Segunda-feira, 17 de julho de 2023 - 06h20
Bagé, 17.07.2023
Valquírias
Americanas
Alfredo de Escragnolle Taunay, também relata no seu livro “Recordações de Guerra e de Viagem”
alguns fatos que nos permitem também traçar um perfil psicológico desta figura
extremamente controvertida que foi “Madame”
Elisa Lynch López.
Recordações de Guerra e de Viagem
Brasil
- São Paulo, SP (1ª Edição)
Editora Weisflog Irmãos, 1920.
[...] Tomado Peribebuí, e abafada qualquer resistência,
houve o seu saquezinho, apesar dos esforços para reprimi-lo.
Capítulo IX
Os
soldados, porém, entravam nas casas e saíam com muitos objetos, que iam tomando
violentamente ou apanhando pelo chão.
Das
moradas ocupadas antes pelo ditador López e por Mme Lynch tiraram não pequena
quantidade de prata amoedada, peças espanholas do valor de 2$000, das chamadas
colunares, por terem as armas de Castela e Aragão gravadas entre duas colunas.
Depois víamos muito esse dinheiro girar no comércio. Não
poucos soldados, quando penetrei na morada da Lynch, passaram por perto de
mim, levando em panos e mantas grande porção dessa prata, quanto podiam
carregar.
Eu,
avisado pelo Tibúrcio, ia à procura de um anunciado piano. Havia tanto tempo
que estava privado desta distração! Achei, com efeito, o desejado instrumento,
bastante bom e afinado, até pus-me logo a tocar nele, embora triste espetáculo
ficasse ao lado, o cadáver de um infeliz paraguaio, morto, durante o bombardeio
da manhã, por uma granada que furara o teto da casa e lhe arrebentara bem em
cima.
O
desgraçado estava sem cabeça. Fiz remover dali aquele fúnebre diletante,
tocando, com grande ardor, talvez mais de duas horas seguidamente. Assim
festejei a tomada de Peribebuí.
No quintal daquela habitação,
onde havia trastes de luxo moderno e objetos bastante curiosos de antiguidade
jesuíticas, restos de grandezas passadas, a custo e à última hora trazidas de
Assunção, encontrou o Tibúrcio um depósito de vinhos de excelente qualidade,
sobretudo caixas de champanhe, de indiscutível e legítima procedência, e
melhores marcas.
Nunca bebemos tão saboroso e
perfumado, força é confessar. Tratava-se em regra a imperiosa e inteligente
mulher que teve tão vasta e tão perniciosa influência sobre o espírito de
Solano López e tanto concorreu para a desgraça, as loucuras e horrorosos
desmandos de seu amante e para as calamidades do valente e mal-aventurado povo
paraguaio.
Bem curiosa deve ser a história
ainda imperfeitamente conhecida dessa Mme Lynch! [...]
Capítulo XII
Era evidente que Solano López pretendia não desistir da luta
e havia de aproveitar todas as dificuldades naturais do seu tão mal conhecido
Paraguai para prolongar quanto possível a luta de emboscadas e guerrilhas,
levando as forças que poderiam ir em sua perseguição ao cansaço extremo.
Caminhara para o Norte seguido
de uns restos do numeroso exército de outrora tão disciplinado ou antes cheio
de fanatismo, que pusera com tanta confiança e ostentação em armas, afrontando
a um tempo o Brasil, o Uruguai e a Argentina.
Dos 70 ou 80.000 que congregara
no princípio das operações e que dirigiu sempre com a maior inércia, força é
convir, quantos homens lhe restavam na sua apressada fuga? Talvez nem sequer
1.500, mal armados e possuídos do mais absoluto desânimo, avassalados, porém,
pelo terror ao jugo do ditador que se tornara cada vez mais pesado e cruel.
Parece que Francisco Solano
López vivia então em estado de contínua embriaguez, o que pode, até certo
ponto, explicar os seus planos insensatos e desatinos não recuando diante de
atrocidade alguma. Levava, aí, presas as duas irmãs e a própria mãe e
tencionava entregá-las a um tribunal “ad
hoc”, com poderes para determinar até a pena de morte contra estas
infelizes!
Era voz geral, que a sua
amásia, a célebre aventureira Madame Lynch, mulher divorciada do sábio
Quatrefages, concorria para tornar ainda mais temeroso e irritado o gênio do
déspota; mas é de crer-se que, por fim, essa mesma mulher vivesse sob a ação de
contínuo terror. [...]
Capítulo XIV
[...] Mme Lasserre, como se sabe, escreveu uma
interessantíssima notícia de todos os seus sofrimentos durante a guerra, e com
energia de estilo que merece especial menção, deu preciosas informações sobre
muitos pontos da sangrenta história do Governo de López e sobre o procedimento
ignominioso de vários representantes de nações estrangeiras.
Ao nosso Governo remeteu o
Príncipe cópia da exposição que esta senhora fez não só das crueldades de que
foi, em companhia de seus compatriotas, vítima por parte de López, como das
relações que com aquele tirano e Mme Lynch teve o cônsul francês Sr. de
Cuverville, tornando-se esse documento digno de toda a publicidade não só pelo
interesse que inspira como pela elucidação de muitos fatos importantes, como
seja, por exemplo, o de haverem sido, em dezembro de 1868, as casas de Assunção
saqueadas por ordem de López, cujos agentes se serviam de chaves falsas ou
arrombavam as fechaduras.
De todos os lados nos chegavam
notícias e pormenores do descalabro do lopismo. [...]
Capítulo XVI
[...] Dentre os depoimentos
interessantes então pelo quartel-general recolhidos figura o do Alferes de
Marinha Angel Benites. Era um moço de aspecto vivaz e inteligente falando com
desembaraço e abundância de palavras, e, mostrando-se perfeitamente a par de
todas as circunstâncias relativas aos recursos de que ainda dispunha o tirano.
Com ele desertaram um Capitão Ramon Vera e um outro, este ajudante-de-ordens de
López, Elias Luján.
Com vivas cores pintavam a progressiva dissolução das forças
do tirano confirmando as crueldades já sabidas às quais se adicionavam outras,
cada vez mais estupendas. Fora Benites empregado do comissariado do Exército e
relatou que, achando-se López em Itanarán, ordenara um balanço em todas as
carretas de dinheiro; ainda dispunha de 10.000 patacões de prata e algumas
centenas de onças sem contar grande soma em papel-moeda, que afinal abandonou,
sendo o ouro e a prata, daí em diante, levados em cargueiros.
Relatou-nos o alferes paraguaio que assistira em Ascurra à
entrega de 28.000 patacões em prata e 600 onças de ouro, feita pelo Ministro
Camiños ao plenipotenciário norte-americano, Mac Mahon, então em vésperas de se
retirar do Paraguai, onde agira do modo menos diplomático, quase provocando sua
atitude inconveniente a ação do nosso Ministério de Estrangeiros junto ao
Governo do General Grant. Informou ainda que mais 20.000 patacões haviam sido
enviados, por ordem de López, a um tal Gregorio Benítez em França. Eram
migalhas que, por meio de amigos, ia o tirano acautelando na Europa no caso de
se ver compelido a abandonar o governo da infeliz e heroica nação que
aniquilara.
Em Ascurra, ao começar a campanha da Cordilheira, contava o Alferes Benites, ainda o acompanhavam uns doze ou quatorze mil homens, sem contar as forças do Norte. Em Panadero, após Peribebuí e Campo Grande mal dispunha de uns três mil e oito bocas-de-fogo. Onde quer que passasse fazia López os seus infelizes súditos trocar o seu numerário de prata pela moeda que emitira, verdadeiro papel sujo. Assim, segundo conta Thompson, creio, fizera a Lynch com as belas libras de ouro encontradas nas algibeiras dos nossos e dos argentinos, mortos no desastre de Curupaiti, pelos soldados do seu feroz amásio. [...] (TAUNAY, 1920)
(Edson Gaúcho)
Pedi ao vento que leve lembrança pra minha terra.
Pedi ao vento que leve paz, aonde tem guerra.
Pedi ao vento que leve fartura onde tem miséria.
Pedi ao vento que leve um beijo nos lábios dela.
O Vento foi, o Vento vem,
Será que o vento já me atendeu?
Só resta agora você me entender,
Que esse vento é o nosso Deus!
Pedi ao vento que salve os jovens perdidos nas drogas.
Pedi ao vento que espalhe no céu o perfume das rosas.
Pedi ao vento que toda a nação seja gloriosa.
Pedi ao vento proteção aos filhos da mãe amorosa. [...]
Pedi ao vento pra acalmar as ondas dos sete mares.
Pedi ao vento que leve harmonia a todos os lares.
Pedi ao vento que leve embora a impureza dos ares.
Pedi ao vento em orações que fiz nos altares. [...]
Pedi ao vento pra nos conduzir na estrada da vida.
Pedi ao vento que encontre a criança desaparecida.
Pedi ao vento que dê ao doente conforto e guarida.
Pedi ao vento que a minha prece seja ouvida. [...]
Bibliografia
TAUNAY, Alfredo de Escragnolle. Recordações de Guerra e de Viagem – Brasil – São Paulo, SP – Editora Weisflog Irmãos, 1920 (1ª Edição).
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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