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Hiram Reis e Silva

Terceira Margem – Parte DCXXXV - A Medicina na Guerra do Paraguai Parte VII


Terceira Margem – Parte DCXXXV - A Medicina na Guerra do Paraguai Parte VII - Gente de Opinião

Bagé, 06.09.2023


A MEDICINA NA GUERRA DO PARAGUAI

(Mato Grosso)

LUIZ DE CASTRO SOUZA

Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Membro titular do Instituto Brasileiro de História da Medicina.

O Governo Imperial, a 01.12.1865, mandava respon­der o Cel Drago a Conselho de Guerra, antes proce­dido o de investigação, cujos membros nomeados foram: Brigadeiro Henrique de Beaurepaire Rohan, Presidente, e vogais os Coronéis Sebastião Francisco de Oliveira Chagas e Alexandre Maria de Carvalho Oliveira (JOURDAN, 1893).

O Coronel Manoel Pedro Drago não era responsável pelas dificuldades imensas e obstáculos sem conta encontrados pelos lugares percorridos, e esta Expedição era minguada de recursos para sustentá-la na vastidão de território deserto que ela tinha de palmilhar e ultrapassar, a fim de atingir o seu objetivo.

Diz Taunay, que o Cel Drago ficou em Campinas, sem dinheiro e sem autorização para assinar o contrato de transporte de bagagem, de fornecimento etc., que o obrigou a esperar, durante um mês e meio, pelos funcionários encarregados de tais providências, e acrescenta, que, em Uberaba, ele encontrou 1.600 homens sem armas nem instruções e com a artilharia em péssimo estado (TAUNAY, 1944).

Tornaram-se, então, necessários aqueles quarenta e sete dias de acampamento, em Uberaba, para adestramento das Forças. A demora do Coronel Drago era justificável e revelava bom senso, mas exaspera o Governo Imperial e daí a sua demissão.

Ainda mais, Drago, em vez de seguir a estrada de Santana do Paranaíba, conforme instruções, tomou a do Rio Claro, aumentando, desse modo, o percurso do objetivo da expedição, que era o sul de Mato Grosso. Sua intenção seria atingir Cuiabá, para, então, assenhorear-se melhor da situação e aumen­tar o efetivo da tropa, reunindo meios suficientes para enfrentar o inimigo.

A 19.10.1865, quando estava quase terminada a trabalhosa passagem do Rio dos Bois e a coluna havia marchado sessenta léguas de Uberaba e encontrava-se a dezoito léguas de Mato Grosso, assumia o comando geral da Força Expedicionária o Coronel José Antônio da Fonseca Galvão.

No dia seguinte, o Coronel Manoel Pedro Drago ([1]), partia para a Corte, cercado de toda consideração, respeito e simpatia dos seus comandados. No dia 22 estava terminada, finalmente, a transposição do Rio dos Bois, com todo o contingente e bagagem da Expedição na sua margem direita, e no dia seguinte era levantado o acampamento em direção à vila das Dores do Rio Verde, também denominada Vila das Abóboras, hoje cidade do Rio Verde.

A coluna vai penetrar mais ainda no sul da Província de Goiás, terreno constituído de lindos campos e formosos vales, que na concepção poética de Taunay (TAUNAY, 1944), formavam cenários inesquecíveis para todos. Diz ele que, no início das marchas, pela madrugada, deparava com incontável número de passarada e da mais variada: bem-te-vis, canários, papa-capins, bicudos, sangues-de-boi, tizius, azu­lões, graúnas, lavadeiras, anus, pintassilgos, sabiás. E mais adiante, encontravam bandos e bandos de papagaios, araras, periquitos, gaviões. Revoadas de pombas-caboclas e rolas fogo-apagou, andorinhas e tesouras. Emas e seriemas. Junto aos barreiros e regatos: os veados, as perdizes, as antas, os queixos-ruivos, as sucuris. As onças e as jiboias trazendo terror e sobressaltos. Havia, também, mangabeiras em profusão e a presença dos buriti­zais, embelezando a paisagem com suas palmeiras e anunciando a existência d’água. Desde Uberaba que os buritis eram encontrados pelos caminhos. Nos grandes rios: jacarés, ariranhas, piranhas e peixes das mais variadas espécies.

A 31 de outubro, entrava a Força na Vila das Abóboras. Após quatro dias de descanso, seguiu destino ao depósito de mantimentos denominado Baús [MT], aí chegando a 24 de novembro. Antes de atingir este local, atravessou o contingente outro obstáculo respeitável que foi o Rio Claro. A Força Expedicionária, começou, então, a ressentir-se de mantimentos e foi obrigada a diminuir a ração diária, quando faltou totalmente a farinha de mandioca e o sal escasseava.

Os recursos locais eram bem reduzidos, pois tratava-se de regiões quase despovoadas e sem grande cultivo, ainda agravado pela seca do ano transcurso. Infelizmente, o depósito de abastecimentos de Baús, organizado pelo Presidente da Província de Goiás, não foi tão promissor e a esperança da soldadesca caía por terra... A tropa, nesse local, foi obrigada a refazer-se, depois de contínuas marchas, aí permanecendo pelo espaço de cinco dias. No dia 30 de novembro prosseguia a marcha para Coxim.

Em derredor da Vila das Abóboras, Goiás, observou Taunay a incidência de numerosos papudos, tendo chamado sua atenção uma mulher portadora de bócio demasiadamente volumoso e tão cheio de protuberâncias, que ele não resistiu e fez um desenho (TAUNAY, 1944). Possivelmente, tratava-se de bócio endêmico difuso. Não acrescentou Taunay outros dados que pudéssemos afirmar ser bócio acompanhado de cretinismo, o que é frequente encontrar-se nas regiões onde há bócio endêmico.

O aumento de volume da tiroide nos habitantes daquela Província fora também observado em outras regiões de Goiás, pelo médico e botânico escocês Dr. George Gardner, quando por lá andou, em fins de 1839 e começos de 1840 (GARDNER, 1942). As Forças transitavam por estradas que eram trilhas de gado e por isso a imensa dificuldade no transpor­te, principalmente para as viaturas das peças de artilharia e das carroças de mantimentos, pois estas sempre se encontravam atrasadas, obrigando às paradas quase frequentes.

A 16 de dezembro, a coluna chegava à margem esquerda do rio Taquari e no dia 18 iniciava a sua passagem, cujos trabalhos se encerraram a 20, com todo o contingente acampado no lugar denominado Coxim, local de pequena Colônia Militar de Taquari ou Beliago, fundada mui recentemente e destruída pelas hostes paraguaias, na invasão. Até este ponto e segundo a avaliação feita pela Comissão de Engenheiros, a Força Expedicionária havia percorri­do, de Santos ao Taquari, 264 léguas (TAUNAY, 1928). E no período de quase nove meses!

VII

O ACAMPAMENTO DE COXIM E
A MARCHA PARA O SUL DO MATO GROSSO

Em Coxim, território mato-grossense, já se encontravam acampadas, de há muito, as seguintes Forças da Província de Goiás: 20° Batalhão de Infantaria com 376 praças e o Esquadrão de Cavalaria, constituído por uma Companhia de Cavalaria de Linha da Província e outra Companhia de Cavalaria de Voluntários da Pátria, formando um efetivo de uns 200 homens. O Batalhão havia partido da capital de Goiás, a 15.05.1865, sob o comando do Tenente-coronel Joaquim Mendes Guimarães e o Esquadrão de Cavalaria, em 8 de julho, comandado pelo Major em comissão Eliseu Xavier Leal. Ambas as Forças seguiram a direção da via Rio Verde, percorrendo umas cento e trinta léguas.

Como responsável pelo Serviço de Saúde, adido ao 20° Batalhão de Infantaria, encontra-se o Tenente 2° Cirurgião, Dr. Cândido Manoel De Oliveira Quintana, natural da cidade do Rio de Janeiro [Corte], nascido em 10.09.1829 e filho de Domingos Manoel de Oliveira Quintana e de D. Cândida Angélica da Nóbrega Quintana. Doutor em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, em 1855 (QUINTANA, 1855). Assentou praça como Alferes 2° Cirurgião, em 29.08.1857, sendo promovido a Tenente 2° Cirur­gião, em 23.09.1857. Mui brevemente seria Capitão 1° Cirurgião, isto é, aos 22.01.1866.

Nesse acampamento, a Coluna Expedicionária sob o comando geral do Cel José Antônio da Fonseca Galvão, recebeu uma nova organização, formando duas Brigadas: a primeira, com 1.157 praças e constituída pelo 17° de Voluntários de Minas Gerais, o 21° Batalhão de Infantaria e o Corpo de Artilharia do Amazonas; a segunda, com um contingente de 914 homens, composta pelo 20° Batalhão de Infantaria e Esquadrão de Cavalaria de Goiás, voluntários e policiais de São Paulo e Minas Gerais. Totalizava um efetivo de 2.071 homens.

O Serviço de Saúde compunha-se de 9 médicos e 28 enfermeiros. Além dos expedicionários, a concen­tração de Coxim reunia um número considerável de pessoas, mulheres e crianças, famílias dos soldados, que seguiam na esteira da Coluna.

Era um hábito antigo do Exército, que fazia transtornar a marcha e criar problemas sérios quanto à disciplina e à alimentação, principalmente.

O acampamento de Coxim ocupava uma extensão de quase uma légua e ficava à margem direita do Rio Taquari, iniciando-se na confluência deste com o Rio Coxim. Neste local havia um agrupamento humano calculado em 3.000 pessoas, com as praças e suas famílias, carreteiros, bagageiros etc. Iniciadas as chuvas, a Coluna ficou imobilizada, resultando, em consequência, a escassez do abastecimento. O Coronel José Antônio da Fonseca Galvão, velho e austero soldado, presenciando aquela situação aflitiva, envia constante correspondência solicitando recursos e numa delas, dirigida ao Presidente da Província de Mato Grosso, dizia que se encontrava

com imensa preocupação para atender a quase três mil bocas ([2]).

Quem surge em socorro da Coluna é o Presidente de Goiás, Augusto Ferreira França. Diz Taunay, que

se não fora a incansável dedicação daquele distinto brasileiro, a Expedição teria infalivelmente se dissol­vido no Coxim, depois dos mais tremendos horrores (TAUNAY, 1878).

Realmente, o Presidente da Província de Goiás foi inexaurível no apoio às Forças Imperiais e não media esforços para atendê-las. Quem lê a correspondência do Cel Galvão para este Presidente de Província nota a enorme preocupação e desalento do chefe da Expedição pelo destino dos seus comandados, solici­tando gêneros e mais gêneros. Até sentimos a sensação de fome no manuseio desses documen­tos... Porém, existem os inúmeros quadros demons­trativos das remessas de alimentos que comprovam o pronto atendimento do Dr. Augusto Ferreira França.

O próprio Cel Galvão, nas suas comunicações, reconhece e enaltece a presteza dessas providências, mas o grande problema eram os meios de transpor­tes. Os pontos de abastecimento criados pelo Presi­dente da Província de Goiás, estavam abarrotados de alimentos. É necessário ser lembrado que tudo em volta do Coxim, era um imenso território deserto e com as chuvas caídas completavam o isolamento e as dificuldades.

Ainda sobre o acampamento de Coxim, diz Taunay que a sua permanência foi um lento martírio e ao escrever o Relatório Geral da Comissão de engenhei­ros nas Forças em operações ao sul da Província de Mato Grosso, 1866, anexo, ao Relatório do Ministério da Guerra de 1867, afirmara:

Neste estado desesperado a Força achou-se a braços com a mais completa míngua. Reduzida à simples carne, por espaço de mais de mês, muitas vezes lhe faltou aquele alimento exclusivo, que deu em resultado o aparecimento de várias moléstias [Os grifos são nossos].

Os gêneros de primeira necessidade chegaram a preços exorbitantes, aproveitando-se a ganância e o espírito de lucro abusivo, da desgraça, a que todos se viam reduzidos. Um conjunto, contudo, de fatos tão tristes fez mais realçar as virtudes que imperam no soldado brasileiro, patenteando o seu caráter eminentemente sofredor e resignado, à subordina­ção e disciplina, que lhe são naturais.

E prosseguia a narração:

Depois de dias, em que nada se distribuía, nenhuma queixa se erguia, nenhuma exigência se ouvia: todos se compenetravam das dificuldades que presidiam a qualquer providência que tomar, e calmos espera­vam pelo que lhes reserva a sorte. Não nos compete a apreciação dos fatos que deram em resultado esta ordem de coisas:

consignamos simplesmente as fases por que passou a expedição, nas quais sempre presenciamos o comportamento altamente recomendável do pessoal que a compunha; galhardo nas marchas e pronto para todos os trabalhos, suportando, enfim, as maiores privações, a que pode ser sujeito o homem na guerra, sobretudo nas condições difíceis, que proporcionam distâncias imensas e sertões inóspitos.

E concluindo:

Depois da mais penosa marcha por centenares de léguas, rodeada de perigos e incômodos, na qual de contínuo se lutava com circunstâncias imprevistas, acompanhadas de inúmeras aflições, veio a estada prolongada do Coxim pôr à prova a abnegação e o sentimento íntimo do dever, de que tantos exemplos brilhantes tem dado o brasileiro, que enverga os distintivos da vida de sofrimentos.

Após transcrever este trecho do relatório, Taunay comenta em um dos seus livros:

Quadro exato da triste situação que apresentava a Expedição de Mato Grosso, atirada a um canto da Província, que vinha socorrer, reduzida à inação por obstáculos invencíveis de um lado, do outro pelos poucos meios de que dispunha, para somente sobre si, empreender a ofensiva. De nenhum conselho lhe servia o título pomposo, com que, a pedido, a haviam agraciado. Forças lhe faltavam; “operações” era uma ironia cruel para um espírito filosófico e o sul da Província de Mato Grosso é tão vasto, tão medonhamente inçado de dificuldades, sobretudo naquela época, quanto o eram os sinistros pauis[3]) da Germânia em que se abismaram as bizarras Legiões de Varo ([4]).

Assim, pois, não nos iludíamos sobre o presente; e o futuro como derivação natural, não nos abria horizontes de flores (TAUNAY, 1923).

A carne para o abastecimento da tropa havia com relativa quantidade, com as boiadas trazidas dos pastos mato-grossenses e enviadas também pelo presidente de Goiás. Diz Taunay:

no Coxim, comíamos, pura e simplesmente churras­co: o hábito custara-nos a adquirir, mas o organismo acomodara-se (TAUNAY, 1923).

Porém, para aumentar o sofrimento dos nossos sol­dados, surgia uma epizootia que inutilizava e matava aos montes a muares e equinos. Era o conhecido “mal-de-cadeiras”, endêmica naquela região e no sul da Província de Mato Grosso. A cavalaria paraguaia que havia chegado até àquele ponto, em abril de 1865, teve seus animais sacrificados pela epizootia. Com o flagelo da “peste-de-cadeiras” houve, em con­sequência, a diminuição do fornecimento de carne para o acampamento do Coxim, provocado pela ausência de cavalos para vaquejar. O “Trypanosoma equinum” é o agente causal desta doença, cuja sin­tomatologia principal é a paralisia dos membros posteriores dos animais, que valeu o nome popular dado a essa tripanossomose.

Em Coxim, houve baixas e deserções na Coluna, tendo falecido, a 21.04.1866, o comandante do esquadrão de cavalaria de Goiás, Major em comissão Eliseu Xavier Leal e o Alferes Capelão Padre Antônio Augusto de Andrade e Silva esteve adoentado e deu baixa, voltando para o Rio de Janeiro. Além deste sacerdote que anteriormente servia na Fortaleza de Santa Cruz, ainda se incorporaram à Coluna a fim de prestarem serviços religiosos, os seguintes Alferes-Capelães: Padre Tomás de Molina, da guarnição da Província de São Paulo e o Padre Antônio Augusto do Carmo, da Brigada mineira, que não pertencia ao Quadro Efetivo do Exército. A Expedição transporta além de alfaias e paramentos, um altar portátil, tudo fornecido pelo Arsenal de Guerra da Corte ([5]). O Coronel José Antônio da Fonseca Galvão estava impaciente com a imobilização do acampamento de Coxim e desejava cumprir imediatamente a sua mis­são que era expulsar o inimigo ainda ocupando o sul da Província, porém, não possuía mapas topográficos que dessem a orientação necessária. O Presidente de Mato Grosso, Barão de Melgaço, profundo conhece­dor da Província, não podia atendê-lo, pois, não havia transitado pelos terrenos compreendidos entre o Taquari e o Aquidauana e por isso não possuía carta com tal ou qual exatidão (TAUNAY, 1931). Aconselhava o comandante da Expedição a determi­nar aos oficiais engenheiros realizarem a exploração da região. Assim, o Coronel José Antônio da Fonseca Galvão, seguindo a sugestão recebida, escolhe os engenheiros militares Capitão Antônio Pereira do Lago e o 2° Tenente Alfredo d’Escragnolle Taunay, que partiram, a 13.02.1866, com a missão de

reconhecer aqueles terrenos, informando sobre a praticabilidade da viação e procedendo a uma explo­ração cuidadosa daquela fralda de serra.

O Comandante da Coluna, a 2 de abril, começava a receber os relatórios dos oficiais engenheiros, com os dados colhidos, informações e a topografia do deser­to que iriam atravessar. Baixando as águas e após um mês de sol constante que veio secar o caminho dos pantanais, e ciente do relatório dos engenheiros, o Coronel, já então Brigadeiro graduado, José Antônio da Fonseca Galvão, ordena a partida.

E a 25.04.1866, seguia em direção ao Aquidauana, contornando a serra de Maracaju e percorrendo zonas pantanosas e malarígenas. A permanência em Coxim fora de 127 dias. As trilhas palmilhadas pelos expedicionários margeando a serra, evitando, de um lado, a água demasiado profunda e, de outro, a medonha mata virgem, eram vencidas e, com grandes dificuldades os seus 135 km, quando, a 8 de maio, chegaram à margem direita do Rio Negro. (CONTINUA...)

Bibliografia

 

SOUZA, Luiz de Castro. A Medicina na Guerra do Paraguai (I a V) – Brasil – São Paulo, SP – USP, Revista de História, 1968, 1969 e 1970.

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

E-mail: hiramrsilva@gmail.com.



[1]    Caxias, nomeado Chefe do Exército em Operações, envia ofício ao Ministro da Guerra, em 15.12.1866, relacionando os oficiais que deveriam acompanhá-lo e entre estes se distinguia o nome do Cel. Drago. [Arquivo Nacional. Códice 547, Guerra do Paraguai (pg. 22-23) v. 10]. Faleceu o Cel Drago no Rio de Janeiro, a 12.04.1882, com a graduação de Brigadeiro reformado. Dizem que sua morte tivera causa no profundo desgosto pela perda da filha, operada pelo cirurgião e anatomista francês, Dr. J. A. Fort. O Brigadeiro Drago, como tantos outros brasileiros, mantiveram violenta polêmica, pela imprensa, com este médico e professor gaulês. A estada do Dr. Fort, no Brasil. nos anos de 1880 e 1881, foi revestida, inicialmente, por manifestação de simpatia e apreço, tendo o mesmo lecionado cursos livres assistidos pelo Imperador Dom Pedro porém, [TAUNAY, 1948 e SILVA ARAÚJO, 1961].

[2]    Arquivo Nacional. IG 1 – 241, doc. 205. (SOUZA)

[3]    Pauis: pantanais. (Hiram Reis)

[4]                              “Varo: Devolve as Minhas Legiões!

     O acontecimento histórico que evoco hoje teve lugar há dois mil anos. Corria o ano 9 da era de Cristo quando o fabuloso exército romano [que consumia cerca de 90% dos recursos do orçamento do Estado romano!] sofreu uma das maiores humilhações da sua história.

     Aconteceu em Teutoburgwald [ou floresta de Teutoberg], na parte noroeste da Alemanha, perto de Osnabrück e da fronteira com a atual Holanda. Nada mais, nada menos do que três legiões romanas [cerca de 15.000 homens, quase todos peões], acompanhadas por seis Coortes de infantaria auxiliar e por três Alas de cavalaria auxiliar [tropas de origem bárbara recrutadas nas fronteiras do Império] foram surpreendidas e aniquiladas por uma Força de Germanos chefiada pelo líder rebelde Armínio, príncipe dos Queruscos. A operação, além de brutal [nela pereceram uns 20.000 soldados], teve algo de insólito.

     O exército romano era chefiado por Publius Quinctilius Varus, Legado Provincial da Germânia, antigo governador da Síria e parente de Octávio Augusto, o primeiro imperador romano [27 a.C. – 4 d.C.]. A marcha florestal que Varus levava a cabo na Germânia inseria-se no projeto de Augusto para fazer chegar as fronteiras do colossal Império até às margens do rio Elba. Os riscos eram conhecidos, mas havia um pelo qual Varo decerto não esperava: ser surpreendido e dizimado durante a marcha por uma emboscada planejada e liderada pelo seu amigo pessoal Armínio, um antigo servidor do exército romano e um homem que chegara a receber a cidadania romana e o estatuto de cavaleiro de Roma…

     Não se conhecem demasiados detalhes da operação, mas os arqueólogos identificaram o local da emboscada e têm revelado elementos impressionantes para o conhecimento da verdadeira dimensão da chacina. Sabe-se também que Varus, desesperado com a surpresa do ataque germânico, se suicidou antes de consumado o massacre [algo bastante contrário ao procedimento habitual dos Generais romanos].

     Nos dias seguintes, muitos pequenos destacamentos de tropas romanas espalhados pela região sofreram ataques violentos dos bárbaros, entusiasmados com o sucesso da operação de Teutoburgwald, sendo poucos os legionários e auxiliares que conseguiram alcançar em segurança a região do rio Reno, para aí ficarem ao abrigo de outras legiões do Império. O desastre configurou um dos poucos fracassos do projeto militar de Augusto, cujo exército [contando perto de 300.000 efetivos, distribuídos por 25 Legiões, tropas auxiliares, guarnição de Roma e marinha] conquistara o Noroeste da Península Ibérica, os Alpes e os seus grandes vales, que submetera a Judeia e o Egito e que ousara até promover expedições militares na Arábia [atual Jordânia] e na Etiópia.

     Compreende-se, por isso, o que as fontes literárias nos relatam acerca da reação de Augusto, quando informado do desastre na floresta alemã: já bastante idoso, conta-se que deixou crescer o cabelo e a barba durante um mês, em sinal de luto, e que passou a vaguear pelo seu palácio, em Roma, batendo com a cabeça nas paredes e gritando: “Quintili Vare, legiones Redde!”. (GOUVEIA MONTEIRO)

[5]    Diário Oficial. Império do Brasil, edição de 11.04.1865. (SOUZA)

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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