas lagunares e insulares está com os dias contados, segundo sérios estudos da Marinha em parceria com o Ibama e renomadas Universidades.

Outrora o grande caminho logístico do Estado, perdeu sua importância original a partir da segunda metade do Século XX para o modal rodoviário, mas não seu potencial estratégico, que está em vias de ser melhor utilizado. A razão lógica é a redução do preço no frete a pelo menos 20% do custo do caminhão, além da segurança intrínseca deste modal.

Desbravada originalmente por intrépidos bandeiran­tes, lusos como Cristóvão Pereira de Abreu, Paulistas como Raposo Tavares e tantos outros, temos hoje na pessoa do Coronel Hiram e seus incansáveis parcei­ros, Hélio Riche Bandeira, Pedro Auso, Norberto Weimberg, apenas para citar os mais indômitos, modernos Ulisses gaúchos, dignos de um Homero descrever sua Ilíada. São suas singraduras dignas de epopeias literárias, crônicas agradáveis onde muito se aprende, inebriando-nos com sua narrativa recheada de pitorescas observações das águas, sua fauna e flora, sua geografia e principalmente, sua gente. Parabéns, Coronel Hiram, e saiba que seu trabalho de pesquisa muito nos enriquece, e deixa-nos ainda mais cativados pelos Mares de Dentro.

(*) Coronel PM Sérgio Pastl: oficial da Turma de 1980, da Academia de Polícia Militar (APM). Foi Comandante da Academia de Polícia Militar (2003-2004), Chefe de Gabinete do Comando Geral da BM (2004-2006), Comandante do Policiamento da Capital (2007), Diretor de Ensino da Brigada Militar (2007-2011), Diretor de Logística e Patrimônio da Brigada Militar (2011), Membro da Comissão Consultiva de Proteção Contra Incêndio de Porto Alegre (1992-1994), Sócio Individual Colaborador da ABNT – CB 24 (1988-2001) e Instrutor das Escolas da Brigada Militar em disciplinas relacionadas à proteção Contra Incêndios e Defesa Civil (APM, Escola de Bombeiros, Escola de Cabos e Soldados, Escola de Sargentos), desde 1981 até a presente data. Um aficionado nauta que conhece a arte da navegação e os segredos dos Mares de Dentro como poucos.

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 22 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X

Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI

Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas  T

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV

Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III

Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III

Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória:  Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira  O jornalista H

Gente de Opinião Domingo, 22 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)