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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCXXVII - Taunay e o Piano


Taunay e o Piano (Robson Vilalba) - Gente de Opinião
Taunay e o Piano (Robson Vilalba)

Bagé, 18.08.2023

 [...] Tomado Peribebuí, e abafada qualquer resistência, houve o seu saquezinho, apesar dos esforços para reprimi-lo. Os soldados, porém, entravam nas casas e saíam com muitos objetos, que iam tomando violentamente ou apanhando pelo chão. Das moradas ocupadas antes pelo ditador López e por Mme. Lynch tiraram não pequena quantidade de prata amoedada, peças espanholas do valor de 2$000, das chamadas colunares, por terem as armas de Castela e Aragão gravadas entre duas colunas. Depois víamos muito esse dinheiro girar no comércio. Não poucos soldados, quando penetrei na morada da Lynch, passaram por perto de mim, levando em panos e mantas grande porção dessa prata, quanto podiam carregar.

Eu, avisado pelo Tibúrcio, ia à procura de um anunciado piano. Havia tanto tempo que estava privado desta distração!... Achei, com efeito, o desejado instrumento, bastante bom e afinado, até pus-me logo a tocar nele, embora triste espetáculo ficasse ao lado, o cadáver de um infeliz paraguaio, morto, durante o bombardeio da manhã, por uma granada que furara o teto da casa e lhe arrebentara bem em cima. O desgraçado estava sem cabeça. Fiz remover dali aquele fúnebre diletante, tocando, com grande ardor, talvez mais de duas horas seguidamente. Assim festejei a tomada de Peribebuí.

No quintal daquela habitação, onde havia trastes de luxo moderno e objetos bastante curiosos de antiguidade jesuíticas, restos de grandezas passadas, a custo e à ultima hora trazidas de Assunção, encontrou o Tibúrcio um depósito de vinhos de excedente qualidade, sobretudo caixas de champanhe, de indiscutível e legítima procedência, e das melhores marcas. Nunca o bebemos tão saboroso e perfumado, força é confessar.

Tratava-se em regra a imperiosa e inteligente mulher que teve tão vasta e tão perniciosa influência sobre o espírito de Solano López e tanto concorreu para a desgraça, as loucuras e horrorosos desmandos de seu amante e para as calamidades do valente e mal-aventurado povo paraguaio. Bem curiosa deve ser a história ainda imperfeitamente conhecida dessa Mme. Lynch! [...] 

 

Bibliografia

 

TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. Recordações de Guerra e de Viagem ‒ Brasil ‒ Brasília, DF ‒ Edições do Senado Federal, Vol. 99, 2008.


 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

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