Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023 - 06h10
Bagé, 17.02.2023
28.08.2019 (Novo Airão / AC 07)
O
Sonho dos Sonhos
(Múcio
Teixeira)
Quanto mais lanço as vistas
ao passado,
Mais sinto ter passado distraído
Por tanto bem – tão mal
compreendido,
Por tanto mal – tão bem
recompensado!
Em vão relanço o meu olhar
cansado
Pelo sombrio espaço
percorrido:
Andei tanto – em tão
pouco... e já perdido
Vejo tudo o que vi, sem ter
olhado!
E assim prossigo sempre para
diante,
Vendo, o que mais procuro,
mais distante,
Sem ter nada – de tudo o que
já tive...
Quanto mais lanço as vistas
ao passado,
Mais julgo a vida – o sonho
mal sonhado
De quem nem sonha que a
sonhar se vive!
Acordei às 04h15, tomei um bom banho, arrumei as poucas tralhas
com calma fiz duas viagens pela enorme escadaria levando o material para perto
do caiaque. Com o Argo I pronto partimos, às 05h10, usando a lanterna de
cabeça, a escuridão era total. Alguns navegantes curiosos não satisfeitos em
identificar que se tratava de uma pequena embarcação focavam seus holofotes
diretamente nos meus olhos provocando uma cegueira temporária.
A jornada transcorreu agradável e tranquila, as nuvens
bloqueavam o Sol amenizando a canícula e uma leve brisa embalava o Argo I pelas
negras águas. Às 10h00, quando parei para avaliar o trajeto e meu desempenho,
medi a velocidade do caiaque descendo de Bubuia e o GPS marcou 0,8 km/h. O Sol
tomou conta do firmamento, os ventos de proa de 10 km/h, provocavam vagas que
chegavam a quase um metro de altura e a velocidade baixou para 6 km/h. Foram
mais de duas horas sofridas em que senti que seria impossível atingir meu
objetivo – a região do antigo Hotel Ariau. À tarde verifiquei que o caule da
vegetação submersa não denunciava nenhuma correnteza. Certamente o Solimões
barrava a impetuosidade do Negro. Foi por isso que minha velocidade se igualou
àquela que desenvolvo no Rio Guaíba e nos Mares de Dentro (7,2 km/h ou 4 nós)
onde a velocidade da torrente é nula.
Do meio-dia em diante os ventos
arrefeceram um pouco assim como as ondas, mas o esforço fora demasiado e
resolvi aportar por volta das 15h00. Os trovões à Boreste não me agradavam,
tinha uma baía entre a ponta da prainha e o istmo do Ariau e eu não estava em
condições de enfrentar mau tempo tão afastado da margem. Há uns30 metros da
água tinha um arbusto, a sombra ia cair bem, um bando de talha-mares,
aquerenciado no local, seriam meus cães de guarda, coloquei o carrinho no Argo
I e me instalei. Espero aportar no porto do Centro de Embarcações do Comando
Militar da Amazônia (CECMA) antes das 15h00 de amanhã.
Total 12° Dia ‒ N. Airão /
AC 07 = 80,0 km
Total Geral ‒ P. Macuxis /
AC 07 = 815,0 km
29.08.2019 (Cercanias do Ariau / CECMA)
Malaca
Conquistada
(Francisco de Sá de Menezes)
Livro I –
LXX
Considera melhor primeiro
quanto
Aventuras, e o fim desta
jornada;
Na qual o conhecido risco é
tanto,
E o que ganhar se pode é
pouco, ou nada [...]
Noite tranquila, as talha-mares não
sinalizaram nenhum movimento anômalo na prainha, a barraca sem toldo permitia
uma aragem fresca e uma visão ímpar da abóbada celeste. O ombro está cem por
cento curado, em compensação minhas costas precisam de analgésicos para que eu
possa dormir.
Acordei, às 04h00, e parti às 05h00
na direção Leste procurando me aproximar o mais possível da margem esquerda.
Pelas 09h00 ultrapassava o ponto mais estreito de todo o Rio Negro. O
rendimento de hoje era bem superior ao de ontem, o vento do quadrante Este deu
uma trégua e uma suave correnteza permitia que o Argo I deslizasse mais
suavemente.
Pelas 11h00, ao passar pela Ponta
Negra, recebi a resposta do Major Magalhães de que era melhor aportar no
CECMA. Aproei para lá onde aportei às 11h30 e de onde fui resgatado às 12h45. A
movimentação era grande no Grupamento em apoio à diversas atividades, Operação
Acolhida aos venezuelanos e Operação Verde Brasil atuando no combate às
queimadas da região da Amazônia, por isso mesmo, fiquei em um alojamento
coletivo.
Combinei então com o Cel Angonese
que adiantasse minha passagem para Vilhena o quanto antes.
Esta descida de 13 dias desde Boa Vista, RR, até Manaus, AM,
concretizou 13.366 km de descidas em diversos Rios da Bacia Amazônica. Um
número extremamente fatídico, e esta dupla coincidência do número de dias da
jornada atual e do somatório de todas as jornadas já previsto pelo Grande
Arquiteto do Universo fez com que ele me desse um sutil alerta através de meu
manguito rotador direito, ainda bem que não foi o esquerdo.
Obrigado a cada um de vocês que torceram, apoiaram e
incentivaram nossa humilde jornada. Sem vossos préstimos certamente não
teríamos atingido com tanta tranquilidade nosso objetivo final.
Total 13° Dia ‒ Cercanias
Ariau / CECMA = 45,0 km
Total Geral ‒ P. Macuxis /
CECMA = 860,0 km
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia
Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
Bagé, 20.12.2024 Continuando engarupado na memória: Tribuna da Imprensa n° 3.184, Rio, RJSexta-feira, 25.10.1963 Sindicâncias do Sequestro dão e
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – VI
Silva, Bagé, 11.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 224, Rio de Janeiro, RJ Quarta-feira, 25.09.1963 Lei das Selvas T
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – IV
Bagé, 06.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 186, Rio de Janeiro, RJSábado, 10.08.1963 Lacerda diz na CPI que Pressõessã
Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – III
Bagé, 02.12.2024 Continuando engarupado na memória: Jornal do Brasil n° 177, Rio de Janeiro, RJQuarta-feira, 31.07.1963 JB na Mira O jornalista H