Segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023 - 06h10
Bagé, 13.02.2023
23.08.2019 (Dst de Moura / Base Carabinani)
Acordei às 04h30, aprontei o Argo I
e dirigi-me para o Porto do Destacamento. Neste ínterim, apareceu o Sargento
Abegg e logo em seguida a Sgt Paula, mais dois queridos amigos com quem tivemos
o privilégio de conhecer nestas infindas jornadas amazônicas.
O 2° Sgt Inf Maicon Abegg da Silva
fotografou a ceia de despedida e minha partida e enviou-me as fotos que aqui reproduzo.
Até às 10h00, jornada tranquila, uma diáfana camadas de nuvens e
uma brisa suave e fresca amenizavam a temperatura. Fui costeando a margem
direita, A cheia mudara radicalmente a geografia deste enorme Dédalo ([1])
fluvial dificultando extremamente a orientação visual pelos mapas que só foi
amenizada graças à cuidadosa locação, que eu havia feito neles, de pontos de
controle e que agora conferia cuidadosamente através do GPS.
Comentara, em 13.01.2010, quando descera pela primeira vez o Rio
Negro desde São Gabriel da Cachoeira até Manaus:
Partimos
às 06h28. Continuei seguindo a rota da Companhia de Embarcações do Comando
Militar da Amazônia (CECMA). A opção pela margem esquerda, além da velocidade,
evitava o intrincado labirinto for-mado pelas diversas ilhas frontais à Foz do
Jau que dificultaria, em muito, a orientação, tendo em vista que a fotografia
aérea disponível era do período de secas.
Durante a viagem um ou outro curioso boto vermelho
acompanhava-nos, por breves momentos. Nos últimos quilômetros, porém, eram mais
de cinco escoltando o caiaque de perto e se esmerando nas evoluções até nos
aproximarmos da Base Carabinani. Era a segunda vez que aportava na Base
Carabinani graças ao apoio incondicional do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a primeira foi no período de 03 a
07.11.2016, quando vim documentar os petróglifos do Jau.
Encontrei o velho amigo Jakson Magalhães Valente, que liberou
gentilmente um dos quartos do conjunto principal para me instalar. Os paulistas
Amanda Ribeiro e Fábio Ramos (de São Paulo) e Ana Paula Leme e Matheus Oliveira
Santos (de Ribeirão preto) estavam na Base e ofereci meu caiaque para quem
quisesse navegar, mas nenhum aceitou a oferta.
Infelizmente eles tinham escolhido um período ruim para
incursionar no Jau, os petróglifos estavam submerso e a beleza natural das
demais formações e rochosas e praias também. Fui brindado com um saboroso
jantar e fui deitar cedo.
Total 9° Dia ‒ Moura / Base Carabinani = 61,0
km
Total Geral ‒ P. Macuxis / Dst de Moura = 622,0
km
24.08.2019 (Base Carabinani)
Acordei às 05h00, para observar e fotografar o magnífico
alvorecer na Boca do Jau até o Astro Rei surgir no horizonte. Parti, às 08h00,
com o Sr. Geraldo Lima para um giro pelas comunidades de N. Airão. O
interessante tour permitiu-me tomar contato com o crítico estado em que se
encontram nossos povos ribeirinhos principalmente no que se refere à falta de
investimentos nas áreas da educação e saúde. Contatamos líderes comunitários,
professores e a sofrida e desassistida população local. Assistimos, em uma das
comunidades jogos de futebol em que a participação feminina foi fundamental. Um
fato, em particular, me incomodou nesta jornada e é objeto de crítica de todos
ribeirinhos, a Marinha do Brasil possui uma extensa área na margem do Rio desde
Airão Velho, justamente nas terras firmes que poderiam abrigar todas as
comunidades da área que não ficariam mais sujeitas às constantes inundações. Lembro-me
de quando se projetou a transamazônica e se previu a construção de agrovilas
com uma infraestrutura mínima para dar suporte à população ali instalada –
escolinha, posto de saúde, serraria e comércio.
Acho que os Governos Federal e
Estadual deveriam analisar os melhores locais de assentamento de maneira que
cada nova Comarca instalada nessas áreas atendesse às comunidades mais
próximas. O projeto deveria prever porto flutuante, escola com alojamento para
professores, posto de saúde, com alojamento para toda a equipe, técnico
agrícola para orientar os novos moradores a tirar o melhor proveito de suas
glebas, wi-fi livre na escolinha e arredores, tratamento de efluentes...
Amanhã partiremos cedo com destino a Manaus. Vou tentar cumprir
a meta em quatro dias. O apoio dos amigos Geraldo Lima e Jakson Magalhães
Valente da Base Carabinani foi fundamental para que pudéssemos recuperar as
forças e conhecer a triste realidade deste povo dos “ermos dos sem fim”.
Renascimento III
(Jayme Caetano Braun)
[...] Mas não mataram a crença,
Nos meus ancestrais vaqueanos,
Após quatrocentos anos
Venho apelar da sentença;
Trago sinais de nascença
Dos quais meu sangue destampa
E ‒ neste holocausto pampa,
Bem mais gaúcho renasço,
Para alargar meu espaço
Num grito de terra e guampa!
Sonhos que sempre sonhei,
Revivem quando murmuro,
Na bendição do futuro,
Do chão que não reneguei;
Cantos que sempre cantei
Vão afinando a garganta
E eu sinto que se levanta,
Um taquaral na paisagem,
Multiplicando a mensagem
De cada livre que canta!
(*)
Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas,
Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do
Sul (1989)
Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre
(CMPA);
Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura
do Exército (DECEx);
Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério
Militar – RS (IDMM – RS);
Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando
Militar do Sul (CMS)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira
(SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do
Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio
Grande do Sul (IHTRGS – RS);
Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia
(ACLER – RO)
Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio
Grande do Sul (AMLERS)
Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
E-mail: hiramrsilva@gmail.com.
[1] Dédalo:
arquiteto e inventor, personagem da mitologia grega, cuja obra mais conhecida
foi o labirinto que construiu para o Rei Minos. (Hiram Reis)
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência – X
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