Sexta-feira, 15 de setembro de 2023 - 06h10
Bagé, 15.09.2023
A MEDICINA NA
GUERRA DO PARAGUAI
(Mato Grosso)
LUIZ DE CASTRO SOUZA
Sócio efetivo do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro e Membro titular do Instituto Brasileiro de História da
Medicina.
As toxinfecções graves que correm por conta de
salmonelas, de grupos bem determinados, apresentam aquela síndrome coleriforme
transcrita pelo Dr. QUINTANA: vômitos, diarreia profusa de fezes riziformes
[com aspecto de grãos de arroz], desidratação [provocando “grande sede”],
desequilíbrio hidrossalino, pulso pequeno e frequente, anúria [supressão de
urinas], o nariz se afila, as extremidades arrefecem, esfriam e ficam
cianóticas, cãibras nos músculos das panturrilhas, a voz torna-se fraca e
apagada [“mudança extrema no metal da voz e mesmo afonia”]. No capítulo
desse assunto, assevera Vieira Romeiro (ROMEIRO), que tudo isso lembra o quadro
clínico da cólera e dá-se a tais casos a denominação colerina ou
cholera-nostra.
O Dr. Cândido Manoel de Oliveira Quintana não possuindo
outros meios diferenciais de diagnóstico, na época, não teve dúvida em dar a
cólera como doença dominante, pois baseou-se na semelhança do quadro clínico
que tivera oportunidade de observar pessoalmente, por ocasião da epidemia do
morbo na cidade do Rio de Janeiro, em 1855. Discutia-se muito em ser ou não
contagiosa a cólera, mas havia surgido no cenário mundial da ciência, a figura
genial de Louis Pasteur [1822-1895], com seus estudos memoráveis acerca da
vitalidade dos fermentos, a ilusão da “geração espontânea” e as
bactérias patogênicas. Só muitos anos mais tarde, no ano de 1883, Robert Koch
[1843-1910], um novo gênio da concepção científica e da técnica bacteriológica
(VASCONCELLOS, 1960), viera descobrir um bacilo em forma de vírgula, a que se
denominou de vibrião colérico, o agente causador do terrível morbo.
Assim, a identificação da infecção e certeza do
diagnóstico, passaram depois a ser confirmados na pesquisa do vibrião
diretamente nas fezes e pelo sorodiagnóstico, meios laboratoriais inexistentes
e impossíveis na época. Ao afirmar ser a cólera o mal que flagelava os nossos
expedicionários, estava correta a impressão clínica dominante no espírito do
Dr. Quintana e dos médicos de então.
Só depois, com os meios de pesquisa e de observação,
podemos tentar fazer um diagnóstico por exclusão, pois, sabemos que a doença
esteve circunscrita e restrita apenas ao aglomerado humano da Força
Expedicionária, no período de uns quinze dias, sem ter disseminado outros
locais da Província de Mato Grosso, apesar de os convalescentes terem se
encaminhado até Cuiabá. Não existiria nenhum bacilífero entre aqueles nossos
soldados sãos ou doentes e convalescentes? Nessa tentativa de diagnóstico por
exclusão, passando, também, pela infecção tifoide e a disenteria bacilar aguda,
não podemos desprezar o episódio ocorrido no pomar do Guia Lopez, quando os
nossos doentes e convalescentes ao ingerirem grande quantidade de laranjas,
devorando-as até com cascas, e de limões, a doença desapareceu por encanto.
Diz Taunay em suas Memórias, na página 251,
que comeu de assentada nada menos de vinte e oito laranjas! Qual a causa de ter
cessado a epidemia, após o consumo em grande quantidade de laranjas e limões?
Hoje, com o conhecimento do metabolismo da água e dos eletrólitos, podemos
interpretar o que ocorreu: houve espoliação hidrossalina em nossos
expedicionários. Quanto à ingestão de água, esta fora realizada, porém, sem a
reposição necessária de eletrólitos que somente foram assimilados na grande
ingestão de frutas, resultando, em consequência, a melhoria do equilíbrio
hidrossalino e com a recuperação dos nossos heróis.
Eis a explicação. Não podemos esquecer a avitaminose
que também esteve presente naquele quadro clínico, cuja perda fora mais pelos
vômitos do que pela ausência de alimentação naqueles poucos dias, mas o
providencial pomar viera concorrer como papel adjuvante na recuperação dos
nossos enfermos e convalescentes.
A infecção da cólera não seria curada com esses meios;
apenas se observaria melhores condições físicas dos enfermos. A verdade é que
cessou a tal epidemia nos infelizes expedicionários brasileiros, após as providências de víveres, e, evitados os alimentos deteriorados – a causa do quadro
epidêmico.
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No dia 25.05.1867, com água até à cintura, nossos
soldados transpuseram o córrego da Prata, afluente do Rio Miranda. Nessa
ocasião, o número de padiolas carregadas com doentes elevava-se a 96 e como se
fazia necessário oito homens para o revezamento, mais da metade da Força estava
empregada em transportar os enfermos. A intensa fadiga e o descontentamento
eram evidentes, visto que realizavam um trabalho extremamente penoso como o de
padioleiros e as praças já murmuravam com ameaças de desvencilharem-se da sobrecarga
do transporte dos doentes, agravado pelo estado físico e pela longa distância a
percorrer.
Diante da situação tensa, foi preciso muita energia dos
oficiais para impor a ordem. Acentua Taunay, que a maior parte das unidades
achava-se dominada pelo espírito da desorganização e, consequentemente, a
insubordinação quase instaurou-se.
Nesse dia, o Coronel Carlos de Moraes
Camisão convoca várias vezes os comandantes dos corpos, manifestando maior
apreensão e mesmo certa agitação. Ele estava profundamente impressionado e
desabafou o que lhe ia no íntimo, quando dissera:
Para um chefe era a
morte preferível ao espetáculo que desde algum tempo tinha sob os olhos.
E ao referir-se, nessa ocasião, aos
enfermos, afirmara:
Ah! Quanto quisera eu
estar no lugar de um destes que acabaram.
Transcrevemos essas frases para avaliarmos a luta
interior vivida pelo infeliz mais bravo Coronel Camisão. Numa dessas
conferências com os oficiais, ele sugeriu um novo arranjo no transporte dos
doentes, a cuja ideia se manifestaram contrariamente os presentes,
considerando-a inexequível. O Coronel Camisão julgava que somente a urgente e
rápida marcha da Coluna poderia salvar o resto da Força, cujo empecilho era o
transporte moroso dos enfermos, considerando-se, também, impossível levá-los
mais longe.
À meia-noite, então, convoca o Comandante-chefe uma
nova reunião, quando a iniciou com palavras concisas e objetivas acerca da
situação da Expedição, para finalmente concluí-la, comunicando sua extrema decisão:
abandonar os doentes à comiseração do inimigo. Assumiu inteira e exclusiva
responsabilidade. Somente os convalescentes seguiriam. Após essa terrível e
dolorosa comunicação e resolução, diz Taunay que não houve uma só voz que
contra esta medida se levantasse e:
longo
silêncio acolheu a ordem, sancionando-a.
A seguir, se não bastasse o sofrimento dos médicos
militares sem os meios terapêuticos necessários para salvar aqueles bravos
soldados, o Coronel Camisão ainda aumentou-lhes os tormentos com um grave
problema de deontologia médica ([1]), ao
convidá-los a apresentar-lhe objeções, acaso inspiradas pelo dever
profissional, diante de sua determinação.
Ouviu-se, então, a opinião discordante do
Capitão 1° Cirurgião, Dr. Manoel de Aragão Gesteira, com o impacto daquela
ordem, disse que:
depois
de alguma reflexão, que não ousava aprová-la nem a desaprovar, só lhe competia,
então, o silêncio, pois se de um lado tinha de atender ao seu juramento
profissional, por outro achava-se este, no caso atual, em contradição absoluta
com a sua consciência de funcionário público adido à Expedição (TAUNAY, 1874).
Era, sem dúvida, o protesto velado contra a
desumana ordem, mas como médico militar, o Dr. Gesteira não poderia dizer
outra coisa. A sua obrigação era preservar e recuperar a saúde dos soldados,
cujo destino cabia, exclusivamente, ao chefe da Coluna. A decisão de casos como
este compete ao comandante das Forças, em situações extremas e desesperadas, e
parece-nos que é o conceito até hoje mantido e aceito. Dessa maneira, a
prerrogativa assumida plenamente pelo Cel Camisão, fê-lo digno de um chefe
militar autêntico. Após o pronunciamento do oficial médico, o Coronel Camisão,
ordena que
à
luz de fachos imediatamente na mata vizinha se abrisse uma clareira, para onde
seriam transportados e abandonados os enfermos.
E acrescenta ainda
Taunay:
Ordem
terrível de dar, terrível de executar; mas, no entanto [forçoso é confessá-lo],
não provocou um único reparo, um único dissentimento.
Dizem que os pobres
doentes aceitaram resignadamente a solução para suas vidas, possivelmente
diante do estado agônico ([2]) em que
a maioria se encontrava, como afirmam as partes oficiais, só pedindo que lhes
deixassem água.
Em um tronco de árvore, foi pregado um
cartaz, dizendo em letras garrafais: “Compaixão para os coléricos!” E
essa compaixão se estendia a 123 ([3])
infelizes brasileiros, ali deixados à própria sorte. Pouco depois, ao mover-se
a Coluna, ouviu-se a fuzilaria inimiga. Era um Esquadrão de Cavalaria
paraguaia, imolando os nossos enfermos à bala e depois
Lanceando
a eito ([4]),
sem poupar nenhum, aos que se achavam ao alcance de seus braços,
conforme narra uma testemunha ocular mais
adiante citada. E diz sobre esse momento dramático o comandante interino da
Coluna, em sua parte oficial:
Cena
medonha que fica indelevelmente marcada no espírito daqueles que ouviram os
gritos dos míseros coléricos!
Já Taunay escreveu acerca desse instante
funesto:
Ninguém
de nós ousava olhar para o companheiro!
O abandono dos moribundos fora, realmente, uma ordem
terrível que não podemos aceitar, mas, cuja resolução somente os que viveram
aqueles momentos de desespero e de salvação poderiam medir e decidir. Taunay
volta para a Corte [Rio de Janeiro], como emissário oficial, levando a notícia
da desastrosa Retirada da Laguna, entrevista-se com o Imperador Dom Pedro II,
que ao ouvi-lo, disse:
Bem,
lerei com todo o cuidado as partes oficiais. Mas como foram abandonar feridos e
doentes? Enfim... tudo verei (TAUNAY, 1874).
O abandono dos doentes recebeu, também,
crítica severa de Cuvillier Fleury, membro da Academia Francesa, e de outros
escritores (TAUNAY, 1874). O Dr. José Pereira Rêgo, futuro Barão de Lavradio,
no Relatório da Junta de Higiene Pública, já citado, de 26.03.1868, manifesta o
horror que lhe inspirava a narrativa dos acontecimentos e não pôde silenciar
quanto à posição assumida pelo bravo mas infeliz comandante da Expedição, ao:
Dar o passo lamentável
que deu, abandonando na retirada tantos brasileiros dignos de melhor sorte, os
quais nem ao menos tiveram em sua desventura, uma mão carinhosa que os
amparasse nos últimos momentos de seu fim desgraçado e lhes cobrisse o corpo
inanimado com um pouco de terra da Pátria, em holocausto da qual morriam,
porque, entregues à brutal ferocidade de seus inimigos, foram por estes
trucidados no leito de dor quando toda resistência de sua parte era impossível
pelo aniquilamento das Forças físicas e morais. (REGO FILHO)
Sabemos que um desses infelizes soldados
pôde escapar, juntando-se aos seus companheiros, cujas peripécias da fuga,
narrou-a com minúcias, muitos anos depois, em agosto de 1919, ao escritor
Godofredo Rangel, que a publicou na “Revista do Brasil” n° 55, julho de
1920. Chamava-se Calixto Medeiros de Andrade e residia, na época, na cidade
Estrela do Sul, Minas Gerais. Em seu depoimento, afirmou este sobrevivente, que
com a aproximação do inimigo, depois de pular por cima dos companheiros,
conseguiu entrar no mato e escapar.
Continuou a engatinhar pelo mato abaixo e após muito
esforço saiu no campo, porém, os paraguaios e seus cães adestrados estavam nas
imediações.
Depois de passar desapercebido e
arrastar-se pelo campo, encontrou um cavalo muito magro e utilizando uma tira
de pano, atadura de dois metros de comprimento, que estava enrolada no braço em
que o médico o sangrara, adaptou-a como cabresto no animal e cavalgou com
cautela. Diz, também, que na inconsciência provocada pela moléstia, nem sabia
que havia sofrido uma sangria... Ao aproximar-se do acampamento brasileiro,
ainda com os paraguaios nas vizinhanças, seus companheiros o avistaram e
vieram em seu auxílio. Deram-lhe um presente que muito o agradou: duas
laranjas.
Assim, ao reunir-se, novamente, à Coluna, o
nome desse herói deixou de figurar na relação oficial dos que foram deixados no
pouso pela Expedição. Hoje, ao localizarmos a relação nominal dos cento e vinte
infelizes heróis e mártires, cuja publicação sai em Anexo a este ensaio,
transcrevemo-la com imensa emoção, pois, representa uma homenagem efetiva e
duradoura. Seus nomes que são apresentados pela primeira vez nos anais da
história da Guerra do Paraguai, merecem ser gravados no monumento consagrado
aos heróis da Laguna e Dourados, na Praia Vermelha, agora não os mártires
desconhecidos como lá estão afigurados, mas identificados e recordados eternamente
pelos pósteros. A lembrança de cada um daqueles brasileiros deve receber sempre
a nossa sentida reverência do reconhecimento e da gratidão, como dos mais
infelizes soldados imolados no cumprimento do dever, cujas vidas representam a
própria imortalidade da Pátria Brasileira e o sentimento de humanidade
universal.
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*
*
Em todo o nosso trabalho e principalmente quando
estudamos a evolução da Coluna Expedicionária de Mato Grosso, tivemos a
preocupação de apresentar dados aproximadamente reais sobre os efetivos e
perdas humanas, tendo para isso procurado as fontes oficiais. Entretanto,
devemos reconhecer, que não foi tarefa fácil reunir esses números, pois são
bastante falhos e deficientes os documentos de informações a respeito. Alguns
historiadores, comumente, desprezam esses dados pela preocupação de revelar as
operações da luta e quando o fazem são exagerados nos efetivos ou os omitem
completamente.
Na Retirada da Laguna não poderíamos, igualmente,
desviarmo-nos dessa orientação inicial, ainda mais para não dramatizá-la como é
comum sua apresentação nos compêndios históricos.
Também não podemos concordar com o General Tasso
Fragoso, emérito historiador militar, que considerava a Retirada da Laguna como
Operação militar
desvaliosa, célebre apenas por ter se caracterizado pela falta de comida...
(PAULA CIDADE, 1959).
Não, assim é demais. A invasão do
território inimigo foi um erro grave e revestiu-se da ausência de grandes batalhas,
mas com ataques violentos da cavalaria paraguaia que foram bravamente
repelidos, entretanto a retirada em si e as solicitudes relembradas com o
rosário de episódios e resoluções militares são suficientes para serem
apresentadas como fatos merecedores de exaltação.
Assim, no que se refere ao efetivo e perdas humanas em
consequência da Retirada da Laguna, sabemos que, na invasão do Paraguai, pelo
norte da República, a Coluna Brasileira compunha-se de 1.907 praças. Depois
da penosa marcha de retirada, no acampamento na margem do Rio Aquidauana,
tínhamos 1.329 homens, apresentando o número de baixas em 578, entre mortos,
feridos e desaparecidos, conforme quadro demonstrativo publicado por E. C.
Jourdan (JOURDAN, 1893) com as “relações de mostra dos corpos” que
compunham a Expedição. Tivemos oportunidade de apresentar no final do capítulo
anterior, o total das Forças Brasileiras, em Nioaque, a 01.02.1867, cujo
efetivo era de 2.084 homens, porém, nos três meses decorridos até a invasão,
possivelmente, houve essa alteração por motivos vários e pelo desfalque com o
destacamento que ficara sob as ordens do chefe da Repartição Fiscal, Coronel
Francisco A. de Lima e Silva, naquela localidade. O Coronel Emílio Carlos
Jourdan, em seu citado trabalho, reproduziu também um mapa com
A
relação de mortos e feridos nos combates dos dias 6, 8, 11 e 18 de maio,
extraviados por ocasião dos mesmos combates, falecidos e abandonados, atacados
pela cholera-morbus, falecidos por explosão e afogados,
assinado pelo Bacharel Antônio Florêncio Pereira do
Lago, Capitão Assistente do Ajudante-General, datado de 14.06.1867, no
acampamento na margem esquerda do Rio Aquidauana. Esse mesmo mapa fomos
localizar no Arquivo Nacional ([5]), cuja
relação é a seguinte:
Mortos em combate ______________________ 030
Feridos
________________________________ 041
Extraviados ____________________________ 001
Falecidos, atacados pela cólera _____________ 174
Moribundos coléricos abandonados no
pouso _ 122
Falecidos por explosão____________________ 009
Afogados ______________________________ 003
Total:
__________________________ 380 homens
Desse modo, sabendo que as baixas orçaram em 380 homens
acima relacionados, mais os 198 praças considerados desaparecidos, conforme o
mapa com as “relações de mostra dos corpos” citado anteriormente, o
total geral das perdas humanas da Retirada da Laguna é de 578 homens. O único
extraviado acima relacionado é o Alferes Capelão, Padre Antônio Augusto do
Carmo, das Forças mineiras, que tendo baixa por doença na Colônia de Miranda,
não pôde acompanhar a Expedição quando esta seguiu para a fronteira do Apa.
Após receber notícia da volta da Coluna e encontrando-se já restabelecido, o
sacerdote partiu resolutamente para se juntar à mesma, em vez de recuar em
direção a Nioaque.
Armado de clavinote ([6]) e
revólveres à cintura, o Padre Carmo caminhou durante dois dias, quando no
terceiro dia avistou-se com um troço de cavalaria paraguaia e começou sozinho a
fazer fogo, sendo, então, cercado e ferido. Depois de muito espancado foi
levado como prisioneiro para o Paraguai, tendo falecido em Concepção. Depois
dessa narrativa, acrescenta Taunay sobre o Padre Carmo:
Que
juízo devemos dele fazer? De simples insensato ou ingênuo herói? (TAUNAY,
1948).
Numa relação nominal dos oficiais e praças mortos pela
cólera, apresentada pelo Capitão assistente do Ajudante-General, no acampamento
na margem do Rio Aquidauana [Porto Canuto], em 15.06.1867 ([7]),
assinala o nome do Soldado JOÃO PACHECO DA COSTA, da Companhia de Enfermeiros,
que aqui consignamos com as nossas homenagens. E ao encerrarmos este capítulo
sobre episódio da Retirada da Laguna, não podemos fazê-lo sem antes prestar uma
reverência mui especial aos oficiais médicos, Capitães 1os
Cirurgiões, Drs. QUINTANA e ARAGÃO GESTEIRA ([8]), cujas
atuações relevantes na Retirada foram assinaladas pelas Ordens do Dia e
comprovam a abnegação, o estoicismo, a fé, a coragem e o sangue frio diante de
tanta miséria.
Podemos proclamar sem paixão,
que esses dois profissionais pela posição que exerciam, representaram os
condutores morais dos retirantes, para a salvação da honra e da dignidade do
Brasil. Sobre eles se concentravam a derradeira esperança contra a morte e o
lenitivo do calor humano, conforto tão necessário junto àqueles heróis. Hoje,
da lembrança e evocação desses abnegados e dedicados médicos que souberam
cumprir os preceitos hipocráticos e militares, somente existem os medalhões com
suas efígies, no Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados, na Praia Vermelha,
Rio de Janeiro, RJ. A ideia inicial do monumento aos “Heróis da Laguna e
Dourados” surgiu na Escola Militar, em 1903, em aula proferida pelo Prof.
Lobo Vianna, mas coube ao então Tenente Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo, no
ano de 1920, motivar a mocidade militar que abraçou com entusiasmo a sua
realização. O Professor Cordolino de Azevedo foi eleito, pelos Cadetes,
Presidente da Comissão Central do monumento. Este oficial
No limiar de cada ano
buscava energias novas ao contato das turmas de Cadetes,
arregimentando legionários para a bela causa patriótica
e assim, graças à sua perseverança, tenacidade e esforços ingentes, pôde
assistir a inauguração do monumento, em 1938, depois de dezoito longos anos de
exaustivo trabalho. A concretização do monumento deveu-se à contribuição de
donativos das corporações militares, governos e povo, e representa o símbolo
votivo de inspiração do dever para com a Pátria. Finalmente, devemos manifestar
contritamente como homenagem duradoura aos médicos-soldados, doutores GESTEIRA
E QUINTANA: a Nação Brasileira lhes é agradecida eternamente pelos edificantes
exemplos assinalados na gloriosa jornada! (CONTINUA...)
Bibliografia
SOUZA, Luiz de Castro. A
Medicina na Guerra do Paraguai (I a V) – Brasil – São Paulo, SP – USP,
Revista de História, 1968, 1969 e 1970.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
[1] Os deveres e
regras de natureza ética da classe médica. (Hiram Reis)
[2] Agônico: de
agonia. (Hiram Reis)
[3] Havia certa
controvérsia quanto ao número de doentes abandonados, pois, Taunay na “A
Retirada da Laguna”, assevera 130 praças e em sua “Narrativas Militares”
fala em mais de 200 homens. Já o comandante da Expedição, Major José Tomás
Gonçalves, em sua parte oficial, datada de 16.06.1867, consigna cerca de 76
moribundos, deixados no referido pouso. A parte oficial do Corpo de Saúde,
assinada pelo Dr. QUINTANA, assinala 122 o número dos doentes abandonados por
ordem superior, excluindo o cabo Calixto de Medeiros de Andrade que conseguiu
escapar com vida. (SOUZA)
[4] Lanceando a
eito: golpeando com as lanças a esmo. (Hiram Reis)
[5] IG 1 – 242,
doc. 417. (SOUZA)
[6] Clavinote:
pequena carabina. (Hiram Reis)
[7] Arquivo
Nacional. IG 1 – 242, Doc. 422. (SOUZA)
[8] Radicou-se na
cidade de Ouro Preto, MG, onde contraiu núpcias, antes de partir para o
Paraguai, com D. Carlota Augusta de Magalhães Gomes Gesteira, de cujo consórcio
nasceram os seguintes filhos: Francisco, Aristides, Rodrigo e Jaime. O primeiro
matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, indo terminar o curso na
Faculdade do Rio de Janeiro, em 1900, tendo clinicado na cidade natal e em Nova
Lima, e sendo diplomado em farmácia pela Escola de Ouro Preto; o segundo e o
terceiro, se formaram em direito, tendo Rodrigo se fixado na Bahia, exercendo a
advogaria. O Dr. Manoel de Aragão Gesteira faleceu em 1889, na cidade de
Lambari, quando muitos anos antes havia se reformado no posto de Major
Cirurgião-mor de Brigada. (SOUZA)
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H