Sexta-feira, 3 de março de 2023 - 08h01
Bagé, 03.03.2023
Embora a imprensa nacional tenha realizado uma cobertura por
demais incipiente da histórica Expedição, vale a pena reportar algumas de suas
breves notas não só pelo seu intrínseco valor histórico mas, sobretudo, porque
elas nos permitem “engarupar na anca da
história” e acompanhar, como o fizeram os leitores de outrora, ainda que
por breves momentos a saga daquele punhado de heróis.
Correio
Mercantil, n° 33
Rio
de Janeiro, RJ – Sábado, 02.02.1867
Expedição
de Mato Grosso
De uma carta particular, escrita de Miranda em 17 de novembro último,
extraímos as seguintes interessantes notícias:
O Sr. Coronel Carvalho
achava-se em Miranda com as Forças sob seu comando. Enviara o mesmo Coronel
alguns bombeiros, comandados por um Sargento, afim de fazer um reconhecimento à
frente. Esses bombeiros, antes de se aproximarem de Corumbá, tinham-se
encontrado com uma avançada dos paraguaios, com a qual se bateram, resultando a
morte de alguns soldados inimigos e escapando sem perdas os bombeiros.
Passados alguns dias,
voltaram estes às proximidades de Corumbá, e observaram grande movimento do
inimigo.
Referiam eles ter visto um
vapor paraguaio rebocando várias lanchas com munições e gêneros.
Estava o Coronel disposto a
bater-se em breve; com os paraguaios em Corumbá, e seguir depois para
Albuquerque e dali ir finalmente a Coimbra.
Já se achavam perto do
acampamento os gêneros alimentícios que estavam depositados nos baús, e que o
Major Lins na sua passagem por ali fizera seguir pela estrada que mandou abrir
daquela localidade até Camapuã. Para esta estrada, segundo refere a carta,
transitam hoje todos os recursos com imensa vantagem, por isso que evitam-se os
pântanos do Rio Negro.
O Sr. Coronel Carvalho já
havia expedido tropas; afim de receber a poucas léguas de distância os
mantimentos transportados por Salviano José Mendes.
Pela estrada de Camapuã,
segundo notícias chegadas ao acampamento das Forças, transitavam muitas tropas
e carros conduzindo víveres.
Tinha o Coronel Carvalho
mandado a Nioaque fazer um reconhecimento pelos índios da tribo Guaicurus,
comandados pelo seu Chefe Lapagata. Já ali não encontrara este Chefe os
paraguaios.
Constava, porém, que o
fazendeiro Barbosa, o qual se achava prisioneiro em poder dos paraguaios, tendo
escapado na ocasião em que estes se retiravam, fora
morto por Lapagata e os seus, em consequência de antigas inimizades.
De
Nioaque tinham os índios teriam seguido para o “Apa”. Em Miranda continuava a grassar a célebre paralisia, que até
à última data fizera já 30 vítimas entre a oficialidade que marchara do Coxim.
(CM N° 33)
Correio
Paulistano, n° 3.217
São
Paulo, SP – Sexta-feira, 15.02.1867
Notícias
das Forças que
Seguiram
para Mato Grosso
Da carta de um Cadete do
extinto Corpo Fixo de S. Paulo, e datada a 24 de dezembro próximo passado em o
acampamento junto a Miranda, extraímos o seguinte trecho:
Aqui neste lugar tudo é ruim,
a água é horrível, o calor excessivo, mosquitos uma quantidade extraordinária,
e assim tudo mais, felizmente a fome já se tem retirado dentre nós, mas a peste
não.
Nós aqui estamos nos
aprontando para marchar contra Corumbá, para lá dar-se um ataque aos vândalos
que tão ousada e traiçoeiramente tem invadido as nossas fronteiras, e que ora
parecem fugir aceleradamente ao tropel das nossas tropas, por isso que, quando
estávamos em Coxim, eles estavam no Rio Negro, e quando para este lugar nos
dirigimos eles se retiraram para o Rio Taboco.
Quando nós chegamos no Taboco
eles voltaram para Aquidauana e quando chegamos no Aquidauana, eles vieram
aqui, nós que para aqui nos dirigimos, eles se retiraram pra Corumbá; se assim
for, suponho que muito facilmente conseguiremos entrar em Assunção.
As rondas que se tem mandado
lá reconhecer a posição, número e qualidade do inimigo, nos dão a seguinte
informação; boa cavalaria e bem montada, boa artilharia de campanha e uma
luzida infantaria tudo em número de 3 a 4 mil homens, justamente o número de
nossa força aqui, porém com diferença de que a nossa cavalaria não está montada
por que não tem cavalos, e eles os tem excelentes, como se vê de alguns que
deles se tem escapado para cá.
A pouco aqui se organizou um
Batalhão somente de bugres, pois para isso são excelentes, e se tivéssemos
material podia-se ainda organizar outros, pois essa gente grosseira e rústica,
para isso serve muito. Esta Vila parece ter sido muito bonita, mas hoje nada
vale, pois os paraguaios queimaram todas as casas e até a própria igreja. (CP
N° 3.217)
Bibliografia
CM
N° 33. Expedição de Mato Grosso –
Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio Mercantil, n° 33, 02.02.1867.
CP,
N° 3.217. Notícias das Forças que
Seguiram para Mato Grosso ‒ Brasil – São Paulo, SP – Correio Paulistano, n°
3.217, 15.02.1867.
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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