Domingo, 20 de agosto de 2023 - 06h35
Bagé, 18.08.2023
[...] Tomado Peribebuí, e abafada qualquer
resistência, houve o seu saquezinho, apesar dos esforços para reprimi-lo. Os
soldados, porém, entravam nas casas e saíam com muitos objetos, que iam tomando
violentamente ou apanhando pelo chão. Das moradas ocupadas antes pelo ditador
López e por Mme. Lynch tiraram não pequena quantidade de prata amoedada, peças
espanholas do valor de 2$000, das chamadas colunares, por terem as armas de
Castela e Aragão gravadas entre duas colunas. Depois víamos muito esse dinheiro
girar no comércio. Não poucos soldados, quando penetrei na morada da Lynch,
passaram por perto de mim, levando em panos e mantas grande porção dessa prata,
quanto podiam carregar.
Eu, avisado
pelo Tibúrcio, ia à procura de um anunciado piano. Havia tanto tempo que estava
privado desta distração!... Achei, com efeito, o desejado instrumento, bastante
bom e afinado, até pus-me logo a tocar nele, embora triste espetáculo ficasse
ao lado, o cadáver de um infeliz paraguaio, morto, durante o bombardeio da
manhã, por uma granada que furara o teto da casa e lhe arrebentara bem em cima.
O desgraçado estava sem cabeça. Fiz remover dali aquele fúnebre diletante,
tocando, com grande ardor, talvez mais de duas horas seguidamente. Assim
festejei a tomada de Peribebuí.
No quintal
daquela habitação, onde havia trastes de luxo moderno e objetos bastante
curiosos de antiguidade jesuíticas, restos de grandezas passadas, a custo e à
ultima hora trazidas de Assunção, encontrou o Tibúrcio um depósito de vinhos de
excedente qualidade, sobretudo caixas de champanhe, de indiscutível e legítima procedência,
e das melhores marcas. Nunca o bebemos tão saboroso e perfumado, força é
confessar.
Tratava-se em regra a imperiosa e inteligente mulher que teve tão vasta e tão perniciosa influência sobre o espírito de Solano López e tanto concorreu para a desgraça, as loucuras e horrorosos desmandos de seu amante e para as calamidades do valente e mal-aventurado povo paraguaio. Bem curiosa deve ser a história ainda imperfeitamente conhecida dessa Mme. Lynch! [...]
Bibliografia
TAUNAY, Afonso
d’Escragnolle. Recordações de Guerra e
de Viagem ‒ Brasil ‒ Brasília, DF ‒ Edições do Senado Federal, Vol. 99, 2008.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H