Quarta-feira, 5 de julho de 2023 - 06h00
Bagé, 05.07.2023
Valquírias
Americanas
A imprensa paraguaia, também,
valorizava, sobremodo, a contribuição das suas mulheres no esforço de guerra e
ressaltava a conduta de suas tropas em relação aos civis. Vejamos algumas
destas controversas manifestações:
El Semanario n° 560
Asunción, Paraguay – Sábado, 14.01.1865
Sección no Oficial
Sábado 14 de Enero de
1865
A vitória, finalmente, está se
esboçando a favor do Paraguai. A população de Nioaque foi subjugada pelos
nossos bravos, comandados pelo Cel Resquin, Chefe das Operações no rio
Mbotetey. Essa brilhante vitória que alcançamos, no dia 10 do corrente, foi
reforçada pela tomada de Albuquerque e Corumbá. [...]
As famílias de Corumbá estão
sendo acudidas pelo altruísmo do Comandante em Chefe de nossas Forças no
Norte.
Em contraste com a conduta dos
escravos do Império que assassinaram mulheres e crianças no bárbaro bombardeio
de Paysandú, o Comandante das Forças Paraguaias ofereceu ajuda aos indefesos
que fugiram enganados pelo inimigo e os encaminham às suas casas, depois
disciplinar os bandoleiros, que queriam aproveitar-se da situação para criar um
escandaloso tumulto.
Aqui está um exemplo de humanidade e civilização. […] (EL
SEMANARIO N° 560)
El Centinela n° 02
Asunción, Paraguay – Martes [1],
02.05.1865
La Mujer Heroína
Não nos cansamos de admirar a
nobreza de nossas mulheres. Diariamente surgem novos e interessantes manifestações
de patriotismo. Nós as vemos altaneiramente nos altares da Pátria oferecendo,
em fervoroso sacrifício, suas preciosas joias.
Incansavelmente, elas cultivam
o solo com as próprias mãos e fertilizam os campos com o suor de seu rosto
angelical. Desveladas e caridosas correm aos Hospitais de Sangue para curar as
feridas dos bravos defensores da Pátria.
Devemos admirá-las por estarem
dispostas a empunhar uma lança, para impedir que os invasores avancem sobre o
nosso território. Esta é a determinação e o desejo de todas as nossas extraordinárias
mulheres. Como nos inspiram esses belos atributos de sublime abnegação! O
coração se dilata no peito e a inteligência divaga nos espaços infindos,
apreciando a nobreza da mulher paraguaia. (EL CENTINELA N° 2)
El Semanario n° 584
Asunción, Paraguay – Sábado, 01.07.1865
Actos Recomendables
Dentre os vários atos
meritórios alusivos às manifestações de patriotismo dos paraguaios de ambos os
sexos pela causa nacional, incluímos o de uma mulher humilde chamada Bonifacia
Agüero da “Vila del Rosario” que, por
ocasião das repetidas manifestações dos moradores em apoio à guerra, se
destacava solicitando, veementemente, que seus dois filhos menores, que ainda
continuavam com ela, também fossem alistados para a guerra, e que somente dessa
maneira ela ficaria satisfeita no amor para a pátria. (El SEMANARIO N° 584)
El Semanario n° 596
Asunción, Paraguay – Sábado, 23.09.1865
Correspondencia de
Ejército
Senhor Redator do “El Semanario”
Todas as armas, por mais degradantes que sejam, são usadas
pelos nossos inimigos para nos atacar. Não é uma guerra franca e digna,
realizada face a face, como devem promover nações cultas. Nossos adversários
corrompem os sentimentos mais nobres, recorrendo às mentiras mais flagrantes,
às calúnias profanas, à intriga, a tudo apelam que nos possa prejudicar, se
atrevendo a nos tachar de abjetos, degradados e bárbaros.
Abjetos e degradados, são
aqueles, que depois de nos trazer (???)
uma guerra injusta, de perturbar nosso descanso, de buscar a aniquilação e a
destruição da riqueza desses povos, reconhecendo sua impotência, eles dão
expansão a seus instintos mais ferozes, procurando servir à sua causa maligna
com as ações mais baixas e mais degradantes.
Você sabe como eles acreditam poder trabalhar nos espíritos
dos povos aniquilando qualquer simpatia que tenham em relação à nossa causa?
Aos mais corriqueiros acontecimentos, eles vociferam nos jornais, nas ruas e
em eventos públicos, que o Exército Paraguaio, “Massa de Bárbaros”, está furtando, aniquilando, queimando e
roubando das populações, tudo o que encontram, destruindo casas de empresários,
estuprando mulheres e devorando criaturas.
Eles querem provocar a antipatia dos estrangeiros à nossa
causa e simpatia à sua; fingem-se de indignados narrando como a casa de um
inglês, um francês e um italiano foram saqueadas e barbaramente assassinados
seus donos, mostrando que os paraguaios não respeitam nenhuma bandeira e para
prová-lo a tudo recorrem, mesmo ao suborno, coagindo o estrangeiro mais
miserável, que encontram pelas ruas, para atestar esses fatos.
Tentam encorajar seus soldados, pintando com as cores mais
vivas, cada vitória alcançada, afirmando que o povo paraguaio se nega a
combater e que dentre alguns soldados paraguaios capturados foram encontradas
mulheres vestidas de homem aliciadas pelo governo para aumentar seu efetivo de
combatentes. Essas e outras mentiras degradantes são usadas pelos nossos
inimigos. Essa é a sua concepção de guerra, mas estas ações perversas serão
por si só desmascaradas. (EL SEMANARIO N° 596)
Cabichuí n° 28
Paso Pucú, Paraguay – Lúnes [2],
12.08.1867
Francisca Cabrera
Com a doce emoção que as ações
heroicas e a justa admiração que nos inspiram e provocam a sublime virtude do
Amor pela Pátria, assinalamos em nossas colunas o nome de Francisca Cabrera,
que será gravado nas páginas da história como uma das mais notáveis mulheres
paraguaias que, quando colocada à prova, reagem com dignidade e nobreza. Francisca
Cabrera, era moradora de “Vila del Pilar”,
mãe de quatro filhos menores de idade, quando 8 Regimentos das hordas
invasoras do bárbaro inimigo, sob o comando do escravo Brigadeiro José Luís ([3]),
que tinha privado seus cruéis soldados de suas mulheres, mandou-os procurar
mulheres paraguaias para saciar seus lascivos desejos, estimulando seu
desempenho e covardia, para invadirem o Arroio “Hondo”. Francisca Cabrera, a única mulher que permaneceu na área
com seus quatro filhos, além de outra mulher e um idoso, sabendo que as
catervas inimigas estavam se aproximando, apanhou um punhal e levou as quatro
crianças para as montanhas para se esconder; após entrar na floresta, pegou o
punhal e disse aos filhos, dirigindo-se ao seu primogênito:
Meus filhos, esses mulatos que
estão vindo, vão querer levar a gente; eu, com esta faca vou lutar com eles até
morrer, e você meu filho, depois de minha morte, pegue esta faca e lute contra
eles, esfaqueando-os no estômago, rasgando tudo; uma coisa eu vos digo: morram
para que esses mulatos não vos aprisionem e os convertam em escravos. ([4])
Esta é mais
uma prova dos crimes trazidos à República pelo inimigo sem religião e sem
consciência que profana nossa Pátria. E aqui está um testemunho eloquente do
espírito dominante em toda a nação paraguaia em relação à sua pátria e ao
inimigo de sua honra e de sua vida. (CABICHUÍ N° 28)
El Centinela n° 21
Asunción, Paraguay – Jueves [5],
12.09.1867
La Ofrenda del Bello
Sexo
[...]
Quando as mulheres paraguaias se propuseram a contribuir com seus adornos e
joias com o objetivo de contribuir para o esforço de guerra de extermínio que o
Brasil e seus aliados trouxeram à essa terra (???), elas se reuniram em Assembleia Geral, escolhendo, para isso,
a Praça de 14 de maio. As sessões de 24 a 26 de fevereiro foram fantásticas,
porque nelas vimos pela primeira vez as mulheres participarem de manifestações
públicas que a sociedade lhes vinha negando. […] (EL CENTINELA N ° 21)
El Centinela n° 26
Asunción, Paraguay – Jueves, 17.10.1867
La Heroína Paraguaya
Com o título acima, o último
número de “El Semanario” registra a
transcrição de uma correspondência do “Standart”,
na qual lemos, com orgulho, a descrição do combate de uma mulher paraguaia e
um capitão brasileiro, que desejava levá-la. Esta defendeu-se valentemente,
matou o capitão apesar de ter o braço esquerdo quebrado e um grave ferimento na
cabeça. E para maior afronta aos militares brasileiros este estava acompanhado
de doze indivíduos.
Esse atributo de coragem feminina é para a nossa história um episódio que mostra, ainda mais, a firme determinação de nosso “belo sexo” que, unidos ao seu valente marechal, jurou vencer ou morrer seguindo o exemplo dos nossos soldados que nos surpreendem com sua coragem e bravura. A heroína paraguaia, que derrotou um capitão, essa mulher determinada, nos enche de entusiasmo e a apresentamos à consideração de todo o mundo, porque essa bravura, que distingue todos os filhos deste solo, é inédita. O “El Centinela” parabeniza o “belo sexo” e dá um “Viva!” à heroína paraguaia. (EL CENTINELA N° 26)
Cabichuí n° 91
Paso Pucú, Paraguay – Lúnes [6], 22.06.1868
O Cabichuí noticia que Bárbara Alen e Dolores Caballero, quando regavam o solo com o suor de seu rosto na faina do seu trabalho, foram surpreendidas por monstruosa onça que mataram usando apenas uma faca e um porrete. Ofertaram seu couro ao Senhor Marechal López. (CABICHUÍ N° 91).
Bibliografia
CABICHUÍ N° 28. Francisca Cabrera – Paraguay – Paso Pucú – Cabichuí n° 28, 12.08.1867.
CABICHUÍ N° 91. Francisca Cabrera – Paraguay – Paso Pucú – Cabichuí n° 91, 22.06.1868.
EL CENTINELA N° 2. La Mujer Heroína – Paraguay – Asunción – El Centinela n° 2, 02.05.1865.
EL SEMANARIO N° 560. Sección no Oficial – Paraguay – Asunción – El Semanario n° 560, 14.01.1865.
EL SEMANARIO N° 584. Actos Recomendables – Paraguay – Asunción – El Semanario n° 584, 01.07.1865.
EL SEMANARIO N° 596. Correspondencia de Ejército – Paraguay – Asunción – El Semanario n° 596, 23.09.1865.
EL CENTINELA N° 21. La Ofrenda del Bello Sexo – Paraguay – Asunción – El Centinela n° 21, 12.09.1867.
EL CENTINELA N° 26. La Heroína Paraguaya – Paraguay – Asunción – El Centinela n° 26, 17.10.1867.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Martes: Terça-feira. (Hiram Reis)
[2] Lúnes: Segunfa-feira. (Hiram Reis)
[3] Brigadeiro José Luís Mena Barreto (1817-1879). (Hiram Reis)
[4] Tradução do guarani para o português de Dario Agostin Ferreira (Pesquisador do NEABI/PUCRS)
[5] Jueves: Quinta-feira. (Hiram Reis)
[6] Lúnes: Segunfa-feira. (Hiram Reis)
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H