Segunda-feira, 29 de maio de 2023 - 07h10
Bagé, 29.05.2023
Quarta Carta
à Tia Chica
(João Nicodemos)
Tia Chica
Maldito mil vezes seja
Solano López Francisco!
Danado o perro se veja
Até morrer sobre o cisco
Ou em fogo de carqueja!
Seja seu nome notado
Como o de febre maligna,
Como o de lobo esfaimado.
Como o de ave de rapina,
Como o de tigre assanhado!
Cego de negra ambição
Quis ostentar de valente,
Perdido em tanta ilusão,
Julgou-se, pobre demente! ‒
Igual a Napoleão.
Não lhe bastou ter atado
Ao equileo (*) da tortura
O peso seu desgraçado;
Na sua feroz loucura
Inda mas quis o malvado.
Seu futuro é um presente
Jogando ao azar da sorte,
Mandou a mesquinha gente
A certeira crua morte
Da guerra na luta ardente.
Ah! minha tia e senhora,
É lei de verdade eterna –
Que do mau chegando a hora
O sizo mais não governa:
Mais que nunca vê-se agora.
López no mal, que sofrer,
De si se queixe somente
Se na forca padecer,
Foi sua mão imprudente,
Que quis a corda tecer.
Não pode encontrar piedade
Quem tem gosto em ser cruel
Indulgência, humanidade,
Mercê, guarida, quartel
Pode esperar, na verdade?
Com Solano, compassivo
Não pode ser o Brasil:
Provém dele o nosso dano;
Os nossos desgostos mil
Provém do feroz tirano.
Ai! minha tia, esta guerra
É penosa provação,
Se a minha razão não erra,
Em tão crua entalação ([1])
Nunca se viu nossa terra.
Já o País caminhando,
A passo lento, é verdade
De um Rei justo sob o mando,
Podia a prosperidade
Ir pouco a pouco alcançando.
Dos anos no rodear,
Não muito longo, podia
Os altos cimos galgar,
Onde as nações, minha tia,
Mais possantes tem lugar.
Dessa vereda formosa
Foi de súbito afastado:
Na porfia gloriosa
Infelizmente estorvado,
Cessa-lhe a ação poderosa.
As forças, que ele aplicava
Da paz às belas feituras;
O vigor, com que arrostava
Revezes e desventuras
E, vencedor, os domava:
De seu destino fecundo
Transviados de repente
Se vão sorver no profundo
Abismo, que a mão furente ([2])
Abriu de López Segundo.
Eu bem sei, tia e senhora,
Que em breve da punição
Soará tremenda hora
Para o tigre de Assunção,
Por quem tanto a forca chora;
Eu bem sei que a Pátria nossa
Possui recursos bastantes
Para que de novo possa
Tornar ao que era de antes,
Sem dos golpes ficar mossa.
(SEMANA ILLUSTRADA N° 257)
(*) Equileo
(O Jardim Literário)
A estampa que hoje apresentamos dá uma sucinta ideia do
horroroso suplício que em Roma-pagã se infligia aos considerados criminosos,
especialmente sectários da sólida e verdadeira doutrina cristã.
Era uma espécie de cavalete de pau, a que os romanos
bárbaros, adoradores das falsas divindades, deram o nome de Equileo. Só em o
imaginar concebemos terror.
Ao padecente, deitado sobre duas traves unidas, com a cara
voltada para cima, e as pernas cruzadas, eram ligados os braços e pernas com
cordas, a que chamavam Fidiculœ, e puxando-as por meio de roldanas, ou
serilhos, as apertavam de sorte que lhe torciam ou deslocavam os membros,
esmagavam-lhe os pés e mãos, e pelo cruel apertão, até lhes saltavam muitas
vezes fora as unhas dos dedos; para depois lhes rasgarem os lados com ganchos
do ferro, e curarem suas feridas com fachos acesos. (O JARDIM LITTERARIO, 1949)
Bibliografia
O JARDIM LITTERARIO, 1949. Equileo – Portugal – Lisboa – O Jardim Litterario,
2° Semestre de 1949.
SEMANA ILLUSTRADA N° 257. Quarta Carta à Tia Chica – João Nicodemos –
Brasil – Rio de Janeiro, RJ ‒ Semana Illustrada n° 257, 12.11.1865.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de
Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor
e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
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