Quarta-feira, 10 de janeiro de 2024 - 06h10
Bagé, 10.01.2024
A Estancieira “Barbuda”
Helmo de Freitas, nos seus versos,
fala-nos do campo, da Laguna, do Rio, de suas vivências, curiosidades e
estórias muito particulares de sua região como esta da estancieira Dona Anna
Rodrigues de Oliveira, mais conhecida como “Barbuda”.
José Custódio de Oliveira, rico
estancieiro e industrial da erva mate, casado com Dona Anna, mais conhecida
como a “Barbuda estancieira”, residia
na Estância “El Vichadero”, no
Departamento de Rio Negro, Uruguai, quando resolveu se mudar para a Fazenda
dos Galpões, em Camaquã.
A Dona Anninha Barbuda, sogra e tia
do General José Antônio Matos Neto (o Zeca Neto), faleceu em 1917 e foi
sepultada no Cemitério dos Galpões.
Nos idos de 60, o então Padre Jacó
Hilgert, hoje Bispo Emérito da Diocese de Cruz Alta, empenhado na reforma da
Igreja Matriz (São João Batista), solicitou aos familiares os Mármores de
Carrara do túmulo da Dona Anna, garantindo, em contrapartida, que seus restos
mortais seriam transferidos para o altar mor da Igreja.
Músicas de
Helmo de Freitas
Divisas com Ervas e Chibo
(Helmo de Freitas – O
Carijó)
Na erva da Aninha
Não tinha daninha
Era seiva da mata
Lá da Bandeirinha.
Naquele local
Da Serra do Herval
Abriu-se divisas
Pra Banda Oriental.
A barbuda estancieira
Foi a primeira
A cruzar com erva a nossa fronteira
Saia dos galpões com bruaca e surrões ([1])
Nas cangalhas de mulas
Pras embarcações. (BIS)
Da grande Laguna entrava no Oceano
Rumo aos castelhanos o barco ia navegando
No porão o símbolo da União dos pampeanos
Que Sul do Rio Grande estava exportando
Da Colônia Canária, aqui dos Pomeranos ([2])
Com a leva da erva os tamancões lourencianos
Bota feita em
Pelotas tinha gosto paisano
Para fazer chibo “aja” ([3]) com os Hermanos
Que ia e voltava com cinto forrado
De onça e condor ([4]) daquele mercado
De contrabando para ter ouro cunhado
Que vinha tapado no sebo do gado. [...]
Lago Verde Azul
(Helmo de Freitas – O
Carijó)
T 2º Lugar e Música Mais Popular do 11º
Reponte da Canção Crioula de São Lourenço do Sul-RS em 1995 T
O
medo de andar “solito” ouvindo vozes e gritos
E
até do barco um apito na sua imaginação
Olhos
esbugalhados do moleque assustado
Olhando
aquele mar bravo ora doce ora salgado
Num
temporal de verão
Sem
camisa na beirada, bombachita arremangada
Botou
o petiço na estrada quando a areia lhe guasqueou
Sentiu
um arrepio com aquele ar frio
Que
o açude e o rio e as águas que ele viu
Não
lhe provocou
Coqueiro
e figueira nos matos e a bela Lagoa dos Patos
Oh,
verdadeiro tesouro
Lago
verde azul que na América do Sul
Deus
botou pra bebedouro
Tempos
que ainda tinha o bailado da tainha
Quando
o boto vinha com gaivota em revoada
E
entre outros animais no meio dos juncais
Surgiam
patos baguais que hoje não se vê mais
Este
símbolo da aguada
Nas
noites de lua cheia a gente sentava na areia
Pra
ver se ouvia a sereia entre as ondas cantando
E
hoje eu volto ali no lugar em que vivi
Onde
andei quando guri, me olho lagoa em ti
E
me enxergo chorando.
Meu Rio
(Helmo de Freitas – O
Carijó)
T Melhor Tema Sobre Ecologia e Meio Ambiente
da 1ª Sapecada da Canção Nativa de Lages-SC em 1993 T
Com água no meu peito
Me doendo no coração
Ao ver o desmatamento
Cabresteando a erosão.
Ao longe se vê o clarão
Do fogo queimando o mato
Tarumã, cedro e angico
Em carvão, tábua e
cavaco.
Os redemoinhos dançando
Nesta água eu quero ver
Não me matem este rio
Ao menos em quanto eu
viver.
Rio...rio...rio...rio
Que mergulhou minhas
lembranças
Rio da minha infância.
Linha, caniço e bocó
Entre os dedos as
tamancas
Quantos capinchos eu vi
Se jogando das
barrancas.
No remanso a garça
branca
E a moura tinha um
sossego
O biguá corria na água
Na frente do cisne negro
“De um lado eu nasci,
Do outro cresci
Deixei minha fome na
pitanga,
Meu sangue na japecanga
Rio, rio que me deixou
assustado
Com o meu primeiro
dourado”.
Domador das Sesmarias
(Helmo de Freitas – O
Carijó)
T Linha de Manifestação Campeira e Troféu
Calhandra de Ouro - Prêmio Máximo da 23ª Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana-RS
em 1993 T
Brotam campos, abrem
flores
Largam os reprodutores
Pro focinho da potrada
Os buçais dos domadores
Deixam os ranchos e os
seus
Hereges, pobres plebeus
Ficam em volta aos
rosários
Chinas rezando pra Deus
Dando dentada nas loncas
Entre flores de açucenas
Em garrões de rudes pés
Vão cantando as chilenas
Travasse uma luta bruta
Entre os dois animais
Por natureza e instinto
Vencem sempre os
racionais
Com jeito de tapejara
Soprando e tapeando a
cara
Volta em coxilhas
morenas
Quando a noite é lua
clara
O ronco da virilha
E o ringir do arreio
Espantam os quero-queros
E se levanta o rodeio.
Dançam entre ao vivente
Lambem bota e tirador
Os cachorros que
festejam
A volta do domador.
Bilhete do “Cumpadre”
(Helmo de Freitas – O
Carijó)
Compadre velho vem me visitar
Tou com saudade das nossas folia
Tira uma hora vem cá matear
“Bamo” botar a nossa prosa em dia.
Tou te deitando estas simples linha
E desculpa a letra do “biete” ([5])
Pra te lembrar do feijão carioquinha
O fumo em corda e o milho cadete ([6]).
Prende os cavalo na tua carroça
Vem passar Natal e Ano Novo
Traz o produto que colheu na roça
Pra fazer uns cobre aqui no povo.
Vamos beber um vinho feito em casa
Comer um macucho ([7]) com batata assada
Botá um borrego ([8]) pra pingar na brasa
Contar proezas, mentir e dar risada.
Meter um baile lá na bailanta ([9])
Gastar um pouco do nosso dinheiro
Marcar um xote e molhar a garganta
E enticar ([10]) com as moça do povoeiro ([11]).
E se tu ficares até o dia seis
Têm uns ranchos pra nós visitar
Não esquece do tambor do Reis ([12])
Fiz um terno ([13]) pra nós dois cantar.
(Vinicius de Moraes)
[...] O amigo: um ser que a
vida não explica
Que só se vai ao ver outro
nascer
E o espelho de minha alma
multiplica...
(Cecília Meireles)
Meus companheiros amados,
Não vos espero nem chamo:
Porque vou para outros
lados.
Mas é certo que vos amo.
[...]
Não condeneis, por
enquanto,
Minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
Fico vossa prisioneira.
(Fernando Pessoa)
Ah, meu maior amigo, nunca
mais
Na paisagem sepulta desta
vida
Encontrarei uma alma tão
querida
Às coisas que em meu ser
são as reais. [...]
Não mais, não mais, e desde
que saíste
Desta prisão fechada que é
o mundo,
Meu coração é inerte e
infecundo
E
o que sou é um sonho que está triste. [...]
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Surrões: recipientes, feitos de couro para transporte variado
colocado, neste caso, nas cangalhas equilibradas no lombo das mulas. (Hiram
Reis)
[2] Pomeranos: imigrantes originários do Mar Bálticoque vieram para o
Brasil no século passado fugindo dos horrores da guerra. (Hiram Reis)
[3] Aja (espanhol): lá com os hermanos. (Hiram Reis)
[4] Onça e Condor: prata e ouro contrabandeados vinham escondidos sob
o sebo do gado. (Hiram Reis)
[5] Biete: bilhete. (Hiram Reis)
[6] “Geographia do Brasil”
de Delgado de Carvalho, 1929: Cultiva-se no Brasil variedades de milho, “milho cadete”, milho amarello, milho
perola, crystallino, etc. (Hiram Reis)
[7] Macucho: porco. (Hiram Reis)
[8] Borrego: cordeiro novo. (Hiram Reis)
[9] Bailanta: festa popular onde se dança. (Hiram Reis)
[10] Enticar: implicar. (Hiram Reis)
[11] Povoeiro: habitantes de um povoado. (Hiram Reis)
[12] Reis: a tradição dos Ternos de Reis, que celebra o Dia dos Reis
Magos a cada 6 de janeiro, ainda persiste em algumas localidades do Rio Grande
do Sul. (Hiram Reis)
[13] Terno de Reis: é como são chamadas as canções, ou os pequenos
grupos de músicos que as realizam, que têm como referência a história bíblica
dos Três Reis Magos(Hiram Reis)
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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